Aurora Lancellotti
Estou ansiosa esperando minha carta de admissão da Accademia Del Gioiello, na Itália, e espero ganhar uma bolsa. Só assim poderei realizar o meu sonho de me tornar uma designer de joias. Infelizmente minha mãe não pode pagar meus estudos. Apesar dela se esforçar muito para não deixar faltar nada em casa, sempre passamos por algumas privações, mas apesar dos momentos difíceis eu a admiro muito, ela me criou sozinha, já que meu pai a abandonou quando eu ainda estava na barriga e mesmo se encontrando sozinha e com uma criança nos braços, adotou a Laura, filha da sua melhor amiga, que morreu no parto e foi rejeitada pelo pai. Laura e eu somos mais que irmãs, somos melhores amigas.Durante a maior parte do ensino médio, Laura e eu trabalhamos como garçonetes em um restaurante para juntar dinheiro para irmos em busca dos nossos objetivos. Os donos eram bem complicados e pagavam pouco, porém não tínhamos muita opção, por isso seguimos trabalhando para eles.As coisas mudaram para mim quando conheci Gustavo, um empresário do ramo de joias. Nós nos conhecemos ali mesmo no meu local de trabalho. Percebi os seus olhares maldosos logo no começo, porém não falei nada. Com o passar do tempo ele me esperou na saída do trabalho e me convidou para sair. De imediato recusei.Por não desistir fácil, ele se aproximou de Laura e descobriu minha paixão por desenhos. Foi aí que me fez a proposta de trabalhar em sua joalheira. Mesmo sabendo de suas más intenções eu aceitei, porém antes deixei claro que não teríamos nada. Não me imagino na cama com Gustavo, apesar dele ser um homem bonito, não é o tipo de homem com quem imagino perder a minha virgindade. Depois de uma longa conversa, aceitei trabalhar com ele e assim ter contato direto com o que realmente amo.Meus pensamentos são interrompidos pela voz rouca e grave de Gustavo:— É hora do almoço. Que tal parar de trabalhar um pouquinho e irmos almoçar em algum lugar aqui perto?Penso em dizer não, mas não quis chateá-lo. Assim que concordo ele diz:— Vamos.Seguimos para o Blue box café, ele é um dos mais famosos da cidade, as reservas são feitas cerca de trinta dias antes e muitas vezes se esgotam em poucas horas. Não sei como Gustavo conseguiu uma mesa disponível de última hora. Nunca tinha frequentado um lugar tão refinado como aquele, e estava envergonhada por estar tão mal vestida. Sentamos numa mesa ao lado de uma janela, a vista era incrível, eu estava boquiaberta. Gustavo fez os pedidos para o garçom e logo que ficamos a sós, ele disse:— Você já esteve aqui antes? — pergunta cinicamente, como se não soubesse.— Não.— Espero que goste. E que possamos vir aqui muitas vezes juntos.Nesse momento sinto meu rosto corar. A forma que Gustavo me tratava me deixava sem jeito. No fundo eu sabia quais eram suas intenções por trás daquele convite para almoçar e por trás de cada palavra.— Seu aniversário é amanhã. O que você pretende fazer?— Vou ficar em casa com minha mãe e minha irmã. Com certeza elas vão preparar algo para comemorarmos.— Você deveria comemorar seus 18 anos. Finalmente agora vai ser uma mulher e poderá fazer o que quiser com sua vida. Não imagina o quanto esperei para que o dia 15 de maio chegasse e você se tornasse maior de idade — falou com a voz carregada de malícia. — Agora que vai ser uma mulher adulta, me diga, o que acha de sairmos para jantar só nós dois e comemorar seu aniversário? — perguntou acariciando minha mão que estava sobre a mesa.— Obrigada! Mas prefiro ficar em casa — digo desconfortável pela aproximação indesejada.— Já que prefere ficar em casa no seu aniversário, podemos sair outro dia. O que você acha?