Não podemos prever uma furacão, foi isso que senti ao ver Murat entrando no meu quarto e fechando a porta com um sorriso devastador. Agora ele está de short preto e camiseta branca, uma sandália de couro nos pés.Imediatamente dou um salto e fico em pé do outro lado da cama, puxando o lençol para cobrir minha camisola branca de cetim. O encaro, enrolada a ele.—O ...que você está fazendo aqui?Murat ainda sorrindo fecha a porta, parece estar se divertindo muito com meu gesto assustado. Seus olhos então focam a televisão ligada e ele olha para mim.—Para quem estava com dor de cabeça, você me parece muito bem...—Você veio checar se eu estava com dor de cabeça?Ele se encosta a porta e cruza os braços e me olha com seu sorriso maquiavélico.—Pensei que estivéssemos nos entendendo, Ester.O desejo de seu olhar quase quebra meu autocontrole.—Entendendo? —Eu o questiono furiosa comigo mesma por ter permitido que ele me beijasse. Agora ele acha que pode fazer o que quer. —Um beijo roubado
EsterQuando ele sai do meu quarto eu me sento na cama e passo a mão no rosto.Preciso procurar outro emprego. A folga que eu tiver farei isso. Quem sabe consigo de recepcionista em algum hotel?Não! Não! É um risco. Se eles me procurarem, me encontrarão lá. Somos tendenciados a repetir experiências anteriores e eles sabem disso. Deus! Mas que merda! Pior que eu gostei de trabalhar aqui. Rose e Norma são uns amores... Os Çelik's também. São muito na deles e não são aqueles patrões chatos. Meu problema é mesmo Murat. Almoço com Hazal e família.🌞🌞🌞🌞🌞🌞 Dia seguinte... Murat Estou em pé olhando para fora da janela, sem nada ver. O sol irradia sobre o jardim bem cuidado, mas minha mente está longe, desatento a toda a beleza e a paz que ele transmite, pois nem a vista dele me tranquiliza agora. Há uma grande responsabilidade sobre meus ombros, a esperança da minha família está toda depositada em mim. Passei meus anos ouvindo o que meu pai tem para mim como sonho. Despejando em
É estranho estar aqui recebendo Hazal e a família dela em frente a mulher que tem sido o me alvo. Mas a verdade é que só estou cumprindo um protocolo. Encenando um interesse que não tenho para deixar meu pai satisfeito, para ele não dizer que não tentei gostar de uma mulher como Hazal. Como eu disse, eu não confronto ele, eu me esquivo. Entro no seu jogo, mas acabo fazendo o que quero.Quando disse a ele que gostei de Hazal, não menti. Gosto dela para ser uma boa amiga, mas como mulheres turcas não tem amizades masculinas, mais tarde ela só será uma lembrança como tantas outras que meu pai introduziu nessa casa tentando provocar meu interesse.Meu pai abraça meus ombros, talvez percebendo meus olhos em cima da empregada. É uma forma de ele impor e me lembrar aonde tem que estar a minha verdadeira atenção. Essas mãos querem me direcionar a cumprimentar os pais de Hazal que conversam com a minha mãe no outro canto da sala, como se eu fosse ainda um garoto, não o homem de maduro que sou.
