A foto de Pedro tinha sido a segunda que tirei com a máquina fotográfica que ganhei de minha tia. Me lembrei que precisava bater as 36 poses para poder revelar o filme, então tinha que começar a fotografar. Mandei-o fazer uma pose, mas acabei capturando a imagem quando ele estava de forma mais descontraída, antes. Não sabia como ficaria depois de revelada, mas eu não curtia muito fotos em que todos se arrumavam para saírem perfeitos. Achava muito mecânicas. Preferia aqueles momentos em que as pessoas estavam desprevenidas.Estava andando em direção à esquina, onde Pedro havia dito que tinha um ponto de táxi. Não deixei que ele me levasse, mesmo insistindo. Para minha sorte, vó Daiana o chamou para fazer algo que certamente o obrigou a ter que me deixar. Eu não queria ocupar o tempo dele.Andei menos de meia quadra quando um carro parou ao meu lado. Suspirei, com um pouco de medo e me atentei a olhar para frente. As ruas por ali não eram muito movimentadas àquela hora da noite.- Clara
Entrei no portão, sem olhar para trás. Assim que abri a porta de casa, deparei-me com meu pai, escorado, de braços cruzados, me esperado. O semblante dele era de deboche misturado com raiva. No entanto as palavras foram ofensivas e de desdém:- Nunca imaginei ter uma filha vagabunda.- Pai, eu não sou vagabunda.- Quase duas horas, chegar com um homem... É uma vagabunda!- Vim de carona. Era só um amigo.- Toda vagabunda diz isto.Respirei fundo:- Posso dormir?- Com quantos homens você já dormiu?- Nenhum.- O que está acontecendo aqui? – Minha mãe chegou, com os olhos inchados e vermelhos.Ficou claro que ela estava chorando.- Sua filha vagabunda chegou agora em casa... No carro de um macho.- Foi Jason... Aquele amigo que já comentei com você, mãe.- Sim, ela conhece este rapaz há um bom tempo, Joaquim... Inclusive já tinha comentado comigo sobre ele.- Ele tem um carrão. O que faz da vida?- Eu... Não sei. – Menti.- Já que perdeu a inocência mesmo, pelo menos escolha um homem d
Acordei com Jason balançando meu braço. Abri os olhos e ainda ouvi a gritaria vinda do telão. E o Titanic estava afundando.- Quanto tempo eu dormi? – Perguntei, passando os dedos nos olhos, tentando me manter acordada.- Uma hora e meia.- Quantas horas tem de duração a porra do filme? – Perguntei, assombrada.- Três horas e 16 minutos.- Vou ao banheiro! Preciso lavar o rosto.Fui saindo tentando não atrapalhar ninguém, já atrapalhando. Quando cheguei no banheiro, fiz xixi e depois lavei as mãos e passei uma água no rosto, a fim de despertar, embora o sono ainda me consumisse.Olhei-me no espelho e minha cara estava péssima. Pus um batom e vi Anastácia entrando. Ela ficou tão surpresa quanto eu ao me ver.- Que... Coincidência! – A voz dela foi melindrosa, como sempre.- Oh, quanta coincidência! – Concordei.- Ou não... Pré-estreia... Todo mundo queria ver este filme.- Verdade. – Tentei manter uma conversa amigável.- Pedro ama cinema.Senti um frio na barriga quando ela disse aqui
POV PEDROEsperei que Jason e Anastácia fizessem o mesmo: se dessem as mãos ou algo do tipo. Mas não o fizeram. Pelo visto o namoro de mentira deles estava pior que o meu e de Clara. E aquilo tudo era uma loucura.O certo era eu contar a Clara que sabia que eles estavam tentando nos fazer ciúme. Mas por algum motivo que eu desconhecia, não o fiz.Jason foi quem escolheu uma lanchonete próxima, bem popular e conhecida na cidade. O carro chefe do lugar era hambúrguer e eu nunca tinha frequentado, embora tivesse ouvido falar bem dali.Sentamos numa mesa com dois bancos grandes, almofadados, um casal de frente para o outro. Eu queria estar ali somente com Clara, para lhe explicar com calma que Anastácia simplesmente me convidou para assistir um filme e minha avó praticamente me obrigou a ir e que não tínhamos sequer nos tocado desde que entramos na sessão. Mas pelo visto não conseguiria.Fizemos nossos pedidos e vez ou outra conversávamos algo. O clima estava bem estranho.- Gostaram da c
