Assim que cheguei em casa, passei direto por meu pai, que olhava televisão na sala e abri a mochila que havia levado na viagem, colocando mais roupas dentro. Minha máquina fotográfica já estava ali. Passei a mão na máquina de escrever, nos materiais escolares e peguei Pipeline, que rosnava e me lambia, feliz com o meu retorno, certamente louca de saudades.Mas eu não tinha sequer tempo de dar-lhe atenção. Assim que terminei d arrumar tudo, em menos de cinco minutos, já ouvi a confusão vindo da sala, com meu pai aos berros, certamente por conta da roupa de minha mãe, que nem dela era.Quando saí pela porta Joaquim me olhou, incrédulo:- Onde você pensa que vai?- Vou embora desta casa. – Falei em alto e bom som, para que não houvesse nenhuma dúvida.Ele gargalhou:- Você e sua mãe estão loucas? Isso é uma brincadeira, não é mesmo?- Não fico mais um minuto aqui. – Avisei.- Mas... – olhou para minha mãe, dos pés à cabeça – As vagabundas irão morar juntas?Balancei a cabeça, sorrindo de
POV PEDRO- Eu não quero saber de você com esta menina. – Minha avó ainda gritava, completamente descontrolada.- Vó, você precisa entender que eu amo Clara.- Você tem 18 anos, Pedro. Não é capaz de saber o que é amor... Tampouco amar alguém.- Eu amo Clara. – Reafirmei – E não importa o que me diga, vó, eu não a deixarei.- Conhece a família dela?- Não.Ela riu, de forma debochada:- Nunca se perguntou o motivo pelo qual ela não lhe apresentou a família?- Nos conhecemos há pouco tempo, vó.- Pouco tempo? Já fazem meses.- Eu conhecerei a família dela, se é isso que quer.- Eu não quero você com esta garota de sobrenome Versiani.A olhei firmemente, incrédulo pelo preconceito nítido em seu comentário:- Se Clara fosse dos Versiani da empresa de “não sei o que”, que mencionou quando ela esteve na minha festa, então seria boa o suficiente para mim, não é mesmo?- Você não pode se relacionar com uma Versiani de Laranjeiras.- Clara nunca fingiu ser rica. Ela nunca mentiu para mim.- O
POV PEDROEu estava completamente perdido. Não sabia o que fazer, nem como. Andava de um lado para o outro, pensando em como seria minha vida dali por diante. Eu não tinha mais ninguém. A família Moratti não existia mais, já que eu era o último a carregar aquele sobrenome.Anastácia me trouxe um copo de água. Eu não estava com sede, mas bebi todo o líquido, não sabendo ao certo o motivo pelo qual ela me deu aquilo.- Meus pais providenciarão tudo com relação ao funeral, Pedro. Não precisa se preocupar com nada.- Eu... Agradeço. Porque... Não sei como fazer isso.- Papai disse que estas coisas são realmente demoradas. Agora precisamos aguardar a liberação do corpo. Então seguiremos para o local onde será velado.- Isso... De velar... É necessário?- Sim, segundo papai é.Balancei a cabeça, confuso. Eu estava sentado no degrau que acessava a parte da frente de minha residência. E já passava da 1 hora da madrugada.Anastácia pegou minha mão e deu um beijo:- Sempre estarei ao seu lado,
Suspirei:- Você gosta muito de Renan, não é mesmo?- Imensamente... Como jamais serei capaz de gostar de outra pessoa.Sorri:- Sei bem como é isto.Deitei novamente a cabeça no ombro dela e Flora começou a alisar meus cabelos, sabendo o quanto aquilo me relaxava. Pedro também sabia que eu gostava que mexessem nos meus cabelos. Deus, como eu o queria ali comigo. Sabia que era um péssimo momento para ele conhecer minha família, mas ao mesmo tempo tinha a parte boa: meu pai não estava presente.Eu devia a vida do meu pai à Flora Amorin e sua família, que nos emprestaram o dinheiro para podermos fazer a transferência para um hospital privado.Agora meu pai estava na UTI e o médico havia explicado que faria exames e provavelmente teria que fazer um cateterismo, nos explicando como funcionava. Ainda assim estávamos ali, aguardando que nos dissessem que tudo ficaria bem, embora não tivéssemos certeza se ficaríamos tranquilos.Olhei minha mãe com os olhos inchados e cheguei a me perguntar p
