POV PEDROEu estava completamente perdido. Não sabia o que fazer, nem como. Andava de um lado para o outro, pensando em como seria minha vida dali por diante. Eu não tinha mais ninguém. A família Moratti não existia mais, já que eu era o último a carregar aquele sobrenome.Anastácia me trouxe um copo de água. Eu não estava com sede, mas bebi todo o líquido, não sabendo ao certo o motivo pelo qual ela me deu aquilo.- Meus pais providenciarão tudo com relação ao funeral, Pedro. Não precisa se preocupar com nada.- Eu... Agradeço. Porque... Não sei como fazer isso.- Papai disse que estas coisas são realmente demoradas. Agora precisamos aguardar a liberação do corpo. Então seguiremos para o local onde será velado.- Isso... De velar... É necessário?- Sim, segundo papai é.Balancei a cabeça, confuso. Eu estava sentado no degrau que acessava a parte da frente de minha residência. E já passava da 1 hora da madrugada.Anastácia pegou minha mão e deu um beijo:- Sempre estarei ao seu lado,
Suspirei:- Você gosta muito de Renan, não é mesmo?- Imensamente... Como jamais serei capaz de gostar de outra pessoa.Sorri:- Sei bem como é isto.Deitei novamente a cabeça no ombro dela e Flora começou a alisar meus cabelos, sabendo o quanto aquilo me relaxava. Pedro também sabia que eu gostava que mexessem nos meus cabelos. Deus, como eu o queria ali comigo. Sabia que era um péssimo momento para ele conhecer minha família, mas ao mesmo tempo tinha a parte boa: meu pai não estava presente.Eu devia a vida do meu pai à Flora Amorin e sua família, que nos emprestaram o dinheiro para podermos fazer a transferência para um hospital privado.Agora meu pai estava na UTI e o médico havia explicado que faria exames e provavelmente teria que fazer um cateterismo, nos explicando como funcionava. Ainda assim estávamos ali, aguardando que nos dissessem que tudo ficaria bem, embora não tivéssemos certeza se ficaríamos tranquilos.Olhei minha mãe com os olhos inchados e cheguei a me perguntar p
Corri na direção do lugar de onde eu havia vindo, passando pelo portão e tentando pensar rapidamente no que fazer. Todos já estavam partindo e mais cedo ou mais tarde Pedro também sairia. E só havia uma estrada em direção à área urbana da cidade, o que faria com que ele e Anastácia me vissem no caminho.E demorou menos tempo do que eu previa para que Pedro saísse de dentro do cemitério, junto de Anastácia. Corri e escondi-me atrás de um dos carros que ainda estava estacionado. Eles não estavam mais de mãos dadas. Mas entraram no mesmo carro, ambos sentando atrás. Na frente certamente estavam os pais de Anastácia, já que a mulher era bem parecida com ela. Os reconheci como sendo o casal que havia passado por mim minutos antes, de mãos dadas.Logo eles partiram e o outro carro ao lado também. E se eu não pegasse carona com o último carro não teria forças suficientes para caminhar de volta até o ponto de ônibus.Pediria carona. E quando vi o padre, vestindo batina, abrindo a porta do aut
- Não. Só fiquei com a parte dos bens da família Moratti, já que meu pai cuidava desta parte para o seu. Mas pelo que sei, o motorista que estava ao volante na hora do acidente foi inocentado, não?- Foi? Para mim é tudo muito confuso. Mas eu gostaria de saber o nome dele.- Não trabalho com isto. Minha área é a partilha de bens, heranças e inventários. Mas posso lhe indicar um advogado que o represente. Facilmente ele poderá ir ao Fórum e descobri tudo sobre o processo arquivado.- Eu gostaria sim.Ele pegou sobre a mesa um cartão de visitas com o nome, telefone e endereço comercial do advogado. Guardei no bolso. Era hora de descobrir o nome do desgraçado que havia deixado minha mãe em coma e causado toda a tragédia na minha família.Liberado, voltei para minha residência. Cheguei ao final do dia e poderia ir à aula, mas estava cansado e acabei ficando em casa. Até tinha intenção de ir, mas com o intuito de ver Clara. Porém naquele horário ela já tinha saído.Deitei na cama, do jeito
