Capítulo - 4

Aurora Lancelotti

Acordo com o maldito toque do celular. Me esforço para abrir os olhos em meio aos raios de sol que entravam pela janela.

Pego o celular e vejo o nome do Gustavo. Não acredito que aquele infeliz esteja me ligando antes das oito no dia do meu aniversário.

Penso em rejeitar a chamada, mas recordo da nossa última conversa. Senti raiva, muita raiva, afinal aquele maldito estava me chantageando.

Sem mais delongas atendo o celular e com a voz dominada de sono digo:

— Gustavo, o que quer? Esqueceu que você me deu folga hoje?

— Não, mas surgiu um assunto de última hora e quero que resolva. Depois pode voltar para sua casa e ficar com a sua mãe e a sua irmã. Mas agora quero que venha para a joalheria imediatamente.

— Mas não são nem oito horas! — reclamo.

— Você não deveria reclamar. Pelo contrário, deveria dar graças a Deus por ter um emprego. Agora se arrume, meu motorista está a caminho.

— Não quero seu motorista. Posso ir de metrô.

— digo irritada.

— Aurora, já chega! Estou ficando farto das suas frescuras. Você deveria dar graças a Deus por ter um emprego ao meu lado e ainda por cima por despertar meu interesse, mas o que você faz é ficar bancando a difícil. Porém não se preocupe que hoje o que quero de você é extremamente profissional. Preciso que leve um colar de diamantes até o hotel Palace imediatamente. Essa joia tem que estar lá até às dez, se trata de um presente da governadora para a mãe dela.

— Meus olhos se arregalaram em choque, uma mulher no poder. Uau! Mas a voz irritante do Gustavo continua me incomodando e fazendo chantagens. — Agora se você vai ficar de palhaçada pode esquecer seu emprego.

Irritada respondo:

— Tudo bem senhor, farei o que está mandando.

Antes que aquele filho da puta dissesse mais uma palavra desliguei o telefone.

Assim que encerro a ligação Laura vem até minha cama entusiasmada e diz:

— É evidente que ele gosta de você. Não sei por que resiste tanto — disse sorrindo maldosa.

— Por que ele não me atrai. Mas já que você o acha um deus grego deveria investir e ficar com ele.

— Faria isso se ele não tivesse olhos apenas pra você — diz revirando os olhos. — Por que não dá uma oportunidade? Se vocês dessem certo, mamãe e eu não precisaríamos trabalhar tanto.

— Laura, não pretendo passar a minha vida dependendo de um homem. Você sabe que em breve vou para a Itália e esse é o único motivo pelo qual trabalho para aquele maldito. Agora vamos parar de falar dele. Preciso tomar um banho e me arrumar. Vou ter que ir até o Palace entregar uma joia para a governadora.

— Aposto que isso não passa de uma história que ele inventou para te ter por perto. Ele parece tão romântico. — Laura curvou os lábios num sorriso.

— Laura, por favor, já chega de ficar criando coisas. Vou repetir pela milésima vez e espero que dessa vez você aprenda. Entre o Gustavo e eu nunca vai acontecer nada. Não me importo com o quanto ele pode me dar, simplesmente não tenho nenhum tipo de atração por ele. — Sua expressão endureceu.

— Está bem, não vou falar mais nada.

— Disse insatisfeita voltando para sua cama.

Levanto e vou em direção ao banheiro. Escovo meus dentes e vou para o banho e logo após começo a me vestir.

O Palace é um dos melhores hotéis da cidade, por isso opto por um vestido azul levemente rodado que vai até a altura dos joelhos e um scarpin nude. Assim que estou vestida começo a fazer uma leve maquiagem e para finalizar coloco os brincos e a gargantilha de ouro em formato coração que ganhei da minha mãe quando fiz quinze anos.

Recordações invadem minha memória, foi nesse momento que passei a ter curiosidade pela forma que as jóias eram produzidas, conforme comecei a pesquisar me apaixonei por cada detalhe do mundo das joias e foi aí que decidi qual caminho trilhar.

Assim que saio do meu quarto me deparo com minha mãe no corredor dizendo:

— Parabéns meu amor! Você está linda. Mas por que levantou-se tão cedo no dia do seu aniversário? — diz, levantando uma das sobrancelhas esperando uma resposta.

— O infeliz do Gustavo quer que eu vá trabalhar — digo choramingando.

— Não fale assim dele. O Gustavo é uma ótima pessoa. Se a chamou é porque precisa de você.

A forma que minha mãe e minha irmã idolatram Gustavo me deixava enjoada. Antes que eu respondesse ouço a buzina do carro. Dou um beijo em minha mãe e digo:

— Tenho que ir. Assim que terminar o trabalho eu volto para casa. Te amo.

— Te Amo.

───※ ·❆· ​​※───

Seguimos o nosso percurso em silêncio até a joalheria. Gustavo se encontra na entrada das grandes portas giratórias com seus olhos frios vidrados em mim. Observo se aproximando do carro segurando uma das sacolas sofisticadas da joalheria. Ele se aproxima abrindo a porta do passageiro carregando um sorriso malicioso nos lábios e me entrega a sacola. Logo se adianta passando algumas informações sustentando o olhar em meus lábios. Idiota!

— Quando chegar diga o seu nome na recepção, eles já sabem que está a caminho. E vão acompanhá-la para onde a governadora Natalia Miller se encontra — afirma, deixando um rastro de perfume amadeirado que me causa a**o.

Antes de eu responder algo Gustavo se afasta fechando a porta rapidamente e acenando para o motorista partir. Percebo um comboio de sedãs enfileirados saindo logo atrás de nós. São os seguranças dele nos escoltando até o hotel. Mas não é para menos, essa joia vale milhões.

Seguimos pelas ruas, fiquei olhando a cidade através da janela. Nossa! Os lugares são incríveis. Tão diferente das ruas de Bronx. Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos, esse não é o momento para pensar bobagens.

Saio dos meus pensamentos assim que sinto a velocidade do carro diminuir estacionando próximo a um edifício. Uau! Fico abismada com tanto luxo.

— Chegamos, senhorita. — disse o motorista me indicando o caminho.

Sai em passos rápidos em direção ao hotel. Já sinto um pequeno filete de suor se formando em minha testa.

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