POV PATRICKA lista telefônica era bem menor que o número de garotas que eu conhecia ou tinha me relacionado de alguma forma. Claro que havia a opção de sair e encontrar alguém, principalmente na noite. A questão era conseguir uma mulher decente para um relacionamento sério e casamento relâmpago. Afinal, não era um mês ou dois e sim dez anos. Eu não podia escolher qualquer pessoa, principalmente uma completa desconhecida, para dividir minha vida.E eu já estava na letra S. S de “Sem SuceSSo” até o momento.Apertei os botões com os números correspondentes ao telefone de Samantha. Eu havia dormido com ela recentemente. Não fazia mais de três meses.- Oi, Samantha. É o Patrick.- Patrick? – Ela ficou em dúvida sobre quem era.- Patrick Huxley.- Loiro, cabelos compridos, dono de um corpo perfeito e uma noite maravilhosa.Dei graças por ela lembrar de mim, porque eu ainda lembrava dela:- Morena, corpo escultural, olhos escuros, lábios gostosos e surpreendentes... Ouvi a risada dela do o
- Não é tão difícil quanto parece.- Talvez... Se eu gostasse da pessoa. O problema é que não gosto de nenhuma mulher, mãe! Como posso dormir ao lado de alguém que mal conheço todos os dias? Tia Dorinha está sendo uma hipócrita e descarada. Só tem eu para herdar o que ela tem. Como pode fazer exigências?- Ela pode deixar para as instituições de caridade que ajuda. Não conte a vitória antes do tempo, Patrick. Eu conheço minha irmã e ela sempre foi muito romântica e acreditou no amor. Acha que fazendo esta exigência está lhe dando a oportunidade de conhecer alguém e se apaixonar. Mas bem sabemos que ninguém é obrigado a se apaixonar nesta vida. Por que tem pessoas com tanta sorte na vida com dinheiro?- Não somos azarados, mãe! Não somos milionários, como tia Dorinha, mas vivemos bem. Temos tudo que precisamos, não é mesmo?- Temos? – ela riu – Não, não temos tudo que precisamos, Patrick! Você poderá viver na Austrália, que é o seu sonho. E não fazer nada na vida a não se surfar. Compr
- Acredita em espíritos, Pedro? – Perguntei, temerosa.- Claro que não! – Ele garantiu, retirando meus braços gentilmente de seu corpo e indo em direção à lixeira.Assim que abriu a tampa, Pedro mexeu no interior da mesma, retirando de dentro um filhote de cachorro.- Meu Deus! – peguei o pequeno cão de suas mãos – Quem teve coragem de fazer isto?- É muito novinho... Deve ter nascido há poucos dias! – Pedro tocou a cabeça do animal, alisando.Procurei sua genitália e constatei:- É uma menina!- Uma fêmea. – Corrigiu.- Menina! – Insisti – Fêmea é muito impessoal.- Mas... É um cachorro. O correto é fêmea e macho.- É a minha menina! – Pus o filhote dentro da minha roupa, aconchegando a mim.- Ela estava na lixeira, Clara! Tinha lixo junto...- É um bebezinho, Pedro! Vou levar para casa.- Alguém a abandonou aqui. Por que não doaram? Como há pessoas más neste mundo!- Acredite, há... E muitas – suspirei, não conseguindo evitar pensar no meu pai – Mas ela teve sorte... – olhei o anima
- Hum... Eu consigo visualizá-lo como advogado. É sério, comprometido, inteligente... Ao menos acho que é – levantei os ombros – Tem cara de que estuda muito e tira boas notas. Defesa ou acusação?- Acusação?- Tomara que eu nunca faça nada errado nesta vida... Não queria ser acusada pelo doutor Moratti. – Comecei a rir, tirando onda com a cara dele – Doutor Moratti soa bem, não acha? Imponente... Dá até medo!- Você não vale nada, Clara! – Ele acabou quebrando um pouco o semblante sisudo, rindo.- Valho sim. E se você tivesse dinheiro, aposto que me comprava. Mas não tem suficiente. E se eu fosse sua... Ah, você não me venderia, “doutor Moratti”. – Brinquei.- E de quem você é, Clara Versiani? – Os olhos dele ficaram sérios e estávamos bem próximos um do outro, na esquina da rua, onde do outro lado ficavam os táxis.Eu poderia dizer que era de Patrick Huxley e seria para sempre... Mas por algum motivo as palavras não saíram da minha boca. E acredito que foi por conta da seriedade com