- Está tudo bem? Mamãe disse que você estava com dor de cabeça.Sentei na cama:- Dor de cabeça... Cólica...- Sei bem como é! Você precisa ir ao médico, Clara!- Você não tem noção do que o papai disse...- Mamãe me contou.- Ela concordou com ele, Renan.- Sabemos que ela não tem muita opção, não é mesmo? – Ele alisou meu rosto – Mas não fique chateada. Eu trouxe um remédio para você.- Trouxe? – Franzi a testa, surpresa.Ele sorriu e retirou debaixo da camiseta uma barra de chocolate. Avancei na mão dele e abri a embalagem: - Ah, Renan... Se você não fosse meu irmão, eu ficaria muito triste.Renan riu:- O que você não faz por um chocolate? Vira até uma boa mentirosa.- Se você soubesse o quão boa mentirosa eu sou! – Sorri tristemente.- Talvez eu deva fazer um estoque de chocolates para o seu período pré-menstrual.- Eu não ficaria braba.Renan sentou-se na minha cama.- Sabe que eu não gosto das mesmas músicas que você, não é mesmo? Mas você canta muito “Trem do amor”.- É do Si
- Pode me dizer o motivo? – O olhei seriamente, com a voz firme.- Não, não posso. E não sou obrigado. Não, porque não.- Tem que haver um motivo! – O enfrentei – Pelo menos me diga.- Não! – gritou, batendo na mesa, fazendo com que eu e minha mãe nos assustássemos.- Eu... Tenho 18 anos... – minha voz saiu fraca – Sou... Maior de idade.- Pouco me importa quantos anos você tenha! – falou entredentes – Eu mando nesta casa. E em você. E não irá na porra do show e pronto!Levantei da mesa e corri para o meu quarto, trancando a porta. Peguei uma mala e pus algumas roupas dentro. As lágrimas não me deixavam em paz, ofuscando minha visão de tanto que se derramavam. Pulei a janela e fui até o final do corredor que havia entre a casa e o muro, olhando o portão de saída. Respirei fundo. Era minha única alternativa: pegar minhas coisas e viver a vida longe dali. Enquanto estivesse sob o comando dele, jamais seria feliz.Olhei para a janela aberta e lembrei das minhas coisas... Meu quarto, min
Fui saindo dali de forma automática. Beverly veio correndo na minha direção, querendo saber o que houve. Eu sequer tinha uma explicação para lhe dar. Já estava na calçada quando Flora também chegou. - O que houve, Clara? – Quis saber o motivo pelo qual eu andava sem parar, desnorteada, em silêncio. - Quero ir embora! – Tentei conter o choro. - Mas... Podemos ir em outro lugar. – Sugeriu. - Talvez ela não queira, em função da possibilidade de ver Jason com aquela perua. – Beverly achou saber o que me incomodava. - Isso! Não quero arriscar ir em outro lugar e encontrar Jason com a namorada. – Menti. Logo Flora ligou para o pai, que chamou um táxi para nós. Assim que chegamos na casa dela, tomamos um banho e fomos deitar. Sempre dormíamos juntas, na cama de casal que ela tinha no quarto. - Você nem sequer secou os cabelos. – Flora alisou os fios úmidos, enquanto eu estava virada para o lado da parede. - Flora, você não vai acreditar quando eu contar quem vi naquele bar... - Que
- É a minha vida! – Ela gritou, deixando as lágrimas escorrerem – Você não tem o direito de se meter assim nela.- Eu vi... E não há o que ele diga para me convencer do contrário. Eu... Estava lá.- Clara, eu não quero que você se meta na minha vida. Nunca mais! – A voz dela estava mais mansa.Assenti, incapaz de dizer mais nada. Ela me abraçou com força:- Me perdoe pelo tapa!Não doeu tanto no corpo. Doeu na alma. Jamais esperei por aquela atitude dela. E me arrependi por ter tido pena de minha mãe tantas vezes. Talvez ela não merecesse. Só tinha a vida que desejava.- Me perdoa? – Ela pegou meu rosto entre suas mãos, aos prantos – Por favor, diga que sim...- Eu perdoo, mãe. – Sorri e a abracei.Eu não chorei. Porque a raiva que me consumia era mais forte que tudo. Passei o restante do dia no meu quarto, recortando letras coloridas de revistas e procurando frases interessantes de livros, onde eu grifava. Minha raiva e dor faziam com que o os meus sentimentos por Patrick ficassem ma
