Entrei no portão, sem olhar para trás. Assim que abri a porta de casa, deparei-me com meu pai, escorado, de braços cruzados, me esperado. O semblante dele era de deboche misturado com raiva. No entanto as palavras foram ofensivas e de desdém:- Nunca imaginei ter uma filha vagabunda.- Pai, eu não sou vagabunda.- Quase duas horas, chegar com um homem... É uma vagabunda!- Vim de carona. Era só um amigo.- Toda vagabunda diz isto.Respirei fundo:- Posso dormir?- Com quantos homens você já dormiu?- Nenhum.- O que está acontecendo aqui? – Minha mãe chegou, com os olhos inchados e vermelhos.Ficou claro que ela estava chorando.- Sua filha vagabunda chegou agora em casa... No carro de um macho.- Foi Jason... Aquele amigo que já comentei com você, mãe.- Sim, ela conhece este rapaz há um bom tempo, Joaquim... Inclusive já tinha comentado comigo sobre ele.- Ele tem um carrão. O que faz da vida?- Eu... Não sei. – Menti.- Já que perdeu a inocência mesmo, pelo menos escolha um homem d
Acordei com Jason balançando meu braço. Abri os olhos e ainda ouvi a gritaria vinda do telão. E o Titanic estava afundando.- Quanto tempo eu dormi? – Perguntei, passando os dedos nos olhos, tentando me manter acordada.- Uma hora e meia.- Quantas horas tem de duração a porra do filme? – Perguntei, assombrada.- Três horas e 16 minutos.- Vou ao banheiro! Preciso lavar o rosto.Fui saindo tentando não atrapalhar ninguém, já atrapalhando. Quando cheguei no banheiro, fiz xixi e depois lavei as mãos e passei uma água no rosto, a fim de despertar, embora o sono ainda me consumisse.Olhei-me no espelho e minha cara estava péssima. Pus um batom e vi Anastácia entrando. Ela ficou tão surpresa quanto eu ao me ver.- Que... Coincidência! – A voz dela foi melindrosa, como sempre.- Oh, quanta coincidência! – Concordei.- Ou não... Pré-estreia... Todo mundo queria ver este filme.- Verdade. – Tentei manter uma conversa amigável.- Pedro ama cinema.Senti um frio na barriga quando ela disse aqui
POV PEDROEsperei que Jason e Anastácia fizessem o mesmo: se dessem as mãos ou algo do tipo. Mas não o fizeram. Pelo visto o namoro de mentira deles estava pior que o meu e de Clara. E aquilo tudo era uma loucura.O certo era eu contar a Clara que sabia que eles estavam tentando nos fazer ciúme. Mas por algum motivo que eu desconhecia, não o fiz.Jason foi quem escolheu uma lanchonete próxima, bem popular e conhecida na cidade. O carro chefe do lugar era hambúrguer e eu nunca tinha frequentado, embora tivesse ouvido falar bem dali.Sentamos numa mesa com dois bancos grandes, almofadados, um casal de frente para o outro. Eu queria estar ali somente com Clara, para lhe explicar com calma que Anastácia simplesmente me convidou para assistir um filme e minha avó praticamente me obrigou a ir e que não tínhamos sequer nos tocado desde que entramos na sessão. Mas pelo visto não conseguiria.Fizemos nossos pedidos e vez ou outra conversávamos algo. O clima estava bem estranho.- Gostaram da c
POV PATRICKA lista telefônica era bem menor que o número de garotas que eu conhecia ou tinha me relacionado de alguma forma. Claro que havia a opção de sair e encontrar alguém, principalmente na noite. A questão era conseguir uma mulher decente para um relacionamento sério e casamento relâmpago. Afinal, não era um mês ou dois e sim dez anos. Eu não podia escolher qualquer pessoa, principalmente uma completa desconhecida, para dividir minha vida.E eu já estava na letra S. S de “Sem SuceSSo” até o momento.Apertei os botões com os números correspondentes ao telefone de Samantha. Eu havia dormido com ela recentemente. Não fazia mais de três meses.- Oi, Samantha. É o Patrick.- Patrick? – Ela ficou em dúvida sobre quem era.- Patrick Huxley.- Loiro, cabelos compridos, dono de um corpo perfeito e uma noite maravilhosa.Dei graças por ela lembrar de mim, porque eu ainda lembrava dela:- Morena, corpo escultural, olhos escuros, lábios gostosos e surpreendentes... Ouvi a risada dela do o