Um mês... Fazia exatamente trinta dias que eu não o via. Parei o curso de Inglês para não ter que ficar na presença dele. Mas vez ou outra matava tempo na frente da escola para ver se ele aparecia. Mas não... O destino definitivamente nos queria longe um do outro. Ou talvez fosse Pedro que não quisesse cruzar comigo nunca mais.O mais engraçado de tudo é que o errado foi ele, no entanto pareceu querer que eu me sentisse culpada pelo que houve.Não, eu não me culparia.Naquela noite eu iria no Baccarath com Flora. E por mais louco que pudesse parecer, foi ela quem insistiu para sairmos:- Não aguento mais vê-la deste jeito, como um zumbi, sofrendo por Pedro. Nunca imaginei que um dia iria dizer isto, mas “que saudade de Patrick” – falou seriamente – Hoje iremos no Baccarath e você vai beijar muito na boca.- Não estou com vontade de sair, Flora. – Resisti.- Tantas vezes eu também não estava e fui porque você insistiu. Agora é sua vez de ir por minha causa.Sorri tristemente, aceitando
Foi quando meus olhos brilharam de satisfação. Sorte, destino ou simplesmente a salvação trazida por Beverly? Lá estava ele, Jason, cortando caminho entre a multidão dançante junto da amiga.Assim que chegaram até nós, sorri na sua direção. Jason veio imediatamente até mim e deu-me um beijo no rosto:- Quanto tempo, Clarinha.- Sim, muito tempo! – confirmei – Mas não tanto quanto no passado, não é mesmo? – Lembrei dos longos períodos que ficávamos sem nos ver, cada um vivendo sua vida, até que nos encontrávamos numa festa qualquer e “ficávamos”.Jason suspirou, arrependido:- Eu era um idiota e não sabia.- Quem já não foi um idiota nesta vida, não é mesmo? – Ri, tentando encontrar Pedro com meus olhos, não o vendo mais.Senti um frio na barriga e ao mesmo tempo tristeza por ele ter ido embora. Não sabia se aquele sentimento era porque Pedro não tinha me visto com Jason ou porque fiquei pensando no que estaria fazendo com Anastácia em sua casa, já que dona Daiana havia morrido e agora
Antes que eu conseguisse sair da pista, Pedro já estava me puxando pelo braço, com os olhos cheios de raiva na minha direção:- Vai pagar por isto.- Otário! Mentiroso! Traidor! Infiel! Já não paguei o suficiente, conhecendo você, o meu carma?- Mentiroso? Traidor? Infiel? – ele pôs a mão no peito – “Eu” sou tudo isto? Por que, Clara? O que eu menti, porra?Jason chegou e encarou Pedro:- Deixe-a em paz! – Me pegou pela mão, enlaçando os dedos nos meus.Pedro olhou para nossas mãos e balançou a cabeça, com olhar desdenhoso:- Ainda estava com ele quando fizemos aquela viagem?- Eu não sou como você! - Gritei.- Não mesmo... Eu não fiz com você o que ele fez.- Não? – eu ri, retirando minha mão da de Jason e me afastando dos dois – Você fez pior...Anastácia chegou, tentando pegar a mão de Pedro, que se desvencilhou.- Pedro, chega! Estão chamando a atenção de todo mundo. – Olhou à volta.- O que eu fiz pior? Vamos, Clara, diga de uma vez! Não seja uma covarde...Com o dedo indicador
POV PEDROEu quase não acreditei quando senti o gosto de Clara novamente, sua língua morna na minha, nossas salivas se misturando, até que eu não soubesse mais qual era a minha e qual era a dela.Se pudesse, eu a devorava ali mesmo, matando a saudade que me consumiu a cada segundo desde que nos separamos naquele final de tarde, por um mal-entendido.Era como se meu corpo necessitasse do de Clara para sobreviver. Eu sentia sua bochecha quente enquanto meus lábios envolviam os dela, a língua procurava a sua para um movimento sincronizado, certamente ensaiado ao longo de vidas e vidas antes daquele momento, conforme ela sempre acreditou e eu começava também a crer. Porque o que eu sentia por aquela garota era forte demais para ser adquirido com tão pouco tempo de convivência.O ar me faltava, mas eu tinha medo de soltá-la e perde-la novamente.Foi Clara quem retirou as minhas mãos de seu rosto e encerrou nosso beijo, com o ar faltando em seus pulmões, respirando profundamente.- Desculpe