Minutos antes... Ester Vejo Murat saindo de braço dado com Hazal. Encenação? Sei... Ele pensa que me engana. Meu lábio inferior treme. Sinto-me em guerra de sentimentos: tristeza, necessidade e frustração. Começo a retirar a mesa com a ajuda de Norma. Entro na cozinha e coloco os pratos em cima da pia, quando eu me viro dou com o senhor Ahmed Çelik entrando na cozinha. Altivo, exalando poder, autoconfiança. Elegantemente vestido em um terno bem-cortado que caí com perfeição nos ombros largos. A camisa branca, impecável. —Norma, você pode nos deixar às sós um instante. —Sim, senhor Çelik. Sua figura imponente me inibe, seus olhos direcionados para mim são os mais gélidos que eu já vi em um homem. —Vou ser bem direto. Percebi o jeito que Murat te olha. Ele chegou a dar em cima de você? —Ele questiona a voz carregada de sotaque. Ofego. O que menos quero é complicar a vida de Murat. —Não. —Minto. Ele ergue uma sobrancelha cética para mim e me estudou por alguns momentos an
Caio em mim que o que menos faço é conversar. Preciso passar segurança para ela. Preciso lhe falar de Hazal.—É por causa de Hazal? Se for, não há o que se preocupar. Eu conversei com ela hoje. Abri o jogo com ela. Disse que estou dançando conforme a música, mas que que não pretendo ter nada sério com ela. Manteremos as aparências por um tempo. E sabe por que eu fiz isso? Por causa de você.Ester me olha ofegante. Eu vou até ela, e a tomo nos braços novamente. Sinto seu arfar perfumado.— Vai me dá uma joelhada novamente? Depois de tudo que eu disse? —Questiono, meus olhos cheios negros de desejo.Ela não responde e eu então colo minha boca na sua, a beijando com paixão e toda a volúpia que meu corpo exige. Ela cede.Allah! Finalmente cede...Quando sinto seus lábios sob os meus tão receptivos, eu gemo de prazer e os mordisco a provocando ainda mais, então coloco minha língua entre a sua boca, dançando no seu interior úmido, me embriagando com seu gosto. Envolvo minha língua na dela e
Preciso pensar com a razão, segurar firme as rédeas da lógica e não deixar que as emoções me conduzam. Tudo isso é um jogo, e eu conheço as regras. Ele é o caçador, e eu, a presa. Nada mais. Não há espaço para romantizações baratas, nada de histórias perfeitas como em livros ou comédias românticas. Isso aqui é a vida real. E a realidade é esta, se eu não agir agora, vou afundar antes mesmo de perceber. Preciso sair dessa casa enquanto ainda estou só na atração. Antes que essa emoção cresça e me arraste para um lugar sem volta.Minha decisão está tomada: pedir as contas e encarar o mundo lá fora e nunca olhar para trás. Melhor voltar para o pulgueiro onde morava, onde ainda podia sonhar sem correntes. Aqui, neste lugar, não há espaço para respirar. Não consigo sequer receber ligações sobre novas oportunidades sem ser interrompida por ele ou pela sombra que ele projeta sobre tudo. Se eu consegui este emprego, consigo outro. Só preciso encontrar a saída antes que seja tarde demais.Murat
Estou lavando a louça do café da manhã. Murat e o senhor Çelik tomaram juntos hoje cedo. Murat estava sério, com o rosto fechado. Mal me olhou. Não sei se ficou ofendido com a minha observação de ontem ou se agiu assim para não dar bandeira na presença do pai. Talvez tenha sido por ambas as razões.A senhora Çelik tomou o café mais tarde e, logo depois, entrou na cozinha e foi para os fundos da casa.Estou angustiada. Quero muito falar com Rose, recuperar minha carteira de trabalho e pedir a conta. É a oportunidade perfeita, já que Murat estará ausente nos próximos dias.Assim que terminei a louça, fui atrás de Rose e a encontrei no quarto de Murat. Meu coração disparou ao sentir o perfume dele no ar. O cheiro preenchia o ambiente. Sobre a poltrona, a roupa que ele usava quando foi até o meu quarto era uma lembrança forte demais.— Rose.Ela parou de arrumar a cama e se virou para mim.— Aconteceu alguma coisa?— Não. Eu gostaria de pegar minha carteira de trabalho com você.— Por que
MuratO guarda-roupa vazio dela me atinge como um golpe seco no peito. Minha mandíbula trava, os músculos do maxilar têm vida própria, enquanto um turbilhão de emoções se desenrola dentro de mim. Dor, raiva, decepção... Não sei qual deles vai ganhar essa corrida desenfreada para dominar meu coração, mas sinto o gosto amargo de todos. E esse aperto na garganta? Angústia? Não sei. Tudo o que sei é que estou sufocando.Ofego. Minhas passadas ecoam no chão de madeira enquanto caminho de um lado para o outro no antigo quarto dela. Cada detalhe é um lembrete de que ela esteve aqui, mas agora não está mais. A cama perfeitamente arrumada. As cortinas que ainda carregam o perfume dela, tão sutil, tão cruel. O espelho vazio me devolve um reflexo que não reconheço.— Então ela foi embora? — murmuro para o vazio, a voz áspera como um punhal.Ela se aproveitou da minha ausência para fugir. Fugir de mim. Um riso seco escapa dos meus lábios, mais amargo do que qualquer insulto. Por que eu me importo