Caminhamos juntos pelo largo corredor do hotel sentido aos elevadores. Eu estou lutando para manter calma, mas não está fácil. Relanceio os olhos para ele e vejo uma espécie de sorriso nos seus lábios, isso só piora as coisas, mas estou muito cansada para raciocinar, ou tentar entender tudo isso.
O elevador está com as portas abertas. Entramos nele. Ele aperta o décimo andar. A música ambiente é romântica e piora muito as coisas. Olho para baixo, constrangida.
—Não nos apresentamos.
Relutantemente eu ergo o meu rosto e o encaro.
—Ester Marshal. —Digo.
—Murat. —Ele diz estendendo a mão para mim. Percebi que ele não me disse o seu sobrenome.
Pego a sua mão e sinto o seu aperto firme. Os meus batimentos já rápidos, aceleram. O calor das suas mãos e a intensidade dos seus olhos provocam reações no meu corpo que estremece. De repente sinto como se tivesse entrando num campo magnético que me puxa para ele.
As portas se abrem me trazendo para a realidade. Só então ele solta a minha mão. Saímos do elevador e seguimos pelo corredor até seu quarto. Tento segurar o meu sorriso nervoso conforme caminhamos lado a lado.
Deus! Estou acostumada a ver homens bonitos e bem vestidos, mas esse sobrepuja todos eles.
Ele me estende o cartão magnético e eu abro a porta para ele.
Entramos na suíte luxuosa. Quando fecho a porta dou com ele caminhando até a cama. Ele se senta nela e coloca as muletas ao lado da cama.
—Que tipo de ajuda o senhor precisa?
Ele retira o paletó e tenta jogá-lo sobre uma poltrona, mas erra o alvo. Eu imediatamente vou até a peça e a pego do chão e coloco-a sobre o móvel.
Quando me volto para ele dou com os seus olhos fixos em mim. Dou um sorriso sem graça e ajeito uma mecha do meu cabelo que soltou do coque e a coloco atrás da orelha.
—Eu não entendi bem a ajuda que o senhor precisa.
—Você poderia me preparar um Scott sem gelo e aproveita faz um para você também, você está abatida, não me parece nada bem.
—Para mim?
Ele continua me estudando.
—Sim, por que não?
Solto o ar. Eu bem que estou precisando de uma bebida. Esses últimos dias não têm sido fáceis. Primeiro a perda do meu irmão, a ignorância e prepotência da mulher que é minha mãe. Tantas coisas para administrar como a falta dele, a falta de dinheiro por causa da morte dele, pois nós dividíamos as despesas juntos. Além disso os traficantes me cobrando a dívida que ele tem com eles.
—Tudo bem-digo com resignação.
Murat a ponta o bar para mim. Aceno com a cabeça e silenciosamente caminho até lá e faço as duas bebidas conforme a sua sugestão. Entrego-lhe e tomo a minha num gole só. Eu tusso quando sinto a garganta ardendo.
—Esse malte é puro. Você não deveria beber desse jeito e ele sobe rápido.
Sorrio com o rosto em chamas, Murat alarga mais o seu sorriso e toma o restante da sua bebida. Ele estende o copo para mim e eu levo os dois até o bar.
A bebida tem um efeito desejado no meu sistema nervoso, sinto-me mais relaxada. Quando me volto para ele o encaro mais leve.
—O senhor disse que precisava de ajuda. Mas eu não entendo o que posso ajudá-lo?
—Na verdade, percebi que estava em apuros lá embaixo e tensa demais. Você não me pareceu bem. Não pensei em mim quando te chamei aqui no quarto.
As palavras dele me fazem perder as falas. Então pisco evitando as minhas lágrimas, emocionada pela sinceridade dele e por ele ter se importado comigo. Faz tempo que ninguém se importa. Ultimamente sinto-me invisível, só lembram de mim para me dar bronca.
—Sim, as coisas não têm sido fáceis para mim.
Murat assente me avaliando pensativo.
—Eu percebi.
Aceno um sim com a cabeça, ainda tocada com a sensibilidade dele.
Aqui todos só sabem me cobrar. Eles não estão nem aí para o que eu estou vivendo. Nunca ninguém parou para perguntar o que estou sentindo.
—Bem, se não precisa mais de ajuda.... —digo enxugando algumas lágrimas furtivas. Achando incrível estar chorando na frente desse estranho.
Então me calo quando vejo Murat ficar em pé. Ele vem na minha direção sem as muletas, mancando muito, mas parece não se importar com a dor. Para poucos centímetros de mim.
—Qual é sua história, cabelos de fogo? —Diz elevando sua mão e tocando meu rosto. Meu coração dispara com seu gesto. —Quem são os vilões? O que eles fizeram com você para você está assim, tão fragilizada?
