Bruno Castellazzo
Acordo com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto. Droga! Provavelmente a imprestável da minha empregada não fechou a cortina corretamente. A luz do sol me deixa com uma dor de cabeça terrível e um péssimo humor.Levo minhas mãos à lateral da minha cabeça fazendo movimentos circulares tentando amenizar a dor de cabeça. Nos últimos dias, minhas noites não estão sendo nada fáceis. Ultimamente tenho sido perseguido por pesadelos do dia que perdi a pessoa que mais amei na vida. Esses sonhos tem se tornado cada vez mais frequentes, o que me deixa atormentado. Por mais que eu tente, não consigo fugir das lembranças dolorosas daquele maldito dia.Levanto da cama e vou em direção ao banheiro, tomo um banho quente e demorado, depois me visto e saio.Quando estou descendo as escadarias, do alto vejo uma das empregadas arrumando a mesa para meu desjejum. Pelo cheiro que exala deve estar uma delícia. Desço a escada e me dirijo à sala de jantar, onde sempre faço minhas refeições. Como todos os dias sozinho em uma casa enorme que se localiza em uma fazenda, que por sinal é maior ainda. Comprei essa propriedade, pois gosto de sossego e por ficar longe da cidade não recebo visitas, com exceção de Blanca, que às vezes aparece por aqui.A empregada se aproxima interrompendo meus pensamentos e diz:— Bom dia, senhor Castellazzo.— Bom dia Eva. Podem começar a servir.Os empregados começam a servir a mesa tudo está perfeitamente alinhado, não suporto nada fora do lugar, até mesmo os horários que servem a comida são organizados por mim e repassado para Eva.Após, meu desjejum sigo até a garagem, pego o meu carro e vou para meu escritório.Assim que chego, vou até minha mesa e pego um charuto. Minha secretária sabe que eles devem estar sempre do lado direito da minha mesa. Uma vez aquela inútil os guardou na gaveta. Admito que me contive para não a esganar com minhas próprias mãos. Afinal, eu odeio gente incompetente e nunca tolero erros.Dou uma volta em meu escritório indo até a janela com a vista panorâmica. Acendo meu charuto e fico observando a cidade por alguns instantes. Por um momento sou levado de volta ao passado. Como eu queria que ela estivesse aqui, se aquele maldito que me deu a vida não a tivesse matado, não seria esse inferno. Eu gostaria de voltar no tempo e ter matado aquele maldido antes mesmo dele fazer mal a ela. O fato de ser meu progenitor nunca significou nada, tudo o que sinto por ele é desprezo. Fecho os olhos, pensando como seria voltar novamente no tempo para poder consertar os meus erros, aqueles que eu nunca consigo superar. Sou trazido à realidade assim que escuto algumas batidas na porta.— Entre — ordeno.— Buongiorno¹ Bruno. — escuto a voz grave do Henrico logo atrás de mim.— Buongiorno. — digo ainda de costas.— Preparado para a viagem a New York? Partiremos em algumas horas. — Henrico e seus questionamentos toscos.Nesse momento me volto em sua direção e falo:— É claro que estou preparado Henrico.Quando penso que Henrico vai se retirar, ele pergunta:— Bruno, tem algo lhe incomodando?— Não, mas quero ficar sozinho, portanto retire-se imediatamente! — exijo.Minha cabeça não suporta meus próprios pensamentos. Não aguentaria Henrico aqui enchendo de perguntas tolas. Ele sabe que não costumo acordar de bom humor e mesmo assim se atreve a me fazer perguntas. Se ele não fosse mais que um funcionário já teria acabado com ele com um único tiro.Ele deixa minha sala imediatamente. E eu continuo observando a cidade. Minha cabeça dói, passo as mãos pelas minhas têmporas a fim de aliviar o que estou sentindo. Afasto-me da janela e começo a andar lentamente até minha mesa. Sento em minha cadeira de couro preta confortável e abro a terceira gaveta onde guardo os documentos importantes para meus negócios. Analiso alguns e percebo que existem pendências, então começo a resolver imediatamente, afinal se tudo ocorrer como o planejado, me tornarei o sócio de uma das empresas mais importantes de New York.Quando olho para o relógio sob minha mesa, já se passavam das onze. Pego meu celular e ligo para Eva. Ordeno que ela arrume minhas malas e mande que um dos motoristas a leve para a pista de voo.Quando estou com tudo resolvido, deixo o escritório e sigo para a pista de voo que se encontra no terraço do meu arranha-céu. Optei fazer esse heliponto aqui mesmo para casos de emergências. As estrada até a cidade são péssimas, na maioria das vezes cobertas de neve, dificultando a passagem dos carros, mas isso é algo que não me incomoda, já tenho minhas próprias pistas de voos, sendo uma delas aqui e a outra na fazenda. Isso facilita muito minha vida.A fazenda tem sido meu lugar preferido nos últimos anos, é sossegada e longe dos holofotes da imprensa, o que me deixa muito tranquilo. E quanto a casa que pertenceu ao monstro do meu pai, local onde sofri toda minha adolescência, mandei que fosse demolida, já que aquele lugar só trazia lembranças sombrias e muito dolorosas.Sou trazido de volta à realidade quando o elevador para no terraço. Enzo e Henrico já estão no avião, afinal não víamos a hora de chegar em New York. A verdade é que decidimos viajar cinco dias antes da reunião e assim curtir um pouco da cidade que nunca dorme.Entro no avião e tomo meu assento, neste momento Enzo diz:— Está pensativo senhor. Aconteceu alguma coisa?