ARES | Entre o amor e o poder
ARES | Entre o amor e o poder
Por: Déia
CAPÍTULO 1

Flórida

Enquanto andava a passos vacilantes, sem saber como dizer para o irmão mais velho que tinha cometido um erro terrível, Lucas Potter observava a praia que podia ser vista através de toda a mansão de vidro, situada um pouco acima das areias brancas e quentes de South Beach.

Naquela tarde quente e ensolarada de sábado, Ares estaria no quarto se preparando para o jantar de logo mais a noite com um possível novo fornecedor de anfetaminas.

Ares era extremamente metódico com os negócios, beirando a loucura para que tudo, exatamente tudo, saísse como ele tinha planejado na sua mente diabólica. E claro, qualquer erro da equipe, por menor e mais bobo e inofensivo que fosse, era considerado inadmissível.

Seu irmão governava pelo exemplo, pela excelência, pontualidade, prazos cumpridos e mercadorias de alto padrão. Ares falava baixo, com firmeza, seriedade e um autocontrole digno de inveja.

Lucas, dois anos mais novo, tinha uma certa inveja da forma como o irmão exalava poder e autoridade apenas com um olhar firme e postura altiva. Ares era uma espécie de Deus no mundo da máfia. Até a polícia fazia vista grossa para as inúmeras atividades ilegais da Família Potter. Desde compra e venda de armas e drogas, até assassinatos em série.

Por isso, o caçula dos Potter não estava com pressa para bater na porta do quarto do irmão para dizer que tinha feito merda. No entanto, o nervosismo aumentava a cada passo dado em direção ao longo corredor do terceiro andar da mansão luxuosa.

"Erros são inadmissíveis."

Lucas já podia ouvir as palavras do irmão, acompanhadas de um olhar de puro desprezo. Às vezes, ele pensava que Ares só estava esperando por aquilo. O dia em que ele cometeria um erro imperdoável para ter um motivo plausível para mata-lo sem parecer um monstro.

Porque debaixo daqueles ternos caros feitos sob medida, Lucas sabia: Ares Potter era o pai do Diabo. A única diferença entre eles, era que o Diabo não era tão ardiloso.

- Entra.

O irmão mais novo parou o punho cerrado no ar antes de bater na porta. Ele teria rido da sua inocência se não estivesse a beira de ter um ataque de pânico.

Era óbvio que Ares sabia da sua presença.

Hesitante, Lucas abriu a porta.

Apenas com uma toalha branca em volta da cintura, que era um contraste com o seu corpo bronzeado, tatuado, alto e musculoso, Ares sorveu um gole de cerveja e colocou a Corona long neck sobre a cômoda preta ao lado da cama box de casal desarrumada.

Impassível, o traficante observou o irmão mais novo. Ele era sua responsabilidade desde que o pai deles tinha morrido há cinco anos.

- Eu estou ansioso para ouvir como você se saiu em Nova York, irmão.

Lucas engoliu em seco e deu um passo para dentro do quarto amplo e espaçoso, decorado em preto e branco.

Um arrepio gelado subiu pela sua espinha. Provavelmente, Ares já tinha sido informado pelo seu Conselheiro, o que ele tinha feito.

Entretanto, o irmão queria ouvir da sua própria boca por onde ele puxou o ar e soltou sem rodeios:

- Eu atirei em um policial. Um patrulheiro do Departamento de Polícia de Nova York.

Em pé ao lado da cama, Ares permaneceu impassível como se seu rosto másculo e muito bonito, tivesse sido esculpido em pedra. A sua frieza era um contraste com a respiração ofegante de Lucas que soltou o nó da gravata preta e arfou em busca de ar, para em seguida, baixar os olhos azuis para o porcelanato branco e polido.

- Eu estava em alta velocidade e ele me fechou para fazer a abordagem. Eu tive que frear e atirei quando ele saiu da viatura.

- Alta velocidade, um erro. Nós temos que ser invisíveis.

Cabisbaixo, Lucas assentiu.

- Eu fiquei nervoso. Desculpa.

- Era só apresentar os documentos e pegar a multa por excesso de velocidade. Você não tinha nada de ilegal no carro. E agora nós temos um policial veterano ferido e o seu nome na mesa do Chefe de Polícia de Nova York. Eu diria que isso é um problema. O tipo de problema que eu odeio porque é totalmente desnecessário.

A voz do irmão soava baixa e controlada.

Aquilo era pior do que se Ares estivesse gritando. Contudo, ele nunca gritava quando estava prestes a dar um tiro.

- Você está com 28 anos, Lucas. Nasceu e cresceu na Máfia e ainda não foi capaz de provar o seu valor para a família.

Lucas sentiu os olhos azuis ardendo pelas lágrimas não derramadas. Demonstrando uma coragem que estava longe de sentir, ele ergueu a cabeça e encarou o irmão com um misto de raiva e ressentimento.

- Ao contrário de você, eu não tenho vocação para isso.