— Obrigada, mas não.Percebo a irritação em seus olhos. Temo que ele se irrite e me mande embora, não posso perder esse emprego. Porém não estou disposta a me sacrificar ficando com alguém que não gosto.Antes que ele voltasse a falar, o garçom traz nossos pratos. Encaro a sopa de ervilha seguida de uma salada de lagosta com abacate e toranja.— É um ótimo prato. Espero que goste — disse um pouco irritado.— Parece delicioso.Como um pouco da comida enquanto ele me observava. Era estranho ter alguém me olhando a cada vez que levava o talher à boca. Sabia que Gustavo tinha interesse em mim, mas a forma que ele agia não era normal. Interrompo a refeição dizendo:— Senhor, o almoço estava uma delícia. Agora se me der licença, eu preciso voltar ao trabalho.— Aurora, entenda que você está com o seu chefe, portanto não se preocupe com o horário. Eu sou o único que decide quem trabalha ou não para mim. É bom, claro que tenho preferência por funcionárias obedientes e que não me deem dor de cabeça. E por falar em obediência, quero que me acompanhe a um leilão que acontecerá nesta sexta.— Senhor, eu nunca fui a um leilão antes. E faltam apenas dois dias. Não tenho como me preparar para um evento tão importante em tão pouco tempo — digo irritada.— Não se preocupe, mandarei entregar em sua casa uma roupa adequada para alguém que irá me acompanhar.Nesse momento me sinto enjoada. Ele estava me tratando como um objeto, porém de forma indireta e já havia dito que se eu o desobedecesse estaria demitida. Mesmo contra minha vontade digo:— Eu irei acompanhar o senhor.— Estou vendo que você é uma garota esperta. Agora que aceitou meu convite, pode ir se quiser.De imediato levanto e me despeço de Gustavo. Finalmente estava fora do campo de visão do meu chefe. Tenho certeza que muitas mulheres gostariam de receber atenção dele, afinal Gustavo Powell era um homem bonito e atraente.Quando retorno para o trabalho percebo os olhares maldosos de alguns funcionários. Sei que devem estar pensando que estou transando com meu chefe para me dar bem. Com certeza esses comentários pioraram muito quando soubessem que iria acompanhá-lo no leilão.Afasto os pensamentos e volto para meu trabalho. O dia passou voando quando me dei conta já estava na hora de voltar para casa.Vou até o terminal e pego o metrô que demora aproximadamente quarenta minutos até a minha casa. Aproveito o tempo do longo trajeto para fazer alguns esboços. Quando Gustavo soube que eu fazia o trajeto de metrô, colocou um motorista à minha disposição, mas recusei mesmo sabendo que levaria a metade do tempo. A joalheria dele fica no Upper East Side e eu moro em Bronx. São duas realidades opostas, dois mundos diferentes.Chego em casa e encontro minha mãe e Laura na sala assistindo TV, elas adoram um seriado.— Boa noite, meus amores — ando em direção onde estão, depositando um beijo em cada uma.— Boa noite minha vida — mamãe diz.— Boa noite mana — Laura diz sorridente.— Vou subir para tomar um banho.— O jantar estará pronto daqui alguns minutos, filha.— Certo, mamãe. Alguns minutos depois, estávamos reunidas à mesa conversando. Esse é o único horário que temos para passar juntas, afinal todas nós passamos o dia trabalhando.— Como está indo no serviço filha?— Quis saber minha mãe.— Está tudo bem mamãe.— E o Gustavo, Aurora? — Ela fita-me esperando uma resposta, acredito que Laura deve ter comentando que saímos hoje até porque ela e Gustavo são grandes amigos.— Saímos para almoçar hoje, mãe.— Resolveu dar uma chance para ele? — Quis saber Laura.— Não. Apenas aceitei por educação.