Murat aperta os lábios e solta o ar.—Meu pai sempre valorizou objetos antigos. Se você tivesse visto o quarto dele entenderia o que quero dizer. É como se entrasse na idade média. Todas as peças que ele comprou eu o acompanhei. Quando ele se interessava por alguma e o preço era muito alto, ele levava um amigo nosso, que já até faleceu. Ele era historiador, especializado em peças antigas. Ele que checava se as peças eram apenas uma cópia, e se não, ele avaliava se elas valiam tudo o que diziam. Eu fiquei fascinado com esse mundo. Quando meu pai viu meu interesse, ele investiu em livros caríssimos sobre a veracidade dos móveis antigos. Eu passei a estudar sobre isso nas horas vagas e meu pai pagou John para me ajudar. Além de ele tirar as minhas dúvidas, visitamos muitos antiquários para eu pôr em prática meus conhecimentos. Muitas peças na casa de meu pai foi eu que comprei. Louças, vasos, alguns móveis. Tirando o quarto dele, é claro.Solto o ar, entendendo agora de onde vem essa com
Tive uma gestação tranquila.Ao longo desses meses, recebi a visita de Ayla que se mostrou uma mulher de fibra, de opinião. Contrariando a vontade do pai de Murat, sempre que pôde, veio nos visitar.No início ela me tratou com uma frieza irritante, cheio de recato, deixando claro que sua vinda era apenas para ver Murat, mas que não aprovava a escolha dele. Só que o tempo foi passando e ela pode perceber através das ações de Murat como ele estava feliz ao meu lado, como ele me tratava com carinho. Isso teve o efeito de um martelinho quebrando toda a resistência dela. E suas visitas rápidas, aos poucos, foram se estendendo. Se tornado em horas, então um dia ela almoçou conosco, outro dia ficou para o jantar e assim foi indo. Quando Yasmin nasceu eu já me dava muito bem com a minha sogra. Nossa filha só veio selar isso com sua vinda. Hoje nosso bebê completa um mês.Ela é um bebê grande, forte e saudável.Linda!O cabelo negro igual ao do pai, os olhos de um lindo azul-esverdeado.Ag
Seis meses depois...MuratO cliente sorri satisfeito ao passar os dedos pela cristaleira.—Vou levar—ele diz sem nem ao menos perguntar o preço. —Há muito tempo tenho procurado por essa peça.—Ótimo, fico feliz de tê-la encontrado aqui—digo enquanto preencho a nota para ele. —Suba até o escritório e acerte com minha esposa. Aproveita e passa seu endereço para a entrega.—Está certo.O sino da porta de entrada soa e eu me preparo para mais um cliente. Quando me volto para ele vejo a figura de meu pai.Meu coração se agita e eu fico estacado olhando para ele.—É assim que recebe seus clientes? —Ele me questiona. —Os deixa plantados esperando ser atendidos?—Ba... —quase o chamo de pai em turco, mas na última hora suprimo as palavras. —Ahmed, o que faz aqui?Meu pai estremece.—Sua loja é como sua mãe descreveu. Muito bem organizada. Não fica aquela impressão de móveis acumulados. Você fez vários ambientes.—Sim. Sempre notei nessas lojas que íamos certa desorganização —digo. —Resolvi i
EsterEu meneio a cabeça achando graça na dramaticidade deles. Tentando levar na esportiva os pensamentos que me surgem agora.Quando eu estava gravida de sei meses, eu saí para ir ao mercado e peguei um congestionamento enorme na volta. Tudo parado por causa de um acidente. Quando eu cheguei Murat andava de um lado para o outro como um leão faminto, muito preocupado comigo, já que eu tinha ido comprar seis coisinhas e demorei.Turcos!—Está certo pai. Dá uma ligada para ela antes de ir. Para despreocupá-la.Nossa! Vai cair o mundo! Quanto tempo ele ficou aqui? Acho quem nem meia hora.—Sim, no carro eu ligo.—Não esquece! —Murat diz enfático.—Não vou esquecer—ele diz e olha para mim. —Verei com Ayla um almoço em casa.—Será só nós ou chamará todos da família? —Murat questiona estudando o pai.—À princípio só nós. Você não acha melhor?Murat parece aliviado.—Sim, concordo. Yasmin é muito pequena para passar de colo em colo. —Ele diz. Seu senso protetor nível dez agora.—Vou indo. —M
