- Não gosta... Tolera. Eu li numa revista que pessoas que não gostam de cachorros não são confiáveis e podem ter distúrbios mentais.- E você tem dúvidas de que o senhor Joaquim Versiani tem distúrbios mentais e não é confiável?Eu ri:- Não, não tenho dúvidas.- E a avó de Pedro, já aceitou o relacionamento dele com você?- Claro que não. A velhinha, que de boa não tem nada, ainda teve a capacidade de vir aqui me pedir que me afastasse do neto dela.- Não acredito! Quanta petulância! O que você fez a esta pobre senhora, Clara? – Debochou.- Talvez tenhamos uma pendência de outra vida... Só pode ser. Ou ela é muito, mas muito preconceituosa. E nem sei porque... Afinal, Pedro nem é rico, tipo milionário. É só bem de vida. – Dei de ombros.- E o que Pedro achou disto tudo?- Claro que ele ficou furioso e brigou com ela.- Que bom que ele ficou do seu lado.- Sabe de uma coisa, Renan? Eu tenho medo...- Medo?- Tudo sempre foi tão complicado para mim... Nada foi fácil e você sabe muito b
- Sua filha? – riu, de forma sarcástica – Vou jogar sua filha pela janela... - Pai, por favor... – Senti as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas. Joaquim levantou a chave: - Você tem opção, minha filha... Ou me leva e depois volta, trazendo seu monte de pulgas em segurança. Ou eu dirijo e jogo esta bola de pelos pela janela... E passo por cima. Engoli em seco e passei a mão na chave. Ele sorriu e pôs Pipeline no banco traseiro. Minha mãe tentou entrar no carro e ele não permitiu: - Você fica, vagabunda! Minha mãe não deu um passo a mais. Ficou imóvel e li seus lábios: - Vai dar tudo certo! Não fique nervosa. – Ela limpou a lágrima que escorria pela sua bochecha. Entrei no carro e pus o cinto. - Para que botar esta porra? – Ele debochou. Respirei fundo e liguei o carro. Eu nunca tinha dirigido um Pegeout e parecia que nem os botões ficavam no mesmo lugar. Onde ligava os faróis? Ah, eu não precisava ligar os faróis de dia! E se chovesse no meio do caminho? Não fazia idei
POV PEDROLiguei para Marcos e pedi o carro dele emprestado. Já passava da hora de comprar o meu. Certamente era o que eu faria no dia seguinte.Jamais pensei que excederia a velocidade assim que pegasse um carro em tão pouco tempo após fazer a autoescola. Mas meu coração estava apertado e não lembrava a última vez que fiquei tão nervoso. Tudo que eu queria era ver Clara para ter certeza de que ela estava bem.Ouvir o choro de Clara do outro lado da linha me deixou completamente sem chão. O medo dela se transformou na dor que senti ao saber que ela sofria por alguma coisa. E eu não estava com ela naquele momento em que precisava de mim!Se um dia acontecesse alguma coisa com Clara, não tinha certeza se eu conseguiria me manter vivo. A vontade de protegê-la e fazer com que nada a fizesse sofrer era maior que qualquer coisa dentro de mim.Cinco minutos depois eu estava no local onde ela havia mencionado ter atropelado o cachorro, me encaminhando para a descida da lomba gigantesca que ha
- Isso a deixaria melhor?- Sim... Muito. Ninguém o tiraria da rua e enterraria em tão pouco tempo.- Sim, também acho.Clara foi me dando as coordenadas do caminho até sua casa e para minha surpresa, num determinado ponto disse:- Pode parar aqui.Observei atentamente e não havia muitas casas por ali. Ainda assim fiz o que ela pediu:- Qual é a sua? – Quis saber, intrigado.- Eu... Moro próximo daqui. Como a rua é mais tranquila, me arriscarei a ir dirigindo até em casa.A encarei seriamente:- Qual o seu problema com relação à sua casa?- Não é a minha casa... E sim a minha família.Eu balancei a cabeça, aturdido e peguei a mão dela, tentando chegar no fundo daqueles olhos azuis claros, que tanto me faziam perder o sono:- Clara, eu duvido que sua família possa ter mais problemas do que a minha.Ela sorriu tristemente:- Sei que mais cedo ou mais tarde terei que lhe contar tudo... Mas não consigo fazer isto hoje. Não tenho condições.Eu gostaria de fazer muitas perguntas e claro que
