CAPÍTULO UM

Atualmente

Eu nem sempre fui uma pessoa muito segura, para mim a qualquer momento eu iria falhar, principalmente na minha faculdade e residência de medicina, quando se tem tantas mentes brilhantes a sua volta, e você nem segura de si é, torna-se uma batalha árdua, mostrar para si mesma que é capaz, e principalmente se adequar as mudanças, nos meus primeiros anos foi um inferno, mas com Téo ao meu lado, eu conseguia me sobressair, então pouco a pouco fui me sentindo segura, fui me adequando as mudanças, mas eu não esperava que as mudanças fossem para além de minha carreira, que eu estava batalhando tanto para ter. Eu havia me tornado uma profissional respeitada, requisitada, nos corredores do grande hospital no qual eu trabalhava, eu me sentia segura, desde as coisas mais banais como demandar tarefas as coisas complicadas como fazer um diagnóstico a um paciente que já passou por milhares de hospitais, e nunca obteve uma resposta concreta. Eu definitivamente havia chegado no topo na minha profissão, eu me sentia orgulhosa, eu me sentia realizada... profissionalmente, mas não poderia dizer o mesmo da minha vida pessoal, que parece um pouco pior a cada dia, não que eu tenha uma vida ruim, longe disso, minha saúde tanto física quanto emocional era ótima, tinha uma ótima renda, que poderia me propor luxos que em minha adolescência eu não poderia imaginar, mas embora tudo parecesse perfeitamente alinhado, eu não poderia estender isso para o meu casamento, ele não era o pior do que já vi as pessoas transformarem o matrimônio, não posso negar, mas isso não significa que seja bom, ele a muito tempo havia deixado de ser. Não tome minhas palavras como algo ruim, são apenas fatos... Fatos como, me casei cedo, mas não pense que uma gravidez inesperada aconteceu, por que não foi isso, não foi as circunstâncias que me obrigou a tal ato, como pode ser para muitos jovens. Foi por amor, cumplicidade, e a certeza de que queria uma vida toda ao lado de Téo, meu marido.

E é por isso que, não há circunstância que me faça ponderar um segundo se quer, ter seguido caminho diferente, não sou hipócrita a ponto de dizer que nunca pensei em jogar tudo para o alto, e tomar um rumo diferente o qual ele não faria mais parte, na verdade tenho pensado nisso com mais frequência do que desejaria, por que apesar de tudo, eu ainda o amo e, no fundo, meu coração aperta pensar em seguir sem ele, em encerra aquilo que pensei ser para sempre.

Eu não sabia dizer em qual momento havíamos entrado em dissincronia, mas sabia que nossa relação não era mais a mesma, e não se tratava de uma evolução. Por mais que odeie admitir, temos sido frios um com o outro, até mesmo quando nos tocamos intimamente parece estranho, é quase como se estivéssemos fazendo um esforço para aquilo que se devia suceder ao desejo, amor.

Com um suspiro profundo, ainda envolvida pelos lençóis da cama, balanço minha cabeça em negativo, pensar não me ajudarão em nada. Olho para o lado onde Téo costuma dormir, ele obviamente não está, o que não me surpreende, afinal, já havia passado do tempo em que ele se despedia, em que eu ganhasse um beijo logo pela manhã.

— Acordou? — A voz rouca de Téo me faz olhar para a sacada do quarto, de onde o som de sua voz veio. meu coração parece dar um salto do meu peito ao vê-lo ali, é a primeira vez em dias que eu acordo e ele não partiu. Meu olhar o avalia dentro de seu terno casual na cor preta, ele sai da sacada e começa a vir até mais perto, de uma forma boba, uma pequena esperança, de que pode haver uma saída para nós como casal, a qual ajudasse nosso casamento, se instala dentro de mim.

— Bom dia! — Sorri, me sentando, o olhar de Téo me examinou por segundos, senti minha face enrubescer — Não vai para o serviço? — Perguntei incerta, por mais uma parte minha tenha essa esperança boba, eu não posso ignorar o fato de que não era a primeira vez que as coisas ameaçaram a se ajeitar.

— Vou, entro mais tarde hoje. — Ele deixa que um sorriso estique seus lábios, e caminha até mim, esticando um pequeno embrulho em minha direção, meu coração palpita em empolgação, eu gosto de ganhar presentes, principalmente quando não era em ocasiões em específico, e sim por que alguém viu e se lembrou de mim, Téo vivia fazendo isso.

— Para usar hoje, vai ficar perfeito em você. — O olhei com o cenho franzido, confusa, a única coisa que tinha em mente para o dia, eram intermináveis consultas, e elas não terminariam antes das oito. Eu suspiro, desviando meu olhar dele para o embrulho, meus dedos o abrem e me vejo encantada com a delicada correntinha acompanhada de um pingente delicado de um coração, ele é bem pequeno, mas muito bem trabalhado, ele parece transparente e no interior dele tem algo parecido a um líquido vermelho sangue, me pego sorrindo para o acessório, simplesmente encantada.

