- Não. Só fiquei com a parte dos bens da família Moratti, já que meu pai cuidava desta parte para o seu. Mas pelo que sei, o motorista que estava ao volante na hora do acidente foi inocentado, não?- Foi? Para mim é tudo muito confuso. Mas eu gostaria de saber o nome dele.- Não trabalho com isto. Minha área é a partilha de bens, heranças e inventários. Mas posso lhe indicar um advogado que o represente. Facilmente ele poderá ir ao Fórum e descobri tudo sobre o processo arquivado.- Eu gostaria sim.Ele pegou sobre a mesa um cartão de visitas com o nome, telefone e endereço comercial do advogado. Guardei no bolso. Era hora de descobrir o nome do desgraçado que havia deixado minha mãe em coma e causado toda a tragédia na minha família.Liberado, voltei para minha residência. Cheguei ao final do dia e poderia ir à aula, mas estava cansado e acabei ficando em casa. Até tinha intenção de ir, mas com o intuito de ver Clara. Porém naquele horário ela já tinha saído.Deitei na cama, do jeito
Um mês... Fazia exatamente trinta dias que eu não o via. Parei o curso de Inglês para não ter que ficar na presença dele. Mas vez ou outra matava tempo na frente da escola para ver se ele aparecia. Mas não... O destino definitivamente nos queria longe um do outro. Ou talvez fosse Pedro que não quisesse cruzar comigo nunca mais.O mais engraçado de tudo é que o errado foi ele, no entanto pareceu querer que eu me sentisse culpada pelo que houve.Não, eu não me culparia.Naquela noite eu iria no Baccarath com Flora. E por mais louco que pudesse parecer, foi ela quem insistiu para sairmos:- Não aguento mais vê-la deste jeito, como um zumbi, sofrendo por Pedro. Nunca imaginei que um dia iria dizer isto, mas “que saudade de Patrick” – falou seriamente – Hoje iremos no Baccarath e você vai beijar muito na boca.- Não estou com vontade de sair, Flora. – Resisti.- Tantas vezes eu também não estava e fui porque você insistiu. Agora é sua vez de ir por minha causa.Sorri tristemente, aceitando
Foi quando meus olhos brilharam de satisfação. Sorte, destino ou simplesmente a salvação trazida por Beverly? Lá estava ele, Jason, cortando caminho entre a multidão dançante junto da amiga.Assim que chegaram até nós, sorri na sua direção. Jason veio imediatamente até mim e deu-me um beijo no rosto:- Quanto tempo, Clarinha.- Sim, muito tempo! – confirmei – Mas não tanto quanto no passado, não é mesmo? – Lembrei dos longos períodos que ficávamos sem nos ver, cada um vivendo sua vida, até que nos encontrávamos numa festa qualquer e “ficávamos”.Jason suspirou, arrependido:- Eu era um idiota e não sabia.- Quem já não foi um idiota nesta vida, não é mesmo? – Ri, tentando encontrar Pedro com meus olhos, não o vendo mais.Senti um frio na barriga e ao mesmo tempo tristeza por ele ter ido embora. Não sabia se aquele sentimento era porque Pedro não tinha me visto com Jason ou porque fiquei pensando no que estaria fazendo com Anastácia em sua casa, já que dona Daiana havia morrido e agora
Antes que eu conseguisse sair da pista, Pedro já estava me puxando pelo braço, com os olhos cheios de raiva na minha direção:- Vai pagar por isto.- Otário! Mentiroso! Traidor! Infiel! Já não paguei o suficiente, conhecendo você, o meu carma?- Mentiroso? Traidor? Infiel? – ele pôs a mão no peito – “Eu” sou tudo isto? Por que, Clara? O que eu menti, porra?Jason chegou e encarou Pedro:- Deixe-a em paz! – Me pegou pela mão, enlaçando os dedos nos meus.Pedro olhou para nossas mãos e balançou a cabeça, com olhar desdenhoso:- Ainda estava com ele quando fizemos aquela viagem?- Eu não sou como você! - Gritei.- Não mesmo... Eu não fiz com você o que ele fez.- Não? – eu ri, retirando minha mão da de Jason e me afastando dos dois – Você fez pior...Anastácia chegou, tentando pegar a mão de Pedro, que se desvencilhou.- Pedro, chega! Estão chamando a atenção de todo mundo. – Olhou à volta.- O que eu fiz pior? Vamos, Clara, diga de uma vez! Não seja uma covarde...Com o dedo indicador