Ares se aproximou com passos lentos e ao mesmo tempo com um olhar firme.

- Isso é o que nós somos. Eu tenho te dado tarefas simples. Pagamento e recebimento. Eu poderia colocar Dominic para fazer isso, mas eu gostaria que ao menos uma vez, você fosse capaz de ir e voltar sem erros.

Lucas mordeu o lábio inferior, vendo Ares voltar para a garrafa de cerveja e dizer com frieza:

- O policial recebeu alta. O que nós começamos, nós terminamos.

O irmão mais novo ficou incrêdulo. Olhando nos olhos azuis de Ares, Lucas não viu nada o olhando de volta. O Diabo não tinha alma.

- Você está blefando. Você não vai querer a morte de um policial nas nossas costas.

Ares ergueu a cerveja, e fez algo que raramente fazia. Ele sorriu e apontou o gargalo da garrafa para o seu aprendiz.

- Nas suas costas. Nós atiramos apenas para matar. Respeite a minha reputação.

Trêmulo, Lucas fechou a porta atrás de si. Ares não podia ter falado sério. E aquilo era um problema constante na comunicação dos dois. O mais novo nunca conseguia chegar no patamar de inteligência do mais velho. Ele tinha que resolver aquele erro, mas não era de fato matando um policial.

Sendo assim, Lucas voltou correndo para o segundo andar e entrou de supetão no quarto de Dominic. O homem negro de 30 anos, 1.85m, 110kg, cabeça raspada, barba feita, tatuagens de cadeia e rosto másculo e charmoso, franziu a testa negra.

Ofegante, Lucas fechou a porta. Ele respirou fundo diversas vezes até conseguir falar novamente.

- Eu fiz merda.

- Você faz o que faz, para desencorajar o Ares a te colocar na linha de frente. Você não é inocente, Lucas.

O caçula Potter reprimiu um sorriso.

Dominic colocou a Glock no cós alto da calça social preta e pegou o paletó da mesma cor. Após um banho rápido, ele estava pronto para repassar o percurso de Ares até o jantar daquela noite em Key West. A maior preocupação da equipe de segurança eram os traficantes rivais.

O segurança se aproximou de Lucas com um olhar desinteressado.

- O que o Ares te mandou fazer?

Lucas teve dificuldade para encontrar as palavras diante do perfume suave do segurança brutamontes do irmão.

- Matar o policial. Mas eu acho que ele não falou sério.

Dominic torceu o nariz.

- Você foi com o seu carro, não se deu ao trabalho de trocar a placa, acelerou, foi abordado e atirou em um policial. Você se faz de amador.

Lucas fez biquinho.

- Eu sou inexperiente, Dom. O que o meu irmão quis dizer?

Dominic se perdeu por alguns segundos no rosto angelical de Lucas. Não era possível alguém ter a pele tão clara e perfeita que parecia igual a de um bebê. Ao se recompor, levou a mão na maçaneta oval da porta e desdenhou:

- Ele quis dizer exatamente o que ele disse. Honre a família.

O segurança deixou o quarto, andando igual um macho alfa pelo corredor.

Lucas respirou fundo. Foi até o banheiro, pegou a cueca boxer preta de Dominic, enfiou no bolso da calça e saiu do quarto. Ele tinha coisas mais importantes para se preocupar no momento, do que bater uma punheta pensando no filho da puta lindo e gostoso que comandava a equipe de segurança do irmão.

Nova York

Sara Larsson, 18 anos, respirou fundo enquanto fazia o jantar. O que ela mais temia em toda a sua vida, tinha acontecido. Seu pai foi baleado durante o trabalho. Por sorte, o tiro tinha sido de raspão no ombro direito, e ele iria ficar de repouso por alguns dias, o que deixou Sara aliviada porque ela preferia o pai seguro em casa.

Gabriel Larsson era um homem durão que sempre quis ser policial para honrar o legado do avô e do pai. Todos policiais honrados de Nova York, e condecorados por atos heróicos de bravura.

Olhando para o curativo no ombro direito, Gabriel se recusava a acreditar que uma abordagem de rotina mal sucedida, iria manchar o seu currículo impecável. Há 20 anos na polícia, ele nunca tinha levado um tiro.

Ele não viu o homem tirar as mãos do volante, ele não viu o vidro do carro abaixar e não viu um tiro ser disparado na sua direção. Como naquele momento, em que o policial não viu Lucas Potter entrar na sua casa em um bairro de classe média em Nova York.

Gabriel correu para a cozinha ao ouvir um grito histérico seguido de uma panela caindo com um barulho estridente. De arma em punho, ele ficou imóvel ao ver Sara rendida e com uma arma apontada para a sua cabeça.

O caçula dos Potter deu um sorriso torto.

- Desculpa pelo tiro.

- Pelo tiro eu posso até pensar... - Gabriel disse mantendo o sangue frio. - Mas por apontar uma arma para a minha filha, jamais.

Sara gritou novamente quando Lucas caiu ferido aos seus pés.

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