Aurora Lancellotti
Entrando no jardim do edifício sinto meu coração bater descompassado de tanta emoção nem mesmo em sonhos poderia imaginar estar dentro dos pouquíssimos hotéis tradicionais e luxuosos de New York.O edifício tem uma aparência da década de 1970, um estilo romano-renascentista, uma obra de arte. Estou deslumbrada pela paisagem inebriante.Ouço alguém resmungar atrás de mim fazendo-me virar assustada, estou tão distraída olhando ao redor que não prestei atenção que atrapalhava as pessoas passarem. Peço educadamente desculpas para o casal que me encara. Eles apenas seguem caminhando ignorando totalmente meu pedido de desculpas. Que arrogância, credo!Após um breve momento cheguei na recepção.E como era de se esperar o lugar é impecável. Uma das recepcionista sorri e logo diz suave:— Seja bem-vinda ao hotel Palace, em que posso ajudar? — perguntou num sorriso simpático.Dou um suspiro para respondê-la, evitando assim tropeçar nas próprias palavras.— Olá, meu nome é Aurora Lancellotti, funcionária do senhor Powell. Estou aqui para entregar uma joia para a governadora Natalia Miller — informo.— Só um momento, por favor — disse a loira pegando o telefone.Enquanto aguardo a sua resposta aproveito para olhar ao redor.O estilo renascentista está por toda parte, enfatiza a simetria, proporção, geometria e a regularidade das peças. Além de uma decoração interna marcada pela presença de diversas obras de artes.— Senhorita está me ouvindo. — Coro envergonhada para a mulher que me encara.Apenas faço que não com a cabeça com o rosto queimando de vergonha. Tenho certeza que estou parecendo um pimentão de tão vermelha. Droga!— Como estava dizendo, a sua entrada foi liberada, aguarde alguns instantes alguém virá buscá-la. — Ela me indica um sofá no saguão.Não demora muito para um homem entrar no meu campo de visão, ele é alto, musculoso e está usando um terno preto. Logo sua voz grossa atinge meus ouvidos.— Senhorita Lancellotti, me siga por favor — diz acenando para acompanhá-lo. Quando observo o lugar que estamos indo, sinto um nó se formando na garganta. Não! Não!Minhas pernas travam no mesmo instante, tentei movê-las mas elas não responderam. Respiro fundo, um, dois, três… Solta. Faço isso repetidamente.Nenhum outro lugar me causa tanto pavor como elevadores.— A senhorita está bem? — pergunta o grandão com a expressão preocupada.Confirmo com um aceno.Quando penso que minhas pernas não iam se mover, já me vejo caminhando no automático para dentro do elevador. O grandão me dá passagem para entrar primeiro e logo se junta a mim apertando o último andar. E porra! São mais de trinta andares.Seguro com firmeza a sacola em minhas mãos trêmulas. Tentei levar meus pensamentos para longe, mas ouço a voz grossa do grandão me interrompendo.— A senhora Miller está aguardando em um local reservado — informou.Ignoro, pois se eu abrir a boca tenho certeza que vou vomitar. Fico com os olhos fechados, respiração acelerada, tontura, frio na barriga. O suor descendo pela minha nuca e pelas minhas costas. Oh my God³! Preciso sair daqui. Como se Deus escutasse, minhas súplicas às portas do elevador se abrem.Saí desorientada do elevador, como se estivesse sendo sufocada. Respira um, dois, três…Sinto a minha pele queimando sobre os olhos fixos do grandão que me encara. Me adiantei explicando:— Não gosto de lugares apertados como esse — digo com a voz trêmula, quase sussurrada.Ele não responde, apenas passa por mim, seguindo em diante. Ainda com as pernas bambas, me apresso para acompanhá-lo.Andamos por alguns instantes logo paramos ao lado de uma porta de lintéis quadrados, Uau! Minha boca curvou em apreciação. Tudo aqui grita luxo, dinheiro, sofisticação.Ouço a respiração do grandão parado ao meu lado me tirando dos meus pensamentos. Ele me observa fixamente, apenas dou de ombro e continuo andando, mas antes de conseguir dar mais de dois passos sou interrompida.— Por favor aguarde aqui — diz.— Antes a senhorita precisa passar pela revista obrigatória — informou.Fez um sinal para outro segurança vir até nós.O homem caminha em nossa direção trazendo algo em suas mãos que não consigo identificar.— E um detector de metais, como o próprio nome diz, detecta qualquer tipo de arma metálica. — O grandão comenta como se soubesse meus pensamentos.— Agora abra as pernas e os braços para poder passar o dispositivo ao redor do seu corpo. — Faço o que ele pede um pouco envergonhada, nunca senti um homem tão próximo como agora.Depois de alguns instantes ele termina e acena confirmando minha passagem.Durante nossa entrada em uma sala muito sofisticada percebi vários seguranças. Não há pessoas circulando, apenas uma senhora sentada em uma mesa.Assim que me aproximo me apresento educadamente.