HORA DE VOLTAR

Ao chegar essa notícia, eu não fiquei muito feliz com isso. Naquela ilha estava enterrada a minha mãe, onde muitas vezes eu ia para conversar com ela, estava a minha casa feita de cajueiro e o meu bicho de estimação. Meu bicho de estimação é um quati vermelho abandonado pelo bando. Apareceu no túmulo da minha mãe, por isso botei-lhe o nome de Rudá. Sugestão do meu pai.

Rudá, o amor, criado por Guaraci, o sol, para levar seus recados apaixonados para Jaci, a lua, já que não podiam se encontrar. Então os dois conversavam a partir de Rudá e seu amor continuava crescendo. O quati aparecera no túmulo de minha mãe, um quati dócil que nos aceitou rapidamente. Papai disse que era a mensagem de amor da mamãe para nós, daí Rudá.

Eu não o deixaria ali. Eu iria com ele. Meu pai não se opôs. O que ele estava preocupado era falar com Jezabel, minha tia-avó. Depois que ele colocou o muro de espinheiros, nunca mais falamos com ela. Eu nunca mais a vi, papai não deixava mais eu estar sob os olhos dela. Eu não o criticava por isso. A canoa era feita de madeira, já estava na areia da praia, faltava falar com a minha tia. Eu não iria, fiquei na varanda sentada ouvindo as folhas que formavam o nosso telhado. Eu aproveitava cada minuto da minha última estada naquele lugar. Rudá ficara no meu colo, como se estivesse aproveitando os últimos momentos dele na ilha também.

Quando estava naquele momento de contemplação nunca me passou na cabeça que minutos depois eu assistiria uma das cenas mais perturbadoras da minha vida. Eu, saindo daquele momento de êxtase fui andar pela praia, queria saber se meu já tinha voltado da casa da tia Jezabel e andei até a pedra onde dividia a nossa parte da dela mas, eu não cheguei a cruzar a linha ou abrir caminho os espinheiros. Dali, do canto da pedra avistava-se a canoa com duas pessoas dentro. Quem eram? Meu pai e Sofia, em uma posição um tanto quanto duvidosa. Minha prima estava sem a parte de cima da roupa com os seios à mostra, meu pai estava atrás dela.

De onde eu estava não dava para ver o que realmente acontecia, porém aquilo de alguma forma me chocou. Por que os dois estavam naquele estado? Saí correndo, voltei para o meu local de contemplação, agora com Rudá. Meu pai, sem saber que tinha visto a cena, chegara atordoado. Não mencionei nada sobre o ocorrido. No entanto, ele parecia muito mexido.

__Hora de partir_ disse ele me encarando ainda atordoado. Eu fiquei pensando o que eles tinham feito, demorei um tempo para descobrir o que acontecera. Entre ele e ela há dez anos de diferença, ele a carregava quando era pequena a viu crescer, seria estranho se ficassem juntos.

Iríamos naquele mesmo dia. Transformamos nossa esplendorosa casa em uma muda de cajueiro que cabia em um vasinho. Nossos livros foram colocados em caixas. As Areias Brilhantes não serviam apenas para curar, pelo jeito, faziam tudo o que meu pai mandava.

Não íamos navegar dependendo do vento. Segundo o papai seria perigoso, a comida podia acabar e podíamos ficar à deriva. Era o mesmo barco de catorze anos atrás, porém o número de passageiros havia aumentado e isso também dificultaria a viagem. As areias iriam nos levar. Nós e as bagagens.

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