Ficamos abraçadas enquanto eu sentia as lágrimas dela caindo sobre meus ombros, molhando o tecido de minha roupa.Minha mãe, Josephine Versiani, era uma mulher bonita. Engravidou jovem do meu irmão, aos 18 anos. Quando eu fiz 18, ela ainda tinha 37. Na época, ela e meu pai eram apenas namorados. Mas os pais dela o obrigaram a casar, para que assumisse a criança e por consequência a mulher. Meu irmão nasceu e quando completou três meses ela engravidou de mim.Sempre ouvi falar, por parte da minha família materna, que mamãe era uma garota feliz e divertida. Infelizmente não cheguei a conhecer esta pessoa. O que eu tinha em casa era uma Josephine triste e destruída, que passava a vida inteira em função de um homem: meu pai.Joaquim Versiani, meu pai, era oito anos mais velho do que minha mãe. Sempre achei que ele tivesse distúrbios comportamentais... Para não dizer mentais. Mas dentre tudo que ele fazia, a traição era a pior de todas as coisas. Porque aquilo acabava com a minha mãe.Eu f
- Está tudo bem? Mamãe disse que você estava com dor de cabeça.Sentei na cama:- Dor de cabeça... Cólica...- Sei bem como é! Você precisa ir ao médico, Clara!- Você não tem noção do que o papai disse...- Mamãe me contou.- Ela concordou com ele, Renan.- Sabemos que ela não tem muita opção, não é mesmo? – Ele alisou meu rosto – Mas não fique chateada. Eu trouxe um remédio para você.- Trouxe? – Franzi a testa, surpresa.Ele sorriu e retirou debaixo da camiseta uma barra de chocolate. Avancei na mão dele e abri a embalagem: - Ah, Renan... Se você não fosse meu irmão, eu ficaria muito triste.Renan riu:- O que você não faz por um chocolate? Vira até uma boa mentirosa.- Se você soubesse o quão boa mentirosa eu sou! – Sorri tristemente.- Talvez eu deva fazer um estoque de chocolates para o seu período pré-menstrual.- Eu não ficaria braba.Renan sentou-se na minha cama.- Sabe que eu não gosto das mesmas músicas que você, não é mesmo? Mas você canta muito “Trem do amor”.- É do Si
- Pode me dizer o motivo? – O olhei seriamente, com a voz firme.- Não, não posso. E não sou obrigado. Não, porque não.- Tem que haver um motivo! – O enfrentei – Pelo menos me diga.- Não! – gritou, batendo na mesa, fazendo com que eu e minha mãe nos assustássemos.- Eu... Tenho 18 anos... – minha voz saiu fraca – Sou... Maior de idade.- Pouco me importa quantos anos você tenha! – falou entredentes – Eu mando nesta casa. E em você. E não irá na porra do show e pronto!Levantei da mesa e corri para o meu quarto, trancando a porta. Peguei uma mala e pus algumas roupas dentro. As lágrimas não me deixavam em paz, ofuscando minha visão de tanto que se derramavam. Pulei a janela e fui até o final do corredor que havia entre a casa e o muro, olhando o portão de saída. Respirei fundo. Era minha única alternativa: pegar minhas coisas e viver a vida longe dali. Enquanto estivesse sob o comando dele, jamais seria feliz.Olhei para a janela aberta e lembrei das minhas coisas... Meu quarto, min
Fui saindo dali de forma automática. Beverly veio correndo na minha direção, querendo saber o que houve. Eu sequer tinha uma explicação para lhe dar. Já estava na calçada quando Flora também chegou. - O que houve, Clara? – Quis saber o motivo pelo qual eu andava sem parar, desnorteada, em silêncio. - Quero ir embora! – Tentei conter o choro. - Mas... Podemos ir em outro lugar. – Sugeriu. - Talvez ela não queira, em função da possibilidade de ver Jason com aquela perua. – Beverly achou saber o que me incomodava. - Isso! Não quero arriscar ir em outro lugar e encontrar Jason com a namorada. – Menti. Logo Flora ligou para o pai, que chamou um táxi para nós. Assim que chegamos na casa dela, tomamos um banho e fomos deitar. Sempre dormíamos juntas, na cama de casal que ela tinha no quarto. - Você nem sequer secou os cabelos. – Flora alisou os fios úmidos, enquanto eu estava virada para o lado da parede. - Flora, você não vai acreditar quando eu contar quem vi naquele bar... - Que
