Capítulo XV
O “diário” de José
Desde o regresso de José no dia quatorze de novembro de dois mil e seis, passou ele por diversas situações entristecedoras. Foi o segundo natal consecutivo sem a presença do filho. O primeiro motivou-se pela morte de dona Herminda, exatamente na véspera. Foi o primeiro fim de ano sem abraçá-lo, o primeiro carnaval sem lhe dar um pouco de atenção nas brincadeiras, nos passeios ao zoológico e nas andanças de bicicleta. Foi também o primeiro aniversário que José não recebia o carinho do filho. E também a primeira páscoa sem lhe dar um ovo. A tristeza de José se refletia nos seus escritos:
16/11/06 – Querido filho. Não sei se você já sabe do que realmente aconteceu. Talvez sua mãe lhe fale, ou não. Saiba que fui obrigado a i
Capítulo XVIMário Scucciatto II – a criançaRobusto, cabeludo e simpático era como todos viam aquela criança. Cercada de carinho e de toda atenção que os pais, avós, tios, irmãos e amigos lhe destinavam, Marinho foi se desenvolvendo ao longo do tempo de forma saudável e com muita felicidade. Num supermercado o pai lhe comprou seus primeiros presentes e o menino nunca mais parou de recebê-los, dos pais, irmãos, parentes e amigos. Aquele pequeno ser era a estrela da família e também de toda vizinhança da vila Assunção.Ainda no hospital, horas após seu nascimento, ao observá-lo no berçário, José sentiu uma estranha sensação. Era a mesma sensação que teve ao retornar de uma visita ao túmulo do pai numa data específica, quando algo lhe dizia que o menino ainda por nascer deveria se chamar Mário Sc
Capítulo XVIIMário Scucciatto II – o adolescenteMeu filho. Muitos foram os motivos que me levaram a tomar a atitude de não mais ficar com você. Mas ainda tenho muitas dúvidas sobre muita coisa e quem sabe um dia você possa me ajudar a esclarecê-las, sejam elas quais forem. Duvido que sua mãe lhe fale ou mesmo lhe mostre alguma coisa sobre isso, mas outras pessoas também têm este relato e um dia você vai poder saber dele. Quero que ao lê-lo, você saiba a verdade de tudo e possa fazer seu próprio julgamento.Conheci sua mãe e seus irmãos no final de mil novecentos e noventa e seis. Eles me contavam horrores sobre o pai, o Calderon, ex-marido da sua mãe e aos poucos foram me convencendo a acreditar em tudo o que falavam.
Capítulo XVIIIMário Scucciatto II – o cientistaA universidade de São Paulo promovia a colação de grau dos seus formandos em biologia. Cumprimentado por colegas, calouros, irmãos, parentes, mestres, Ph-ds de diversas áreas e renomados cientistas, Mário Scucciatto recebia, com todos os méritos, a premiação da sua mais recente conquista. Era agora um biólogo e agradecia mentalmente o incentivo que José lhe havia dado anos atrás. O seu juramento o conduziria para a reconstrução do planeta, da melhoria na qualidade de vida dos seres humanos e na preservação das espécies.Preocupados com a evolução da degradação do planeta, um grupo de jovens estudantes de biologia e de outras áreas da Universidade de São Paulo, liderado por Mário Scucciatto, formou uma competente eq
Capítulo XIXMário Scucciatto II – o homemRuas vazias e brancas devido ao acúmulo de neve, árvores secas e sem aves e uma densa nuvem esbranquiçada lembrando o “fog” inglês era tudo o que se podia ver da escotilha do avião que, com dificuldades, pousava no aeroporto de Estocolmo, capital da Suécia. No seu ventre trazia um senhor oriundo de lugares quentes, nada acostumado ao frio dos invernos europeus. Isso justificava o uso de um chapéu, luvas de couro e muita roupa sob o pesado sobretudo.Mário Scucciatto apresentava seu passaporte às autoridades suecas como cientista convidado ao importante evento que em breve se realizaria no Stockholm Konserthuset na cidade de Oslo. Era início de dezembro e também início da estação mais fria da Europa. Um rápido e pos
Capítulo XXEpílogoRepresentantes de quatro gerações brindavam com o néctar dos deuses. Em Vulpecula, numa área de duzentos e sessenta e oito graus quadrados do hemisfério norte, Giuseppe, Mário, Alduino e José observavam aquele pequeno ponto azul no espaço sideral a milhões de anos luz de onde estavam. A grande corrente por eles formada desde muito antes do velho Giuseppe, atingia agora seu clímax na pessoa de Mário Scucciatto II, fazendo o eufórico José brilhar como se uma estrela fosse naquele longínquo espaço do universo.Referência a todos os mundos habitados pela enorme Via Láctea, o planeta Terra se destacava e nele se espelhavam habitantes vindos de todos os outros mundos nas suas mais diferentes formas e culturas, todos a saudar o cientista que a isso t
Além da névoa Marcos Mancini Prefácio História e estória, dramas e comédias, realidade e ficção são os ingredientes básicos que compõem este compêndio. Através da história tenta-se mostrar o acontecido há séculos atrás, ilustrando fatos reais e fictícios que se desenvolveram no decorrer de várias etapas e tempos. E na estória, procura-se ilustrar o que poderia ou não ter
Capítulo IIntroduçãoA baixa Idade Média desenvolvia-se nos países europeus. Cresciam as cidades, expandiam-se os territórios e florescia o comércio. Sobreviventes da decadência do Império Romano elas se transformaram em dormitórios de bispos e de senhores feudais que se esqueciam da zona rural e também dos seus habitantes que empobreciam dia a dia. Revoltados, o povo passou a se organizar em sociedades, revertendo a ousadia dos reinos europeus. Muito lentamente, essas organizações passaram a dar lugar a uma nova ordem, em que o papel econômico mais dinâmico passou para a burguesia urbana.A abertura de novas lavouras, o crescimento demográfico e o aumento da produtividade agrícola, em consequência de técnicas mais mod
Capítulo IIOs ScucciattoGiuseppe Scucciatto acorda em sobressalto com os altos gemidos e continuados pedidos da mama para buscar dona Rita. Grávida de nove meses sente que já está na hora da chegada do bambino, ou bambina nascer. É passado da meia noite e a madrugada se instala no sítio do casal na cidade de Enna, bem no coração da Sicília. O inverno castiga toda a região, obrigando o futuro pai a bem se agasalhar com um sobretudo preto em cima do pijama de grossa flanela. Na cabeça protegeu-se com um gorro também preto e calçou as botas sem as meias. Saiu do quarto rumo á sala e bateu com a cabeça no candeeiro de querosene, fato que o fez lembrar-se de acendê-lo, provocando risos na mama em meio aos gemidos.Batendo os dentes de frio, Giuseppe atre