Aurora Lancelotti
Acordo com o maldito toque do celular. Me esforço para abrir os olhos em meio aos raios de sol que entravam pela janela.Pego o celular e vejo o nome do Gustavo. Não acredito que aquele infeliz esteja me ligando antes das oito no dia do meu aniversário.Penso em rejeitar a chamada, mas recordo da nossa última conversa. Senti raiva, muita raiva, afinal aquele maldito estava me chantageando.Sem mais delongas atendo o celular e com a voz dominada de sono digo:— Gustavo, o que quer? Esqueceu que você me deu folga hoje?— Não, mas surgiu um assunto de última hora e quero que resolva. Depois pode voltar para sua casa e ficar com a sua mãe e a sua irmã. Mas agora quero que venha para a joalheria imediatamente.— Mas não são nem oito horas! — reclamo.— Você não deveria reclamar. Pelo contrário, deveria dar graças a Deus por ter um emprego. Agora se arrume, meu motorista está a caminho.— Não quero seu motorista. Posso ir de metrô.— digo irritada.— Aurora, já chega! Estou ficando farto das suas frescuras. Você deveria dar graças a Deus por ter um emprego ao meu lado e ainda por cima por despertar meu interesse, mas o que você faz é ficar bancando a difícil. Porém não se preocupe que hoje o que quero de você é extremamente profissional. Preciso que leve um colar de diamantes até o hotel Palace imediatamente. Essa joia tem que estar lá até às dez, se trata de um presente da governadora para a mãe dela.— Meus olhos se arregalaram em choque, uma mulher no poder. Uau! Mas a voz irritante do Gustavo continua me incomodando e fazendo chantagens. — Agora se você vai ficar de palhaçada pode esquecer seu emprego.Irritada respondo:— Tudo bem senhor, farei o que está mandando.Antes que aquele filho da puta dissesse mais uma palavra desliguei o telefone.Assim que encerro a ligação Laura vem até minha cama entusiasmada e diz:— É evidente que ele gosta de você. Não sei por que resiste tanto — disse sorrindo maldosa.— Por que ele não me atrai. Mas já que você o acha um deus grego deveria investir e ficar com ele.— Faria isso se ele não tivesse olhos apenas pra você — diz revirando os olhos. — Por que não dá uma oportunidade? Se vocês dessem certo, mamãe e eu não precisaríamos trabalhar tanto.— Laura, não pretendo passar a minha vida dependendo de um homem. Você sabe que em breve vou para a Itália e esse é o único motivo pelo qual trabalho para aquele maldito. Agora vamos parar de falar dele. Preciso tomar um banho e me arrumar. Vou ter que ir até o Palace entregar uma joia para a governadora.— Aposto que isso não passa de uma história que ele inventou para te ter por perto. Ele parece tão romântico. — Laura curvou os lábios num sorriso.— Laura, por favor, já chega de ficar criando coisas. Vou repetir pela milésima vez e espero que dessa vez você aprenda. Entre o Gustavo e eu nunca vai acontecer nada. Não me importo com o quanto ele pode me dar, simplesmente não tenho nenhum tipo de atração por ele. — Sua expressão endureceu.— Está bem, não vou falar mais nada.— Disse insatisfeita voltando para sua cama.Levanto e vou em direção ao banheiro. Escovo meus dentes e vou para o banho e logo após começo a me vestir.O Palace é um dos melhores hotéis da cidade, por isso opto por um vestido azul levemente rodado que vai até a altura dos joelhos e um scarpin nude. Assim que estou vestida começo a fazer uma leve maquiagem e para finalizar coloco os brincos e a gargantilha de ouro em formato coração que ganhei da minha mãe quando fiz quinze anos.Recordações invadem minha memória, foi nesse momento que passei a ter curiosidade pela forma que as jóias eram produzidas, conforme comecei a pesquisar me apaixonei por cada detalhe do mundo das joias e foi aí que decidi qual caminho trilhar.Assim que saio do meu quarto me deparo com minha mãe no corredor dizendo:— Parabéns meu amor! Você está linda. Mas por que levantou-se tão cedo no dia do seu aniversário? — diz, levantando uma das sobrancelhas esperando uma resposta.— O infeliz do Gustavo quer que eu vá trabalhar — digo choramingando.— Não fale assim dele. O Gustavo é uma ótima pessoa. Se a chamou é porque precisa de você.A forma que minha mãe e minha irmã idolatram Gustavo me deixava enjoada. Antes que eu respondesse ouço a buzina do carro. Dou um beijo em minha mãe e digo:— Tenho que ir. Assim que terminar o trabalho eu volto para casa. Te amo.