— É linda, muito linda — Meu olhar encontra o do meu marido, capito algo em seu semblante, ele parece mais relaxado, e a mesma faísca de esperança em mim, parece reluzir nele também — Mas hoje, o que temos hoje? — Inquiro, Téo me olha com o cenho franzido, então seu semblante relaxado se transforma em algo indignado, como se estivesse diante alguém que lhe havia apunhalado.

— Não acredito Cecília, você sempre faz isso! — Arregalo os olhos, surpresa com sua breve explosão, não que fosse a primeira vez que ele dava um desses surtos, mas o modo em que um momento me presenteava passou tão rapidamente para o qual me chamava de Cecília, não Ceci como o de costume me fez ficar em alerta, ele estava bravo, muito bravo, e eu não fazia ideia do porquê — Eu te falei ainda na semana passada! — Exclamou um tanto que impaciente, arqueei a sobrancelha, ainda perdida nas informações que parecia recentes para mim, ele bufou e continuou — Sobre o coquetel da empresa, Cecília! — Engasgo, finalmente me lembrando.

Droga, como poderia ter esquecido?

O olho, sentindo-me culpada, não só pelo fato de ter esquecido, como de que eu teria que me esquivar daquele evento. Eu sinceramente nunca gostei de participar, mas o fazia, querendo sempre o apoiar, afinal, não era algo pequeno, era uma das maiores conquistas de Téo, ele não só havia fundado a empresa com o pai, como havia comandando-a com pulsos firmes, levando-a a alcançar níveis altos, na categoria deles. Mas hoje, eu sinceramente não tinha ânimo, além de que, geralmente esses coquetéis aconteciam quando eu estava saindo do meu trabalho, o que me dava pouco tempo para arrumar, ou trabalhar nos sorrisos forçados que teria que distribuir.

Abaixo a cabeça por um tempo antes de a levantar, podendo sustentar a expressão desapontada de Téo. Mas ele iria sobreviver.

— Desculpa... — Murmurei — Eu realmente sinto muito por isso... — Tentei me mostrar afligida pela situação, mas Téo me interrompeu com um novo estrondo...

— Você sempre pede desculpas, quantas vezes você faltou comigo. —O tom de sua voz soa alto, indignado. A surpresa já não é mais uma companhia minha, e sim uma raiva desenfreada pela tempestade no copo d'água, arrasto-me pela cama para descer dela, e quando o faço começo a caminhar para o banheiro, tentando ignorá-lo, por que se eu rebatesse suas palavras, acabaríamos nos machucando, mais do que já estávamos. Por mais que deixá-lo falando sozinho, não fosse lá uma boa opção, ela no momento era a menos pior.

— Viu, você sempre faz isso, me ignora, não é à toa que nosso casamento virou isso, um caos, graças a você e sua indiferença.— Ele eleva sua voz, muito mais do que a primeira vez, eu inspiro e expiro, tentando controlar minhas emoções, ele havia cutucado uma ferida, na qual nós dois éramos culpado, por mais que eu saiba o quanto faltei com o nosso matrimônio, isso não me fazia a vilã e ele inocente, o coitado do marido, como suas palavras estavam tentando frisar, ele não tinha o direito de jogar sobre mim algo que não dependia de apenas um de nós, eu.

Inúmeras vezes, combinávamos algo, na maior parte delas ele ligava dizendo que ficaria preso no trabalho. Eu sempre o entendia, principalmente nos primeiros anos de nosso casamento, ele me compensava, não posso negar, mas isso não o isenta. Então quando a situação ficou reversa, quando eu tinha que dobrar meus turnos, por um tempo ele entendeu, mas no outro começou a me culpar por tudo... por tudo que ele também fazia.

— Não venha jogar na minha cara algo que não só depende de mim — Pela primeira vez no dia gritei, minha garganta ardeu, e eu pouco me importei com os vizinhos, sorrio amargurada e aponto meu dedo indicador para ele, sentindo todas minhas frustrações pulsar em meu corpo, prontas para serem despejadas de uma só vez — Quantas vezes você faltou comigo, quantas vezes eu dormi aqui, nessa cama, sem você, sem meu marido, em? Me diga, não cobre de mim, o que você também não pode me oferecer, não seja a porcaria de um hipócrita, por que não foi com ele que me casei! — Adentro o banheiro batendo a porta atrás de mim, com toda minha força, era isso que temia.

Após a monotonia, as brigas, e após as brigas, o que poderia vir?

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