Eu limpo minha garganta mal conseguindo raciocinar direito com seu perfume maravilhoso no meu nariz, seus olhos negros nos meus. Sinto uma de suas mãos pegando a minha, seu polegar alisando minha mão. Eu não digo nada fico apenas olhando para ele.
Faz tanto tempo que ninguém se preocupa comigo. Minha história tem sido de tragédia e mais tragédias. A voz serena de Murat querendo me entender surge como um balsamo. Ele, então, me puxa mais para ele. Meu coração começa a bater no meu ouvido abafando o som da minha respiração tão agitada.
Encantada fico a olhar esse homem à minha frente, tão seguro de si, tão maduro, tão majestoso.
Um tremor percorre o meu corpo. Fecho os olhos, pois me sinto tão frágil, tão fraca e indefesa. Murat me abraça, seu cheiro agridoce— uma mistura de colônia pós barba com seu perfume masculino almiscarado e seu suor— me passam tanta força que de repente não me sinto mais dentro da minha vida solitária e o bem-estar que ele me proporciona me faz buscar refúgio no ombro dele.
Murat me abraça apertado, sentindo que preciso muito desse abraço. Ficamos um tempo assim. O nó na minha garganta vai se desmanchando numa mistura conflituosa de sentimentos: o conforto dos braços de Murat, a grande atração que sinto por esse estranho e o medo. E esse último que começa a falar mais alto. Ofegante, tomo consciência do absurdo que é estar no quarto desse homem chorando no ombro dele, e me afasto dele dizendo:—Olha, obrigada por tudo. Melhor eu ir.—Não vá, por favor. —Ele diz rouco. —Fique.Ele fala tão enfático, tão sentido que eu estremeço e um êxtase que jamais experimentei toma conta de meu corpo com seu convite.A mão grande desliza pelo meu braço enquanto seus olhos negros mantém os meus cativos nos dele. Solto um suspiro sem saber o que responder, confusa por querer ficar e ao mesmo tempo achar tão errado tudo isso. Murat parece entender meu dilema e me puxa para ele, mas não de um jeito bruto, mas forte, sua mão circula minhas costas carinhosamente enquanto el
Eu o encaro. Se eu começar a falar de mim eu vou chorar. Eu costumo represar tudo, então se eu me abrir será como abrir as comportas da tristeza e águas vão jorrar com as lembranças da minha vida sofrida. Um homem como ele não está querendo ouvir minha história triste, embora eu tenha sentido nas suas falas que ele realmente quer me conhecer melhor.Timidamente começo apenas do meu gosto inusitado por músicas exóticas, como as flamencas, os tangos e que adoro músicas clássicas, principalmente as que dão ênfase ao som do piano.—Sério isso? Você gosta das flamencas?Eu o encaro e aceno um sim, ele se vira mais para mim.—Música flamenca e tango é minha paixão. Já fui a Buenos Aires para conhecer de perto essa dança linda e exótica, mas ainda não tive oportunidade de ir a Espanha.— Verdade? —Meus olhos brilham. —Você sabe dançar tango?—Não —sinto uma leve tristeza no seu "não". —Mas gostaria muito. E você? Sabe dançar?Aceno um sim.—Fiz aulas de dança.—Verdade? Você é tão jovem...qu
Eles espelham uma promessa de puro prazer, sensualidade, carinho...De tudo isso que leio neles, eu quero muito o seu carinho.Logo estou deitada com ele na cama, envolta numa nuvem de sedução. Sem nem saber como cheguei ali, mas não penso muito nisso, estou extasiada vendo seu corpo lindo se esfregando no meu, me aquecendo. Seus lábios quentes me beijando. Quando ele puxa a minha calcinha, meu coração acelerado pela paixão dispara e na hora me vem o sentimento que estou cometendo um erro. Mas ele se dissolve no momento que os lábios de Murat se unem aos meus novamente...quentes, molhados, envolventes. Suas mãos passando pelo meu corpo.Se eu tinha algum resquício de autocontrole ele se perdeu agora, dissolvido no calor da paixão, me fazendo esquecer toda a minha dor, o mundo feio lá fora e suas severas lições. Agora eu estou tendo o carinho, o aconchego que eu preciso.Eu ando tão triste, sozinha...Murat começa a falar algo no meu ouvido. Árabe? Não sei. Nem quero saber. Invento que
Deus! Trabalhar na casa desse homem será um desafio. Sim, admito que ele deva ter muitas mulheres interessadas. Nunca um homem mexeu tanto comigo como Murat. Sinto um certo nervoso ao pensar nisso.—Ele...é simpático. —Digo para disfarçar colocando a foto no lugar e forçando um sorriso como se eu não o reconhecesse.Norma ri.—Essa é boa! Simpático? Vamos menina, vamos para a cozinha. Vou te dar alguns livros de receitas para você estudar. Depois do almoço faremos a sobremesa para o jantar e uma sopa de legumes para o senhor Çelik.—Está certo.Eu relanceio meus olhos para a foto novamente e a sigo arrepiada. O coração acelerado no peito, abalada com a imagem do Adônis, o homem que desde aquele dia perturba meus sonhos.Gente que serviço é esse? Suspiro satisfeita.Passei o dia comendo e lendo receitas. Agora à tardinha estou ajudando Norma a cascar alguns legumes, picando tudo para ela fazer a sopa do homem.A sobremesa eu me prontifiquei a fazer. Fiz um manjar branco, uma receita d
Agora será o meu fim.Qual será sua reação a meu ver?Surpresa é claro, mas e depois?Assim que nossos olhos se encontram, é como se o mundo parasse. Meu corpo inteiro estremece, e preciso fazer um esforço sobre-humano para não perder o controle. Ele está parado ali, imponente, mais bonito do que minha memória ousava lembrar. A barba impecável realça a força de seu queixo, e os cabelos negros, alinhados para trás, brilham sob a luz como se tivessem sido esculpidos em obsidiana.Meu coração dispara. Ele pisca uma vez, depois outra, como se precisasse se convencer de que sou real. Seus olhos, intensos e profundos, se apertam, revelando a confusão e o choque que tentam romper sua fachada impenetrável. É como se ele quisesse me decifrar, me despir de qualquer máscara que eu pudesse estar usando. Seu rosto endurece lentamente, os lábios se comprimem em uma linha fina, e o ar ao nosso redor parece vibrar com algo indefinido, quase palpável.Meu rubor é instantâneo, feroz. As memórias de nos
—Uma colher por favor?—Ah, claro!Vou até a gaveta e pego uma colher de sobremesa e lhe entrego. Nossos dedos se tocam e eu me arrepio inteirinha.Eu me afasto dele. Minha vontade é ver sua reação ao comer o manjar, mas eu saio da cozinha e vou para a sala de jantar retirar a mesa. Tremendo retiro a porcelana da mesa e entro na cozinha. Murat já está no final da sobremesa. Eu coloco a porcelana na pia e me viro para ele, quando ele finaliza, não resisto e pergunto:—E então? Gostou?Ele ri e afasta o pratinho com apenas a calda que ficou.—Sinceramente? Não sei por que o nome manjar? Manjar me lembra nome de algo muito bom, algo que se serve a um rei, a príncipes. E essa sobremesa parece uma papa dura de coco.Eu não consigo deixar de rir, achando graça em suas palavras. Murat me olha de um jeito estranho bem atento ao meu rosto.—Ah e se gostasse de ameixa, teria gostado do pudim. Eu soube disso só depois que tinha feito a sobremesa. Então, realmente, ele por si só não é uma sobreme
Ele continua a me olhar sem pressa de sair. Seus olhos passam por meu corpo e depois voltam para o meu rosto.—Você emagreceu. Você era mais cheinha quando nos conhecemos. —Então ele aperta os lábios. —Humm. Lembro-me muito bem de seu corpo. Perfeita. O que houve com você? Faz parte de seu jogo de conquista?Deus! As mulheres devem perder a noção do ridículo para chamar atenção dele, então ele está achando que estou fazendo o mesmo. Não tem outra explicação.—Senhor Çelik não me interessa sua opinião. E o que aconteceu comigo é problema meu!Ele ri e passa os olhos por mim novamente.—Gostei de rever você Ester! Eu me divertir muito hoje. É gostoso essa sensação que você me fez experimentar. Só lamento uma coisa. Pensei que eu tinha tido a arte de te conquistar e não ser conquistado. Hoje vejo que não foi bem assim. Tudo muito bem planejado. Bem, eu estava enfurnado até agora numa reunião e você deu cor ao meu dia cinza com sua aparição por isso vou te dar um descanso, por enquanto.E
Sete horas estou em pé. Não perguntei o horário que iniciarei meu trabalho na cozinha, mas acredito que cedo, por isso me levantei a essa hora.—Bom dia, levantou-se cedo. —Norma diz com um sorriso tomando o café tranquilamente.Eu sorrio para ela.—Eu esqueci de perguntar a hora que começo na cozinha.—Murat costuma tomar café lá pelas nove horas. Então, oito horas você se levantando está bom. Ele não costuma comer muito no café da manhã. Você verá que com Murat é tranquilo, ele almoça bem, mas dificilmente aqui, ele faz suas refeições em restaurantes. Só no final de semana mesmo, e às vezes nem isso. Já seus pais que, aliás, chegarão hoje, são idosos, então não tem hora para acordar. Você então os servirá quando eles estiverem à mesa.—Está certo.—Agora tome seu café tranquilamente.Tranquilidade é algo que desconheço. Primeiro com a minha família monstro. Meu pai era um infeliz, um homem que vivia com um copo de bebida na mão. Sempre caído no sofá melancólico e por aí vai...Sou d