A avó dele fez questão de dizer, enquanto punha as velas de 1 e 8 sobre o bolo:- Torta de frutas, sua preferida, Anastácia!Anastácia me encarou com um sorriso sarcástico e respondeu para a velhinha que de bondosa não tinha nada:- Ah, vó, você sabe todas as minhas manias e preferências! – A voz saiu dengosa.- Já sabe, Jason, sua mãe tem que mimar bem esta garota, porque igual a ela não existe! – Alfinetou ainda mais.Só faltou ela pegar meu boneco de vodu e cravar uma faca no coração, depois pisando em cima até sair todo o enchimento de dentro.- Realmente não existe! – falei baixinho, não resistindo.- Relaxa! – Pedro disse, pondo uma mecha do meu cabelo pra trás da orelha.O olhei, confusa com o gesto.Logo ela acendeu as velas com um isqueiro e todos começaram a cantar os parabéns, conforme ele havia dito que acontecia, por a vó não abrir mão daquele momento.Onde estariam os pais dele? Olhei em volta e não encontrei uma foto ou qualquer coisa que pudesse fazer menção à família
- Juro que não foi de propósito, dona Daiana! – Fui sincera, certa de que ela não acreditaria em mim.- Acha mesmo que acredito em você? – Ela pôs a mão na cintura, me olhando de forma acusadora.Abaixei-me e fui juntar os cacos, vendo que Jason e Anastácia já estavam ali, curiosos com o que tinha acontecido, certamente tendo ouvido o som de algo quebrando da sala.- Não acredito! – Anastácia falou em tom de voz alto – Como pôde, Clara?- Foi... Sem querer. – Levantei o rosto, olhando-a de relance.Quando a olhei, mesmo que de forma rápida, desviei a atenção do que estava fazendo e percebi que tinha deixado cravar um pedaço da porcelana na palma da mão, que começou a sangrar.Levantei, com os pedaços da caneca na minha mão, observando o rosto de Anastácia partido ao meio.- O que aconteceu? – Pedro olhou diretamente para minhas mãos.- Eu... Sinto muito. Quebrei a caneca... Sem querer.Imaginei que Pedro ficaria furioso, já que sabia que ele gostava de Anastácia. E bem ou mal, era a c
- Deve ser por conta... Do banheiro! – Me ouvi dizendo, tentando justificar.Esperei Flora fazer xixi e lavar as mãos e saímos do banheiro. Quando cheguei na sala, Pedro estava conversando com seu amigo Marcos.- Estamos de partida! – Anastácia se aproximou, com um presente nas mãos – Mas claro que não poderia ir sem antes de lhe dar seu presente.- Não precisava! – Pedro a olhou, com a caixa na mão, timidamente.- Abra! Faço questão! – ela sorriu.Todos estavam próximos, curiosos sobre o que era o presente. E eu fazia parte dos que queriam saber o que tinha dentro da caixa.Pedro desembrulhou, com as bochechas enrubescidas, e dentro da caixa havia um Discman.Puta que pariu, era um Discman! Além de caro, o sonho de qualquer pessoa. E junto ainda tinha um CD, novinho em folha.- Anastácia, isso é muito caro! – Ele a olhou, atônito – Não posso aceitar.- É só um presente, Pedro! Relaxa! – Jason sorriu e deu um tapinha no ombro dele.Os dois tinham uma diferença de altura bem visível. C
A foto de Pedro tinha sido a segunda que tirei com a máquina fotográfica que ganhei de minha tia. Me lembrei que precisava bater as 36 poses para poder revelar o filme, então tinha que começar a fotografar. Mandei-o fazer uma pose, mas acabei capturando a imagem quando ele estava de forma mais descontraída, antes. Não sabia como ficaria depois de revelada, mas eu não curtia muito fotos em que todos se arrumavam para saírem perfeitos. Achava muito mecânicas. Preferia aqueles momentos em que as pessoas estavam desprevenidas.Estava andando em direção à esquina, onde Pedro havia dito que tinha um ponto de táxi. Não deixei que ele me levasse, mesmo insistindo. Para minha sorte, vó Daiana o chamou para fazer algo que certamente o obrigou a ter que me deixar. Eu não queria ocupar o tempo dele.Andei menos de meia quadra quando um carro parou ao meu lado. Suspirei, com um pouco de medo e me atentei a olhar para frente. As ruas por ali não eram muito movimentadas àquela hora da noite.- Clara