POV CLARACheguei em casa e minha mãe não estava. Deixei o carro na rua, rente à calçada, mas não o pus na garagem. Meu pai que o fizesse. Minhas pernas ainda estavam trêmulas e o coração acelerado.Tomei um banho e aproveitei para dar banho em Pipeline. Ela esteve comigo o tempo todo e por ela que eu não joguei o carro numa árvore, correndo o risco de morrer. Sim, porque eu estaria morta, mas Joaquim Versiani também e parecia que aquela era a única maneira de ele não incomodar mais ninguém.Esperei, esperei e nada de minha mãe aparecer. Nem meu pai.Joaquim raramente parava em casa. E quando estava eu sempre sabia, porque passava o tempo inteiro me denegrindo de alguma forma ou perturbando minha mãe. Mas ela? Ela sempre estava em casa. E o fato de não estar, especialmente depois de eu ter saído com meu pai da maneira horrível com que fui obrigada... Causava muita estranheza.Fui na casa de tia Rute e me impressionei ao chegar e ver que ela já estava com tudo encaixotado para sua mud
- Eu juro que quase mandei ele parar... Estive prestes a desistir de tanta dor. – Ela gargalhou.- Da próxima vez, sonhe com esta tatuagem em outro lugar. O dedo é extremamente dolorido.Flora parou e me abraçou:- Obrigada por ser a melhor amiga que eu poderia querer na vida.Alisei seus cabelos enquanto ela ainda me abraçava:- Já passamos por tantas coisas juntas, Flora. Acredito que não importa o que aconteça nesta vida, jamais nos separaremos.Flora me soltou e encarou-me para depois abaixar o olhar.- Quer me dizer alguma coisa, Flora?- Eu... Sim, eu quero. Sabe que tenho um pouco de dificuldade para contar coisas sobre mim...- E eu respeito isso.- Mas quero que saiba que... Estou muito feliz.- Sim, eu sei. Porque fizemos nossa primeira tatuagem juntas. – Sorri.- Não só por isto. Estou feliz também porque estou me encontrando com seu irmão... Vez ou outra.Engoli em seco, preocupada.- Como assim?- Eu sempre gostei de Renan.- Mas... Ele foi um babaca.Eu sabia que ele hav
- Patrick Huxley? Do que você está falando, Pedro? – me fiz de desentendida.- Estou falando sobre o que você me disse uma vez: “Jason é só uma paixão. Patrick é amor.”- Eu não sabia o que falava. – Revirei os olhos, retirando a mão da dele e recostando-me no banco.- Lembro exatamente do que me disse, Clara... “Não importa com quantas pessoas eu me relacione, no final é com ele que que ficarei. Mas enquanto ele ainda não se deu conta de que também sou o amor da vida dele, não posso ficar feito uma idiota esperando.”Eu sinceramente não lembrava de ter dito aquilo. Mas se falei, era algo bem profundo. E se eu estivesse no lugar de Pedro também ficaria chateada.Demorei um pouco a responder:- Eu não gosto mais de Patrick Huxley.Pedro não disse nada. Enquanto ele dirigia, o silêncio nos consumia.- Achei que você estudasse sobre o ciúme e toda questão psicológica por trás dele. – Tentei.- O ciúme é um sentimento que existe e não há como extingui-lo. É preciso saber lidar com ele, pa
Levamos cerca de duas horas para chegar no Hotel. E me surpreendi com a beleza do lugar. O carro foi levado por um manobrista enquanto entramos na recepção para fazer o check-in. Embora o local não fosse grandioso, parecia ter no mínimo uns vinte quartos. Eram três prédios térreos, mas ambos bem elevados do chão. Cada apartamento tinha sua própria saída para o mar, através de escadarias em madeira nobre, que levavam a uma área restrita da praia com guarda-sóis e espreguiçadeiras.A piscina, enorme, ficava nos fundos dos prédios, pegando toda a luminosidade do sol, que contrastava com o colorido dos pequenos decks individuais com ofurôs.E me surpreendendo ainda mais, Pedro havia pego a suíte presidencial, das poucas que tinha de frente para o mar, sem a mínima possibilidade de alguma coisa atrapalhar a vista.Fomos encaminhados ao nosso apartamento, pelo lado externo, sendo que havia um estreito caminho de madeira nobre, escura, que evitava que puséssemos os pés na areia fina e quente