Era uma areia tão brilhante, que nem parecia areia. Tinha uma cor verde azulada fluorescente. Ela brilhava intensamente, como os plânctons no mar. Em um simples movimento que meu pai fazia, ela dançava no ar e obedecia às suas ordens.
O laboratório improvisado brilhava à noite, o pó fluorescente brilhava ao redor dele. Sua função era curar, porém, conseguia fazer outras coisas com ela. Com a areia conseguia-se fazer outros objetos flutuarem, carregá-los de um lugar para outro.
Ele me envolveu com o pó brilhante me fazendo flutuar pela casa. Como um pó mágico de alguma feiticeira, ao dominar bem a areia, ela podia fazer o que você quisesse, desde de arrumar suas coisas a transportá-la de um ponto a outro.
Foi difícil para mim dominá-la, a areia era muito rebelde. Precisei de três longos dias tentando. Eu geralmente a usava para estancar a menstruação, era muito melhor do que usar um pano grosso por baixo da saia.
Começamos a usá-la para as tarefas do dia a dia. Com ela, meu pai a usava para caçar, conseguíamos limpar os alimentos melhor, a areia purificava a água, carregava objetos pesados, elas ganhavam forma do que queríamos. Desde bacias a copos, nos erguiam até as copas das árvores e nos transportavam pelo leito do rio.
Com ela, meu pai pôde construir um barco firme para navegar. A areia poderia nos levar flutuando pela água. Agora, faltava saber se ela funcionava para curar.
A primeira paciente foi Sofia. Ela tinha cortado o pé. Um pequeno machucado era o teste perfeito.Todos na sala estavam bem tensos. Enquanto a areia brilhante envolvia o pé de Sofia, olhávamos atentamente cada movimento. Meu pai encontrava-se calmo e olhava fixamente para o pé dela, que agora brilhava.
O corte tinha sumido. A pele ficara intacta como se Sofia nunca tivesse cortado o pé. Todos nós vibramos com o resultado. Dera certo. Tudo o que ele estava trabalhando, resultou em uma cura rápida e sem sequelas. Podíamos enfim voltar para casa.
Ao chegar essa notícia, eu não fiquei muito feliz com isso. Naquela ilha estava enterrada a minha mãe, onde muitas vezes eu ia para conversar com ela, estava a minha casa feita de cajueiro e o meu bicho de estimação. Meu bicho de estimação é um quati vermelho abandonado pelo bando. Apareceu no túmulo da minha mãe, por isso botei-lhe o nome de Rudá. Sugestão do meu pai.Rudá, o amor, criado por Guaraci, o sol, para levar seus recados apaixonados para Jaci, a lua, já que não podiam se encontrar. Então os dois conversavam a partir de Rudá e seu amor continuava crescendo. O quati aparecera no túmulo de minha mãe, um quati dócil que nos aceitou rapidamente. Papai disse que era a mensagem de amor da mamãe para nós, daí Rudá.
