CAPÍTULO DOIS

— Eu sei Dona Ângela, mas o que posso fazer? Não posso abandonar meus pacientes assim! — Após a briga com Téo, não tinha visto-o mais, com certeza havia ido para o trabalho assim que adentrei o banheiro. Passei um bom tempo lá, meus olhos ardiam, e em minha garganta um nó havia se formado, mas não me permiti a chorar, em frente ao espelho me martirizei, me culpei pelo esquecimento, afinal, caso houvesse me lembrado, com antecedência, poder adiar minhas consultas, mas agora era tarde demais, assim me arrumei, e vim para minha clínica, onde atendia na parte da manhã. Minha cabeça dava pontadas leves, anúncio de que minha enxaqueca estava próxima, antes de acomodar-me em minha sala, tomei um comprimido para preveni-la, mesmo que aquele ato, não fosse indicado, mas não queria deixar que a bendita me levasse a querer bater a cabeça na parede. Mas o dia parecia não estar ao meu favor, constei quando terminei uma consulta e me deparei com uma ligação de minha sogra, ela não era a pior do mundo, eu a amava, mas ela era abelhuda, vivia se metendo em situações em que não havia sido chamada. Antes mesmo de atender sua ligação, a qual não poderia supor não atender, porque, o que ela tinha de abelhuda, ela tinha de determinação, se eu não atendesse em meu aparelho celular pessoa, ela ligaria para a clínica, onde ligações não poderiam ser ignorada, pelo fato de que poderia ser importante.

Suspirei, levando a mão em minha têmpora, sentindo que o remédio não me ajudaria hoje, não quando o dia parecia ser exclusivo para me exaurir.

Minha sogra estava determinada em me fazer ceder, e ir para o coquetel das empresas Fernandes, qual meu marido havia citado mais cedo. Se naquela manhã eu não queria ir, agora tão pouco.

— Lia querida, esse coquetel significa muito para nossas empresas, para meu filho e marido, para nossa família, se não nos apoiamos, quem irá? — Eu quase revirei os olhos. Meus lábios se movimentaram, mas não pronunciei nada, eu sabia que ela não daria o braço a torcer, então me limitei a suspirar — Não nos vemos a um tempo, vamos lá, Lia... — Dramática, havia visto na semana passada, permaneci em silêncio — Aposto que nenhum dos seus paciente irá morrer só porque não pode atendê-lo em um misero dia, e se caso algo grave acontecer, existe algo chamado pronto-socorro. — Seu tom de voz sai repreensivo, julgador e posso jurar que tem um sorriso presunçoso em seu lábios, jurando que conseguiria o que queria. Para ela não existia a palavra não, tudo que conseguia ela tinha, por muitas vezes, cedi, não sabendo negar aos seus pedidos, mas eu sinceramente estava cansada não só do meu casamento com o seu filho, como dela também. Amar as vezes não significa sempre ceder, era amar mesmo diante as divergências, mesmo dizendo vários nãos.

— Dona Ângela, eu sei, mas...

— Não tem mais, te quero lá, ou melhor, te espero lá. — Ela simplesmente desliga o telefone na minha cara sem me dar chance de argumentar mais uma vez, repouso meu telefone no gancho, e escondo a face entre minhas mão, sentindo minha cabeça rodar, rodar, quase como se estivesse prestes a sair do pescoço, como aquele personagem do desenho animado, como era mesmo nome? A, os sete monstrinhos.

Tenho vontade de dar meu dia por encerrado, mas o dever me chama, como se minha mente estivesse em sincronia com meu telefone, ele toca novamente e me vejo a ponto de querer jogá-lo contra a parede branca, sem graça a minha frente, mas até mesmo assim, acho que ele não pararia de tocar, insuportável.

— Sim, Letícia. — Resmungo para minha secretária.

— Maria já a aguarda. — Com um longo suspiro, fecho meus olhos, pedindo para que minha secretária mandasse Dona Maria entrar, meu dia com certeza seria mais longo do que geralmente era.

***

Adentro minha casa sentindo a exaustão do dia cair sobre meus ombros, após consultas e mais consultas, dentre minha clínica e o hospital, enfim estava no conforto do meu lar, e me encontrava observando a janela, ou melhor, o amém delas. Involuntariamente minha mente me prega peças, trazendo lembranças numericamente não tão distantes, mas emocionalmente... Nem sempre foi assim, comigo chegando em uma casa silenciosa, como se eu morasse sozinha.

Geralmente, Téo me esperava com pipoca e uma pilha de filmes para passar o tempo, ou quando algo não saía como planejado para ele, combinávamos de encontrarmos num barzinho que ficava entre meu trabalho e a empresa. não havia tanta diferença entre nossos horários, creio que naquela época fazíamos tudo correndo para nos encontramos na chegada, e hoje, bem, é como se nos ignorar fosse o melhor.

Nunca imaginei que meu casamento se sucederia a isso, que se revelaria uma cópia perfeita do casamento fracassado dos meus pais, é como se estivesse pagando a língua, eu prometi a mim que seria melhor que eles, assim como eles inúmeras vezes prometeram um ao outro que seriam melhores, e cá estou eu, um ótimo reflexo deles, só que mais sofisticado, afinal, eles não se importava de ter um público assistindo suas trocas de ofensas, a relação ruir, o amor que juravam ter um pelo outro fugir entre seus dedos.