— Apenas pensando nos negócios — digo ajeitando o cinto de segurança.— Você releu todos os documentos? — pergunta Henrico.— Henrico, não sou um idiota, portanto não faça perguntas tolas — esbravejei. — Se não quer perder seu cargo dentro da máfia, pare de fazer perguntas idiotas. Não vou hesitar em te substituir se necessário.Henrico e Enzo fazem toda a viagem em silêncio. Depois de um voo demorado e cansativo, finalmente pousamos. Para meu alívio o hotel que Henrico escolheu tem pista de voo.— Enfim, chegamos — murmura Enzo.— Não obrigamos você vir Enzo, veio de atrevido — retruca Henrico. — Portanto não reclame.— Farabutto² — esbraveja Enzo.Levanto da minha poltrona a passos firmes, vou até o homem usando terno preto que estava me aguardando. Ele me cumprimenta, e me leva até o elevador e diz:— Senhor, em breve as bagagens serão levadas aos quartos.Sigo para o elevador e antes que as portas se fecham, Henrico e Enzo entram atrás de mim. Admito que a infantilidade deles me irrita.— Espero que se comportem — digo de forma ríspida.Eles tentaram argumentar, mas os ignoro. Tudo o que queria era minha suíte luxuosa e um banho quente e longo.Na recepção, uma senhora usando um terninho preto, ao me ver anda em minha direção e diz:— Olá senhor Castellazzo, como o senhor pediu, reservamos toda a cobertura. Aqui está sua chave — disse me entregando uma chave e na sequência uma para Henrico e Enzo.Aceno com a cabeça e sigo em direção às portas do elevador.Tradução das palavrasBom dia ¹Canalha ²Aurora Lancelotti Acordo com o maldito toque do celular. Me esforço para abrir os olhos em meio aos raios de sol que entravam pela janela.Pego o celular e vejo o nome do Gustavo. Não acredito que aquele infeliz esteja me ligando antes das oito no dia do meu aniversário. Penso em rejeitar a chamada, mas recordo da nossa última conversa. Senti raiva, muita raiva, afinal aquele maldito estava me chantageando.Sem mais delongas atendo o celular e com a voz dominada de sono digo:— Gustavo, o que quer? Esqueceu que você me deu folga hoje?— Não, mas surgiu um assunto de última hora e quero que resolva. Depois pode voltar para sua casa e ficar com a sua mãe e a sua irmã. Mas agora quero que venha para a joalheria imediatamente. — Mas não são nem oito horas! — reclamo.— Você não deveria reclamar. Pelo contrário, deveria dar graças a Deus por ter um emprego. Agora se arrume, meu motorist
Aurora Lancellotti Entrando no jardim do edifício sinto meu coração bater descompassado de tanta emoção nem mesmo em sonhos poderia imaginar estar dentro dos pouquíssimos hotéis tradicionais e luxuosos de New York. O edifício tem uma aparência da década de 1970, um estilo romano-renascentista, uma obra de arte. Estou deslumbrada pela paisagem inebriante.Ouço alguém resmungar atrás de mim fazendo-me virar assustada, estou tão distraída olhando ao redor que não prestei atenção que atrapalhava as pessoas passarem. Peço educadamente desculpas para o casal que me encara. Eles apenas seguem caminhando ignorando totalmente meu pedido de desculpas. Que arrogância, credo! Após um breve momento cheguei na recepção.E como era de se esperar o lugar é impecável. Uma das recepcionista sorri e logo diz suave: — Seja bem-vinda ao hotel Palace, em que posso ajudar? — perguntou num sorriso simpático.Dou um suspiro para respondê-la, evitando assim tropeçar nas próp
Bruno Castellazzo (..)Ando devagar pelos corredores do calabouço, o cheiro de podridão arde em meu nariz. Tento manter meu rosto sem expressão, mas o pavor toma conta do meu rosto assim que escuto gritos ecoando pelo corredor. O calabouço é o lugar preferido de papá⁴ para me torturar, seja fisicamente ou psicologicamente. Ouço gargalhadas cruéis vindo do Consigliere⁵ do papá, ele ri do meu medo. Salvatore Ricci é tão cruel como Domenico Castellazzo. Quando chegamos ao final do corredor vejo papá com um sorriso diabólico nos lábios enquanto alguns seguranças estão espalhados na sala. — Entre — ordena papá. — Quando estou passando pelas portas um chute me lança para dentro, me fazendo cair de joelhos em seus pés.— Agindo como uma ragazza⁶, nunca será um Castellazzo. — Papá cospe no meu rosto com a expressão enfurecida. — Papá. — Não tive tempo de terminar a frase, um tapa tão forte arder em meu rosto. Sua voz cruel atinge meus ouvidos me fazendo arrepiar.— Cala a boca moleque. Não
