Capítulo 5

Ao contrário do que muitos pensam, no seu caso, a morte não veio acompanhada da paz eterna. Acredita-se que o que aconteceu com ela foi nada mais do que um engano. Ela não deveria usar aquelas roupas pesadas, não queria ficar apertada em um espartilho, era doloroso, e os sapatos quase arrancaram seu pé fora.

Em contra do que possa parecer, ela sente falta de sua antiga vida, até mesmo de seus pais, embora tenham se visto pouco e tenha ouvido eles brigarem muito. No entanto, para questões de sobrevivência, ela teria que se adaptar. Não era fácil deixar o passado para trás, e isso repercutiu em como ela andava e se portava, o que causou muita estranheza a todos ao seu redor.

Não obstante, em algum momento, durante esses poucos dias em que ela se encontrava naquele corpo e naquele mundo, ela sentiu que de alguma forma, Angelina e ela se tornaram uma. O que restou da alma de Angelina foi unificado a ela e a aquele corpo. Ela pôde conhecê-la, obter suas lembranças e, assim, compreender a estranheza de todos diante de suas mudanças.

De fato, a queda do cavalo causou a morte prematura da jovem dama.

Era um dia de sol, fresco e quente, Angelina, a nova Angelina, andava constantemente de um lado para outro, impaciente.

Havia recebido uma carta do Grêmio, e eles obtiveram informação que o príncipe possuía não uma, mas três amantes, filhas de ricos e influentes nobres. Não era para menos que ela estivesse sentindo a cabeça tão pesada, a coroa do corno era grande.

Mas quem dera que seu par de chifres fosse o motivo de tanta preocupação, não ela se encontrava ansiosa, pois não havia recebido uma resposta do duque do Norte, se encontrava impaciente, seu pai logo levaria ao Rei a Petição para o rompimento do noivado, claro que as informações das traições do príncipe contribuíram ainda mais para a convicção de seu pai que era uma ótima ideia terminar aquele noivado.  Mas antes que a bomba explodisse para todos os lados, ela devia estar longe.

— Angel, minha filha,por favor, pare de andar assim de um lado para outro, fará um buraco em nosso jardim.

Seu coração parou, Angelina ergueu os olhos e viu a sua mãe Emiliette Francine Bryston, uma mulher jovem para seus 46 anos, a mesma trajava uma armadura e possuía uma espada em mãos, seus cabelos estavam presos em um coque trançado.

A jovem correu até ela e a abraçou.

— Mamãe, que voltou.

A matriarca da família Bryston que teve que partir em missão ordenada pelo rei, logo após sua filha acordar, acariciava seus cabelos com júbilo.

— Minha filha, como poderia deixá-la sozinha? Seu pai me informou se sua decisão, devo dizer que fiquei surpresa, mas sempre te apoiarei meu bebê. — ela ergueu o rosta da filha em mãos e sorriu. — Você e seus irmãos são os nossos bens mais preciosos, sempre iremos lutar por vocês, e eu estou louca para chutar a bunda daquele infeliz do príncipe.

— Mamãe! — a jovem riu.

A dupla de mãe e filha era um colírio para os olhos, cujo ao qual mantiveram o duque longe admirando, mas ele tinha em mãos provavelmente a carta que sua filha tanto esperava receber e não tinha outra escolha a não levar a ela. Sendo assim, ele fez um ruído limpando a garganta, para anunciar sua proximidade e caminhou até as duas.

— Que bom que se encontram, sua mãe nem a mim veio ver. — ele bufou — Ao que parece nossa filha é mais importante que esses patife homem que sou, dono de casa. — brincou.

A matriarca foi até o mesmo e o beijou.

— Senti sua falta, mas nossa filha era a pessoa que eu mais precisava conversar no momento.

Ambos dirigiram seu olhar para a jovem.

— Angel, acredito que esteja na hora de você voltar a comparecer a eventos sociais. — disse sua mãe.

— Por este motivo, seu pai e eu. — a matriarca dirigiu um olhar ao marido e sorriu complice. — Aceitamos o convite de lady Sophia por você.

“Quem pombas e lady Sophia????” — pensou desesperada, a ponto de infarto.

— Sabemos que você provavelmente não se lembra de Sophia, filha do barão de Showard. Vocês eram boas amigas antes de… bem, você sabe.

Showard, ela já tinha visto este nome em algum lugar, e como um tiro, se lembrou Sophie Showard, uma das amantes do príncipe e pelo visto uma das melhores amigas da antiga Angelina.

Uma ideia maquiavélica surgiu em sua mente, ela não pode deixar de sorrir.

— Claro, será bom que eu tenha conexões, talvez…. eu consiga ter minhas lembranças de volta.

— Minha filha, sempre vamos estar aqui para você, lembre-se de nós ou não. — sua mãe sorriu para ela.

— Ah, sim. — seu pai se pronunciou. — Recebemos uma resposta do grã-duque. — ele estendeu o envelope para sua filha. — Está endereçada a você.

