_Eu posso fazer de novo? _eu perguntei para o entediado Haru na minha frente
_Vá em frente…
Eu tinha achado um novo brinquedo naquele novo mundo. Consistia em uma caixa de papel duro que vinha com algo comprido e encurvado grudado nele. O Haru disse que o nome daquilo era canudo, e dentro da caixinha havia algo chamado de achocolatado.
Na verdade, a diversão era espetar o tal canudo na caixinha. Eu fiquei empolgada, ele teve que comprar uns dez para mim. Isso aconteceu em uma lanchonete em que paramos depois de percorrer a cidade.
Desde da minha chegada, eu passava de lugares fechados para lugares fechados. Quando enfim escapamos, Haru me levou até a Praça XV. As casas compridas que eu vira na minha chegada eram maiores que eu pensava.
Enquanto estava no internato, meu pai, minha tia-avó e minhas primas viviam juntos. Ela não iria largá-lo agora, minha tia não quis se dar por vencida. No entanto, as gêmeas já estavam cansadas daquilo. Viram praticamente suas vidas se esvaindo por conta da avareza da mãe. Deixaram a casa do seu pai quando ele morreu, depois aos dez anos deixaram a casa em que viveram para morar em uma ilha deserta sem amigos, sem nada. Agora elas voltaram à civilização, não queriam mais estar neste campo de batalha inútil. As duas trataram de seguir com as suas vidas.Olivia, ao se instalar na mansão, a primeira coisa que fez foi fazer uma conta em todas as redes sociais possíveis. Antes de ir embora, combinara com um amigo seu, que se encontrariam assim que ela voltasse.Ela n&ati
_Olivia foi para Minas Gerais e eu ajudei.E foi assim o estopim da Grande Guerra na Mansão Martins Gonçalves._O que Francisco? Fez isso sobre as minhas costas? Você deixou minha filha ir embora sem nem perguntar?Jezabel iradíssima, dava socos na mesa perdendo totalmente a compostura que ela tanto prezava. Eu sentava perto do meu pai com as mão sobre a mesa e Sofia na cadeira da ponta um pouco mais afastada, de braços cruzados e olhando para baixo._Ela pediu para não contar._Mas eu sou a mãe dela!_O que você faria? Trancar ela em um quarto? As gêmeas já são adultas. Meu pai disse que para ir na primeira visita ao shopping eu poderia convidar alguém. Eu pensei em chamar o Haru mas, acho que depois da confusão do final de semana, ele não ficaria confortável em vê-lo. Chamei a Brenda, a ruivinha de Lógico-Matemática que adorava o meu pai. A reação dela ao vê-lo de perto foi bem engraçada. Ela queria tirar uma tal de “selfie” e “postar” em alguma coisa que na época eu não sabia o que era. Tudo naquela caixinha brilhante.A minha reação ao entrar no shopping foi parecida com a dela ao ver o meu pai. Uma espécie de espanto e euforia. Era uma casa muito grande e luminosa, pessoas e mais pessoas andando para lá e para cá. Objetos que nunca tinha visto estavam na minha frente. Havia de tudo, desde roupas até aquelas caixinhaO PRIMEIRO PASSEIO NO SHOPPING
Esse relato quem fez foi Sofia depois de um tempo. Meu pai é orgulhoso demais para falar que se divertiu fazendo compras depois de quatorze anos alheio a civilização moderna. Segundo Sofia, foi naquele dia que teve certeza que ele também estava preso a ela.Eles ficaram perto da entrada, acenando para nós duas até sumirmos de vista. Depois que sumimos ficou-se um silêncio constrangedor entre os dois. Ele balançava os braços e olhava nas outras direções. Ela sem hesitar, virou-se para ele._Por onde vamos começar? Pelo meu ou pelo seu?_Começar o quê? _ ele perguntou ainda sem graça._O nosso guarda-roupa, não íamos comprar roupas para todo mundo?
Depois que parei de rir, os colegas da minha mesa me observavam assustados, segurando seus lanches para não cair. Pelo jeito minha risada foi mais alta do que me pareceu. Uma multidão começou a nos encarar. Eu não entendia muito bem o que acontecia.Começou primeiro com um burburinho, dava para ouvir algumas palavras. “Excepcionais, aqui nessa parte do shopping?” “Eles não tem a própria parte deles, por que estão aqui?” “Melhor tomar cuidado, pelo jeito tem um intra com eles.” Daqueles burburinhos, um grupo começou a se juntar ao redor da nossa mesa. Baixamos nossas cabeças como se tivéssemos feito algo de errado. Cada vez que mais pessoas se juntavam mais tentávamos nos esconder.
Anos atrás um grupo de jovens sonhadores se reuniam com um objetivo em comum. Não eram poucos mas, muito tímidos para aparecerem. Júlia chegou para mudar essa situação. Além de ter influência por causa da sua família. Tinha um talento para falar em público mesmo sendo uma Naturalista.Era necessário alguém que não fosse um Interpessoal ou um Linguístico para lidar com os discursos e comícios, pelo menos naquele momento. Duvidariam se era verdade ou se estavam sendo manipulados. Júlia saiu da faculdade, e foi logo trabalhar no Médico sem Fronteiras, onde conheceu Francisco, que fazia uma pesquisa ali. Foi em um deserto, ela curando pessoas, ele catalogando bichos e plantas.Quando voltaram, Júlia percebeu a situação pre
Terminamos aquele dia sentados no meio fio e os adultos conversando dentro de casa. João pediu para que os deixassem sozinhos por um momento. Nomia ficou chocada com a notícia da morte de Júlia. O sorriso se esvaiu em poucos segundos.Sofia ficou com eles na sala, nós quatro resolvemos ficar ao ar livre. O sol já estava se pondo e pintava todo o cenário de laranja. Ficamos olhando para o horizonte em silêncio por um tempo. Lembrando desse dia, talvez eles estivessem pensando em que falar_ Oh, meu Deus _ Brenda foi a primeira a quebrar o silêncio _ não acredito que o meu casal teve um final trágico como esse. Uma mãe que se sacrifica para salvar sua filha…_ Você é meio sem noção… _ Haru ficava indigna
Saí assustada correndo pela rua. A noite na cidade era bem movimentada, os carros iam passando correndo com luzes acesas, postes iluminavam as ruas, pessoas se aglomeravam em bares e restaurantes. Era o final do sábado, no dia seguinte era domingo e mais uma vez a semana começava.Eu não sabia para onde ir, não conhecia tantos lugares e não sabia andar por ali. Fiquei vagando de pés descalços pelas calçadas. As pessoas não gostavam muito quando eu chegava perto, achavam que eu era uma pivete. Não tinha noção naquela época o que era pivete.Reconheci as ruas que andei com Haru no dia que quebramos as regras. Estava mais escuro do que imaginava mas, continuei caminhando até chegar àquela bela praça em frente a grande igreja. Qual foi minha