- Neste caso, “meu” gatinho! – Clara me abraçou pela cintura, puxando meu braço e fazendo com que eu a abraçasse.Eu ri, não conseguindo me controlar. Ela era engraçada e decidida.- Você está em vantagem, Clara, já que o meu namorado não pode entrar na escola. – Anastácia provocou.- Isso não é uma competição. Ou é? – Clara lhe perguntou seriamente.- Claro que não.- O que você fez com as flores?- Que flores? – Anastácia questionou, confusa.“Que flores?” Também me perguntei.- O buquê que Jason lhe deu.Ela ainda estava puta com o buquê?- Eu... Levei para casa. Mas elas já murcharam. Então joguei fora.- Eu não gosto de rosas vermelhas. – Clara mencionou, fingindo soberba.- Eu gosto – Anastácia percebeu o ciúme dela. – Principalmente rosas lindas como aquelas.- E do que você gosta, Clara? – Perguntei.- Rosas azuis.- Isso existe? – Me ouvi perguntando em voz alta.- Sim, existe. – Ela disse, sem muita convicção.- Bem, não vou atrapalhá-los. – Anastácia finalmente se tocou.-
POV PATRICKMe dei ao trabalho de ficar ali, no sol do meio-dia, esperando que a garota passasse, no horário habitual. Eu não entendia por qual motivo ela andava até a casa da amiga todos os dias somente para acompanhá-la e pegarem a van escolar juntas. Sabia que estudavam numa escola privada no centro da cidade, por conta da camiseta do uniforme que continha o nome e logotipo da instituição.Assim que vi a morena passar, com a mochila nas costas, usando uma saia jeans com botões metalizados na frente, a bainha desfiada, com um cinto cheio de rodelas prateadas, parecendo moedas, tênis Adidas branco com listras pretas, meias até os tornozelos e a camiseta da escola bem curta, preta, que deixava seu umbigo à mostra, a chamei:- Ei!Ela andou alguns passos e não tenho certeza se não ouviu ou fingiu não ouvir.- Ei, garota!Ela me olhou de relance e acenei, conseguindo a sua atenção, parando confusa.Nunca abordei uma garota daquela forma. Mas era bem claro que ela não era o tipo das mulh
Preferi ficar calado para não correr o risco de ser grosso.- Patrick, você ouviu o que eu disse? – Fez questão de perguntar.- Sim.- E não tem interesse em saber quais são as exigências?- Não quero me preocupar com isso, tia. No momento só quero que você fique bem. Nada me interessa mais do que isto... Sua saúde. – Sorri, fingindo realmente querer que ela se restabelecesse, no meu íntimo desejando que morresse ali, naquele momento, para que enfim eu pudesse viver a vida que sempre sonhei e esperei por tantos anos.- Pois deveria se preocupar, Patrick, ou corre o risco de você não receber nada.A fitei, confuso e preocupado:- Quais serias as exigências, tia?- Eu quero que case, Patrick.- Casar? – Minha voz saiu mais alta do que eu esperava.- Sim, quero que case com uma mulher.Não entendi se o “uma mulher” era por ela temer que eu pudesse ser homossexual, fazendo alusão ao meu cabelo, o que não era de duvidar, já que a velha era ridícula, ou se o que realmente queria era que eu
POV CLARA- Ok, agora você vai lá e pergunta. Vou ficar esperando atrás do muro da esquina. – Repassei com Flora o plano pela milésima vez.Finalmente ela andou. Escorei-me nos tijolos do muro, sentindo o cimento endurecido mal feito maltratar minhas costas, soltando um gemido de dor.E lá estava ela de volta.- Flora, você está brincando? – Perguntei seriamente.- Clara, eu nem conheço ele! – Tentou, nervosamente.- Conhece sim! Ele te chamou e até perguntou o seu nome. Agora vocês são amigos.- Não somos amigos! – ela enrugou a testa – Ele só perguntou se eu tinha uma máquina de escrever! – estava nervosa.- E você disse que “eu” tinha, ou seja, me entregou de bandeja para Patrick.- Eu não a entreguei de bandeja. Você sempre esteve na bandeja dele... – Riu.- É simples, Flora! Só o chame no portão e pergunte se ele gosta de mim e pronto.- E se ele disser que não?- Daí você vira as costas e vem embora.- E se eu chorar?- Você não faria isso na frente dele. E eu aposto que Patrick
