Capítulo VIII
Do legado de Bardu
A grande família oriunda do velho descendente de imigrantes italianos se expandia sob a égide do patriarca. Do velho Mário Scucciatto, Alduino trouxe o conhecimento simples do homem do campo e a paixão pela vida. Herdou a inteligência e a força de vontade, a honestidade, o amor e a solidariedade. O espírito guerreiro e aventureiro, o bom humor, a irreverência e o deboche. A dignificação pelo trabalho de qualquer natureza e a responsabilidade pelos seus atos.
Do exército veio a ordem, a obediência e a noção de soberania. Pontualidade com os compromissos e a satisfação pelo dever cumprido. O respeito pela vida e pela natureza, assim como pela preservação, manutenção e reparos dos bens a ele confiados. O valor de uma amizade e
Capítulo IXUm pouco mais da vida sem BarduA partir de dezesseis de julho de mil novecentos e noventa e oito a vida mudou bastante para os Scucciatto. A sua casa na avenida Doze de Outubro na vila Assunção estava a dois metros abaixo do nível da rua. José havia construído na frente e ao nível da rua uma garagem, o que fez sobrar abaixo um bom pátio medindo seis por oito metros. Nesse espaço Alduino construiu uma mesa em madeira bastante grande para acomodar toda a família e bancos que a rodeavam. Muitos eventos ali foram realizados. Natais, aniversários, nascimentos, comemorações esportivas e simples reuniões formais de alegres bate-papos e um bom jogo de tômbolas. Mas a luz apagou e a festa acabou. E agora José?Agora, naquela casa antes alegre, Herminda vivia sozinha. Diariamente recebia a visita
Capítulo XJosé ScucciattoJosé contempla o firmamento através da janela de um pequeno apartamento na travessa Apeninos. Estar ali não lhe faz bem, haja vista a recordação dos dias em que lá passou em companhia da mãe. Por entre os edifícios que se estendem à sua frente, vislumbra uma pequena parte do infinito azul do céu, que se expande até aonde a vista não mais alcança. Tão distante quanto ele vai seus pensamentos, suas lembranças, suas alegrias e tristezas.É verão nesta parte do hemisfério sul. Os dias são bem mais longos e ainda ajudados pelo horário especial adotado na estação, aumentando ainda mais seu istmo, teimando em deixá-lo sempre a mostra. A noite luta pelo seu espaço e só o consegue em horário já bem avançado.Logo abaixo da janela, na rua bem em f
Capítulo XIUm novo recomeçoTreze de novembro de dois mil e seis. Com passagem enviada por uma das suas filhas de Santo André na mão e sem nada dizer a Lucrecia, José preparou a mala com seus poucos pertences. Levou apenas roupas, muitas das quais trouxera de Santo André há cinco anos atrás. A pé rumou com a pesada mala até à casa do amigo Rubens, onde deixou seus pertences. Temia que Lucrecia pudesse notar qualquer coisa, pois por enquanto não pretendia dar explicações dos seus atos, haja vista que de nada valeriam mesmo. Mas Marinho notou a falta de uma das malas e até comentou o fato na presença de Lucrecia, que não se manifestou e também não demonstrou ter a menor curiosidade.José tencionava deixar a casa logo após o almoço, tempo em que Marinho estav
Capítulo XIILucrecia PereiraO final da década de noventa originou uma nova etapa de vida para José. Mais precisamente pelo fim do ano de mil novecentos e noventa e seis. Nesse tempo José conheceu Lucrecia Pereira e seus dois filhos.José Scucciatto, assim como o pai e o avô, não era pessoa apegada a religiões. Mas nessa época estava passando por alguma dificuldade financeira e amigos o convenceram a frequentar reuniões num centro Kardecista. Foi numa dessas reuniões que se deparou com Lucrecia e, com ela mais os filhos, passou a manter certos e cada vez mais e constantes encontros. Conheceu seus familiares e tudo tomou um rumo bem mais sério que os eventuais encontros.Lucrecia Pereira vinha de um casamento, segundo el
Capítulo XIIIA grande decepçãoSexta-feira vinte e nove de novembro de dois mil e um. José chegou na capital paranaense no período da tarde e rumou para o bairro de Santa Cândida, onde havia comprado uma residência num condomínio fechado. No dia primeiro de dezembro deveria assumir o controle da loja adquirida na capital e aproveitaria o fim de semana para arrumá-la. Para tal trouxe na bagagem uma vasta quantidade de produtos e equipamentos que formariam o ativo da nova empresa.Um mês antes José e Lucrecia dividiram tarefas. Ele permaneceu em Santo André providenciando a venda da loja, enquanto ela promovia a compra de outra e também da casa de Santa Cândida. Um terreno que o casal havia comprado numa cidade vizinha, Araucária, também teve sua venda confiada a
Capítulo XIVO regressoSanto André foi para José um misto de alegria e preocupação. Ele temia a mudança de profissão, mas encarava o fato de frente e, mesmo sem nada saber sobre a matéria, frequentou simultaneamente os cursos de hardware um e dois em Santos, onde ficou hospedado num hotel barato, conforme suas possibilidades. Depois frequentou em São Paulo cursos sobre monitores, notebooks e impressoras e novamente em Santos sobre redes e cabeamentos. Em pouco tempo já consertava diversos equipamentos e máquinas, mesmo antes de inaugurar a loja cuja reforma se arrastava devido à falta de dinheiro.Este crescimento profissional de José era o que o alegrava, mesmo porque nunca havia se dado mal em qualquer profissão que abraçasse. Sua enorme vontade pelo saber e pelo conhecimento fazia com que se entr
Capítulo XVO “diário” de JoséDesde o regresso de José no dia quatorze de novembro de dois mil e seis, passou ele por diversas situações entristecedoras. Foi o segundo natal consecutivo sem a presença do filho. O primeiro motivou-se pela morte de dona Herminda, exatamente na véspera. Foi o primeiro fim de ano sem abraçá-lo, o primeiro carnaval sem lhe dar um pouco de atenção nas brincadeiras, nos passeios ao zoológico e nas andanças de bicicleta. Foi também o primeiro aniversário que José não recebia o carinho do filho. E também a primeira páscoa sem lhe dar um ovo. A tristeza de José se refletia nos seus escritos:16/11/06 – Querido filho. Não sei se você já sabe do que realmente aconteceu. Talvez sua mãe lhe fale, ou não. Saiba que fui obrigado a i
Capítulo XVIMário Scucciatto II – a criançaRobusto, cabeludo e simpático era como todos viam aquela criança. Cercada de carinho e de toda atenção que os pais, avós, tios, irmãos e amigos lhe destinavam, Marinho foi se desenvolvendo ao longo do tempo de forma saudável e com muita felicidade. Num supermercado o pai lhe comprou seus primeiros presentes e o menino nunca mais parou de recebê-los, dos pais, irmãos, parentes e amigos. Aquele pequeno ser era a estrela da família e também de toda vizinhança da vila Assunção.Ainda no hospital, horas após seu nascimento, ao observá-lo no berçário, José sentiu uma estranha sensação. Era a mesma sensação que teve ao retornar de uma visita ao túmulo do pai numa data específica, quando algo lhe dizia que o menino ainda por nascer deveria se chamar Mário Sc