Corri na direção do lugar de onde eu havia vindo, passando pelo portão e tentando pensar rapidamente no que fazer. Todos já estavam partindo e mais cedo ou mais tarde Pedro também sairia. E só havia uma estrada em direção à área urbana da cidade, o que faria com que ele e Anastácia me vissem no caminho.E demorou menos tempo do que eu previa para que Pedro saísse de dentro do cemitério, junto de Anastácia. Corri e escondi-me atrás de um dos carros que ainda estava estacionado. Eles não estavam mais de mãos dadas. Mas entraram no mesmo carro, ambos sentando atrás. Na frente certamente estavam os pais de Anastácia, já que a mulher era bem parecida com ela. Os reconheci como sendo o casal que havia passado por mim minutos antes, de mãos dadas.Logo eles partiram e o outro carro ao lado também. E se eu não pegasse carona com o último carro não teria forças suficientes para caminhar de volta até o ponto de ônibus.Pediria carona. E quando vi o padre, vestindo batina, abrindo a porta do aut
- Não. Só fiquei com a parte dos bens da família Moratti, já que meu pai cuidava desta parte para o seu. Mas pelo que sei, o motorista que estava ao volante na hora do acidente foi inocentado, não?- Foi? Para mim é tudo muito confuso. Mas eu gostaria de saber o nome dele.- Não trabalho com isto. Minha área é a partilha de bens, heranças e inventários. Mas posso lhe indicar um advogado que o represente. Facilmente ele poderá ir ao Fórum e descobri tudo sobre o processo arquivado.- Eu gostaria sim.Ele pegou sobre a mesa um cartão de visitas com o nome, telefone e endereço comercial do advogado. Guardei no bolso. Era hora de descobrir o nome do desgraçado que havia deixado minha mãe em coma e causado toda a tragédia na minha família.Liberado, voltei para minha residência. Cheguei ao final do dia e poderia ir à aula, mas estava cansado e acabei ficando em casa. Até tinha intenção de ir, mas com o intuito de ver Clara. Porém naquele horário ela já tinha saído.Deitei na cama, do jeito
Um mês... Fazia exatamente trinta dias que eu não o via. Parei o curso de Inglês para não ter que ficar na presença dele. Mas vez ou outra matava tempo na frente da escola para ver se ele aparecia. Mas não... O destino definitivamente nos queria longe um do outro. Ou talvez fosse Pedro que não quisesse cruzar comigo nunca mais.O mais engraçado de tudo é que o errado foi ele, no entanto pareceu querer que eu me sentisse culpada pelo que houve.Não, eu não me culparia.Naquela noite eu iria no Baccarath com Flora. E por mais louco que pudesse parecer, foi ela quem insistiu para sairmos:- Não aguento mais vê-la deste jeito, como um zumbi, sofrendo por Pedro. Nunca imaginei que um dia iria dizer isto, mas “que saudade de Patrick” – falou seriamente – Hoje iremos no Baccarath e você vai beijar muito na boca.- Não estou com vontade de sair, Flora. – Resisti.- Tantas vezes eu também não estava e fui porque você insistiu. Agora é sua vez de ir por minha causa.Sorri tristemente, aceitando
Foi quando meus olhos brilharam de satisfação. Sorte, destino ou simplesmente a salvação trazida por Beverly? Lá estava ele, Jason, cortando caminho entre a multidão dançante junto da amiga.Assim que chegaram até nós, sorri na sua direção. Jason veio imediatamente até mim e deu-me um beijo no rosto:- Quanto tempo, Clarinha.- Sim, muito tempo! – confirmei – Mas não tanto quanto no passado, não é mesmo? – Lembrei dos longos períodos que ficávamos sem nos ver, cada um vivendo sua vida, até que nos encontrávamos numa festa qualquer e “ficávamos”.Jason suspirou, arrependido:- Eu era um idiota e não sabia.- Quem já não foi um idiota nesta vida, não é mesmo? – Ri, tentando encontrar Pedro com meus olhos, não o vendo mais.Senti um frio na barriga e ao mesmo tempo tristeza por ele ter ido embora. Não sabia se aquele sentimento era porque Pedro não tinha me visto com Jason ou porque fiquei pensando no que estaria fazendo com Anastácia em sua casa, já que dona Daiana havia morrido e agora