Entrei no portão, sem olhar para trás. Assim que abri a porta de casa, deparei-me com meu pai, escorado, de braços cruzados, me esperado. O semblante dele era de deboche misturado com raiva. No entanto as palavras foram ofensivas e de desdém:- Nunca imaginei ter uma filha vagabunda.- Pai, eu não sou vagabunda.- Quase duas horas, chegar com um homem... É uma vagabunda!- Vim de carona. Era só um amigo.- Toda vagabunda diz isto.Respirei fundo:- Posso dormir?- Com quantos homens você já dormiu?- Nenhum.- O que está acontecendo aqui? – Minha mãe chegou, com os olhos inchados e vermelhos.Ficou claro que ela estava chorando.- Sua filha vagabunda chegou agora em casa... No carro de um macho.- Foi Jason... Aquele amigo que já comentei com você, mãe.- Sim, ela conhece este rapaz há um bom tempo, Joaquim... Inclusive já tinha comentado comigo sobre ele.- Ele tem um carrão. O que faz da vida?- Eu... Não sei. – Menti.- Já que perdeu a inocência mesmo, pelo menos escolha um homem d
Acordei com Jason balançando meu braço. Abri os olhos e ainda ouvi a gritaria vinda do telão. E o Titanic estava afundando.- Quanto tempo eu dormi? – Perguntei, passando os dedos nos olhos, tentando me manter acordada.- Uma hora e meia.- Quantas horas tem de duração a porra do filme? – Perguntei, assombrada.- Três horas e 16 minutos.- Vou ao banheiro! Preciso lavar o rosto.Fui saindo tentando não atrapalhar ninguém, já atrapalhando. Quando cheguei no banheiro, fiz xixi e depois lavei as mãos e passei uma água no rosto, a fim de despertar, embora o sono ainda me consumisse.Olhei-me no espelho e minha cara estava péssima. Pus um batom e vi Anastácia entrando. Ela ficou tão surpresa quanto eu ao me ver.- Que... Coincidência! – A voz dela foi melindrosa, como sempre.- Oh, quanta coincidência! – Concordei.- Ou não... Pré-estreia... Todo mundo queria ver este filme.- Verdade. – Tentei manter uma conversa amigável.- Pedro ama cinema.Senti um frio na barriga quando ela disse aqui
POV PEDROEsperei que Jason e Anastácia fizessem o mesmo: se dessem as mãos ou algo do tipo. Mas não o fizeram. Pelo visto o namoro de mentira deles estava pior que o meu e de Clara. E aquilo tudo era uma loucura.O certo era eu contar a Clara que sabia que eles estavam tentando nos fazer ciúme. Mas por algum motivo que eu desconhecia, não o fiz.Jason foi quem escolheu uma lanchonete próxima, bem popular e conhecida na cidade. O carro chefe do lugar era hambúrguer e eu nunca tinha frequentado, embora tivesse ouvido falar bem dali.Sentamos numa mesa com dois bancos grandes, almofadados, um casal de frente para o outro. Eu queria estar ali somente com Clara, para lhe explicar com calma que Anastácia simplesmente me convidou para assistir um filme e minha avó praticamente me obrigou a ir e que não tínhamos sequer nos tocado desde que entramos na sessão. Mas pelo visto não conseguiria.Fizemos nossos pedidos e vez ou outra conversávamos algo. O clima estava bem estranho.- Gostaram da c
POV PATRICKA lista telefônica era bem menor que o número de garotas que eu conhecia ou tinha me relacionado de alguma forma. Claro que havia a opção de sair e encontrar alguém, principalmente na noite. A questão era conseguir uma mulher decente para um relacionamento sério e casamento relâmpago. Afinal, não era um mês ou dois e sim dez anos. Eu não podia escolher qualquer pessoa, principalmente uma completa desconhecida, para dividir minha vida.E eu já estava na letra S. S de “Sem SuceSSo” até o momento.Apertei os botões com os números correspondentes ao telefone de Samantha. Eu havia dormido com ela recentemente. Não fazia mais de três meses.- Oi, Samantha. É o Patrick.- Patrick? – Ela ficou em dúvida sobre quem era.- Patrick Huxley.- Loiro, cabelos compridos, dono de um corpo perfeito e uma noite maravilhosa.Dei graças por ela lembrar de mim, porque eu ainda lembrava dela:- Morena, corpo escultural, olhos escuros, lábios gostosos e surpreendentes... Ouvi a risada dela do o