Virei-me para trás, assustada. E ele não estava mais ali.- Minha mente, assim como a sua, também é bagunçada, assim como meu passado e meu futuro, Renan. Me desculpe por julgá-lo. Você sempre teve razão... Somos incapazes de fazer qualquer pessoa feliz... Porque estamos destruídos. Acho que sempre estivemos em pedaços, meu irmão. Só provamos um pouquinho da felicidade... Para nos certificarmos de que ela existia. Mas nunca foi para nós. Porque não merecemos... Eu por ser uma vagabunda e você por ser um incapaz. Nosso pai sempre teve razão.A porta se abriu e vi Patrick atrás de mim. Pensei que ele diria qualquer coisa, mas não. Ficou me analisando completamente nua... Certamente dizendo para si mesmo que casaria com uma vagabunda.- Eu... Achei que estaria pronta. – Ele disse, me olhando pelo espelho, visivelmente tentando focar nos meus olhos e não no corpo.- Não tenho roupas... Não sei se o vestido secou.Suspirei e fui até o box, pegando a toalha úmida e me enrolando nela. Patric
- Como assim quer voltar? – Patrick me encarou, confuso.- Quero voltar. – Insisti.- Eu durmo com você. – Afirmou, como se aquele fosse o motivo por eu estar tentando voltar atrás.Eu ri:- Não é sobre dormir ou não com você. Pouco me importa. Eu... Fui precipitada. Não podemos casar deste jeito.- Você precisa do dinheiro, Clara. Ninguém pede 1 milhão de norians se não precisa de verdade. Quer trocar de sobrenome e sei que deseja ter uma vida diferente. E eu também estou em busca disto. Farei tudo que me pediu. A começar por nossa saída deste país. Pelo pouco que me contou, duvido que Pedro a perdoe. Por mais que ele goste de você, sempre que a olhar, verá a filha do homem que praticamente matou sua mãe. Como acha que viverão? Crê mesmo que poderão ser felizes? Ao meu lado ao menos terá liberdade. E poderá recomeçar sua vida do zero, longe do seu pai manipulador... E cheio de problemas. E estará dando uma chance a Pedro... De encontrar alguém e ser feliz.Respirei fundo e sentei-me
Sophie fez menção de reclamar, mas acabou se contendo. Um novo documento foi emitido e ao final Patrick e eu assinamos. E a partir daquele momento eu passaria a me chamar:- Ana Clara Huxley. – Patrick me olhou, com a certidão na mão – Não sabia do “Ana”... – sorriu.- Não costumo usar. E também não gosto dele. – Me limitei a dizer.- Pelo menos agora sei o nome real da minha esposa.Estávamos saindo do cartório quando Sophie disse:- Precisamos ir ao encontro do advogado.- Sim, iremos agora. – Patrick concordou.- Clara poderia ficar no Hotel. Ela não tem porque vir conosco. É assunto... Nosso.- Mãe, Clara sabe de tudo. Não precisamos fingir para ela que não estamos herdando uma quantia por conta do casamento... E com a ajuda dela.- Na verdade... Ela não está nos ajudando... – Me olhou a mulher, parecendo insatisfeita com a revelação do filho.- Mãe, pode me dar um minuto com Clara, por favor?Sophie me analisou dos pés a cabeça e saiu, a contragosto. Patrick pegou meus ombros e o
- Alô...- Félix! Sou eu, Clara.- Clara, por Deus, onde você está? Sua mãe está apavorada. Inclusive iria à Polícia registrar o seu sumiço... Não sei se ela já não o fez, inclusive.- Sabe se ela está em casa? Imagino que já esteja de volta... Já que o senhor sabia do meu sumiço.- Irei chamá-la, Clara. Fique na linha... Por favor, não saia.Aguardei um tempo e observei Patrick por perto, não sabendo se ele conseguia ou não ouvir o que eu dizia.Não demorou muito tempo até que eu ouvisse a voz da minha mãe:- Clara? Por Deus, é você, minha filha... – percebi que ela começou a chorar.- Sim, mãe, sou eu. Estou bem.- O que houve? Onde você está? Quer que eu a busque, é isso?- Não, mãe... Não quero que me busque. Não voltarei para casa.- Como assim não voltará? Você... Está com Pedro? Mas... Ele ligou há pouco tempo para saber de você... Então... Encontrou-o agora?Só de ouvir o nome dele e saber que me procurava já senti meu coração acelerar e a boca do estômago doer. Não deveria, m
