Naquele final de semana encontrei Renan na locadora de CD’s. O local era numa pequena galeria, onde ficava uma agência de correios, uma loja de vestuário feminino e havia um pequeno bar com algumas poucas mesas em madeira que colocavam na área externa, que interligava as quatro lojas.Meu irmão locou alguns CD’s de heavy metal, que era o que mais gostava e eu fui parar na sessão de surf music, vendo se tinha alguma coisa ali que eu já não tinha locado e gravado.- Tem um CD novo do Hoodoo Gurus que chegou esta semana – o dono da loja me mostrou.Peguei o CD na mão e suspirei, olhando para os demais na parte de baixo da parede. Uma vez eu havia perguntado ao dono da locadora por qual motivo os das bandas de surf music ficavam tão embaixo, sendo ruim para observar o que escolher. A justificativa dele era de que havia pouca procura por aquele estilo/ritmo de música. E ainda explicou que exceto eu, só havia outra pessoa que tinha uma certa obsessão por aquelas bandas.Eu sabia quem era a
- E se eu reprovar? Ainda assim ganharei meus beijos?- Todos eles... Nenhum a menos. Mas sei que vai conseguir.Suspirei:- Pelo menos estou “limpa”... Sem drogas.Pedro gargalhou:- Não teve drogas nenhuma das vezes, sua doida. Era só melissa.Pus as mãos em torno da nuca dele e iria puxá-lo para um beijo quando o meu instrutor chamou:- Clara, você vem ou não?Suspirei e fui. Eu era a aluna última a fazer o exame de direção.Praticamente já sabia como funcionava tudo. Assim como tinha certeza de que o avaliador não era o mesmo. Aliás, não repetiu em nenhuma delas.Pus o cinto de segurança, já que aquilo havia aprendido para sempre. E mais uma vez mal saí da garagem e “morri” na baliza.Quando saí do carro não bati a porta, não gritei enfurecida com o avaliador e sequer briguei com o instrutor.Avistei Pedro e fui calmamente na sua direção.- E então? – Ele perguntou, ansioso.- Adivinha?- Passou?- Não.Ele riu:- É... Brincadeira, não é mesmo?- Acha que eu estaria brincando? Ach
POV PATRICKJá fazia quase três meses que Clara não havia mandado mais uma única carta sequer. Eu estava na frente de casa quando o carteiro chegou, retirando alguns envelopes de sua sacola.- Bom dia, senhor Huxley. – Cumprimentou.- Bom dia. – Peguei as correspondências da mão dele, ansioso.- São todas para a senhora Huxley. – Avisou, acenando e seguindo em frente.Mesmo ele tendo garantido que nenhuma era minha, olhei uma por uma, para ter certeza. E realmente nada estava com meu nome como destinatário.Não que eu estivesse sentindo falta das cartas... Elas eram insignificantes. Inclusive eu estava pensando em jogá-las fora... Quando tivesse coragem. Afinal, quando eu não estava muito bem, elas faziam bem ao meu ego.O que teria acontecido com a fedelha? Será que estava apaixonada? Teria me esquecido?Clara não era feia. E era jovem, alegre e cheia de vida. Certamente mais cedo ou mais tarde encontraria alguém que se apaixonaria por ela... E talvez se apaixonasse também e me esque
Assim que sentamos no bar, na galeria onde ficava a locadora de CD’s no centro da cidade, pedi uma cerveja gelada e servi nos nossos copos.- Ao que brindaremos, amigo? – Artemis estava curioso.- Ao seu amigo que tem oficialmente um patrocinador no campeonato de surf.Artemis me encarou, incrédulo:- Não acredito!- Sim, amigo! Eu consegui.- Quem é o seu patrocinador?- Amanhã irei fechar o contrato. E levar o nome da Billabong.- Cara, isto é incrível! – Artemis levantou e me abraçou, de forma sincera.- Obrigado, Artemis!Artemis era o tipo de amigo verdadeiro, aquele que vibrava com cada conquista minha e que estava ao meu lado para qualquer situação. Tirando a situação com Clara, que foi a única vez que nos desentendemos, nunca estivemos fora de sintonia.Bebemos um pouco e conversamos sobre vários assuntos até que perguntei, como quem não queria nada, fingindo certo desinteresse:- Você... Chegou a ver a Clara com alguém?- Alguém quem? – Ele levantou a sobrancelha, curioso.-
