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Amarras da Paixão
Amarras da Paixão
Por: Sandra Rummer
Ah se a gente soubesse o quanto o carinho salva, a atenção alimenta e a união fortalece.

'' Ah se a gente soubesse o quanto o carinho salva, a atenção alimenta e a união fortalece. Não estaríamos a perder mutualmente todos os dias... ''.”  Regina Souza

Ester Marshal. 

—Vamos nos ver essa noite?

Murat ergue os olhos para mim, tirando dos documentos que estava lendo. Ele então os guarda na pasta dizendo:

—Não!

Seco.

Sem explicações.

Antes não me incomodava, mas agora está começando a me incomodar.

Trêmula, coloco a xícara de café sobre a mesa.

—Posso saber que compromisso é esse? -Questiono, o encarando, revelando que quero muito mais que um "não". Quero uma explicação.

Quando ele me olha com cara amarrada, enfio minhas mãos debaixo da mesa para ocultar o tremor.

—Trabalho. Ester, você sabe que luto por nós. Gostaria que confiasse mais em mim. Não gosto de dar satisfação da minha vida. Por que essa pergunta agora? -O tom de sua voz sai amargo.

Eu forço um sorriso.

—Faz dias que não nos vemos, achei que ficaríamos mais tempo juntos.

Por baixo da mesa, eu aperto as mãos, cravando minhas unhas em minhas palmas.

Murat suspira e vem na minha direção. Ele me ajuda com a cadeira. Logo que me levanto, ele me abraça.

—Esteja certa de que, se eu pudesse, passaríamos mais tempo juntos. O que esses lindos grandes olhos verdes não me pedem que eu não dê de bom grado? 

Sim, ele me dá tudo, menos o seu tempo. Não quero pensar no que eu me sujeitei. Mas, com certeza, contente não é a palavra certa para definir meus sentimentos. Na verdade, eu o amo desde sempre, com toda força e intensidade que esse sentimento exige. Só que me desespera esse jeito dele me ver somente como uma amante. 

—Ester, não faça essa carinha triste.

Ele me beija com carinho nos lábios. Eu assinto e o abraço. Conheço bem os dois lados dessa moeda. Sempre vivi entre o deslumbramento e o desalento. Mas nada do que consegui financeiramente me trouxe alegria. O luxo me cerca de todos os lados, mas não sou feliz. Eu entrei numa gaiola, o amor me deixou prisioneira desse sentimento.

—E você? O que fará hoje? -Murat me pergunta.

Estou com meu rosto enfiado em seu peito cheiroso, o ergo e o encaro.

—Hoje tenho aula. —Digo mais sei que ele sabe todos os meus passos.

—E como você está se saindo?

O piano tem me salvo. Acho que se não fosse por ele, eu iria enlouquecer. Eu me dedico tanto, mas tanto que tenho surpreendido meu professor pelo tanto que eu me aprimorei.

—Estou indo muito bem.

—Não duvido que esteja tocando bem. Já faz uns oito meses, não é? Rui me disse que não falta uma aula.

Sim! Rui me vigia o tempo todo e lhe dá relatórios constantes de tudo que eu faço. Murat diz que é para a minha segurança, mas isso não me engana. Murat é possessivo e ciumento. O segurança que ele arrumou é um senhor aposentado. Velhinho, coitado. Não é uma ameaça.

Fora isso, antes de eu começar a estudar, Murat foi pessoalmente ver quem seria, meu professor. Quando constatou que o homem era um gordo inofensivo, ele relaxou. Mal sabe ele que meu professor foi substituído por um homem de cabelos negros, grisalhos nas laterais, boa pinta. Tudo bem que ele é casado, mas Murat não confia em homem nenhum ou em mim.

—Quando terá tempo para me ouvir tocar piano? Você comprou um faz sete meses atrás, está na biblioteca e você não tira um tempo para me ouvir.

Murat respira fundo e olha o relógio.

—Não, sei. Canim(querida). Temos usado o nosso tempo, tão curto, para ficarmos juntos —ele cheio de malícia. — E falando em tempo preciso ir.

Eu solto o ar.

—Está certo. Saiba que o professor me disse que sou muito talentosa. Tanto que estou sendo cogitada para um teste. Se eu passar, participarei do concerto que terá aqui em Londres.