Bruno Castellazzo Após o ocorrido estou a espera pela investigação que Leonardo chefe da minha segurança ficou de fazer. E eu não gostava de esperar, não quando se tratava de algo tão importante. Meu celular dispara ao tocar, rapidamente atendo.— Ussicore, não conseguimos chegar antes na propriedade onde a esposa e os filhos do Mattia moravam. Eles foram encontrados decapitados. — Informou.— Maldição! — A casa estava toda revirada, pelos indícios alguém estava procurando algo, mas não sabemos o que. — Explicou. — Me mantenha informado sobre qualquer novidade — ordenei irritado. — Marta, faça um um funeral digno para essa família — falei encerrando a ligação. "No meu lugar Mattia faria o mesmo, não apenas por lealdade, mas pela amizade que construímos nesses longos anos."— O que houve, Bruno? — Questiona Henrico.— A família do falecido também está morta, Marta supôs que estavam
Bruno Castellazzo Após a chamada ser encerrada, ouço pessoas gritando, tiros, explosões e um cheiro forte de fumaça. Precisamos sair antes que o fogo alastre, imediatamente peguei minhas roupas que estavam no chão, mas antes precisava resolver um problema. — Você nunca me viu aqui, entendeu? — falei agarrando os cabelos da mulher ainda ajoelhada. Ela faz um sinal positivo com a cabeça.Rapidamente me retirei do quarto, vejo vários corpos empilhados no chão, pessoas correndo, multidão atrapalhando a saída e o fogo tomando conta. — Bruno, finalmente o encontrei — falou Henrico preocupado.— Vamos sair pelos fundos — disse indicando o caminho. Saímos pelos fundos rapidamente, Henrico sempre é responsável por fazer as análises dos lugares que frequentamos. Se algo do tipo acontecer, sabemos onde estão as saídas de emergências ou saídas secretas. Quando chegamos ao carro, notei uma rosa
Bruno Castellazzo A localização que foi informada ficava bastante afastada da cidade, gastamos em média duas horas para chegar na propriedade. As estradas estavam todas esburacadas e de difícil acesso, suponho que não moravam habitantes próximos naquele lugar, pelos arredores enxergamos muita vegetação e no meio de todo esse matagal encontramos uma imensa casa que se encontrava num estado deplorável. Apenas faço um sinal para que meus homens desçescessem e se espalhassem para saber se não fomos vítimas de alguma emboscada. Depois de uma rápida revista, Leonardo sinalizou para que pudéssemos entrar dentro da casa sem sermos pegos de surpresa. Entramos na casa, meus homens foram na frente fazendo um cerco ao meu redor. Fomos surpreendidos por um cheiro forte de algo podre, marcas de sangue estavam espalhadas pelo chão. — Chefe, precisa ver isso. — Leonardo gritou do segundo andar. Subo a
Aurora Lancellotti Horas antes Gustavo não permitiu ir trabalhar, disse com aquela voz arrogante que queria uma mulher elegante e sorridente ao seu lado e não uma morta viva, então me levou direto para um dos melhores salões de beleza da cidade. — Você está lindíssima — comentou a maquiadora. Agradeço em um sorriso simpático, mesmo não me encontrando em um bom humor.Quando ela virou a cadeira giratória para o espelho, arregalei os olhos, mas não porque estava feia, e sim porque estava incrível. Meus olhos azuis estavam realçados num tom dourado e castanho e meus lábios estavam pintados de vermelhos, os cabelos estavam em cachos. Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz aveludada. — Querida, seu namorado tem sorte de ter uma mulher tão bonita — falou a maquiadora que Gustavo havia trocado algumas palavras antes de sair. Fiquei envergonhada pelo seu comentário, pois eu e Gustavo não éramos namorad
Bruno Castellazzo Seus olhos estavam fixos ao meu, o semblante carregado de puro pavor, mesmo de longe, observei uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto. Meus lábios curvaram num sorriso sarcástico, rapidamente, a garota desviou o olhar e seguiu para dentro do hotel acompanhada de um homem. Não pude deixar de notar as mãos possessivas envoltas da sua cintura. Senti uma sensação incomum no meu peito. Enquanto permanecia do lado de fora, observando o casal, uma mistura de emoções me invadiu. O sorriso sarcástico que se formou em meus lábios foi substituído por uma sensação de vazio.Ouvia vozes chamando pelo meu nome, ao mesmo tempo, em que flashes de luz eram disparados em meu rosto, ofuscando minha visão. Respirei fundo para não matar cada um desses imbecis e, aos poucos, recuperei minha visão. Estava tão perdido em meus pensamentos que não percebi a aproximação dos paparazzi. Eu acenei de fo