POV CLARAEu estava usando óculos escuros e havia pintado meus cabelos de loiros novamente, retirando as mechas vermelhas. Tudo aquilo para não ser reconhecida na recepção do consultório da ginecologista, caso encontrasse algum conhecido por lá.- Relaxa, Clara. Vai ser bem tranquilo e você vai adorar a consulta. Aproveite e tire todas as suas dúvidas. – Flora apertou meus dedos entre os dela.Suspirei e tentei focar em outra coisa.- Clara, você precisa ver isto! – Flora disse, num tom de voz sério.- O quê?Ela me entregou o jornal daquele dia, aberto na página social. E lá estava a foto de Patrick, ao lado de uma bela morena, da altura dele. Era bonita... Talvez nem tanto quanto ele. A nota dizia: PATRICK HUXLEY, DONO DA CONHECIDA LOJA HUXLEY SURF E SKATE E SUA NOIVA, ADELE MARTINS, EM EVENTO SOCIAL DA CIDADE. OS POMBINHOS IRÃO CASAR EM BREVE.Patrick parecia feliz. Estava sorrindo. E a futura esposa dele também. Fechei o jornal e entreguei a Flora.- Está... Tudo bem? – ela se pre
- Não gosta... Tolera. Eu li numa revista que pessoas que não gostam de cachorros não são confiáveis e podem ter distúrbios mentais.- E você tem dúvidas de que o senhor Joaquim Versiani tem distúrbios mentais e não é confiável?Eu ri:- Não, não tenho dúvidas.- E a avó de Pedro, já aceitou o relacionamento dele com você?- Claro que não. A velhinha, que de boa não tem nada, ainda teve a capacidade de vir aqui me pedir que me afastasse do neto dela.- Não acredito! Quanta petulância! O que você fez a esta pobre senhora, Clara? – Debochou.- Talvez tenhamos uma pendência de outra vida... Só pode ser. Ou ela é muito, mas muito preconceituosa. E nem sei porque... Afinal, Pedro nem é rico, tipo milionário. É só bem de vida. – Dei de ombros.- E o que Pedro achou disto tudo?- Claro que ele ficou furioso e brigou com ela.- Que bom que ele ficou do seu lado.- Sabe de uma coisa, Renan? Eu tenho medo...- Medo?- Tudo sempre foi tão complicado para mim... Nada foi fácil e você sabe muito b
- Sua filha? – riu, de forma sarcástica – Vou jogar sua filha pela janela... - Pai, por favor... – Senti as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. Joaquim levantou a chave: - Você tem opção, minha filha... Ou me leva e depois volta, trazendo seu monte de pulgas em segurança. Ou eu dirijo e jogo esta bola de pelos pela janela... E passo por cima. Engoli em seco e passei a mão na chave. Ele sorriu e pôs Pipeline no banco traseiro. Minha mãe tentou entrar no carro e ele não permitiu: - Você fica, vagabunda! Minha mãe não deu um passo a mais. Ficou imóvel e li seus lábios: - Vai dar tudo certo! Não fique nervosa. – Ela limpou a lágrima que escorria pela sua bochecha. Entrei no carro e pus o cinto. - Para que botar esta porra? – Ele debochou. Respirei fundo e liguei o carro. Eu nunca tinha dirigido um Pegeout e parecia que nem os botões ficavam no mesmo lugar. Onde ligava os faróis? Ah, eu não precisava ligar os faróis de dia! E se chovesse no meio do caminho? Não fazia idei
POV PEDROLiguei para Marcos e pedi o carro dele emprestado. Já passava da hora de comprar o meu. Certamente era o que eu faria no dia seguinte.Jamais pensei que excederia a velocidade assim que pegasse um carro em tão pouco tempo após fazer a autoescola. Mas meu coração estava apertado e não lembrava a última vez que fiquei tão nervoso. Tudo que eu queria era ver Clara para ter certeza de que ela estava bem.Ouvir o choro de Clara do outro lado da linha me deixou completamente sem chão. O medo dela se transformou na dor que senti ao saber que ela sofria por alguma coisa. E eu não estava com ela naquele momento em que precisava de mim!Se um dia acontecesse alguma coisa com Clara, não tinha certeza se eu conseguiria me manter vivo. A vontade de protegê-la e fazer com que nada a fizesse sofrer era maior que qualquer coisa dentro de mim.Cinco minutos depois eu estava no local onde ela havia mencionado ter atropelado o cachorro, me encaminhando para a descida da lomba gigantesca que ha