Meu olhar está distraído vendo Ester brincando de bola com os nossos filhos na piscina. É inacreditável como o tempo passou. Yasmin, está com nove anos e Osman, oito anos.—A carne está cheirando queimado. —Ouço Tereza dizer.Pisco e só então vejo o fogo alto que se formou. Jogo um pouco de água no carvão para diminuir as chamas.—Droga! Meu pai se aproxima se firmando em sua bengala.—Deixa que eu cuido disso—ele diz.—Não precisa baba. Eu que estava distraído.Ele olha os netos brincando com Ester.—Eles cresceram, não é isso que estava pensando?—Sim, o tempo passou. Tanto que me sinto um velho. A nossa diferença de idade agora está bem em evidência —digo reparando em Ester, que continua linda, com seus trinta e três anos e eu quarenta e oito. Estou grisalho, as rugas evidentes nos cantos dos olhos.—Você não deveria se preocupar com isso. Ester te ama. Não vê como ela olha para você? Como ainda te procura com os olhos nas
'' Ah se a gente soubesse o quanto o carinho salva, a atenção alimenta e a união fortalece. Não estaríamos a perder mutualmente todos os dias... ''.” Regina SouzaEster Marshal. —Vamos nos ver essa noite?Murat ergue os olhos para mim, tirando dos documentos que estava lendo. Ele então os guarda na pasta dizendo:—Não!Seco.Sem explicações.Antes não me incomodava, mas agora está começando a me incomodar.Trêmula, coloco a xícara de café sobre a mesa.—Posso saber que compromisso é esse? -Questiono, o encarando, revelando que quero muito mais que um "não". Quero uma explicação.Quando ele me olha com cara amarrada, enfio minhas mãos debaixo da mesa para ocultar o tremor.—Trabalho. Ester, você sabe que luto por nós. Gostaria que confiasse mais em mim. Não gosto de dar satisfação da minha vida. Por que essa pergunta agora? -O tom de sua voz sai amargo.Eu forço um sorriso.—Faz dias que não nos vemos, achei que ficaríamos mais tempo juntos.Por baixo da mesa, eu aperto as mãos, crava
Sei que concordei com tudo isso, já faz um ano e meio que levo essa vida. Murat já se acostumou com minha disponibilidade para ele, mas ele está cada vez mais ausente e eu o amo, isso tem acabado comigo. Preciso começar a pensar no meu futuro. Não sei se conseguirei continuar como sua amante.—Murat, eu quero fazer esse teste.Ele se aproxima e segura o meu rosto.—Eu te dou tudo que uma mulher possa desejar. Você não precisa disso. Não precisa trabalhar. Você é minha Ester e precisa de mim mais do que quer admitir. —Ele então me olha calado por um tempo. —Eu preciso de você. E muito! Você não tem ideia o quanto.Eu estremeço de prazer com a confissão dele. Mas isso é quebrado quando o vejo passar o lenço em seus lábios retirando meu batom que manchou sua boca, me lembrando que ninguém sabe de nós. Então, ele se vira e pega sua pasta no sofá. Deixa o apartamento.Solto o ar e trêmula caminho até o sofá. Praticamente desabo nele.Ele está certo quando disse que eu preciso dele. Ele é
Um ano atrás...Mansão dos ÇeliksChego à mansão por volta das 07h00min, me apresento aos seguranças que me deixam entrar, a governanta que me espera, deu a permissão.Caminho puxando minha mala de rodinhas reparando na beleza arquitetônica da casa, o jardim maravilhoso com uma cascata bem no centro. Um grande bolsão formado por paralelepípedos rodeia esse jardim.A casa é forrada de pedras brancas. Jardineiras com flores vermelhas enfeitam as janelas. Do seu lado direito, as portas balcões imensas dão acesso à uma varanda lateral ornamentada com lindos vasos.A governanta está na porta da entrada me esperando. Ela tem uns cinquenta e cinco anos.—Bom dia Ester, eu sou a Rose.—Prazer em conhecê-la.Ela me avalia, passando os olhos pela minha figura magra.—Trabalho com os Çelik há mais de vinte anos e confesso que é a primeira vez que me recebo uma garota tão bonita e tão magrinha como empregada. Você dará conta do recado?Meu coração se enche como medo de ela me rejeitar:—Sou magra