CAPÍTULO TRÊS

O barulho irritante de uma frigideira fritando Deus sabe se lá o que, me despertou com a famosa força do ódio, levantei em um pulo, o que não pareceu uma boa ideia, quando senti uma pontada intensa, em todos os cantos do meu crânio, e para ajudar, meu pescoço doía como o inferno, parecia rijo, o que não era para menos, constei ao me dar conta de que havia dormido no sofá, murmurando alguns xingamentos baixo, segurando minha cabeça como se uma parte de mim temesse que ela saísse do pescoço e fugisse do corpo, olhei para a cozinha, de onde vinha o barulho. No primeiro instante me assustei, sem ajuda de minha lente de contato ou meu velho companheiro, o óculos de grau elevado, vi apenas o vulto de uma mulher, mas, logo me acalmei, juntando um mais um, sabia de quem se tratava, era ninguém mais ninguém menos de que era, Ângela.

Com certeza, não haveria melhor maneira de acordar — Meu pensamento irônico pondera observando a sombra embaçada de minha sogra, que diabos ela estava fazendo aqui, e mexendo na minha cozinha?

— Bom dia, meu bem! — Salvou vindo até mim, com um dos seus sorrisos sutis, elegantes, quase apáticos de sempre. Tentei sorrir, mas foi impossível conter minha careta, o que ela certamente ignorou, seus braços finos me apertaram contra seu corpo pequeno de forma desajeitada, mas logo me soltou, seu cenho franziu — Dormiu outra vez na sala por causa do trabalho? — Inquiriu, quase enojada — Não é assim que se mantém um casamento, Lia, quando você deixa seu marido dormir sozinho, não importa para que seja, abre brechas... — Revirei os olhos internamente com mais uma de suas lições conjugais, como sempre ela não me deu tempo de falar nada, virou-se voltando apressadamente para a cozinha. Eu não poderia me importar menos! Encosto-me no sofá, levando a mão em minha têmpora, sentindo minha cabeça latejar mais e mais, então o cheiro de queimado me faz abrir os olhos, estressada, mas não surpresa, minha sogra e deveres domésticos nunca se deram bem. Levanto-me e caminho em sua direção, se eu quisesse salvar minha cozinha, deveria afastar minha sogra dela o mais rápido possível.

— O que faz aqui? —Pergunto sem qualquer rodeio. Não que eu estivesse sendo chata, ou algo assim, mas, em minha defesa, Dona Ângela nunca aparece para uma visita cortês, ela sempre vinha decretar algo, que devemos seguir à risca, ou pedir algo.

Está aí um dos fatores para ter feito meu casamento dar um empatada, mesmo casados eu e Téo, temos que cumprir suas demandas absurdas. Teve uma vez que até tentei me impor, o que deu uma briga feia entre meu marido e eu. Ele não era o típico filhinho de mamãe que respirava o ar que a genitora expirava, que concordava tudo, mas não conseguia dizer um não a ela, o que o fazia sempre abaixar a cabeça, eu não o julgava, Ângela tinha um tipo de dom para fazer com que as pessoas não lhe dissessem não.

Minha sogra deixa um riso nada discreto lhe escapar, como se tivesse ouvido uma piada, suspiro profundamente. Meu olhar checa toda a cozinha, até que não está tão ruim, pego um copo de água e desisto de arrumar qualquer coisa com ela ali, volto para a sala.

— Obviamente, me certificar de que vocês dois não vão ao trabalho em pleno sábado. E não seja grosseira, nunca se pergunta a uma visita o que ela veio fazer na sua casa! — Murmura com naturalidade, como se seu filho e eu não fossemos adultos. Fecho os olhos por um segundo, até passos atrás de mim soar, olho para a escada que levava ao segundo andar de minha casa, na metade da escada há um Téo tão mal-humorada quanto a minha, engoli seco, sentindo meu corpo formigar por conta da noite anterior, e minha v=cabeça latejar um pouco mais, sabendo que teria que lidar com minha cabeça que pesava mais, minha sogra intrometida, e meu marido mal-humorado, após eu literalmente afastá-lo no meio de uma de nossas raras pegações tão intensas quanto a noite anterior.