- Não é tão difícil quanto parece.- Talvez... Se eu gostasse da pessoa. O problema é que não gosto de nenhuma mulher, mãe! Como posso dormir ao lado de alguém que mal conheço todos os dias? Tia Dorinha está sendo uma hipócrita e descarada. Só tem eu para herdar o que ela tem. Como pode fazer exigências?- Ela pode deixar para as instituições de caridade que ajuda. Não conte a vitória antes do tempo, Patrick. Eu conheço minha irmã e ela sempre foi muito romântica e acreditou no amor. Acha que fazendo esta exigência está lhe dando a oportunidade de conhecer alguém e se apaixonar. Mas bem sabemos que ninguém é obrigado a se apaixonar nesta vida. Por que tem pessoas com tanta sorte na vida com dinheiro?- Não somos azarados, mãe! Não somos milionários, como tia Dorinha, mas vivemos bem. Temos tudo que precisamos, não é mesmo?- Temos? – ela riu – Não, não temos tudo que precisamos, Patrick! Você poderá viver na Austrália, que é o seu sonho. E não fazer nada na vida a não se surfar. Compr
- Acredita em espíritos, Pedro? – Perguntei, temerosa.- Claro que não! – Ele garantiu, retirando meus braços gentilmente de seu corpo e indo em direção à lixeira.Assim que abriu a tampa, Pedro mexeu no interior da mesma, retirando de dentro um filhote de cachorro.- Meu Deus! – peguei o pequeno cão de suas mãos – Quem teve coragem de fazer isto?- É muito novinho... Deve ter nascido há poucos dias! – Pedro tocou a cabeça do animal, alisando.Procurei sua genitália e constatei:- É uma menina!- Uma fêmea. – Corrigiu.- Menina! – Insisti – Fêmea é muito impessoal.- Mas... É um cachorro. O correto é fêmea e macho.- É a minha menina! – Pus o filhote dentro da minha roupa, aconchegando a mim.- Ela estava na lixeira, Clara! Tinha lixo junto...- É um bebezinho, Pedro! Vou levar para casa.- Alguém a abandonou aqui. Por que não doaram? Como há pessoas más neste mundo!- Acredite, há... E muitas – suspirei, não conseguindo evitar pensar no meu pai – Mas ela teve sorte... – olhei o anima
- Hum... Eu consigo visualizá-lo como advogado. É sério, comprometido, inteligente... Ao menos acho que é – levantei os ombros – Tem cara de que estuda muito e tira boas notas. Defesa ou acusação?- Acusação?- Tomara que eu nunca faça nada errado nesta vida... Não queria ser acusada pelo doutor Moratti. – Comecei a rir, tirando onda com a cara dele – Doutor Moratti soa bem, não acha? Imponente... Dá até medo!- Você não vale nada, Clara! – Ele acabou quebrando um pouco o semblante sisudo, rindo.- Valho sim. E se você tivesse dinheiro, aposto que me comprava. Mas não tem suficiente. E se eu fosse sua... Ah, você não me venderia, “doutor Moratti”. – Brinquei.- E de quem você é, Clara Versiani? – Os olhos dele ficaram sérios e estávamos bem próximos um do outro, na esquina da rua, onde do outro lado ficavam os táxis.Eu poderia dizer que era de Patrick Huxley e seria para sempre... Mas por algum motivo as palavras não saíram da minha boca. E acredito que foi por conta da seriedade com
- Pai, eu não fui num Motel. Pode perguntar ao Jason...Joaquim riu, de forma debochada:- Acha que acredito em você?- Acredite no que quiser! – Falei, entredentes, tão baixo que mal escutei minha própria voz.- O que você disse? – Ele gritou, fazendo com que eu e minha mãe saltássemos, assustadas.Eu não repeti. Não queria levar uma bofetada.- Posso ir para o meu quarto? – Pedi.- Sim, pode. Depois que jogar esta bola de pêlos e pulgas na rua.O olhei, tentando conter as lágrimas:- É uma filhotinha! Por favor... Eu prometo que ela não irá incomodar. Limparei xixis e cocôs... Não a deixarei chorar... E comprarei tudo que ela for comer.- Não! Jogue fora este bicho.- Não posso! Ela... É minha.Renan apareceu na cozinha:- O que houve?- Clara encontrou um cachorro. Seu pai quer que ela jogue fora. – Minha mãe explicou resumidamente.Renan alisou Pipeline:- Pai, é só um cachorro.- Bichos incomodam... Mais do que pessoas. Vai entrar no CIO e os cachorros invadirão nosso pátio. Ela