Capítulo XI
Um novo recomeço
Treze de novembro de dois mil e seis. Com passagem enviada por uma das suas filhas de Santo André na mão e sem nada dizer a Lucrecia, José preparou a mala com seus poucos pertences. Levou apenas roupas, muitas das quais trouxera de Santo André há cinco anos atrás. A pé rumou com a pesada mala até à casa do amigo Rubens, onde deixou seus pertences. Temia que Lucrecia pudesse notar qualquer coisa, pois por enquanto não pretendia dar explicações dos seus atos, haja vista que de nada valeriam mesmo. Mas Marinho notou a falta de uma das malas e até comentou o fato na presença de Lucrecia, que não se manifestou e também não demonstrou ter a menor curiosidade.
José tencionava deixar a casa logo após o almoço, tempo em que Marinho estav
Capítulo XIILucrecia PereiraO final da década de noventa originou uma nova etapa de vida para José. Mais precisamente pelo fim do ano de mil novecentos e noventa e seis. Nesse tempo José conheceu Lucrecia Pereira e seus dois filhos.José Scucciatto, assim como o pai e o avô, não era pessoa apegada a religiões. Mas nessa época estava passando por alguma dificuldade financeira e amigos o convenceram a frequentar reuniões num centro Kardecista. Foi numa dessas reuniões que se deparou com Lucrecia e, com ela mais os filhos, passou a manter certos e cada vez mais e constantes encontros. Conheceu seus familiares e tudo tomou um rumo bem mais sério que os eventuais encontros.Lucrecia Pereira vinha de um casamento, segundo el
Capítulo XIIIA grande decepçãoSexta-feira vinte e nove de novembro de dois mil e um. José chegou na capital paranaense no período da tarde e rumou para o bairro de Santa Cândida, onde havia comprado uma residência num condomínio fechado. No dia primeiro de dezembro deveria assumir o controle da loja adquirida na capital e aproveitaria o fim de semana para arrumá-la. Para tal trouxe na bagagem uma vasta quantidade de produtos e equipamentos que formariam o ativo da nova empresa.Um mês antes José e Lucrecia dividiram tarefas. Ele permaneceu em Santo André providenciando a venda da loja, enquanto ela promovia a compra de outra e também da casa de Santa Cândida. Um terreno que o casal havia comprado numa cidade vizinha, Araucária, também teve sua venda confiada a
Capítulo XIVO regressoSanto André foi para José um misto de alegria e preocupação. Ele temia a mudança de profissão, mas encarava o fato de frente e, mesmo sem nada saber sobre a matéria, frequentou simultaneamente os cursos de hardware um e dois em Santos, onde ficou hospedado num hotel barato, conforme suas possibilidades. Depois frequentou em São Paulo cursos sobre monitores, notebooks e impressoras e novamente em Santos sobre redes e cabeamentos. Em pouco tempo já consertava diversos equipamentos e máquinas, mesmo antes de inaugurar a loja cuja reforma se arrastava devido à falta de dinheiro.Este crescimento profissional de José era o que o alegrava, mesmo porque nunca havia se dado mal em qualquer profissão que abraçasse. Sua enorme vontade pelo saber e pelo conhecimento fazia com que se entr
Capítulo XVO “diário” de JoséDesde o regresso de José no dia quatorze de novembro de dois mil e seis, passou ele por diversas situações entristecedoras. Foi o segundo natal consecutivo sem a presença do filho. O primeiro motivou-se pela morte de dona Herminda, exatamente na véspera. Foi o primeiro fim de ano sem abraçá-lo, o primeiro carnaval sem lhe dar um pouco de atenção nas brincadeiras, nos passeios ao zoológico e nas andanças de bicicleta. Foi também o primeiro aniversário que José não recebia o carinho do filho. E também a primeira páscoa sem lhe dar um ovo. A tristeza de José se refletia nos seus escritos:16/11/06 – Querido filho. Não sei se você já sabe do que realmente aconteceu. Talvez sua mãe lhe fale, ou não. Saiba que fui obrigado a i
Capítulo XVIMário Scucciatto II – a criançaRobusto, cabeludo e simpático era como todos viam aquela criança. Cercada de carinho e de toda atenção que os pais, avós, tios, irmãos e amigos lhe destinavam, Marinho foi se desenvolvendo ao longo do tempo de forma saudável e com muita felicidade. Num supermercado o pai lhe comprou seus primeiros presentes e o menino nunca mais parou de recebê-los, dos pais, irmãos, parentes e amigos. Aquele pequeno ser era a estrela da família e também de toda vizinhança da vila Assunção.Ainda no hospital, horas após seu nascimento, ao observá-lo no berçário, José sentiu uma estranha sensação. Era a mesma sensação que teve ao retornar de uma visita ao túmulo do pai numa data específica, quando algo lhe dizia que o menino ainda por nascer deveria se chamar Mário Sc
Capítulo XVIIMário Scucciatto II – o adolescenteMeu filho. Muitos foram os motivos que me levaram a tomar a atitude de não mais ficar com você. Mas ainda tenho muitas dúvidas sobre muita coisa e quem sabe um dia você possa me ajudar a esclarecê-las, sejam elas quais forem. Duvido que sua mãe lhe fale ou mesmo lhe mostre alguma coisa sobre isso, mas outras pessoas também têm este relato e um dia você vai poder saber dele. Quero que ao lê-lo, você saiba a verdade de tudo e possa fazer seu próprio julgamento.Conheci sua mãe e seus irmãos no final de mil novecentos e noventa e seis. Eles me contavam horrores sobre o pai, o Calderon, ex-marido da sua mãe e aos poucos foram me convencendo a acreditar em tudo o que falavam.
Capítulo XVIIIMário Scucciatto II – o cientistaA universidade de São Paulo promovia a colação de grau dos seus formandos em biologia. Cumprimentado por colegas, calouros, irmãos, parentes, mestres, Ph-ds de diversas áreas e renomados cientistas, Mário Scucciatto recebia, com todos os méritos, a premiação da sua mais recente conquista. Era agora um biólogo e agradecia mentalmente o incentivo que José lhe havia dado anos atrás. O seu juramento o conduziria para a reconstrução do planeta, da melhoria na qualidade de vida dos seres humanos e na preservação das espécies.Preocupados com a evolução da degradação do planeta, um grupo de jovens estudantes de biologia e de outras áreas da Universidade de São Paulo, liderado por Mário Scucciatto, formou uma competente eq
Capítulo XIXMário Scucciatto II – o homemRuas vazias e brancas devido ao acúmulo de neve, árvores secas e sem aves e uma densa nuvem esbranquiçada lembrando o “fog” inglês era tudo o que se podia ver da escotilha do avião que, com dificuldades, pousava no aeroporto de Estocolmo, capital da Suécia. No seu ventre trazia um senhor oriundo de lugares quentes, nada acostumado ao frio dos invernos europeus. Isso justificava o uso de um chapéu, luvas de couro e muita roupa sob o pesado sobretudo.Mário Scucciatto apresentava seu passaporte às autoridades suecas como cientista convidado ao importante evento que em breve se realizaria no Stockholm Konserthuset na cidade de Oslo. Era início de dezembro e também início da estação mais fria da Europa. Um rápido e pos