- Como assim?- É o que você ouviu, amigo. Tia Dorinha morreu e deixou toda a herança para mim.- Nossa... Eu deveria ficar feliz... Mas sentirei muito a sua falta, Patrick.- Estou ligando para dizer que lhe mandarei um contrato passando a Huxley para você.- Como assim?- Quero que fique com a minha loja. Sabe o quanto ela tem um valor sentimental para mim e não há ninguém no mundo que eu quereria mais que ficasse com a Huxley.- Eu... Posso tentar pegar emprestado um dinheiro com alguém... Já que não deu certo no banco aquela vez. Mas não posso aceitar que me dê a Huxley de mãos beijadas. Sei o quanto se esforçou para levantar aquela loja, Patrick. - Felizmente não preciso mais correr atrás de dinheiro. Fui um sortudo na vida, literalmente. E não aceito “não” como resposta. A Huxley é um presente... Não só em nome da nossa amizade, mas também de tudo que você passou comigo ao longo destes anos, nas horas boas e ruins.- Eu... Fico grato... De coração.- Como não voltarei a Laranje
POV CLARANunca na vida imaginei que pudesse haver algo como o Imperial Hotel Gold Coast, em Queensland. Além de gigantesco, talvez em tamanho um pouco menor que a cidade inteira de Laranjeiras, os quartos eram um por andar em cada um dos complexos, que em formato de losango na construção, deixavam ao centro a piscina azul gigantesca. Era de frente para a praia, uma exclusiva só para os hóspedes.Não bastasse a piscina gigantesca, o nosso quarto tinha uma particular, no lugar onde era a sacada. E sim, ela tinha vista para o mar azul turquesa, que parecia rodear tudo.- Acho que podemos nos perder neste quarto. – Olhei para Patrick, enquanto tentava descobrir onde acabava aquele apartamento onde ficaríamos.Ele riu:- O lugar é lindo. Mas sinceramente, acho que minha mãe exagerou. Não precisávamos de algo tão caro.Fui até a sacada e observei a piscina límpida e aspirei o cheiro de maresia que vinha com a brisa do mar.- Amo este cheiro de mar! – Observei.- Eu também. – Patrick parou
O quarto estava escuro, mas a porta de vidro que dava para a piscina aberta. A cortina branca esvoaçava com o vento fresco vindo da praia. E a lua iluminava o quarto e deixava tudo absolutamente romântico.Vi Pedro deitado ali. Abri e fechei os olhos várias vezes até me deparar com Patrick. Não faltava mais nada... Minha mente passar a me enganar.Pedro e Patrick eram completamente diferentes. Não havia nada que pudesse ser semelhante entre ambos.Visivelmente adormecido, Patrick retirou o braço de mim e virou-se para o outro lado. Percebi seus cabelos no travesseiro e alisei-os, realizando um sonho antigo. Sorri, lembrando o quanto eu havia imaginado aquele momento.Talvez eu tivesse amado Patrick Huxley por ele ser totalmente impossível. O fato de ser rejeitada e não poder tê-lo era o que me dava segurança e coragem para seguir com as cartas... E todas as investidas. Era como se eu tivesse que me privar de amar e ser amada por tantos anos.Quando Patrick se mexeu novamente, fiquei c
POV PEDROEu estava chegando em casa quando avistei o rapaz no portão. Ele tinha uma caixa na mão. Não lembrei de ter nenhuma entrega pendente.Pus o carro na garagem e não fechei o portão, a fim de atendê-lo. Voltei para casa no intervalo entre as aulas da tarde e noite para tomar um banho e comer algo rapidamente, sabendo que o terceiro turno da faculdade me esperava em alguns minutos.- Deseja algo? – Perguntei ao homem alto, moreno, de olhos claros e cabelos longos escuros.Definitivamente não parecia um entregador.- Você é Pedro Moratti?- Sim. – Confirmei.- Sou Artemis, amigo de Patrick Huxley.- Patrick Huxley? – Minha voz soou estranha a ponto de quase não reconhece-la.Ele me entregou a caixa:- Patrick pediu que lhe entregasse isto.- Você... Tem certeza de que é para mim?- Pedro Moratti, de Laranjeiras... Pesquisei muito e só existe você.Olhei a caixa grande encapada com um papel colorido:- Mas não conheço Patrick Huxley.- Pelo visto ele o conhece. E foi muito claro a