— Você é uma boba mesmo, um partidão desse dando mole e você bancando a difícil — disse Laura revirando os olhos.Não respondo e seguimos jantando caladas. Laura às vezes passa do limite em relação ao Gustavo e na maioria das vezes minha mãe concorda com ela. Gustavo é muito querido por elas. Minha mãe vê nele o genro ideal, enquanto eu vejo nele um homem que abusa do poder e da posição que tem.Bruno Castellazzo Acordo com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto. Droga! Provavelmente a imprestável da minha empregada não fechou a cortina corretamente. A luz do sol me deixa com uma dor de cabeça terrível e um péssimo humor. Levo minhas mãos à lateral da minha cabeça fazendo movimentos circulares tentando amenizar a dor de cabeça. Nos últimos dias, minhas noites não estão sendo nada fáceis. Ultimamente tenho sido perseguido por pesadelos do dia que perdi a pessoa que mais amei na vida. Esses sonhos tem se tornado cada vez mais frequentes, o que me deixa atormentado. Por mais que eu tente, não consigo fugir das lembranças dolorosas daquele maldito dia.Levanto da cama e vou em direção ao banheiro, tomo um banho quente e demorado, depois me visto e saio.Quando estou descendo as escadarias, do alto vejo uma das empregadas arrumando a mesa para meu desjejum. Pelo cheiro que exala deve estar uma delícia. Desço a escada e me dirijo à
Aurora Lancelotti Acordo com o maldito toque do celular. Me esforço para abrir os olhos em meio aos raios de sol que entravam pela janela.Pego o celular e vejo o nome do Gustavo. Não acredito que aquele infeliz esteja me ligando antes das oito no dia do meu aniversário. Penso em rejeitar a chamada, mas recordo da nossa última conversa. Senti raiva, muita raiva, afinal aquele maldito estava me chantageando.Sem mais delongas atendo o celular e com a voz dominada de sono digo:— Gustavo, o que quer? Esqueceu que você me deu folga hoje?— Não, mas surgiu um assunto de última hora e quero que resolva. Depois pode voltar para sua casa e ficar com a sua mãe e a sua irmã. Mas agora quero que venha para a joalheria imediatamente. — Mas não são nem oito horas! — reclamo.— Você não deveria reclamar. Pelo contrário, deveria dar graças a Deus por ter um emprego. Agora se arrume, meu motorist
Aurora Lancellotti Entrando no jardim do edifício sinto meu coração bater descompassado de tanta emoção nem mesmo em sonhos poderia imaginar estar dentro dos pouquíssimos hotéis tradicionais e luxuosos de New York. O edifício tem uma aparência da década de 1970, um estilo romano-renascentista, uma obra de arte. Estou deslumbrada pela paisagem inebriante.Ouço alguém resmungar atrás de mim fazendo-me virar assustada, estou tão distraída olhando ao redor que não prestei atenção que atrapalhava as pessoas passarem. Peço educadamente desculpas para o casal que me encara. Eles apenas seguem caminhando ignorando totalmente meu pedido de desculpas. Que arrogância, credo! Após um breve momento cheguei na recepção.E como era de se esperar o lugar é impecável. Uma das recepcionista sorri e logo diz suave: — Seja bem-vinda ao hotel Palace, em que posso ajudar? — perguntou num sorriso simpático.Dou um suspiro para respondê-la, evitando assim tropeçar nas próp
Bruno Castellazzo (..)Ando devagar pelos corredores do calabouço, o cheiro de podridão arde em meu nariz. Tento manter meu rosto sem expressão, mas o pavor toma conta do meu rosto assim que escuto gritos ecoando pelo corredor. O calabouço é o lugar preferido de papá⁴ para me torturar, seja fisicamente ou psicologicamente. Ouço gargalhadas cruéis vindo do Consigliere⁵ do papá, ele ri do meu medo. Salvatore Ricci é tão cruel como Domenico Castellazzo. Quando chegamos ao final do corredor vejo papá com um sorriso diabólico nos lábios enquanto alguns seguranças estão espalhados na sala. — Entre — ordena papá. — Quando estou passando pelas portas um chute me lança para dentro, me fazendo cair de joelhos em seus pés.— Agindo como uma ragazza⁶, nunca será um Castellazzo. — Papá cospe no meu rosto com a expressão enfurecida. — Papá. — Não tive tempo de terminar a frase, um tapa tão forte arder em meu rosto. Sua voz cruel atinge meus ouvidos me fazendo arrepiar.— Cala a boca moleque. Não