POV PEDROEu quase não acreditei quando senti o gosto de Clara novamente, sua língua morna na minha, nossas salivas se misturando, até que eu não soubesse mais qual era a minha e qual era a dela.Se pudesse, eu a devorava ali mesmo, matando a saudade que me consumiu a cada segundo desde que nos separamos naquele final de tarde, por um mal-entendido.Era como se meu corpo necessitasse do de Clara para sobreviver. Eu sentia sua bochecha quente enquanto meus lábios envolviam os dela, a língua procurava a sua para um movimento sincronizado, certamente ensaiado ao longo de vidas e vidas antes daquele momento, conforme ela sempre acreditou e eu começava também a crer. Porque o que eu sentia por aquela garota era forte demais para ser adquirido com tão pouco tempo de convivência.O ar me faltava, mas eu tinha medo de soltá-la e perde-la novamente.Foi Clara quem retirou as minhas mãos de seu rosto e encerrou nosso beijo, com o ar faltando em seus pulmões, respirando profundamente.- Desculpe
- Porra, você está bem? – Pus as mãos no rosto, preocupado, em seguida a virando de costas para ver seu corpo.- Eu... Acho que sim... – A voz dela soou fraca.Verifiquei suas costas bem como os ombros, para ver se havia ficado algum vestígio de vidro em sua pele.- Sente dor? – Me senti tão culpado que não tinha palavras.- Não... Está tudo bem. – Ela começou a rir.- Clara, isso foi sério! – Balancei a cabeça, atordoado – Você poderia ter se ferido seriamente.- Mas não me feri... – Agora ela gargalhava – Acho que quebramos uma vidraça, Pedro.- Acha? Eu tenho certeza. Que porra! – Tentei fazê-la parar de rir.- Você pensa em pagar o conserto?- Juro que sim. Mas mandarei o dinheiro de forma anônima. Jamais seria capaz de dizer que apertei tanto minha namorada contra a vidraça que a quebramos. Eu poderia tê-la deixado gravemente ferida.- Relaxa, Pedro Moratti! E me beije... Até cansar... – Ela provocou.Em dúvida entre beijá-la ou ainda me certificar de que Clara havia saído ilesa,
Ela virou-se imediatamente. Usava um avental estampado. Os cabelos loiros estavam arrumados num rabo de cavalo no alto da cabeça e eu não precisava perguntar quem era, porque os olhos dela eram exatamente como os de Clara.A mulher veio na minha direção, secando as mãos no avental. Era magra, alta, tinha a pele clara e os olhos azuis profundos.- Clara! – Ela gritou o nome da filha e sorriu – Você deve ser Pedro.- Sim... Sou eu – Entreguei-lhe o buque de rosas brancas – Obrigada por me receber na sua casa.A mulher pegou o buque e olhou atentamente para as flores e percebi as lágrimas rolando imediatamente por suas bochechas.- Eu... Fiz algo errado? Se sim... Peço desculpas. – Senti meu coração acelerar, amedrontado.- Não... De forma alguma... – a voz dela embargou.Por sorte Clara apareceu, me tranquilizando com sua presença, enfim.Ela olhou para as flores que a mãe tinha nas mãos e enrugou a testa:- Mãe... Você está chorando?A mulher limpou as lágrimas e sorriu:- Eu... Nunca
Meu pai parou e o encarou antes de dizer:- Desde que me traga um vinho caro cada vez que vier vê-la, por mim tudo bem.Achei que Joaquim pudesse rir, fingido que era uma brincadeira, mas não o fez.- Joaquim está brincando! – Minha mãe tentou ajeitar a situação, sem jeito.- Não, não estou! – meu pai deixou claro.Fiquei imaginando se ele deixaria Pedro dormir comigo por um uísque de qualidade, daqueles caros.- O que você faz da vida, Pedro? – Joaquim perguntou.- Estou terminando o Ensino Médio e cursarei Direito.- E seus pais?Pedro relutou um pouco em responder:- Morreram... Faz um tempo.- Sinto muito... – Minha mãe o olhou, de forma piedosa.- Esta casa é de respeito. Não dormirá com Clara.- Não é minha intenção... Desrespeitá-la... Senhor Versiani.Pedro ainda tinha os dedos enlaçados aos meus e me olhou de relance.- Não criei filha para ser vagabunda. – Ainda queria se exibir, deixando claro o quanto era patético e ridículo.- Entendo... Perfeitamente. – Pedro disse de fo