— Olá, sou a funcionária do senhor Powell. Estou aqui para entregar a sua nova aquisição. — Estendo a mão para cumprimentá-la, mas ela deixa minha mão estendida no ar. Minhas bochechas queimam. Parece que estou sobrando aqui. Parece não, estou.— Sente-se — exigiu.Me acomodo em umas das cadeiras, ficando em sua frente.— Aurora Lancellotti, não é mesmo? — ela pergunta num tom de arrogância e eu confirmo.— Pode entregar a jóia ao meu segurança, eles analisarão e se tiver tudo certo pode se retirar.Concordo, fazendo o que ela mandou.Depois de um longo silêncio constrangedor, uma mulher loira, se aproxima da senhora Miller e diz algo baixinho em seu ouvido. Logo a loira se afasta nos deixando a sós novamente.— Seu serviço aqui não é mais necessário, retire-se. — Disse levantando uma das mãos mostrando a saída.Levantei-me apressada para fazer o que ela mandou, não quero passar nenhum segundo a mais dentro desse hotel. Talvez toda essa arrogância seja contagiosa. Misericórdia.Faço o meu caminho de volta, sendo acompanhada.Quando estou passando pelas portas de lintéis quadrados, o grandão passa a me acompanhar até o elevador. Só de pensar meu peito sobe e desce de forma desenfreada.Após uma breve oração silenciosa me encaminho para entrar no elevador, sinto um bolo se formando na garganta e uma angústia em meu coração. Lágrimas enchem meus olhos, mas não as deixo cair.Entrando no elevador, o grandão pressiona o botão para descer. Isso me apavora. Eu queria correr, gritar, mas não conseguia. O medo me fez paralisar.TraduçãoOh meu Deus³Bruno Castellazzo (..)Ando devagar pelos corredores do calabouço, o cheiro de podridão arde em meu nariz. Tento manter meu rosto sem expressão, mas o pavor toma conta do meu rosto assim que escuto gritos ecoando pelo corredor. O calabouço é o lugar preferido de papá⁴ para me torturar, seja fisicamente ou psicologicamente. Ouço gargalhadas cruéis vindo do Consigliere⁵ do papá, ele ri do meu medo. Salvatore Ricci é tão cruel como Domenico Castellazzo. Quando chegamos ao final do corredor vejo papá com um sorriso diabólico nos lábios enquanto alguns seguranças estão espalhados na sala. — Entre — ordena papá. — Quando estou passando pelas portas um chute me lança para dentro, me fazendo cair de joelhos em seus pés.— Agindo como uma ragazza⁶, nunca será um Castellazzo. — Papá cospe no meu rosto com a expressão enfurecida. — Papá. — Não tive tempo de terminar a frase, um tapa tão forte arder em meu rosto. Sua voz cruel atinge meus ouvidos me fazendo arrepiar.— Cala a boca moleque. Não
Bruno Castellazzo Após o ocorrido estou a espera pela investigação que Leonardo chefe da minha segurança ficou de fazer. E eu não gostava de esperar, não quando se tratava de algo tão importante. Meu celular dispara ao tocar, rapidamente atendo.— Ussicore, não conseguimos chegar antes na propriedade onde a esposa e os filhos do Mattia moravam. Eles foram encontrados decapitados. — Informou.— Maldição! — A casa estava toda revirada, pelos indícios alguém estava procurando algo, mas não sabemos o que. — Explicou. — Me mantenha informado sobre qualquer novidade — ordenei irritado. — Marta, faça um um funeral digno para essa família — falei encerrando a ligação. "No meu lugar Mattia faria o mesmo, não apenas por lealdade, mas pela amizade que construímos nesses longos anos."— O que houve, Bruno? — Questiona Henrico.— A família do falecido também está morta, Marta supôs que estavam
Bruno Castellazzo Após a chamada ser encerrada, ouço pessoas gritando, tiros, explosões e um cheiro forte de fumaça. Precisamos sair antes que o fogo alastre, imediatamente peguei minhas roupas que estavam no chão, mas antes precisava resolver um problema. — Você nunca me viu aqui, entendeu? — falei agarrando os cabelos da mulher ainda ajoelhada. Ela faz um sinal positivo com a cabeça.Rapidamente me retirei do quarto, vejo vários corpos empilhados no chão, pessoas correndo, multidão atrapalhando a saída e o fogo tomando conta. — Bruno, finalmente o encontrei — falou Henrico preocupado.— Vamos sair pelos fundos — disse indicando o caminho. Saímos pelos fundos rapidamente, Henrico sempre é responsável por fazer as análises dos lugares que frequentamos. Se algo do tipo acontecer, sabemos onde estão as saídas de emergências ou saídas secretas. Quando chegamos ao carro, notei uma rosa