— Te Amo. ───※ ·❆· ※───Seguimos o nosso percurso em silêncio até a joalheria. Gustavo se encontra na entrada das grandes portas giratórias com seus olhos frios vidrados em mim. Observo se aproximando do carro segurando uma das sacolas sofisticadas da joalheria. Ele se aproxima abrindo a porta do passageiro carregando um sorriso malicioso nos lábios e me entrega a sacola. Logo se adianta passando algumas informações sustentando o olhar em meus lábios. Idiota!— Quando chegar diga o seu nome na recepção, eles já sabem que está a caminho. E vão acompanhá-la para onde a governadora Natalia Miller se encontra — afirma, deixando um rastro de perfume amadeirado que me causa a**o.Antes de eu responder algo Gustavo se afasta fechando a porta rapidamente e acenando para o motorista partir. Percebo um comboio de sedãs enfileirados saindo logo atrás de nós. São os seguranças dele nos escoltando até o hotel. Mas não é para menos, essa joia vale milhões.Seguimos pelas ruas, fiquei olhando a cidade através da janela. Nossa! Os lugares são incríveis. Tão diferente das ruas de Bronx. Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos, esse não é o momento para pensar bobagens.Saio dos meus pensamentos assim que sinto a velocidade do carro diminuir estacionando próximo a um edifício. Uau! Fico abismada com tanto luxo.— Chegamos, senhorita. — disse o motorista me indicando o caminho.Sai em passos rápidos em direção ao hotel. Já sinto um pequeno filete de suor se formando em minha testa.Aurora Lancellotti Entrando no jardim do edifício sinto meu coração bater descompassado de tanta emoção nem mesmo em sonhos poderia imaginar estar dentro dos pouquíssimos hotéis tradicionais e luxuosos de New York. O edifício tem uma aparência da década de 1970, um estilo romano-renascentista, uma obra de arte. Estou deslumbrada pela paisagem inebriante.Ouço alguém resmungar atrás de mim fazendo-me virar assustada, estou tão distraída olhando ao redor que não prestei atenção que atrapalhava as pessoas passarem. Peço educadamente desculpas para o casal que me encara. Eles apenas seguem caminhando ignorando totalmente meu pedido de desculpas. Que arrogância, credo! Após um breve momento cheguei na recepção.E como era de se esperar o lugar é impecável. Uma das recepcionista sorri e logo diz suave: — Seja bem-vinda ao hotel Palace, em que posso ajudar? — perguntou num sorriso simpático.Dou um suspiro para respondê-la, evitando assim tropeçar nas próp
Bruno Castellazzo (..)Ando devagar pelos corredores do calabouço, o cheiro de podridão arde em meu nariz. Tento manter meu rosto sem expressão, mas o pavor toma conta do meu rosto assim que escuto gritos ecoando pelo corredor. O calabouço é o lugar preferido de papá⁴ para me torturar, seja fisicamente ou psicologicamente. Ouço gargalhadas cruéis vindo do Consigliere⁵ do papá, ele ri do meu medo. Salvatore Ricci é tão cruel como Domenico Castellazzo. Quando chegamos ao final do corredor vejo papá com um sorriso diabólico nos lábios enquanto alguns seguranças estão espalhados na sala. — Entre — ordena papá. — Quando estou passando pelas portas um chute me lança para dentro, me fazendo cair de joelhos em seus pés.— Agindo como uma ragazza⁶, nunca será um Castellazzo. — Papá cospe no meu rosto com a expressão enfurecida. — Papá. — Não tive tempo de terminar a frase, um tapa tão forte arder em meu rosto. Sua voz cruel atinge meus ouvidos me fazendo arrepiar.— Cala a boca moleque. Não
Bruno Castellazzo Após o ocorrido estou a espera pela investigação que Leonardo chefe da minha segurança ficou de fazer. E eu não gostava de esperar, não quando se tratava de algo tão importante. Meu celular dispara ao tocar, rapidamente atendo.— Ussicore, não conseguimos chegar antes na propriedade onde a esposa e os filhos do Mattia moravam. Eles foram encontrados decapitados. — Informou.— Maldição! — A casa estava toda revirada, pelos indícios alguém estava procurando algo, mas não sabemos o que. — Explicou. — Me mantenha informado sobre qualquer novidade — ordenei irritado. — Marta, faça um um funeral digno para essa família — falei encerrando a ligação. "No meu lugar Mattia faria o mesmo, não apenas por lealdade, mas pela amizade que construímos nesses longos anos."— O que houve, Bruno? — Questiona Henrico.— A família do falecido também está morta, Marta supôs que estavam
