Capítulo XX
Epílogo
Representantes de quatro gerações brindavam com o néctar dos deuses. Em Vulpecula, numa área de duzentos e sessenta e oito graus quadrados do hemisfério norte, Giuseppe, Mário, Alduino e José observavam aquele pequeno ponto azul no espaço sideral a milhões de anos luz de onde estavam. A grande corrente por eles formada desde muito antes do velho Giuseppe, atingia agora seu clímax na pessoa de Mário Scucciatto II, fazendo o eufórico José brilhar como se uma estrela fosse naquele longínquo espaço do universo.
Referência a todos os mundos habitados pela enorme Via Láctea, o planeta Terra se destacava e nele se espelhavam habitantes vindos de todos os outros mundos nas suas mais diferentes formas e culturas, todos a saudar o cientista que a isso t
Além da névoa Marcos Mancini Prefácio História e estória, dramas e comédias, realidade e ficção são os ingredientes básicos que compõem este compêndio. Através da história tenta-se mostrar o acontecido há séculos atrás, ilustrando fatos reais e fictícios que se desenvolveram no decorrer de várias etapas e tempos. E na estória, procura-se ilustrar o que poderia ou não ter
Capítulo IIntroduçãoA baixa Idade Média desenvolvia-se nos países europeus. Cresciam as cidades, expandiam-se os territórios e florescia o comércio. Sobreviventes da decadência do Império Romano elas se transformaram em dormitórios de bispos e de senhores feudais que se esqueciam da zona rural e também dos seus habitantes que empobreciam dia a dia. Revoltados, o povo passou a se organizar em sociedades, revertendo a ousadia dos reinos europeus. Muito lentamente, essas organizações passaram a dar lugar a uma nova ordem, em que o papel econômico mais dinâmico passou para a burguesia urbana.A abertura de novas lavouras, o crescimento demográfico e o aumento da produtividade agrícola, em consequência de técnicas mais mod
Capítulo IIOs ScucciattoGiuseppe Scucciatto acorda em sobressalto com os altos gemidos e continuados pedidos da mama para buscar dona Rita. Grávida de nove meses sente que já está na hora da chegada do bambino, ou bambina nascer. É passado da meia noite e a madrugada se instala no sítio do casal na cidade de Enna, bem no coração da Sicília. O inverno castiga toda a região, obrigando o futuro pai a bem se agasalhar com um sobretudo preto em cima do pijama de grossa flanela. Na cabeça protegeu-se com um gorro também preto e calçou as botas sem as meias. Saiu do quarto rumo á sala e bateu com a cabeça no candeeiro de querosene, fato que o fez lembrar-se de acendê-lo, provocando risos na mama em meio aos gemidos.Batendo os dentes de frio, Giuseppe atre
Capítulo IIIMário ScucciattoMário Scucciatto despediu-se dos pais no cais do porto de Palermo e rumou para a rampa de acesso do vapor Bento I a caminho de Roma. Ouvia os murmurinhos de outras pessoas que também embarcavam sobre o assassinato do príncipe do império Austro-Hungaro, Ferdinando e como isso poderia afetar a vida dos italianos. Com passos firmes adentrou na embarcação e ouviu o silvo prolongado anunciando a partida imediata. Vagarosamente o navio foi se afastando, a linha do horizonte já cobria o cais do porto de Palermo e Mário não podia mais ver a figura dos pais lhe acenando com lenços brancos em sinal de adeus, ou de até breve, ou ainda, de que Deus lhe acompanhe. O já desgastado “que Papai do céu cuide bem de você e que sempre lhe acompanhe” fazia parte dos pensamentos da mam
Capítulo IVOs Scucciatto no BrasilA experiência vivida como grumete no vapor Il Mondo Romano de Mário Scucciatto anos atrás fazia brilhar os olhos de Maria Prueti. Caminhando pelo convés do navio ele lhe explicava o que era bombordo, estibordo, proa, popa, o trabalho ali realizado pelos marujos, para que servia determinados aparelhos e de como se orientar pelas estrelas. Mostrando-lhe o céu explicava que nesta parte do hemisfério sul logo se poderia ver uma constelação que não aparecia no céu da Europa chamada Cruzeiro do Sul.Iriam aportar na cidade de Santos e sua intenção era seguir para o interior do estado de São Paulo, onde amigos lhe afirmaram ser uma região próspera na agricultura, principalmente na cultura de café. Tinha dólares suficientes para compra
Capítulo VA primeira geraçãoA matriarca dos Scucciatto parecia agora ter acordado de uma enorme hibernação. De repente achou por bem lutar pelo patrimônio quase perdido, mesmo contrariando a última vontade do finado marido. Se conseguisse estaria completando o sonho dele e, com certeza, lá do céu ele lhe agradeceria. Entre trancos e barrancos ela tentava equilibrar suas finanças e o custeio familiar. Contava com a ajuda dos filhos, cada qual realizando as tarefas que lhes cabiam. Eliza e Iolanda trabalhavam na roça colhendo o pouco café que ainda restava para vendê-lo no mercado municipal. Os rapazes, Alduino e Pascoal trabalhavam como operários em fábricas nas cidades vizinhas. Entre estes, Alduino era o que mais se destacava. Tal qual o pai, Alduino Scucciatto era inteligente, trabalhador, perspicaz, teimoso e terrivelmente debochado.
Capítulo VIOs CerviHerminda Cervi lia e relia a carta de Alduino comunicando a baixa do exército. Foi quase três anos de espera e agora, toda eufórica e tagarela repetia constantemente à mãe e às irmãs que em breve estaria casada e queria que todos a visitassem em Santo André, onde moraria com o marido. Seu pequeno sonho não ultrapassava os limites de um lar, filhos, trabalho e muita felicidade. Imaginava-se esperando pelo marido no fim de uma jornada de trabalho, preparando o jantar e cuidando dos filhos no retorno da escola. Indo além, sonhava ver esses filhos devidamente educados e cuidando deles na velhice. Perguntava constantemente ao pai se já havia pensado em se mudar para Santo André, lembrando-o que as coisas por Santo Antônio da Alegria não iam muito bem.E de fato não iam. Com um simples
Capítulo VIIIDo legado de BarduA grande família oriunda do velho descendente de imigrantes italianos se expandia sob a égide do patriarca. Do velho Mário Scucciatto, Alduino trouxe o conhecimento simples do homem do campo e a paixão pela vida. Herdou a inteligência e a força de vontade, a honestidade, o amor e a solidariedade. O espírito guerreiro e aventureiro, o bom humor, a irreverência e o deboche. A dignificação pelo trabalho de qualquer natureza e a responsabilidade pelos seus atos.Do exército veio a ordem, a obediência e a noção de soberania. Pontualidade com os compromissos e a satisfação pelo dever cumprido. O respeito pela vida e pela natureza, assim como pela preservação, manutenção e reparos dos bens a ele confiados. O valor de uma amizade e