O coração da moça pulou algumas batidas antes que ela pegasse a carta em suas mãos. Seus dedos passaram por cima do envelope, sentindo a textura do nobre papel, e por cima do selo, onde continha um lobo e duas espadas cruzadas. Seu coração temia uma resposta negativa e sua mente ansiava por uma positiva.

Enquanto tomava coragem para abrir e ler, seus pais se retiraram silenciosamente para que ela não se sentisse pressionada e tivesse seu momento privado.

Sem mais pensar e esperar, Angelina rompeu o lacre do selo e desdobrou a carta.

“Jovem lady Angelina,

Confesso que a princípio sua carta me surpreendeu. Vir ao Norte não é algo que uma dama como você faria se o motivo não fosse fugir de algo ou alguém.

Espero que possamos nos encontrar, esta noite, no Talula Table, desejo saber como conseguiu tal informação.

Ali te darei minha resposta.

Respeitosamente,

Calix Iseid Graham.”

Um homem de poucas palavras, ela admitiu, mas de tudo que foi dito, nenhuma das partes era a resposta que esperava, ela teria que ir até a taverna do grêmio para se encontrar com ele, essa a parte mais estranha, de tantos lugares, porque ali? E por que ele havia saído dos seus territórios para ir até a capital? E o que ela diria a ele? Deveria mentir? Eram apenas essas perguntas, que lhe atormentavam sua cabeça. — suspiro — Ela teria que agir e logo.

Havia tanto o que fazer, era tanta confusão, que ela começou a se arrepender de não ter tido uma morte normal.

— Mas que… — ela conteve a vontade de xingar.

Enquanto se remoía em suspiros, remorsos e pensava em uma saída da confusão que havia se metido, batidas soaram em sua porta, após a autorização sua criada pessoa, Noahlin, entrou e fez uma breve reverência.

Ela trazia em suas mãos um buquê de rosas vermelhas.

— Minha dama, sua alteza enviou este presente para vossa senhoria.

— Jogue-o fora.

— Acredito que lhe interessaria saber que informou que fará uma visita ainda hoje para saber como está.

Angelina olhou para o buquê, foi até ele e pegou um bilhete que ali estava. No mesmo, em uma caligrafia bonita e fina continha os seguintes dizeres:

Amada Angel, ela quase vomitou.

Sinto-me triste por não ter recebido meus presentes da última vez. Mas entendo seus motivos, não fui um noivo a sua altura e fui tão pouco condescendente que não a visitei quando estava em mal momento. Mesmo sendo tarde, gostaria de corrigir meu erro.

Estarei indo a sua residência hoje às 15 horas, para que possamos tomar chá e nos tornar mais próximos.

Carinhosamente,

Karl Ulrich Emont, seu noivo.”

— Rápido! — ela disse se levantando e indo até o guarda roupa. — precisamos estar fora de casa o mais depressa possível!

A criada largou o buquê no chão e correu até sua dama para ajudá-la a escolher um vestido e se vestir.

— Para onde vamos minha dama?

— Para qualquer lugar onde aquele salafrário não me encontre. — ela disse, começando a se despir. — Chame uma criada e diga para avisar aos meus pais que estou de saída e para que preparem uma carruagem.

E foi em questão de dez minutos, ela já estava indo para fora de sua residência e como se fosse o destino, as carruagens da família Bryston e da família real não se encontraram no caminho, pois pouco depois que partiram o príncipe chegou, trazendo consigo diversos presentes.

Claro, Angelina não podia adivinhar que por pouco conseguiu escapar de um confronto, mas sabia que não poderia evitá-lo para sempre, uma hora teriam que estar frente a frente.

A carruagem entrou nas ruas movimentadas, próximo ao centro comercial, e ali a dama e a criada desceram.

Era a primeira vez que Alice, como Angelina,pisava na cidade, tirando a noite em que foi se encontrar com grêmio, quando mal podia observar ao seu redor, agora, podia ver com precisão todo o local, iluminado pela luz do sol.

A cidade era esplendorosa, tudo era colorido, se podia ouvir vozes de vendedores de ruas vendendo suas mercadorias, crianças correndo, mulheres rindo.

Era tão diferente da atualidade, ali tudo era livre. Ela respirou fundo, inalando o ar puro, e imediatamente se sentiu melhor.

— Onde deseja ir dama?

— Sempre… quer dizer, vamos a uma pâtisserie.

— Claro, gostaria que a levasse a que era sua favorita?

— Sim, por favor! — ela disse e tomou as mãos da criada nas suas.

Angelina parecia uma criança que acabara de descobrir algo novo, não que não fosse, a vida no século XIX era, obviamente, diferente do século XXI.

Elas estavam sentadas em uma pequena mesa em um interior verde e branco da pastelaria, enquanto se deliciava com uma deliciosa torta de framboesas, simplesmente deliciosa e olhava as ruas movimentadas.

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