Eu quero ser melhor, eu quero ter um fim menos cáustico do que o deles, mas eu sinceramente não sei o que fazer;

Dizem que, só não mudamos a nossa situação porque não queremos, e infelizmente, talvez exista um fundo de verdade nisso.

Mas, sabe quando seu corpo e mente está cansada de mais para lutar por algo?

É dessa maneira que sinto, o fardo é pesado, e o orgulho fala bem mais alto do que a vontade de querer dividi-lo, não sei quando tudo começou, mas confesso que só por ponderar o que pode acontecer lá na frente, faz com que meu estomago embrulhe, me faz dizer a mim mesma que pior não pode ficar.

Deito me sobre o sofá, sem me importar com o jaleco que tenho todo o cuidado do mundo para tirá-lo, afinal de alguma forma é meu troféu.

Assim, por fim, deixo lágrimas silenciosas caem sobre minha face, ao me lembrar de que, hoje, é o dia em que completo cinco anos de casada.

***

Acordo assustada, sem saber em que momento havia pegado no sono,  escuto a porta da sala ser aberta brutalmente , o que ganha minha atenção por uma fração de segundos, observo Téo murmurar algo parecido com droga, e o olho de relance, logo desvio minha atenção apanhando minha bolsa que até então estava jogada de qualquer jeito no chão, e subo as escadas sem dizer nada, entro no banheiro e deixo com que a água desça por meu corpo limpando todos os vestígios de cansaço, saindo do banheiro olho para o relógio e o mesmo marca meia noite, onde meu marido estava até aquele horários? Suspiro, balanço a cabeça em negativo, não posso dar espaço para paranoia, embora tenhamos mudado, nunca faríamos algo que minha mente tentava me levar a pensar. Olho para a cama, onde Téo já ocupava seu espaço, com passos lentos e silenciosos, alinho meu corpo ao seu lado, sem tocá-lo, como tem acontecido nas últimas semanas.

— O coquetel da família será amanhã, já falei com a minha mãe, dizendo que você não vai. — Sua voz sai fria mas em um tom provocativo, fecho meus olhos, tentando ganhar as palavras certas para proferir, sem ter que ataca-lo novamente, sabia bem onde ele queria chegar, e se eu dissesse algo, provavelmente seria um motivo para briga, algo que estava tentando evitar, brigar duas vezes no dia, não era um dos meus hobbies favoritos.

— E ela já ligou me recrutando, boa noite Téo! — Apago o abajur do meu lado e fecho meus olhos, tentando controlar minha língua, que coçava para rebater sua provocação.

— Você sempre faz isso né? —  Suspiro virando me para o seu lado, querendo olhar em seus olhos, seguro minha respiração.

— Pode apagar o seu abajur por favor, a claridade está me incomodando, quero dormir, e tudo que mais preciso hoje é dormir.

— Você está destruindo nosso casamento. — Meu peito se comprime, minha garganta se fecha.

— Para ok? — Elevo minha voz sentindo-me na beirada, sentindo-me motivada a ataca-lo tanto quanto me ataca, estava tentando, juro que estava tentando.

Mas, sinceramente não sabia até quando aguentaria.

— Por que está gritando? — O mesmo tom de voz utilizado por Ângela estava presente em sua voz, e tive uma vontade absurda de socar sua cara, meu Deus, o que está acontecendo comigo, desde quando virei uma agressiva impulsiva? Pergunto-me internamente.

— Por que você reage como se eu fosse o problema, você me culpa, quando você tem a mesma porção de culpa do que eu, se está essa merda toda, você é tão culpado quanto eu.— Em um ato impulsivo, bato em seu peito com toda minha força, ele não parece sentir, eu bato mais algumas vezes, antes que suas mãos decida me bloquear, segurando as minhas, para minha surpresa, ele puxa-me para si, deixando com que meu corpo repouse sobre o seu, sua respiração bate contra meu rosto, o que me fez exalar, surpresa, quente, como sentia saudade de tamanha aproximação, como sentia falta de seus toques.

Sem que eu perceba, meu rosto já se encontrava inundado pelas lágrimas, odiava ser a frágil, mas as lágrimas eram rebeldes de mais para obedecer a meus comandos de ficar onde devia ficar, dentro de mim.

— Você está tão bonita. — O olho sem entender a mudança repentina de assunto, suas mãos tocam minha cocha sutilmente, ele a aperta contra a sua cintura, me fazendo sentir sua rigidez, meus lábios se entreabrem, sentindo-me mais quente do que me lembrava ser possível, meu corpo involuntariamente se esfrega no seu, procurando atrito, seus lábios aprisionam os meus em um beijo lânguido, eu gemido escapa por entre meus lábios, entre nosso beijo. Ele se senta, levando-me junto a ele, e essa breve distância entre nós, me faz cair em mim, até poucos segundos ele me acusava, deixo que o meu orgulho fale mais alto do que meu desejo, afasto-me dele;

— Não me toque! —  Exclamo, me afastando com um pouco de dificuldade, desço da cama e saio do quarto levando o edredom comigo. Deixando–o um tanto atônito com a situação.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo