Fiquei no meu quarto o máximo que pude, tentando evitá-lo. Saía escondida sem ele perceber para ir ao banheiro ou beber água. Porém, dentro de um espaço relativamente pequeno com apenas nós dois, fica difícil achar um momento em não nos esbarremos.
-Está me evitando, por acaso? - ouvi uma voz masculina atrás de mim enquanto saía cautelosamente do meu quarto.
-O que é evitar?- eu ainda não conhecia aquela expressão. Haru estava de braços cruzados atrás de mim.
-Exatamente isso que você fez o dia inteiro.
-Não é como se eu tivesse começado isso- por que ele estaria zangado com isso? Foi ele que me evitou primeiro. Ele engoliu a seco e olhou para o lado, fazia isso quando ficava sem graça.
-Mas foi você que disse aquilo pra
Depois daquela noite, Haru não encostou nos meus lábios daquele jeito. Eu não saí do lado dele como ele havia me pedido. O advogado de Haru pertencia ao escritório do senhor Bartolomeu. Um jovem preocupado com causas sociais, muitas vezes faziam serviços Pro-Bono mas, aquilo estava sendo pago com o dinheiro que a minha mãe deixou para o meu pai. Antes de levar Haru para casa, meu pai havia denunciado a agressão, não deram muita importância por se tratar de uma criança Excepcional. Foi a partir daí que ele percebeu que só iria adiantar se retornasse. O Francisco, marido de Júlia Martins Gonçalves, o Excepcional Natural, ativista político pelos direitos dos Excepcionais, deveria ressurgir mais cedo do que imaginava. Em sua experiência anterior, as autoridades só se mexeriam com um apelo midiático forte. Muitas vezes eles conseguiam apenas quando den
-Essa criança, senhor juiz, só me trouxe desgraça - ela falava isso no final dos depoimentos- Por causa dela perdi meu marido, meu emprego e a minha casa. Mesmo assim eu dei a ela um teto, comida e educação. Acha que foi fácil olhar para a cara dessa criança todos os dias da minha vida? Eu não larguei ela por aí como muitas pessoas fazem! E agora eu vou ser presa por causa dessa criança também?!Lágrimas de raiva começaram a escorrer pelo rosto dela. Depois de todos os depoimentos já prestados. Permitiram que eu e meu pai assistíssemos o julgamento. Haru não estava presente, foi para uma outra sala.A mãe de Haru se exaltou depois de ouvir todas as testemunhas. Meu pai contou o ocorrido no dia em que fomos à casa de Haru, Nomia e J
Uma casa de acolhimento. Geralmente crianças Excepcionais não vão para um lugar desses, elas são deixadas na rua a própria sorte, ninguém quer adotar também um Excepcional. As crianças Excepcionais que dão sorte, podem ser recolhidas por algum Excepcional adulto que realmente queira cuidar dela. Mas a maioria das vezes, elas são recolhidas por esses adultos e são exploradas por isso, a preferência de muitas é ficar na rua.Como o caso de Haru veio a público e causou muita repercussão e debates sobre a desigualdade entre os Excepcionais e os Comuns, o levaram para uma casa de acolhimento sem problemas. Eu não saberia se veria ele novamente na escola e esse tipo de pensamento me deixava ansiosa.-Não se preocupe, ele vai
-Então somos exclusivos um do outro? A Brenda disse que agora eu não posso mais ficar com ninguém porque eu me tornei exclusiva de você. Eu vou ter que parar de falar com os outros?-Não é bem assim…Pode continuar a falar com os outros normalmente.Aquela conversa estranha foi bem no começo do namoro. Fazia duas ou três semanas que ele havia se mudado para a casa de Nomia e João, já estava frequentando o internato normalmente e resolveu assumir logo a relação que queria comigo.Haru nunca tinha namorado também, mas entendia o conceito do que era. Já eu, não sabia o significado total daquela palavra. Brenda me explicou que são quando duas pessoas que se gostam se juntam e te
Devo advertir que os fatos aqui contados são memórias do passado, então,podem conter falhas e estar fora da ordem cronológica. Não é que sejam mentirosas mas, podem faltar informações por isso, não achem que o que está aqui é uma verdade absoluta. Fiz esse livro relembrando fatos que aconteceram naquele ano de tantas mudanças. Não só naquele ano mas, os outros que se passaram quando eu me acostumava com a civilização. Não sabia que me recordava de tantas coisas… Naquele ano fatídico que saímos de nossa casa isolada e fomos de encontro com a sociedade. Hoje, aos 25 anos, escrevo essas memórias como uma lembrança de um tempo que parece não ter existido e como parece não ter existido, as pessoas não se lembram mais de como a vida era difícil naquela época onde tudo era limitado. Vivi até os 14 anos em uma ilha sem civilização. Meus pais se mudaram para lá por causa de pesquisas. Minha mãe ficou grávida de mim na ilha, o parto foi complicado e ela morreu. A tia da minha mãe seguiu-os, não se sabe exatamente para quê. Em nosso mundo algumas pessoas nascem com habilidades especiais, meus pais tinham essas habilidades e se dedicavam totalmente a natureza e a vida humana. Os dois saíram da civilização para aprimorar essas habilidades. Queriam usá-las para salvar vidas. Meu pai gostava de mexer com a natureza, com os animais, com o mar, as plantas, a areia… A minha mãe era médica, usava as habilidades para aumentar a precisão nas cirurgias e nos diagnósticos das doenças. Minha tia-avó era uma pobre viúva acostumada ao luxo, foi tomar conta da minha mãe por interesse da herança do meu avô BREVE RESUMO DA MINHA HISTÓRIA
Era uma vez uma linda e inocente moça que morava com sua tia viúva e suas duas primas. A linda moça era uma Excepcional e tinha a habilidade da cura herdada de seu falecido pai. Sua tia viúva, interessada na herança monetária deixada pelo irmão, resolveu cuidar da sobrinha órfã. Desse dia em diante, a viúva administrava a casa com mãos de ferro. A menina que não ligava para dinheiro e sempre teve liberdade, não se abalou com a nova governanta da casa para desespero da mesma. Como seu pai, corria o mundo usando suas habilidades para ajudar os mais necessitados. Foi aos lugares mais inóspitos da Terra, onde pessoas não tinham acesso à saúde.Essa tia viúva tinha duas filhas gêmeas dez anos mais novas que a sobrinha. Apesar do relacionamento complicado entre tia e sobrinha, as tr
A nossa vida era simples naquela ilha. Nossas casas eram na areia da praia. Lembro-me de que minha tia-avó recusava-se a dividir a casa com meu pai, por ele ser de baixo nível. Mesmo distante da civilização, minha tia trouxera seus costumes com ela.A praia tinha uma vasta extensão de areia e uma grande pedra separava uma parte da praia formando uma pequena baía, existia apenas uma pequena passagem de um lado para o outro. Meu pai e eu ficávamos na parte da pequena baía onde ele podia aprimorar suas habilidades com a areia além de pegar e pesquisar amostras de plantas e tudo mais. Na outra parte vivia minha tia e suas filhas gêmeas.Apesar de minha tia tentar nos dividir em classes, a inocência infantil e a memória afetiva impediam. Minhas duas primas eram as minhas melhores e &ua