Lembrei que não namorava Pedro de verdade. Ou seja, não precisaria terminar com ele para ficar com Jason. Assim como não estava o traindo. Jason, por sua vez, pretendia trair Anastácia. Porque ele sim estava com ela e inclusive tinha lhe dado o maldito e gigantesco buquê de flores.Me flagrei sendo beijada por Jason, suas mãos passando pelo meu corpo, no meio da calçada, com as pessoas caminhando e certamente observando de forma atenta o casal de jovens naquele final de tarde. Aposto que imaginavam que estávamos apaixonados. No entanto eu incrivelmente ainda segurava minhas coisas, sem tocá-lo.Quando Jason me soltou, afirmou:- Você ainda gosta do meu beijo.- Tanto quanto de qualquer outro que saiba beijar. – Sorri.- Não diga que não tenho mais chance com você, Clara. Eu não acreditaria depois deste beijo.- A gente não tem mais nada, Jason. Aliás, nunca tivemos, não é mesmo? Você nunca sequer convidou para sair.- Estou convidando agora. Eu errei e peço desculpas.- Você tem uma n
- Neste caso, “meu” gatinho! – Clara me abraçou pela cintura, puxando meu braço e fazendo com que eu a abraçasse.Eu ri, não conseguindo me controlar. Ela era engraçada e decidida.- Você está em vantagem, Clara, já que o meu namorado não pode entrar na escola. – Anastácia provocou.- Isso não é uma competição. Ou é? – Clara lhe perguntou seriamente.- Claro que não.- O que você fez com as flores?- Que flores? – Anastácia questionou, confusa.“Que flores?” Também me perguntei.- O buquê que Jason lhe deu.Ela ainda estava puta com o buquê?- Eu... Levei para casa. Mas elas já murcharam. Então joguei fora.- Eu não gosto de rosas vermelhas. – Clara mencionou, fingindo soberba.- Eu gosto – Anastácia percebeu o ciúme dela. – Principalmente rosas lindas como aquelas.- E do que você gosta, Clara? – Perguntei.- Rosas azuis.- Isso existe? – Me ouvi perguntando em voz alta.- Sim, existe. – Ela disse, sem muita convicção.- Bem, não vou atrapalhá-los. – Anastácia finalmente se tocou.-
POV PATRICKMe dei ao trabalho de ficar ali, no sol do meio-dia, esperando que a garota passasse, no horário habitual. Eu não entendia por qual motivo ela andava até a casa da amiga todos os dias somente para acompanhá-la e pegarem a van escolar juntas. Sabia que estudavam numa escola privada no centro da cidade, por conta da camiseta do uniforme que continha o nome e logotipo da instituição.Assim que vi a morena passar, com a mochila nas costas, usando uma saia jeans com botões metalizados na frente, a bainha desfiada, com um cinto cheio de rodelas prateadas, parecendo moedas, tênis Adidas branco com listras pretas, meias até os tornozelos e a camiseta da escola bem curta, preta, que deixava seu umbigo à mostra, a chamei:- Ei!Ela andou alguns passos e não tenho certeza se não ouviu ou fingiu não ouvir.- Ei, garota!Ela me olhou de relance e acenei, conseguindo a sua atenção, parando confusa.Nunca abordei uma garota daquela forma. Mas era bem claro que ela não era o tipo das mulh
Preferi ficar calado para não correr o risco de ser grosso.- Patrick, você ouviu o que eu disse? – Fez questão de perguntar.- Sim.- E não tem interesse em saber quais são as exigências?- Não quero me preocupar com isso, tia. No momento só quero que você fique bem. Nada me interessa mais do que isto... Sua saúde. – Sorri, fingindo realmente querer que ela se restabelecesse, no meu íntimo desejando que morresse ali, naquele momento, para que enfim eu pudesse viver a vida que sempre sonhei e esperei por tantos anos.- Pois deveria se preocupar, Patrick, ou corre o risco de você não receber nada.A fitei, confuso e preocupado:- Quais serias as exigências, tia?- Eu quero que case, Patrick.- Casar? – Minha voz saiu mais alta do que eu esperava.- Sim, quero que case com uma mulher.Não entendi se o “uma mulher” era por ela temer que eu pudesse ser homossexual, fazendo alusão ao meu cabelo, o que não era de duvidar, já que a velha era ridícula, ou se o que realmente queria era que eu