— Não posso ficar, tenho plantão hoje. — Resmungo me levantando do sofá e recolhendo o edredom que me acompanhou na noite anterior, sem esperar que minha sogra dissesse algo, virei-me de costas para ela e segui para as escadas, mas é claro que ela não ficaria calada.

— Já disse, eles não morrerão se você passar um final de semana com sua família, e Téo, já falei com seu pai, empresa para você só na segunda. E antes de vocês reclamarem, já remarquei todos os seus compromissos para segunda, depois do almoço, é claro. — Com um sorriso vitorioso em sua face, Ângela se senta no sofá e liga a TV. Minha boca se move, pronta para resmungar um impropério, mas como sempre, não me sinto capaz de dizer qualquer coisa que a desrespeite. Mas puta que pariu, ela havia simplesmente tomado decisões até mesmo de minha vida profissional, o que ela faria a mais, caso não desse um basta? Meus lábios se movimentaram outra vez, mas nada obviamente saiu, olhei para meu marido, com um mísero de esperança de que ele fizesse alguma coisa, porque se houvesse algo que ele ainda se importava era com seu trabalho, mas como se todas as probabilidades estivessem contra mim, ele suspira profundamente, e não diz nada, absolutamente nada. bufo retomando minha caminhada pela escada, e me vejo novamente em uma situação na qual se tivesse coragem o suficiente socaria a cara não só do meu marido como da minha sogra, e se fosse possível a minha também, por não os m****r ir ao raio que os partisse.

***

—  O que está acontecendo aqui? Vocês não são de ficar tanto tempo em silêncio, vocês brigaram? Pelo amor de Deus, não deixe que uma briga estrague tudo. Vocês lembram de como não suportavam ficar longe um do outro? Nossa, lembro de uma vez que vocês simplesmente não poderiam ficar um segundo se quer sem cochichar algo para o outro, chegava ser inconveniente de tão fofo — Havia perdido a conta de quantas vezes revirei meus olhos com a minha sogra questionando o que havia acontecido, ou comentando o quanto éramos isso ou aquilo. Ela agia como se não soubesse a mil e uma maneiras de fracassar um casamento, como se ela estivesse diante uma novidade, quando a verdade não era aquela. Além de ela saber muito bem que Téo e eu já não éramos mais os mesmo, o seu casamento era uma o epitomo perfeito do que pode dar errado em um casamento. Suspirei levando meus dedos em minha cabeça, que embora não doía tanto como geralmente acontece, ainda reclamava grunhia, talvez fosse a voz insuportável da minha sogra que não parava de ecoar.

— Mãe, acho que a senhora já pode ir, entendemos sua mensagem...— Acho que Téo havia entrado em um estado quão preocupante quanto ao meu, por que jurei vê-lo inúmeras vezes estrangulando o pescoço da própria mãe apenas com o olhar.

— Que isso Téo, te dei educação garoto, não se expulsa uma visita, ainda mais quando essa é, sua genitora. — Tive vontade de rir, por ver nitidamente uma luta interna acontecer na mente de meu marido a minha frente, era como se seu humor (ou a falta dele) lutasse bravamente com o respeito que ele nutria pela mulher a nossa frente.

Minha sogra o ignorou, e continuou sua palestra de como um casamento deveria ser, fingi assistir tv, para não ser mais inconveniente do que ela.

— A senhora não tem salão marcado para hoje dona Ângela. — Arrisquei desviando minha atenção para ela, afinal essa mulher é obcecada por si mesma, não por ser uma boa nora que estava supostamente lembrando-a de um compromisso, e sim, para enfim me livrar dela, não me entenda mal, mas quando dona Ângela dá uma de conselheira matrimonial, é um verdadeiro desastre. Já que não teria chance de voltar para clínica hoje, queria tentar dormir por mais algumas horas, talvez dormir me desse ânimo suficiente para enfrentar o coquetel, até pensei em dar o bolo neles, e não ir, mas aquilo geraria uma nova palestra de minha sogra e uma nova briga com Téo, o que queria evitar a todo custo. Ângela olhou para o relógio assustada, é, acho que consegui.

