Demorou pouco tempo para eu descobrir que aquela caixinha brilhante que comandava a vida das pessoas chamava-se celular. Antes era feito apenas para ligar quando não estava fora de casa, depois, começou a mandar mensagem, tocar música, reproduzir vídeos… Acabou dominando a vida de todos.
Mas aquilo não era a única coisa. Outras caixas brilhantes também dominavam aquela civilização. No internato, era tão importante que havia uma sala apenas para ela. As pessoas pareciam venerá-la como um “deus”, ela ficava lá no alto enquanto que nós sentados, logo abaixo, ficávamos vidrados olhando para as imagens que ela produzia como um altar a ser venerado.
_Para onde foram? _ perguntei a um aluno apontando para ela.
Ele tinha olhos rasgados com a íris negra, formando uma bola perfeita. Seu cabelo era vermelho, uma das poucas marcas de rebeldia que ainda existiam no seu corpo. Mandaram tirar seus piercings porém ele insistia em ficar com um na orelha além do brinco e a cor vermelha no cabelo.Eu tinha inveja dele. Ele ficava o dia inteiro correndo enquanto eu ficava o dia inteiro respondendo a perguntas estúpidas e testes estranhos. Nos encontrávamos na hora do intervalo, ele comprava as coisas para mim já que, eu não tinha dinheiro nenhum.Ele me achava estranha mas, era o único que falava comigo na escola além das minhas companheiras de quarto, sabia do meu passado mas, não parecia estar curioso como os outros. Comíamos em silêncio muitas das vezes, porém, era confortável. Foi
Fazia um mês que eu estava lá. Pelo menos eu achava que sim, não tinha certeza. Eu não sabia o que meu pai estava fazendo, eu queria encontrar o Haru mas, as meninas me monitoravam dia e noite.Elas assumiram a responsabilidade de me ensinar a como se comportar corretamente. Não se podia entrar em qualquer banheiro. Tinha o das meninas e dos meninos, não era para ficar horas se encarando no espelho de nenhum banheiro. O colégio inteiro tinha grupo de amigos e amigas, eles chamavam de “panelinhas”, algumas até se misturavam, já outras, não podiam se encontrar.Não podia sair através dos muros do internato, não podia usar outros ambientes quando ainda estava na Turma de Introdução.Era preciso fazer todo
_Eu posso fazer de novo? _eu perguntei para o entediado Haru na minha frente_Vá em frente…Eu tinha achado um novo brinquedo naquele novo mundo. Consistia em uma caixa de papel duro que vinha com algo comprido e encurvado grudado nele. O Haru disse que o nome daquilo era canudo, e dentro da caixinha havia algo chamado de achocolatado.Na verdade, a diversão era espetar o tal canudo na caixinha. Eu fiquei empolgada, ele teve que comprar uns dez para mim. Isso aconteceu em uma lanchonete em que paramos depois de percorrer a cidade.Desde da minha chegada, eu passava de lugares fechados para lugares fechados. Quando enfim escapamos, Haru me levou até a Praça XV. As casas compridas que eu vira na minha chegada eram maiores que eu pensava.
Enquanto estava no internato, meu pai, minha tia-avó e minhas primas viviam juntos. Ela não iria largá-lo agora, minha tia não quis se dar por vencida. No entanto, as gêmeas já estavam cansadas daquilo. Viram praticamente suas vidas se esvaindo por conta da avareza da mãe. Deixaram a casa do seu pai quando ele morreu, depois aos dez anos deixaram a casa em que viveram para morar em uma ilha deserta sem amigos, sem nada. Agora elas voltaram à civilização, não queriam mais estar neste campo de batalha inútil. As duas trataram de seguir com as suas vidas.Olivia, ao se instalar na mansão, a primeira coisa que fez foi fazer uma conta em todas as redes sociais possíveis. Antes de ir embora, combinara com um amigo seu, que se encontrariam assim que ela voltasse.Ela n&ati
_Olivia foi para Minas Gerais e eu ajudei.E foi assim o estopim da Grande Guerra na Mansão Martins Gonçalves._O que Francisco? Fez isso sobre as minhas costas? Você deixou minha filha ir embora sem nem perguntar?Jezabel iradíssima, dava socos na mesa perdendo totalmente a compostura que ela tanto prezava. Eu sentava perto do meu pai com as mão sobre a mesa e Sofia na cadeira da ponta um pouco mais afastada, de braços cruzados e olhando para baixo._Ela pediu para não contar._Mas eu sou a mãe dela!_O que você faria? Trancar ela em um quarto? As gêmeas já são adultas. Meu pai disse que para ir na primeira visita ao shopping eu poderia convidar alguém. Eu pensei em chamar o Haru mas, acho que depois da confusão do final de semana, ele não ficaria confortável em vê-lo. Chamei a Brenda, a ruivinha de Lógico-Matemática que adorava o meu pai. A reação dela ao vê-lo de perto foi bem engraçada. Ela queria tirar uma tal de “selfie” e “postar” em alguma coisa que na época eu não sabia o que era. Tudo naquela caixinha brilhante.A minha reação ao entrar no shopping foi parecida com a dela ao ver o meu pai. Uma espécie de espanto e euforia. Era uma casa muito grande e luminosa, pessoas e mais pessoas andando para lá e para cá. Objetos que nunca tinha visto estavam na minha frente. Havia de tudo, desde roupas até aquelas caixinhaO PRIMEIRO PASSEIO NO SHOPPING
Esse relato quem fez foi Sofia depois de um tempo. Meu pai é orgulhoso demais para falar que se divertiu fazendo compras depois de quatorze anos alheio a civilização moderna. Segundo Sofia, foi naquele dia que teve certeza que ele também estava preso a ela.Eles ficaram perto da entrada, acenando para nós duas até sumirmos de vista. Depois que sumimos ficou-se um silêncio constrangedor entre os dois. Ele balançava os braços e olhava nas outras direções. Ela sem hesitar, virou-se para ele._Por onde vamos começar? Pelo meu ou pelo seu?_Começar o quê? _ ele perguntou ainda sem graça._O nosso guarda-roupa, não íamos comprar roupas para todo mundo?
Depois que parei de rir, os colegas da minha mesa me observavam assustados, segurando seus lanches para não cair. Pelo jeito minha risada foi mais alta do que me pareceu. Uma multidão começou a nos encarar. Eu não entendia muito bem o que acontecia.Começou primeiro com um burburinho, dava para ouvir algumas palavras. “Excepcionais, aqui nessa parte do shopping?” “Eles não tem a própria parte deles, por que estão aqui?” “Melhor tomar cuidado, pelo jeito tem um intra com eles.” Daqueles burburinhos, um grupo começou a se juntar ao redor da nossa mesa. Baixamos nossas cabeças como se tivéssemos feito algo de errado. Cada vez que mais pessoas se juntavam mais tentávamos nos esconder.