- É a minha vida! – Ela gritou, deixando as lágrimas escorrerem – Você não tem o direito de se meter assim nela.- Eu vi... E não há o que ele diga para me convencer do contrário. Eu... Estava lá.- Clara, eu não quero que você se meta na minha vida. Nunca mais! – A voz dela estava mais mansa.Assenti, incapaz de dizer mais nada. Ela me abraçou com força:- Me perdoe pelo tapa!Não doeu tanto no corpo. Doeu na alma. Jamais esperei por aquela atitude dela. E me arrependi por ter tido pena de minha mãe tantas vezes. Talvez ela não merecesse. Só tinha a vida que desejava.- Me perdoa? – Ela pegou meu rosto entre suas mãos, aos prantos – Por favor, diga que sim...- Eu perdoo, mãe. – Sorri e a abracei.Eu não chorei. Porque a raiva que me consumia era mais forte que tudo. Passei o restante do dia no meu quarto, recortando letras coloridas de revistas e procurando frases interessantes de livros, onde eu grifava. Minha raiva e dor faziam com que o os meus sentimentos por Patrick ficassem ma
Lembrei que não namorava Pedro de verdade. Ou seja, não precisaria terminar com ele para ficar com Jason. Assim como não estava o traindo. Jason, por sua vez, pretendia trair Anastácia. Porque ele sim estava com ela e inclusive tinha lhe dado o maldito e gigantesco buquê de flores.Me flagrei sendo beijada por Jason, suas mãos passando pelo meu corpo, no meio da calçada, com as pessoas caminhando e certamente observando de forma atenta o casal de jovens naquele final de tarde. Aposto que imaginavam que estávamos apaixonados. No entanto eu incrivelmente ainda segurava minhas coisas, sem tocá-lo.Quando Jason me soltou, afirmou:- Você ainda gosta do meu beijo.- Tanto quanto de qualquer outro que saiba beijar. – Sorri.- Não diga que não tenho mais chance com você, Clara. Eu não acreditaria depois deste beijo.- A gente não tem mais nada, Jason. Aliás, nunca tivemos, não é mesmo? Você nunca sequer convidou para sair.- Estou convidando agora. Eu errei e peço desculpas.- Você tem uma n
- Neste caso, “meu” gatinho! – Clara me abraçou pela cintura, puxando meu braço e fazendo com que eu a abraçasse.Eu ri, não conseguindo me controlar. Ela era engraçada e decidida.- Você está em vantagem, Clara, já que o meu namorado não pode entrar na escola. – Anastácia provocou.- Isso não é uma competição. Ou é? – Clara lhe perguntou seriamente.- Claro que não.- O que você fez com as flores?- Que flores? – Anastácia questionou, confusa.“Que flores?” Também me perguntei.- O buquê que Jason lhe deu.Ela ainda estava puta com o buquê?- Eu... Levei para casa. Mas elas já murcharam. Então joguei fora.- Eu não gosto de rosas vermelhas. – Clara mencionou, fingindo soberba.- Eu gosto – Anastácia percebeu o ciúme dela. – Principalmente rosas lindas como aquelas.- E do que você gosta, Clara? – Perguntei.- Rosas azuis.- Isso existe? – Me ouvi perguntando em voz alta.- Sim, existe. – Ela disse, sem muita convicção.- Bem, não vou atrapalhá-los. – Anastácia finalmente se tocou.-
POV PATRICKMe dei ao trabalho de ficar ali, no sol do meio-dia, esperando que a garota passasse, no horário habitual. Eu não entendia por qual motivo ela andava até a casa da amiga todos os dias somente para acompanhá-la e pegarem a van escolar juntas. Sabia que estudavam numa escola privada no centro da cidade, por conta da camiseta do uniforme que continha o nome e logotipo da instituição.Assim que vi a morena passar, com a mochila nas costas, usando uma saia jeans com botões metalizados na frente, a bainha desfiada, com um cinto cheio de rodelas prateadas, parecendo moedas, tênis Adidas branco com listras pretas, meias até os tornozelos e a camiseta da escola bem curta, preta, que deixava seu umbigo à mostra, a chamei:- Ei!Ela andou alguns passos e não tenho certeza se não ouviu ou fingiu não ouvir.- Ei, garota!Ela me olhou de relance e acenei, conseguindo a sua atenção, parando confusa.Nunca abordei uma garota daquela forma. Mas era bem claro que ela não era o tipo das mulh