Capítulo - 3

Bruno Castellazzo

Acordo com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto. Droga! Provavelmente a imprestável da minha empregada não fechou a cortina corretamente. A luz do sol me deixa com uma dor de cabeça terrível e um péssimo humor.

Levo minhas mãos à lateral da minha cabeça fazendo movimentos circulares tentando amenizar a dor de cabeça. Nos últimos dias, minhas noites não estão sendo nada fáceis. Ultimamente tenho sido perseguido por pesadelos do dia que perdi a pessoa que mais amei na vida. Esses sonhos tem se tornado cada vez mais frequentes, o que me deixa atormentado. Por mais que eu tente, não consigo fugir das lembranças dolorosas daquele maldito dia.

Levanto da cama e vou em direção ao banheiro, tomo um banho quente e demorado, depois me visto e saio.

Quando estou descendo as escadarias, do alto vejo uma das empregadas arrumando a mesa para meu desjejum. Pelo cheiro que exala deve estar uma delícia. Desço a escada e me dirijo à sala de jantar, onde sempre faço minhas refeições. Como todos os dias sozinho em uma casa enorme que se localiza em uma fazenda, que por sinal é maior ainda. Comprei essa propriedade, pois gosto de sossego e por ficar longe da cidade não recebo visitas, com exceção de Blanca, que às vezes aparece por aqui.

A empregada se aproxima interrompendo meus pensamentos e diz:

— Bom dia, senhor Castellazzo.

— Bom dia Eva. Podem começar a servir.

Os empregados começam a servir a mesa tudo está perfeitamente alinhado, não suporto nada fora do lugar, até mesmo os horários que servem a comida são organizados por mim e repassado para Eva.

Após, meu desjejum sigo até a garagem, pego o meu carro e vou para meu escritório.

Assim que chego, vou até minha mesa e pego um charuto. Minha secretária sabe que eles devem estar sempre do lado direito da minha mesa. Uma vez aquela inútil os guardou na gaveta. Admito que me contive para não a esganar com minhas próprias mãos. Afinal, eu odeio gente incompetente e nunca tolero erros.

Dou uma volta em meu escritório indo até a janela com a vista panorâmica. Acendo meu charuto e fico observando a cidade por alguns instantes. Por um momento sou levado de volta ao passado. Como eu queria que ela estivesse aqui, se aquele maldito que me deu a vida não a tivesse matado, não seria esse inferno. Eu gostaria de voltar no tempo e ter matado aquele maldido antes mesmo dele fazer mal a ela. O fato de ser meu progenitor nunca significou nada, tudo o que sinto por ele é desprezo. Fecho os olhos, pensando como seria voltar novamente no tempo para poder consertar os meus erros, aqueles que eu nunca consigo superar. Sou trazido à realidade assim que escuto algumas batidas na porta.

— Entre — ordeno.

— Buongiorno¹ Bruno. — escuto a voz grave do Henrico logo atrás de mim.

— Buongiorno. — digo ainda de costas.

— Preparado para a viagem a New York? Partiremos em algumas horas. — Henrico e seus questionamentos toscos.

Nesse momento me volto em sua direção e falo:

— É claro que estou preparado Henrico.

Quando penso que Henrico vai se retirar, ele pergunta:

— Bruno, tem algo lhe incomodando?

— Não, mas quero ficar sozinho, portanto retire-se imediatamente! — exijo.

Minha cabeça não suporta meus próprios pensamentos. Não aguentaria Henrico aqui enchendo de perguntas tolas. Ele sabe que não costumo acordar de bom humor e mesmo assim se atreve a me fazer perguntas. Se ele não fosse mais que um funcionário já teria acabado com ele com um único tiro.

Ele deixa minha sala imediatamente. E eu continuo observando a cidade. Minha cabeça dói, passo as mãos pelas minhas têmporas a fim de aliviar o que estou sentindo. Afasto-me da janela e começo a andar lentamente até minha mesa. Sento em minha cadeira de couro preta confortável e abro a terceira gaveta onde guardo os documentos importantes para meus negócios. Analiso alguns e percebo que existem pendências, então começo a resolver imediatamente, afinal se tudo ocorrer como o planejado, me tornarei o sócio de uma das empresas mais importantes de New York.

Quando olho para o relógio sob minha mesa, já se passavam das onze. Pego meu celular e ligo para Eva. Ordeno que ela arrume minhas malas e mande que um dos motoristas a leve para a pista de voo.

Quando estou com tudo resolvido, deixo o escritório e sigo para a pista de voo que se encontra no terraço do meu arranha-céu. Optei fazer esse heliponto aqui mesmo para casos de emergências. As estrada até a cidade são péssimas, na maioria das vezes cobertas de neve, dificultando a passagem dos carros, mas isso é algo que não me incomoda, já tenho minhas próprias pistas de voos, sendo uma delas aqui e a outra na fazenda. Isso facilita muito minha vida.

A fazenda tem sido meu lugar preferido nos últimos anos, é sossegada e longe dos holofotes da imprensa, o que me deixa muito tranquilo. E quanto a casa que pertenceu ao monstro do meu pai, local onde sofri toda minha adolescência, mandei que fosse demolida, já que aquele lugar só trazia lembranças sombrias e muito dolorosas.

Sou trazido de volta à realidade quando o elevador para no terraço. Enzo e Henrico já estão no avião, afinal não víamos a hora de chegar em New York. A verdade é que decidimos viajar cinco dias antes da reunião e assim curtir um pouco da cidade que nunca dorme.

Entro no avião e tomo meu assento, neste momento Enzo diz:

— Está pensativo senhor. Aconteceu alguma coisa?

— Apenas pensando nos negócios — digo ajeitando o cinto de segurança.

— Você releu todos os documentos? — pergunta Henrico.

— Henrico, não sou um idiota, portanto não faça perguntas tolas — esbravejei. — Se não quer perder seu cargo dentro da máfia, pare de fazer perguntas idiotas. Não vou hesitar em te substituir se necessário.

Henrico e Enzo fazem toda a viagem em silêncio. Depois de um voo demorado e cansativo, finalmente pousamos. Para meu alívio o hotel que Henrico escolheu tem pista de voo.

— Enfim, chegamos — murmura Enzo.

— Não obrigamos você vir Enzo, veio de atrevido — retruca Henrico. — Portanto não reclame.

— Farabutto² — esbraveja Enzo.

Levanto da minha poltrona a passos firmes, vou até o homem usando terno preto que estava me aguardando. Ele me cumprimenta, e me leva até o elevador e diz:

— Senhor, em breve as bagagens serão levadas aos quartos.

Sigo para o elevador e antes que as portas se fecham, Henrico e Enzo entram atrás de mim. Admito que a infantilidade deles me irrita.

— Espero que se comportem — digo de forma ríspida.

Eles tentaram argumentar, mas os ignoro. Tudo o que queria era minha suíte luxuosa e um banho quente e longo.

Na recepção, uma senhora usando um terninho preto, ao me ver anda em minha direção e diz:

— Olá senhor Castellazzo, como o senhor pediu, reservamos toda a cobertura. Aqui está sua chave — disse me entregando uma chave e na sequência uma para Henrico e Enzo.

Aceno com a cabeça e sigo em direção às portas do elevador.

Tradução das palavras

Bom dia ¹

Canalha ²

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