Murat me olha em silêncio. Talvez pensando o que isso representa de ameaça.

—Espere um momento. Você disse concerto em Londres?

Assinto. Ele me olha desgostoso.

Acho que ele está com raiva de quem me contaminou com a vontade de ser independente dele. Sim, se eu conseguir tocar no concerto de Londres, será um passaporte para uma promissória carreira e a minha independência.

—Olhe, Ester. Eu realmente estou sem tempo agora. Depois falaremos sobre isso. Mas não decida nada antes de falar comigo.

—Eu aceitei fazer o teste.

Murat ofega.

—Você o quê?

Ele me solta, irado.

—Porra, Ester! Sabe o que significa entrar para uma orquestra? Viagens. Não foi isso que combinamos. O pouco tempo que temos um para o outro será inexistente.

Suas palavras de sua boca saíram de forma brutal. Claro que reprovando meu atrevimento por ter cogitado fazer algo que dificultaria ainda mais nossos encontros.

—Eu...nem sei se conseguirei entrar. Não é tão fácil assim.

Murat demonstra um alívio com isso. Acho que ele nem acredita que eu consiga.

—Então pare de me estressar me dizendo isso. Nada te falta, há muitas mulheres que gostariam de estar em seu lugar. A fila é longa. Então pare com isso.

Suas palavras me ferem, pois eu sei que ele tem razão. Sei como as mulheres o olham. Murat não é belo, lindo é pouco para descrevê-lo, ele é de tirar o fôlego. Se tivesse uma palavra mais forte para descrevê-lo ele a ganharia. Costumo dizer que ele não é do planeta terra ou foi feito em laboratório.

Fora seu charme, o jeito que ele sorri quando está descontraído, o jeito que ele movimenta as mãos quando fala. Deus! Eu sou louca por ele.

Solto o ar. Talvez por ele se dar conta o quanto ele é irresistível ele seja tão arrogante.

—Murat, não quero te estressar. É que eu me inscrevi e pode acontecer de eu ganhar.

—Então desista. Quer que eu tenha uma indigestão? Pois é isso que irá acontecer se ficar insistindo nisso! Allah!! Esse não é um assunto que eu escolheria para o meu café da manhã.

—Você pensa que é fácil viver na ociosidade? E eu não estou me esforçando à toa. Não quero brincar de tocar piano.

—Achei que tudo que te dou bastasse para você. Tenho me esforçado para estar aqui, mas às vezes meu trabalho e meu pai me seguram. 

Ele deve estar me achando uma ingrata. Ele me dá de tudo e eu me revelo descontente. Ele continua:

—E outra coisa, não sou seu pai. Sou seu homem. Não confunda a natureza de nosso relacionamento. Quero você disponível para mim.

Murat se aproxima de mim e como sempre o mundo para e eu fico perdida no seu olhar. Ele adora me deixar cativa dele antes de me beijar. Os beijos dele nunca são inocentes e sim apaixonados e sempre me fazem querer muito mais dele.

Murat toma a minha boca com paixão avassaladora, tirando toda a minha sanidade e me fazendo até esquecer meu nome. Então ele desliza seus lábios no meu pescoço. A atração poderosa começa a agir no meu corpo e eu ofego quando sua mão desce e pegando uma de minhas coxas ele encaixa minha perna erguida nele para eu sentir toda a sua potência enquanto seus lábios me devastam roubando minha mente. Eu me agarro em seus ombros para não cair com o labirinto de prazer que ele me provoca.

—Preciso ir. —Ele diz rouco no meu ouvido e arrastando seus lábios pelo meu pescoço, entre beijos ele o aspira, como se quisesse levar meu perfume com ele.

Ele parece ter dificuldade de se afastar de mim também, com a respiração agitada, sem olhar nos meus olhos, seus dedos pegam meus ombros e me afastam firmemente.

—Cancele esse teste. —Ele diz se virando para ir embora.

Ofegante, aos poucos eu vou também voltando a realidade com suas palavras, mesmo tremendo pelo desejo desperto, eu tenho forças para contestar:

—Não vou cancelar!

Murat se volta e ofegante me encara.

—Como é que é?

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