Eu solto o ar.—Tudo bem!Murat se senta no sofá novamente e eu, aos poucos, vou contando minha história... sobre a minha mãe e seu jeito egoísta de ser, a ausência de amor. Contei sobre a morte prematura do meu pai, a chegada do meu padrasto e tudo que aconteceu depois.A decepção de ver minha mãe querendo se ver livre de mim, louca para eu me casar com um homem da alta sociedade e por isso as aulas de piano. As roupas curtas que ela me fazia usar, as festas que ela me fazia participar. De como ela me tratava na frente dos outros e como um lixo em casa.Conto então a minha saída de casa, a morte prematura do meu irmão, os traficantes me ameaçando.MuratMeu corpo inteiro está tenso. As palavras dela levam um tempo até entrarem no meu cérebro. Minha boca está seca, meu coração apertado por tudo que ela vivenciou e mais, sinto-me um ser desprezível ante tudo que fiz.Ela lutava para recomeçar sua vida ante a tanta desgraça e eu agi como um trator, passando por cima dos seus sentimentos
Os olhos de Murat se tornam mais negros de desejo e sorrindo ele se levanta e estende a mão. Eu a pego. Ele me puxa do sofá e me traz junto ao corpo dele. Sua boca toma a minha com paixão selvagem. Suas mãos me trazem mais para ele. Fazendo-me sentir amada, querida.Ele olha para mim por um tempo calado, como quem sonha.—Obrigado por me ouvir, por me dar mais uma chance... —ele diz, humilde.As emoções explodem, aquelas que tenho guardado dentro de mim desde nossa separação. Cheia de saudade minha resposta é tomar sua boca com paixão e o abraço apertado, passo a mão nos seus cabelos e o puxo para aprofundar o beijo.Não demora muito estamos apressados e com movimentos desajeitados começamos a nos livrar de nossas roupas, loucos para sentir a pele um do outro. Isso é tudo que precisamos agora.Ficamos nus e nos deitamos na cama.Seu toque é suave. Murat me ama com carinho, toca-me com veneração. Lento, delicado, sua boca nos lugares certos, suas mãos massageando meus seios, visitando
Eu me sinto como se tivesse flutuando nas nuvens. Tudo tem corrido tão bem que dá até medo!Nos casamos no cartório, com poucas testemunhas. Minha tia, a mãe de Murat. Tereza e seu marido que foram nossos padrinhos.Viajamos depois, ficamos vinte dias inteiros hospedados em um hotel em Artemida, na Grécia. Um lugar maravilhoso. Praias de águas límpidas, um verdadeiro paraíso. Foi tão bom estar com Murat em lugares públicos. Andar de mãos dadas pela praia, frequentar restaurantes e assistir o sorriso largo dele experimentando pela primeira vez a liberdade, sem a sombra de seu pai atrapalhando tudo.Logo que chegamos de viagem, juntos, começamos a ver as casas. Nos apaixonamos por uma.Linda!Uma casa de cinco quartos, sendo todos suítes. Bem espaçosa. Cozinha grande, sala de jantar, uma grande sala de estar com lareira. Toda avarandada.O jardim lindo, um sonho. Grande, o gramado cerca toda a casa. Plantas ornamentais espalhadas em vários pontos estratégicos, lindas, em uma combinação
Murat aperta os lábios e solta o ar.—Meu pai sempre valorizou objetos antigos. Se você tivesse visto o quarto dele entenderia o que quero dizer. É como se entrasse na idade média. Todas as peças que ele comprou eu o acompanhei. Quando ele se interessava por alguma e o preço era muito alto, ele levava um amigo nosso, que já até faleceu. Ele era historiador, especializado em peças antigas. Ele que checava se as peças eram apenas uma cópia, e se não, ele avaliava se elas valiam tudo o que diziam. Eu fiquei fascinado com esse mundo. Quando meu pai viu meu interesse, ele investiu em livros caríssimos sobre a veracidade dos móveis antigos. Eu passei a estudar sobre isso nas horas vagas e meu pai pagou John para me ajudar. Além de ele tirar as minhas dúvidas, visitamos muitos antiquários para eu pôr em prática meus conhecimentos. Muitas peças na casa de meu pai foi eu que comprei. Louças, vasos, alguns móveis. Tirando o quarto dele, é claro.Solto o ar, entendendo agora de onde vem essa com