- Ele escreveu que “Deus é o Deus dos valentes, porque valentes são aqueles que tomam decisões com medo. E mesmo assim, agem. Agem porque também acreditam em milagres.”- Isso... Quer dizer que Paulo Coelho mandou você não desistir?- Eu sou forte e valente. E prefiro me arrepender de ter recebido um não do que nunca ter tido coragem de mandar perguntar. Eu não desisti – confirmei – Ao menos não para sempre. Por hora, vou dar um tempo.- Vai?Assenti, olhando-a:- Não irei na aula a semana toda.- Por quê?- Porque não posso passar na frente da casa dele. Pode me dar taquicardia... E tenho medo de morrer no meio da rua. Porque... Agora que já deixamos tudo bem claro entre nós dois... Ele pode me chamar para perguntar das cartas.- Eu... Acho que você deveria desistir. Porque... Se estamos tirando pontos dele, devemos dar pontos ao Pedro.- Por quê? – Fiquei curiosa por ela ter inserido Pedro na conversa.- Porque ele te deu rosas azuis. E rosas azuis... Bem, são praticamente inexisten
- O que houve com o seu cabelo? – Anastácia perguntou, sequer me cumprimentando antes.- Ele decidiu dar uma repaginada... Assim como a dona! – Pisquei – Oi, Jason – fui na direção dele e lhe cumprimentei com um beijo no rosto.- Não me diga que tentou imitar a Geri Halliwell! – Alfinetou a loira aguada, que usava uma saia jeans e uma mini blusa verde tendo nos pés um Adidas marrom com bege.- Não, me “inspirei” nela. Inspirar, verbo transitivo direto e pronominal. Pode ser intransitivo em alguns casos – fiquei em dúvida – Mas significa causar inspiração, ser motivo de inspiração, provocar ideias ou pensamentos. Geri tem cabelos vermelhos com mechas douradas. No meu caso os cabelos são dourados e optei pelas mechas vermelhas. Se quiser, te passo o endereço do local onde fiz.Anastácia ficou me olhando, sem dizer nada.- Eu... Quero água! – Flora pediu, percebendo o clima tenso, tentando quebrá-lo.Logo reconheci um dos amigos de Pedro que estava na noite que nos conhecemos no Baccarat
A avó dele fez questão de dizer, enquanto punha as velas de 1 e 8 sobre o bolo:- Torta de frutas, sua preferida, Anastácia!Anastácia me encarou com um sorriso sarcástico e respondeu para a velhinha que de bondosa não tinha nada:- Ah, vó, você sabe todas as minhas manias e preferências! – A voz saiu dengosa.- Já sabe, Jason, sua mãe tem que mimar bem esta garota, porque igual a ela não existe! – Alfinetou ainda mais.Só faltou ela pegar meu boneco de vodu e cravar uma faca no coração, depois pisando em cima até sair todo o enchimento de dentro.- Realmente não existe! – falei baixinho, não resistindo.- Relaxa! – Pedro disse, pondo uma mecha do meu cabelo pra trás da orelha.O olhei, confusa com o gesto.Logo ela acendeu as velas com um isqueiro e todos começaram a cantar os parabéns, conforme ele havia dito que acontecia, por a vó não abrir mão daquele momento.Onde estariam os pais dele? Olhei em volta e não encontrei uma foto ou qualquer coisa que pudesse fazer menção à família
- Juro que não foi de propósito, dona Daiana! – Fui sincera, certa de que ela não acreditaria em mim.- Acha mesmo que acredito em você? – Ela pôs a mão na cintura, me olhando de forma acusadora.Abaixei-me e fui juntar os cacos, vendo que Jason e Anastácia já estavam ali, curiosos com o que tinha acontecido, certamente tendo ouvido o som de algo quebrando da sala.- Não acredito! – Anastácia falou em tom de voz alto – Como pôde, Clara?- Foi... Sem querer. – Levantei o rosto, olhando-a de relance.Quando a olhei, mesmo que de forma rápida, desviei a atenção do que estava fazendo e percebi que tinha deixado cravar um pedaço da porcelana na palma da mão, que começou a sangrar.Levantei, com os pedaços da caneca na minha mão, observando o rosto de Anastácia partido ao meio.- O que aconteceu? – Pedro olhou diretamente para minhas mãos.- Eu... Sinto muito. Quebrei a caneca... Sem querer.Imaginei que Pedro ficaria furioso, já que sabia que ele gostava de Anastácia. E bem ou mal, era a c