O que para você é um mundo novo? Um novo mundo é composto de coisas inimagináveis aos seus olhos, costumes estranhos para sua natureza. Para mim o novo mundo abriu-se quando saímos da área da marinha e começamos a perambular pela Praça XV. Tínhamos chegado à costa brasileira à noite, adentramos pela Baía de Guanabara e aportamos na área militar.Entramos na Baía em silêncio, um navio percebendo a estranha embarcação brilhante adentrando em águas brasileiras, veio para perto de nós. Fomos obrigados a parar e subir para o navio. O comandante pareceu ficar um pouco aturdido quando nos olhou e levou-nos diretamente para a base militar._ Não é para tocar! _ alertava minha tia-avó toda vez que eu me aproximava de alg
Era um prédio enorme com corredores infinitos. Nos dormitórios cada porta continha um universo. A Diretora do internato ia na minha frente me mostrando o caminho, o único barulho que existia eram dos seus saltos e da minha mala de rodinhas. Tudo parecia muito escuro mesmo com a claridade do sol entrando pelas grandes vidraças dos corredores.Rudá não estava mais comigo, a escola não permitia animais de estimação. Não aceitei bem isso, Rudá era o meu melhor e único amigo.O barulho do salto parou em uma porta de número 36, ela se virou e me olhou com um olhar severo como se eu já tivesse quebrado as regras da instituição sem antes conhecê-las. A diretora vestia uma farda da marinha, um conjunto de uma blusa de manga e uma saia reta todas elas bra
A mansão ficava em um condomínio de luxo. Era a casa onde minha mãe passara a infância, onde ela e meu pai levavam desde os mais pobres aos mais ricos brincarem juntos no mesmo quintal. Onde também minha tia-avó criou as sobrinhas e que eles deixaram para trás. A casa era fruto do trabalho pioneiro na área de medicina do meu avô com os Excepcionais. Não imaginava que a filha dele também seria uma assim. A única herdeira era a minha mãe. Jezabel, sabia que não iria ter direito a fortuna mesmo se considerasse a sobrinha morta. Foi para a ilha deserta vigiá-los.Quem cuidava desses bens era um advogado da família. Uma pessoa de confiança é comprovadamente incorruptível. A minha mãe o deixou no cargo de cuidar de todos os bens m
Demorou pouco tempo para eu descobrir que aquela caixinha brilhante que comandava a vida das pessoas chamava-se celular. Antes era feito apenas para ligar quando não estava fora de casa, depois, começou a mandar mensagem, tocar música, reproduzir vídeos… Acabou dominando a vida de todos.Mas aquilo não era a única coisa. Outras caixas brilhantes também dominavam aquela civilização. No internato, era tão importante que havia uma sala apenas para ela. As pessoas pareciam venerá-la como um “deus”, ela ficava lá no alto enquanto que nós sentados, logo abaixo, ficávamos vidrados olhando para as imagens que ela produzia como um altar a ser venerado._Para onde foram? _ perguntei a um aluno apontando para ela. Ele tinha olhos rasgados com a íris negra, formando uma bola perfeita. Seu cabelo era vermelho, uma das poucas marcas de rebeldia que ainda existiam no seu corpo. Mandaram tirar seus piercings porém ele insistia em ficar com um na orelha além do brinco e a cor vermelha no cabelo.Eu tinha inveja dele. Ele ficava o dia inteiro correndo enquanto eu ficava o dia inteiro respondendo a perguntas estúpidas e testes estranhos. Nos encontrávamos na hora do intervalo, ele comprava as coisas para mim já que, eu não tinha dinheiro nenhum.Ele me achava estranha mas, era o único que falava comigo na escola além das minhas companheiras de quarto, sabia do meu passado mas, não parecia estar curioso como os outros. Comíamos em silêncio muitas das vezes, porém, era confortável. Foi OLHOS RASGADOS
Fazia um mês que eu estava lá. Pelo menos eu achava que sim, não tinha certeza. Eu não sabia o que meu pai estava fazendo, eu queria encontrar o Haru mas, as meninas me monitoravam dia e noite.Elas assumiram a responsabilidade de me ensinar a como se comportar corretamente. Não se podia entrar em qualquer banheiro. Tinha o das meninas e dos meninos, não era para ficar horas se encarando no espelho de nenhum banheiro. O colégio inteiro tinha grupo de amigos e amigas, eles chamavam de “panelinhas”, algumas até se misturavam, já outras, não podiam se encontrar.Não podia sair através dos muros do internato, não podia usar outros ambientes quando ainda estava na Turma de Introdução.Era preciso fazer todo
_Eu posso fazer de novo? _eu perguntei para o entediado Haru na minha frente_Vá em frente…Eu tinha achado um novo brinquedo naquele novo mundo. Consistia em uma caixa de papel duro que vinha com algo comprido e encurvado grudado nele. O Haru disse que o nome daquilo era canudo, e dentro da caixinha havia algo chamado de achocolatado.Na verdade, a diversão era espetar o tal canudo na caixinha. Eu fiquei empolgada, ele teve que comprar uns dez para mim. Isso aconteceu em uma lanchonete em que paramos depois de percorrer a cidade.Desde da minha chegada, eu passava de lugares fechados para lugares fechados. Quando enfim escapamos, Haru me levou até a Praça XV. As casas compridas que eu vira na minha chegada eram maiores que eu pensava.