Bruno Castellazzo Após o ocorrido estou a espera pela investigação que Leonardo chefe da minha segurança ficou de fazer. E eu não gostava de esperar, não quando se tratava de algo tão importante. Meu celular dispara ao tocar, rapidamente atendo.— Ussicore, não conseguimos chegar antes na propriedade onde a esposa e os filhos do Mattia moravam. Eles foram encontrados decapitados. — Informou.— Maldição! — A casa estava toda revirada, pelos indícios alguém estava procurando algo, mas não sabemos o que. — Explicou. — Me mantenha informado sobre qualquer novidade — ordenei irritado. — Marta, faça um um funeral digno para essa família — falei encerrando a ligação. "No meu lugar Mattia faria o mesmo, não apenas por lealdade, mas pela amizade que construímos nesses longos anos."— O que houve, Bruno? — Questiona Henrico.— A família do falecido também está morta, Marta supôs que estavam
Bruno Castellazzo Após a chamada ser encerrada, ouço pessoas gritando, tiros, explosões e um cheiro forte de fumaça. Precisamos sair antes que o fogo alastre, imediatamente peguei minhas roupas que estavam no chão, mas antes precisava resolver um problema. — Você nunca me viu aqui, entendeu? — falei agarrando os cabelos da mulher ainda ajoelhada. Ela faz um sinal positivo com a cabeça.Rapidamente me retirei do quarto, vejo vários corpos empilhados no chão, pessoas correndo, multidão atrapalhando a saída e o fogo tomando conta. — Bruno, finalmente o encontrei — falou Henrico preocupado.— Vamos sair pelos fundos — disse indicando o caminho. Saímos pelos fundos rapidamente, Henrico sempre é responsável por fazer as análises dos lugares que frequentamos. Se algo do tipo acontecer, sabemos onde estão as saídas de emergências ou saídas secretas. Quando chegamos ao carro, notei uma rosa
Bruno Castellazzo A localização que foi informada ficava bastante afastada da cidade, gastamos em média duas horas para chegar na propriedade. As estradas estavam todas esburacadas e de difícil acesso, suponho que não moravam habitantes próximos naquele lugar, pelos arredores enxergamos muita vegetação e no meio de todo esse matagal encontramos uma imensa casa que se encontrava num estado deplorável. Apenas faço um sinal para que meus homens desçescessem e se espalhassem para saber se não fomos vítimas de alguma emboscada. Depois de uma rápida revista, Leonardo sinalizou para que pudéssemos entrar dentro da casa sem sermos pegos de surpresa. Entramos na casa, meus homens foram na frente fazendo um cerco ao meu redor. Fomos surpreendidos por um cheiro forte de algo podre, marcas de sangue estavam espalhadas pelo chão. — Chefe, precisa ver isso. — Leonardo gritou do segundo andar. Subo a
Aurora Lancellotti Horas antes Gustavo não permitiu ir trabalhar, disse com aquela voz arrogante que queria uma mulher elegante e sorridente ao seu lado e não uma morta viva, então me levou direto para um dos melhores salões de beleza da cidade. — Você está lindíssima — comentou a maquiadora. Agradeço em um sorriso simpático, mesmo não me encontrando em um bom humor.Quando ela virou a cadeira giratória para o espelho, arregalei os olhos, mas não porque estava feia, e sim porque estava incrível. Meus olhos azuis estavam realçados num tom dourado e castanho e meus lábios estavam pintados de vermelhos, os cabelos estavam em cachos. Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz aveludada. — Querida, seu namorado tem sorte de ter uma mulher tão bonita — falou a maquiadora que Gustavo havia trocado algumas palavras antes de sair. Fiquei envergonhada pelo seu comentário, pois eu e Gustavo não éramos namorad