Bruno Castellazzo A localização que foi informada ficava bastante afastada da cidade, gastamos em média duas horas para chegar na propriedade. As estradas estavam todas esburacadas e de difícil acesso, suponho que não moravam habitantes próximos naquele lugar, pelos arredores enxergamos muita vegetação e no meio de todo esse matagal encontramos uma imensa casa que se encontrava num estado deplorável. Apenas faço um sinal para que meus homens desçescessem e se espalhassem para saber se não fomos vítimas de alguma emboscada. Depois de uma rápida revista, Leonardo sinalizou para que pudéssemos entrar dentro da casa sem sermos pegos de surpresa. Entramos na casa, meus homens foram na frente fazendo um cerco ao meu redor. Fomos surpreendidos por um cheiro forte de algo podre, marcas de sangue estavam espalhadas pelo chão. — Chefe, precisa ver isso. — Leonardo gritou do segundo andar. Subo a
Aurora Lancellotti Horas antes Gustavo não permitiu ir trabalhar, disse com aquela voz arrogante que queria uma mulher elegante e sorridente ao seu lado e não uma morta viva, então me levou direto para um dos melhores salões de beleza da cidade. — Você está lindíssima — comentou a maquiadora. Agradeço em um sorriso simpático, mesmo não me encontrando em um bom humor.Quando ela virou a cadeira giratória para o espelho, arregalei os olhos, mas não porque estava feia, e sim porque estava incrível. Meus olhos azuis estavam realçados num tom dourado e castanho e meus lábios estavam pintados de vermelhos, os cabelos estavam em cachos. Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz aveludada. — Querida, seu namorado tem sorte de ter uma mulher tão bonita — falou a maquiadora que Gustavo havia trocado algumas palavras antes de sair. Fiquei envergonhada pelo seu comentário, pois eu e Gustavo não éramos namorad
Bruno Castellazzo Seus olhos estavam fixos ao meu, o semblante carregado de puro pavor, mesmo de longe, observei uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto. Meus lábios curvaram num sorriso sarcástico, rapidamente, a garota desviou o olhar e seguiu para dentro do hotel acompanhada de um homem. Não pude deixar de notar as mãos possessivas envoltas da sua cintura. Senti uma sensação incomum no meu peito. Enquanto permanecia do lado de fora, observando o casal, uma mistura de emoções me invadiu. O sorriso sarcástico que se formou em meus lábios foi substituído por uma sensação de vazio.Ouvia vozes chamando pelo meu nome, ao mesmo tempo, em que flashes de luz eram disparados em meu rosto, ofuscando minha visão. Respirei fundo para não matar cada um desses imbecis e, aos poucos, recuperei minha visão. Estava tão perdido em meus pensamentos que não percebi a aproximação dos paparazzi. Eu acenei de fo
Bruno Castellazzo Meus olhos encontraram os dele, e um jogo silencioso de olhares começou a se desenrolar. Havia um desafio latente entre nós, uma tensão palpável que preenchia o ar. Eu sabia que ele era o acompanhante da garota, e pela sua expressão deixava claro que ele não gostava da minha presença perto dela.Enquanto ele se aproximava, eu me mantinha imóvel, exibindo um sorriso de superioridade. Ele estava claramente tentando me intimidar, mas não seria tão fácil assim. Eu era um Castellazzo, um homem acostumado a lidar com ameaças e a superá-las com maestria.— Parece que interrompendo um momento interessante aqui, não é mesmo? — disse ele, com uma voz carregada de desdém para a menina. A garota olhou para mim com um semblante assustado. Rapidamente, respondi: — Apenas puxei um assunto inusitado com a senhorita. Nada de mais. — Minha voz era calma e controlada, transmitindo confiança.Ele estreitou os olhos, tentando me
Bruno Castellazzo A urgência em sua voz deixava claro que não podíamos perder tempo. Nossas vidas estavam em perigo, e era crucial agir com determinação e eficiência.Apesar do meu desejo de ficar e proteger a garota, eu sabia que não poderia me permitir sucumbir a esse impulso. A situação era perigosa demais, tanto para as pessoas ao meu redor quanto para a própria garota. — Vamos, Henrico. Não podemos correr riscos. Me leve até um lugar seguro e informe a equipe de segurança. Henrico assentiu, saímos rapidamente do salão, evitando chamar a atenção. Nossa prioridade era a nossa segurança, e eu faria o que fosse necessário para proteger aqueles que estavam sob minha responsabilidade.Antes de sair, dei uma última olhada na garota, deixando para trás um sentimento confuso que eu jamais havia experimentado antes.Na verdade, já havia experimentado esse sentimento antes, e uma sensação de vazio se alastrou em meu peito, causando