Bruno Castellazzo Após a chamada ser encerrada, ouço pessoas gritando, tiros, explosões e um cheiro forte de fumaça. Precisamos sair antes que o fogo alastre, imediatamente peguei minhas roupas que estavam no chão, mas antes precisava resolver um problema. — Você nunca me viu aqui, entendeu? — falei agarrando os cabelos da mulher ainda ajoelhada. Ela faz um sinal positivo com a cabeça.Rapidamente me retirei do quarto, vejo vários corpos empilhados no chão, pessoas correndo, multidão atrapalhando a saída e o fogo tomando conta. — Bruno, finalmente o encontrei — falou Henrico preocupado.— Vamos sair pelos fundos — disse indicando o caminho. Saímos pelos fundos rapidamente, Henrico sempre é responsável por fazer as análises dos lugares que frequentamos. Se algo do tipo acontecer, sabemos onde estão as saídas de emergências ou saídas secretas. Quando chegamos ao carro, notei uma rosa
Bruno Castellazzo A localização que foi informada ficava bastante afastada da cidade, gastamos em média duas horas para chegar na propriedade. As estradas estavam todas esburacadas e de difícil acesso, suponho que não moravam habitantes próximos naquele lugar, pelos arredores enxergamos muita vegetação e no meio de todo esse matagal encontramos uma imensa casa que se encontrava num estado deplorável. Apenas faço um sinal para que meus homens desçescessem e se espalhassem para saber se não fomos vítimas de alguma emboscada. Depois de uma rápida revista, Leonardo sinalizou para que pudéssemos entrar dentro da casa sem sermos pegos de surpresa. Entramos na casa, meus homens foram na frente fazendo um cerco ao meu redor. Fomos surpreendidos por um cheiro forte de algo podre, marcas de sangue estavam espalhadas pelo chão. — Chefe, precisa ver isso. — Leonardo gritou do segundo andar. Subo a
Aurora Lancellotti Horas antes Gustavo não permitiu ir trabalhar, disse com aquela voz arrogante que queria uma mulher elegante e sorridente ao seu lado e não uma morta viva, então me levou direto para um dos melhores salões de beleza da cidade. — Você está lindíssima — comentou a maquiadora. Agradeço em um sorriso simpático, mesmo não me encontrando em um bom humor.Quando ela virou a cadeira giratória para o espelho, arregalei os olhos, mas não porque estava feia, e sim porque estava incrível. Meus olhos azuis estavam realçados num tom dourado e castanho e meus lábios estavam pintados de vermelhos, os cabelos estavam em cachos. Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz aveludada. — Querida, seu namorado tem sorte de ter uma mulher tão bonita — falou a maquiadora que Gustavo havia trocado algumas palavras antes de sair. Fiquei envergonhada pelo seu comentário, pois eu e Gustavo não éramos namorad
Bruno Castellazzo Seus olhos estavam fixos ao meu, o semblante carregado de puro pavor, mesmo de longe, observei uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto. Meus lábios curvaram num sorriso sarcástico, rapidamente, a garota desviou o olhar e seguiu para dentro do hotel acompanhada de um homem. Não pude deixar de notar as mãos possessivas envoltas da sua cintura. Senti uma sensação incomum no meu peito. Enquanto permanecia do lado de fora, observando o casal, uma mistura de emoções me invadiu. O sorriso sarcástico que se formou em meus lábios foi substituído por uma sensação de vazio.Ouvia vozes chamando pelo meu nome, ao mesmo tempo, em que flashes de luz eram disparados em meu rosto, ofuscando minha visão. Respirei fundo para não matar cada um desses imbecis e, aos poucos, recuperei minha visão. Estava tão perdido em meus pensamentos que não percebi a aproximação dos paparazzi. Eu acenei de fo
Bruno Castellazzo Meus olhos encontraram os dele, e um jogo silencioso de olhares começou a se desenrolar. Havia um desafio latente entre nós, uma tensão palpável que preenchia o ar. Eu sabia que ele era o acompanhante da garota, e pela sua expressão deixava claro que ele não gostava da minha presença perto dela.Enquanto ele se aproximava, eu me mantinha imóvel, exibindo um sorriso de superioridade. Ele estava claramente tentando me intimidar, mas não seria tão fácil assim. Eu era um Castellazzo, um homem acostumado a lidar com ameaças e a superá-las com maestria.— Parece que interrompendo um momento interessante aqui, não é mesmo? — disse ele, com uma voz carregada de desdém para a menina. A garota olhou para mim com um semblante assustado. Rapidamente, respondi: — Apenas puxei um assunto inusitado com a senhorita. Nada de mais. — Minha voz era calma e controlada, transmitindo confiança.Ele estreitou os olhos, tentando me