Laura Martins:“Você não tem ideia do que é ver seu filho se despedaçando, dia após dia, e não poder fazer nada”. — As palavras de Cristiane ecoam em minha mente, meus olhos capturam a visão devastadora à minha frente que chega a me deixar sem ar enquanto a culpa pesa em minha mente.Caminho devagar, cada passo cuidadoso para não me machucar no mar de cacos de vidros espalhados pelo chão. Minha respiração está pesada e o meu coração palpita ritmicamente em meu peito. A figura de Fernando vai ficando mais clara à medida que me aproximo, consigo ver seus ombros balançando com os soluços baixos.Com os pés, afasto os vidros e me ajoelho ao seu lado, agora posso ver claramente o rastro das lágrimas em sua face. Sinto um nó se forma na minha garganta.A minha mente é arrastada para a primeira coisa que Ana me deixo claro quando me visitou pela primeira vez: a depressão que assolava Fernando; ela me contou do acidente onde ele perdeu a esposa e a filha que estava prestes a nascer. Contou de
Laura Martins:A noite é envolta em um silêncio que parece amplificar cada batida do meu coração. Estamos sentados no jardim, a grama fria e gélida contra minhas pernas, mas não me importo. A lua cheia lança uma luz suave sobre nós, iluminando tudo com um brilho prateado. Olho para Fernando ao meu lado, seu perfil destacado pelas luzes brancas da sua casa. Ele está tão perto, mas sinto que há um abismo tão grande entre nós.Observo o contorno de seu rosto, a linha forte do queixo e o traço das sobrancelhas escuras que agora estão relaxadas. Seus olhos, que antes estavam turvos de dor e tristeza, agora refletem a luz da lua. Seus cabelos dançam com o assobiar do vento, que também chacoalha as folhas das árvores e espalha o perfume das flores ao nosso redor.A respiração de Fernando é lenta e profunda, como se ele estivesse tentando encontrar algum tipo de paz. Ele fecha os olhos e solta um longo suspiro, deixando escapar a tensão acumulada.— Por que veio aqui, Laura? — Fernando questi
Laura Martins:— Você ainda quer ficar aí, sabendo que está ao lado de um assassino?A pergunta é um desafio, uma prova de fogo para o que sinto por ele. Mas ao invés de me afastar, sinto-me compelida a me aproximar ainda mais.— Você estava bêbado? — Indago, tentando manter minha voz estável. Ele nega com a cabeça. — Então nessa história tem mais coisas que você não quer conta — digo, a certeza crescendo dentro de mim. Ele parece atordoado, como se eu tivesse lido um segredo guardado a sete chaves. — No hospital, naquele evento, uma senhora se aproximou de nós e eu não pude ignora o rancor nos olhos dela ao mirarem em você, ela é a mãe da sua falecida esposa, não é?Ele suspira, desviando o olhar do meu.— Sim — responde. — Ela me culpa, eu também me culpo, assim como todos ao meu redor. E todos tem razão, distraindo enquanto gritava com ela, eu não vi que fui para a contramão.O ar ao nosso redor parece congelar, e a gravidade da confissão pesa sobre nós. Sinto as lágrimas queimarem
Laura Martins:Ainda em choque, sem conseguir acreditar que meu amigo Oliver é, na verdade, Olivia. A notícia me pegou de surpresa, e minha mente está um turbilhão de pensamentos e lembranças. Enquanto espero na delegacia, flashes do passado começam a surgir. Lembro-me do dia em que conheci Oliver. Ele sempre teve uma suavidade, um jeito feminino que me chamou a atenção, porém apenas pensei que fosse o jeito dele ser. Lembro-me também da vez em que Maya, perguntando por que “ele” tinha um rosto de menina.Minha cabeça está a mil, tentando juntar todas as peças. Vagueio nas lembranças dos momentos que Mike se referia aos homens e Oliver parecia esquecer que isso o incluía... Céus! Agora tudo parece diferente, como se um véu tivesse sido levantado, revelando uma verdade que estava ali o tempo todo.“Como eu nunca percebi isso?” — Me questiono, sentindo uma mistura de culpa e confusão embaralhar os meus pensamentos. Tento processar tudo enquanto caminho pelo corredor da delegacia, o chão
