Preferi ficar calado para não correr o risco de ser grosso.- Patrick, você ouviu o que eu disse? – Fez questão de perguntar.- Sim.- E não tem interesse em saber quais são as exigências?- Não quero me preocupar com isso, tia. No momento só quero que você fique bem. Nada me interessa mais do que isto... Sua saúde. – Sorri, fingindo realmente querer que ela se restabelecesse, no meu íntimo desejando que morresse ali, naquele momento, para que enfim eu pudesse viver a vida que sempre sonhei e esperei por tantos anos.- Pois deveria se preocupar, Patrick, ou corre o risco de você não receber nada.A fitei, confuso e preocupado:- Quais serias as exigências, tia?- Eu quero que case, Patrick.- Casar? – Minha voz saiu mais alta do que eu esperava.- Sim, quero que case com uma mulher.Não entendi se o “uma mulher” era por ela temer que eu pudesse ser homossexual, fazendo alusão ao meu cabelo, o que não era de duvidar, já que a velha era ridícula, ou se o que realmente queria era que eu
POV CLARA- Ok, agora você vai lá e pergunta. Vou ficar esperando atrás do muro da esquina. – Repassei com Flora o plano pela milésima vez.Finalmente ela andou. Escorei-me nos tijolos do muro, sentindo o cimento endurecido mal feito maltratar minhas costas, soltando um gemido de dor.E lá estava ela de volta.- Flora, você está brincando? – Perguntei seriamente.- Clara, eu nem conheço ele! – Tentou, nervosamente.- Conhece sim! Ele te chamou e até perguntou o seu nome. Agora vocês são amigos.- Não somos amigos! – ela enrugou a testa – Ele só perguntou se eu tinha uma máquina de escrever! – estava nervosa.- E você disse que “eu” tinha, ou seja, me entregou de bandeja para Patrick.- Eu não a entreguei de bandeja. Você sempre esteve na bandeja dele... – Riu.- É simples, Flora! Só o chame no portão e pergunte se ele gosta de mim e pronto.- E se ele disser que não?- Daí você vira as costas e vem embora.- E se eu chorar?- Você não faria isso na frente dele. E eu aposto que Patrick
- Ele escreveu que “Deus é o Deus dos valentes, porque valentes são aqueles que tomam decisões com medo. E mesmo assim, agem. Agem porque também acreditam em milagres.”- Isso... Quer dizer que Paulo Coelho mandou você não desistir?- Eu sou forte e valente. E prefiro me arrepender de ter recebido um não do que nunca ter tido coragem de mandar perguntar. Eu não desisti – confirmei – Ao menos não para sempre. Por hora, vou dar um tempo.- Vai?Assenti, olhando-a:- Não irei na aula a semana toda.- Por quê?- Porque não posso passar na frente da casa dele. Pode me dar taquicardia... E tenho medo de morrer no meio da rua. Porque... Agora que já deixamos tudo bem claro entre nós dois... Ele pode me chamar para perguntar das cartas.- Eu... Acho que você deveria desistir. Porque... Se estamos tirando pontos dele, devemos dar pontos ao Pedro.- Por quê? – Fiquei curiosa por ela ter inserido Pedro na conversa.- Porque ele te deu rosas azuis. E rosas azuis... Bem, são praticamente inexisten
- O que houve com o seu cabelo? – Anastácia perguntou, sequer me cumprimentando antes.- Ele decidiu dar uma repaginada... Assim como a dona! – Pisquei – Oi, Jason – fui na direção dele e lhe cumprimentei com um beijo no rosto.- Não me diga que tentou imitar a Geri Halliwell! – Alfinetou a loira aguada, que usava uma saia jeans e uma mini blusa verde tendo nos pés um Adidas marrom com bege.- Não, me “inspirei” nela. Inspirar, verbo transitivo direto e pronominal. Pode ser intransitivo em alguns casos – fiquei em dúvida – Mas significa causar inspiração, ser motivo de inspiração, provocar ideias ou pensamentos. Geri tem cabelos vermelhos com mechas douradas. No meu caso os cabelos são dourados e optei pelas mechas vermelhas. Se quiser, te passo o endereço do local onde fiz.Anastácia ficou me olhando, sem dizer nada.- Eu... Quero água! – Flora pediu, percebendo o clima tenso, tentando quebrá-lo.Logo reconheci um dos amigos de Pedro que estava na noite que nos conhecemos no Baccarat
A avó dele fez questão de dizer, enquanto punha as velas de 1 e 8 sobre o bolo:- Torta de frutas, sua preferida, Anastácia!Anastácia me encarou com um sorriso sarcástico e respondeu para a velhinha que de bondosa não tinha nada:- Ah, vó, você sabe todas as minhas manias e preferências! – A voz saiu dengosa.- Já sabe, Jason, sua mãe tem que mimar bem esta garota, porque igual a ela não existe! – Alfinetou ainda mais.Só faltou ela pegar meu boneco de vodu e cravar uma faca no coração, depois pisando em cima até sair todo o enchimento de dentro.- Realmente não existe! – falei baixinho, não resistindo.- Relaxa! – Pedro disse, pondo uma mecha do meu cabelo pra trás da orelha.O olhei, confusa com o gesto.Logo ela acendeu as velas com um isqueiro e todos começaram a cantar os parabéns, conforme ele havia dito que acontecia, por a vó não abrir mão daquele momento.Onde estariam os pais dele? Olhei em volta e não encontrei uma foto ou qualquer coisa que pudesse fazer menção à família
- Juro que não foi de propósito, dona Daiana! – Fui sincera, certa de que ela não acreditaria em mim.- Acha mesmo que acredito em você? – Ela pôs a mão na cintura, me olhando de forma acusadora.Abaixei-me e fui juntar os cacos, vendo que Jason e Anastácia já estavam ali, curiosos com o que tinha acontecido, certamente tendo ouvido o som de algo quebrando da sala.- Não acredito! – Anastácia falou em tom de voz alto – Como pôde, Clara?- Foi... Sem querer. – Levantei o rosto, olhando-a de relance.Quando a olhei, mesmo que de forma rápida, desviei a atenção do que estava fazendo e percebi que tinha deixado cravar um pedaço da porcelana na palma da mão, que começou a sangrar.Levantei, com os pedaços da caneca na minha mão, observando o rosto de Anastácia partido ao meio.- O que aconteceu? – Pedro olhou diretamente para minhas mãos.- Eu... Sinto muito. Quebrei a caneca... Sem querer.Imaginei que Pedro ficaria furioso, já que sabia que ele gostava de Anastácia. E bem ou mal, era a c
- Deve ser por conta... Do banheiro! – Me ouvi dizendo, tentando justificar.Esperei Flora fazer xixi e lavar as mãos e saímos do banheiro. Quando cheguei na sala, Pedro estava conversando com seu amigo Marcos.- Estamos de partida! – Anastácia se aproximou, com um presente nas mãos – Mas claro que não poderia ir sem antes de lhe dar seu presente.- Não precisava! – Pedro a olhou, com a caixa na mão, timidamente.- Abra! Faço questão! – ela sorriu.Todos estavam próximos, curiosos sobre o que era o presente. E eu fazia parte dos que queriam saber o que tinha dentro da caixa.Pedro desembrulhou, com as bochechas enrubescidas, e dentro da caixa havia um Discman.Puta que pariu, era um Discman! Além de caro, o sonho de qualquer pessoa. E junto ainda tinha um CD, novinho em folha.- Anastácia, isso é muito caro! – Ele a olhou, atônito – Não posso aceitar.- É só um presente, Pedro! Relaxa! – Jason sorriu e deu um tapinha no ombro dele.Os dois tinham uma diferença de altura bem visível. C
A foto de Pedro tinha sido a segunda que tirei com a máquina fotográfica que ganhei de minha tia. Me lembrei que precisava bater as 36 poses para poder revelar o filme, então tinha que começar a fotografar. Mandei-o fazer uma pose, mas acabei capturando a imagem quando ele estava de forma mais descontraída, antes. Não sabia como ficaria depois de revelada, mas eu não curtia muito fotos em que todos se arrumavam para saírem perfeitos. Achava muito mecânicas. Preferia aqueles momentos em que as pessoas estavam desprevenidas.Estava andando em direção à esquina, onde Pedro havia dito que tinha um ponto de táxi. Não deixei que ele me levasse, mesmo insistindo. Para minha sorte, vó Daiana o chamou para fazer algo que certamente o obrigou a ter que me deixar. Eu não queria ocupar o tempo dele.Andei menos de meia quadra quando um carro parou ao meu lado. Suspirei, com um pouco de medo e me atentei a olhar para frente. As ruas por ali não eram muito movimentadas àquela hora da noite.- Clara