— Nossa, havia me esquecido — Ela olha para o relógio de luxo em seu pulso mais uma vez, e sorriu para mim como se tivesse salvado seu dia, e não o meu — Obrigada querida — Ela me abraça, depois o filho apressadamente e sai, mandando beijo no ar, e um, até mais tarde.

— De nada. — Murmurei para Téo, assim que ele pode respirar outra vez, levantando-me do sofá, caminhei para meu quarto, pelas minhas contas eu teria várias horas para dormir e então acordar para me arrumar.

***

Já fazia um bom tempo que não me permitia me arrumar tanto, ou me sentia tão bonita. Eu ainda fazia alguns tratamentos de peles, sobrancelha dentre os mil e um cuidados que uma mulher tem, mas já fazia meses desde que meu rosto viu uma maquiagem que não resumisse em máscara para cílios, e um gloss incolor. Que eu soltava meu cabelo do clichê coque frouxo. Poderia culpar minha profissão, mas ela não era bem a culpada, visando que eu não trabalhava em uma área específica que precisava do rosto limpo, eu sinceramente havia apenas perdido o ânimo para me arrumar tanto, Téo parou gradativamente de me tecer elogios paralelos, e eu, parado de me importar com o que ele me dizia. E lá estava um dos por que um casamento pode fracassar, a falta de elogios gratuitos, e a indiferença do parceiro ou parceira.

Balanço a cabeça em negativo, esse caminho que minha mente segue é muito, muito perigoso. Livro minha mente disso, e examino a minha imagem que o espelho a frente refletia, eu sorri, satisfeita com minha imagem , sentia como se estivesse voltado aos primeiros anos do meu casamento, minha auto - estima era elevadíssima , me arrumava não para impressionar uma quantidade absurda de abutre e sim o meu marido, para mim mesma, olho para o vestido vermelho que comprei a tempos e não vi uma ocasião boa para usá-lo, ele tinha um decote elegante, que não revelava muito, mas exibia sutilmente meu colo, ele era de um tecido leve, caía com sutileza em minhas curvas, mas marcava-as bem, e então quando ele chegava do joelho para baixo caia livre, em meu pescoço a corrente que Téo me presenteou me adornava, em minha orelha optei em pôr um brinco discreto, e em meus lábios um batom no mesmo tom do que o vestido os preenchiam dando um volume a mais neles , meus cabelos castanho mel havia se livrado do coque padrão, e o deixei totalmente solto, caindo em uma cascata perfeita de cachos artificiais sobre meu pescoço, sorrio, santo baby-lis .

— Se decidiu se vai ou... — Téo adentra nosso quarto abruptamente, ele congela ainda na porta. Seu olhar me examina com um certo calor, pela primeira vez depois de meses camuflada por baixo da esposa indiferente, da relação de quase coleguismo com ele, me sinto desejada através do seu olhar. Meu marido me olha impressionado, seu olhar me avalia da cabeça aos pés, mas não diz nada, um formigamento doloroso permeia meu corpo, fazendo me imaginar como seria poder sentir suas mãos traçarem cada curva demarcada sob aquele tecido, como seria se elas o arrancassem de mim...  desesperado para me tomar para si... Me sinto ofegante úmida, e minhas de sinônimos para excitada. Suspiro, quase sentindo-o, mesmo que a distância considerável existisse entre nós, devolvo o mesmo olhar quente para Téo, quase imploro para que ele faça algo, mas me contenho, assim como meu marido parece fazer, pois ele engole um seco e com passos rápidos caminha para o banheiro, deixando me totalmente inerte, era isso, uma das coisas que mais odiava, quando não era eu que fugia de sua presença, era ele que fugia da minha.

Até onde nos deixaríamos ser levados pelo orgulho? Eu não sabia, mas algo me impedia de passar sobre o meu, talvez se ele viesse até mim...

Balanço a cabeça em negativo, eu e minhas esperanças bobas. Termino de me arrumar, Téo ainda se encontra no banheiro, apresso meus passos para fora do quarto, não querendo estar ali quando ele saísse do banho.

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