Laura Martins:— Está doendo? — Pergunto, suavemente, passando um algodão embebido em antisséptico nas feridas no rosto de Olivia. Olivia está sentada na minha frente junto a mesa da cozinha, onde coloco os frascos, usando uma das minhas roupas – uma camiseta grande e um short confortável–. Seu cabelo ainda está úmido do banho, e ela parece exausta. Seus olhos, agora limpos das lágrimas e da sujeira, brilham com uma mistura de dor e alívio. Estou passando pomada nas feridas em seu rosto, minhas mãos tentando ser o mais delicadas possível.Quando contei a ela que Fernando mandaria um motorista para leva-la ao hospital Olivia só faltou gritar dizendo que não iria, tentei convence-la, mas ela não me deu ouvidos. Ainda está muito magoada com ele, não posso culpa-la. Para nossa sorte, eu tenho alguns remédios dentro de casa. — Só está ardendo um pouco — responde, cerrando os dentes. Tento ser o mais gentil possível, mas sei que provavelmente estar doendo mais do que ela deixa transparece
Fernando Duarte:Ontem, enquanto dirigia para a delegacia, as palavras receosas de Laura ficaram se repetindo o tempo inteiro na minha cabeça quando cheguei em casa:“Por favor, não os descartes só porque alguém com mais dinheiro do que eles os acusaram.”Remoendo as minhas próprias atitudes após aquela breve conversa e ver Olivia saindo da delegacia porque não tinha mais ninguém para pedir ajuda além e Laura me fez repensar.Após mandar mensagem para Laura, eu liguei para a empresa e mandei que me enviassem as imagens das câmeras, elas não tinham som, mas consegui ver a verdade do que aconteceu no elevador. Avancei as imagens para Oliver...Olivia, ainda é estranho pensar que esse tempo todo eu sentir ciúmes de uma garota. Enfim, no momento em que a verdade foi captura por meus olhos, me enjoei das minhas atitudes. Quando ela pegou a primeira mala, a mala caiu no chão arrastando mais duas que se abriram e as coisas dos modelos se espalharam. Ela começou a colocar tudo misturado nas m
Fernando Duarte:— Ei, o que aconteceu aqui? — Escuto uma voz masculina gritar de dentro de um carro que acaba de chegar, a urgência em seu tom cortando o ar.— Tinha uma criança no meio da rua — alguém responde rapidamente, a voz cheia de tensão.— Onde está a criança agora? — Outra pessoa questiona, a preocupação evidente.— Ela se feriu? — A voz de uma mulher ecoa, sua ansiedade palpável.— Já chamaram a ambulância? — Alguém informa, o som dos passos apressados sobre o asfalto e o murmúrio das pessoas ao redor criando uma cacofonia de ruídos.— Tirem os carros de vocês da frente, tenho que levar meu filho para o hospital, idiotas! — Um motorista exasperado exclama, o barulho de portas de carro batendo ressoando no ar.As vozes das pessoas ressoam baixas em meus ouvidos, como um ruído de fundo distante e indistinto. Sentado na calçada, minha mente está nublada, incapaz de focar nas palavras dos outros presentes. O caos que se desenrola parece um borrão indistinto, cada som e movimen
Laura Martins:— Mas os seus olhos são castanhos — Fernando diz, suas sobrancelhas franzidas enquanto me encara. A confusão é evidente em sua expressão, seus olhos azuis fixos nos meus como se estivesse tentando decifrar um enigma.Sinto novamente a tristeza tomar conta de mim, uma dor profunda que parece envolver todo o meu ser. Dor que há de uma semana venho tentando sufocar. A saudade do meu irmão, cujo os olhos eram castanhos, iguais aos meus.— Ela na verdade é a... — tento explicar, mas antes que eu possa continuar, escuto o som da porta de madeira sendo aberta atrás de mim. Desvio meu olhar de encontro a Ana.— Ela acabou dormindo enquanto eu penteava os seus cabelos — informa, sua voz baixa e tranquilizadora, enquanto sai do quarto.— Muito obrigada, Ana — agradeço, tentando transmitir todo o meu apreço em poucas palavras.Ana acena com a cabeça, um pequeno sorriso compreensivo nos lábios, e então segue pelo corredor, seus passos ecoando suavemente no piso de porcelanato, até d