Tive uma gestação tranquila.Ao longo desses meses, recebi a visita de Ayla que se mostrou uma mulher de fibra, de opinião. Contrariando a vontade do pai de Murat, sempre que pôde, veio nos visitar.No início ela me tratou com uma frieza irritante, cheio de recato, deixando claro que sua vinda era apenas para ver Murat, mas que não aprovava a escolha dele. Só que o tempo foi passando e ela pode perceber através das ações de Murat como ele estava feliz ao meu lado, como ele me tratava com carinho. Isso teve o efeito de um martelinho quebrando toda a resistência dela. E suas visitas rápidas, aos poucos, foram se estendendo. Se tornado em horas, então um dia ela almoçou conosco, outro dia ficou para o jantar e assim foi indo. Quando Yasmin nasceu eu já me dava muito bem com a minha sogra. Nossa filha só veio selar isso com sua vinda. Hoje nosso bebê completa um mês.Ela é um bebê grande, forte e saudável.Linda!O cabelo negro igual ao do pai, os olhos de um lindo azul-esverdeado.Ag
Seis meses depois...MuratO cliente sorri satisfeito ao passar os dedos pela cristaleira.—Vou levar—ele diz sem nem ao menos perguntar o preço. —Há muito tempo tenho procurado por essa peça.—Ótimo, fico feliz de tê-la encontrado aqui—digo enquanto preencho a nota para ele. —Suba até o escritório e acerte com minha esposa. Aproveita e passa seu endereço para a entrega.—Está certo.O sino da porta de entrada soa e eu me preparo para mais um cliente. Quando me volto para ele vejo a figura de meu pai.Meu coração se agita e eu fico estacado olhando para ele.—É assim que recebe seus clientes? —Ele me questiona. —Os deixa plantados esperando ser atendidos?—Ba... —quase o chamo de pai em turco, mas na última hora suprimo as palavras. —Ahmed, o que faz aqui?Meu pai estremece.—Sua loja é como sua mãe descreveu. Muito bem organizada. Não fica aquela impressão de móveis acumulados. Você fez vários ambientes.—Sim. Sempre notei nessas lojas que íamos certa desorganização —digo. —Resolvi i
EsterEu meneio a cabeça achando graça na dramaticidade deles. Tentando levar na esportiva os pensamentos que me surgem agora.Quando eu estava gravida de sei meses, eu saí para ir ao mercado e peguei um congestionamento enorme na volta. Tudo parado por causa de um acidente. Quando eu cheguei Murat andava de um lado para o outro como um leão faminto, muito preocupado comigo, já que eu tinha ido comprar seis coisinhas e demorei.Turcos!—Está certo pai. Dá uma ligada para ela antes de ir. Para despreocupá-la.Nossa! Vai cair o mundo! Quanto tempo ele ficou aqui? Acho quem nem meia hora.—Sim, no carro eu ligo.—Não esquece! —Murat diz enfático.—Não vou esquecer—ele diz e olha para mim. —Verei com Ayla um almoço em casa.—Será só nós ou chamará todos da família? —Murat questiona estudando o pai.—À princípio só nós. Você não acha melhor?Murat parece aliviado.—Sim, concordo. Yasmin é muito pequena para passar de colo em colo. —Ele diz. Seu senso protetor nível dez agora.—Vou indo. —M
Meu olhar está distraído vendo Ester brincando de bola com os nossos filhos na piscina. É inacreditável como o tempo passou. Yasmin, está com nove anos e Osman, oito anos.—A carne está cheirando queimado. —Ouço Tereza dizer.Pisco e só então vejo o fogo alto que se formou. Jogo um pouco de água no carvão para diminuir as chamas.—Droga! Meu pai se aproxima se firmando em sua bengala.—Deixa que eu cuido disso—ele diz.—Não precisa baba. Eu que estava distraído.Ele olha os netos brincando com Ester.—Eles cresceram, não é isso que estava pensando?—Sim, o tempo passou. Tanto que me sinto um velho. A nossa diferença de idade agora está bem em evidência —digo reparando em Ester, que continua linda, com seus trinta e três anos e eu quarenta e oito. Estou grisalho, as rugas evidentes nos cantos dos olhos.—Você não deveria se preocupar com isso. Ester te ama. Não vê como ela olha para você? Como ainda te procura com os olhos nas