ANGELINA
ANGELINA
Por: Dominic Davilin
Capítulo 1

Alice escutava atentamente o que o reitor da universidade estava dizendo. Não que ela se importasse muito, nunca foi de sua vontade cursar direito, tão pouco ficar limitada a uma pilha de contratos, ou em um tribunal de justiça tentando defender um criminoso. Em outros casos poderia ser que ela estivesse ali, para defender uma pequena causa de processo relacionado a um aluguel não pago por seis meses. 

Não. sempre desejou fazer coisas a mais. ficar presa em um escritório cuidado de problemas dos outros, não era o que ela desejava. Mas seus pais, dois grandes e renomados advogados da cidade Y, desejavam que ela traçasse os mesmos passos que eles, ambos criminalistas, já se enfrentaram diversas vezes no tribunal, Alice até suspeitava que isso foi o que provavelmente levou o casamento deles ao fim, não só isso, uma das séries de fatores serviu de influência para o divórcio 

As pessoas eram assim. Não! 

O reitor a minha frente era um exemplo. Apenas ele e aqueles a quem ele passou por cima, poderiam dizer o que foi passado, ninguém é cem por cento bom ou cem por cento mal. Acredito que há uma média, a pessoa pode ser oitenta por cento boa, mas vinte por cento má, ou sessenta e sete por cento má e trinta e três por cento boa. Como aqueles que são bons apenas com os animais. 

Quando a palestra de boas-vindas e instrutora termina, todos saem do auditório. Alice sacou seu celular de sua bolsa e o ligou, a tela antes escura, brilhou com a logo e o modelo do aparelho brilhando. Antes de entrar foi orientado que todos desligassem os celulares para que não lhe fossem causar distrações, ela o fez, mas não esperava que teriam mais de dez ligações perdidas de seus pais e cerca de quarenta e três mensagens não lidas, de cada um. Ela já desconfiava do que poderia se tratar, eles nunca se resolviam, mesmo após o divórcio estavam sempre brigando. 

Ela resolveu que não lhes daria atenção agora. Já se sentia cansada e esgotada apenas de imaginar a situação desgastante que ocorreria após ligar ou responder uma mensagem, de um dos dois. Mas parecia que eles possuíam um rastreador nela, pois antes que pudesse se esquivar, outra mensagem apareceu. 

Mãe: Já saiu?

Mãe: O seu pai está…

Por ler a mensagem pela barra de notificações não conseguiu ler o restante, ela apenas suspirou e arrastou para o lado, descartando-as. Em contrapartida, ela abriu o aplicativo de livros, ao qual continha sua história favorita nos últimos tempos “A rosa-branca”.       Ela se encontrava havida para ler aquela história. Estava na metade e rezava para que as duas mulheres parassem de brigar, e que o Grande e majestoso duque saísse do livro para comê-la. Mas era apenas um sonho, o Duque era maravilhoso, ele sim deveria ser o personagem principal, não o príncipe herdeiro que era uma pessoa que se existisse, ela teria batido duas vezes em sua cara. 

Ela estava em uma parte quente no livro, onde o protagonista masculino havia sido envenenado com algum tipo de afrodisíaco pela vilã. Ela iria meter-se em seu quarto para que ele fosse forçado a casar-se com ela, mas ele a expulsou, como estava planejado que Lili os encontrasse, esqueceram de avisá-la.

 Alice ficou com vergonha de que alguém a visse lendo tal coisa, que abaixou mais a cabeça, e apressou-se para atravessar a rua. 

Seu celular começou a vibrar constantemente, e os pop UP da mensagem apareceram no topo da tela, seus pais, novamente. Ela suspirou, mas não esperava que um carro ultrapassasse o sinal vermelho e batesse nela, ela sentiu extrema dor, seu corpo foi lançado alguns metros a frente, seu celular caiu a sua frente. Nas notificações, o nome “mãe” brilhava intensamente. Uma lágrima escorreu por seu rosto pálido e caiu no asfalto frio. Ela deseja ter sido uma boa filha, uma melhor, se ela tivesse outra chance. Teria feito aquilo que desejava, talvez este tivesse sido seu maior arrependimento, não poder ser quem realmente era, mas ainda assim, dar orgulho aos seus pais. 

***

A primeira coisa que sentiu ao recobrar sua consciência, foi uma extrema dor, como se todos seus ossos estivessem se partido e reposto, a dor do crescimento da adolescência, mas, mil vezes pior. 

O corpo da jovem já se mexeu, o que assustou e surpreendeu a jovem mulher que estava se ocupando da limpeza. Mas foi apenas quando a jovem na cama resmungou e levou a mão vagamente a testa que ela teve uma verdadeira reação. 

— SENHORITA! 

Ela correu até a jovem dama e a inspecionou, a mesma apertou os olhos, parecia não ter forças para abri-los. 

— Á-água. — ela disse fracamente. 

A criada apressou-se em ajudá-la a beber o líquido, que pareceu revitalizar a jovem. 

— Aguarde um momento, irei chamar o médico. 

Após dizer isso, saiu correndo do quarto. 

Deitada na cama, Alice não entendia o que estava acontecendo, sua cabeça doía e suas memórias estavam confusas e embaralhadas. 

Ao tentar abrir seus olhos novamente, sua visão embaçada lhe causava mais dor, mas aos poucos foi se acostumando. 

"Jovem Senhorita." Ela se lembrava de a enfermeira ter se referido a ela assim, que hospital era aquele que seus pais a haviam internado? Era algum lugar de medicina tradicional e conservadora? 

Quando as coisas começaram a se tornar mais nítidas ao seu redor, notou que a cama onde se encontrava deitada estava coberta por um dossel rosa límpido, que se encontrava atado as pilastras da cama, mas não era apenas isso, conforme seu corpo ia se adaptando ao seu despertar ela pode olhar ao redor e notou que tudo era estranho, como se estivesse em um quarto vintage em cores rosa, dourado e branco, como um quarto de princesa. 

Com um pouco de esforço ela se sentou na cama. Simultaneamente, pode ouvir passos corridos se aproximarem, quando a porta se abriu ela não pode deixar de fazer uma careta, um casal estava parado ali vestindo roupas de época em estilo ocidental, coisa de século dezenove. 

Eles aproximaram-se dela com cautela, mas ela ergueu uma mão, eles param, pois podia ver certa cisma e medo em seus olhos e rosto. 

— Onde... onde estou e quem são vocês? Por que estão se vestindo assim? Por acaso é algum evento temático? Eu... 

Antes que pudesse continuar, sua cabeça doeu, o que a fez se encolher. 

A mulher, que estava petrificada com o que ela havia dito, correu até a mesma e a abraçou

— Calma, meu amor, mamãe está aqui, tenha calma

Ela disse ao abraçá-la e deslizar sua mão pela cabeça da jovem, de alguma forma aquilo havia funcionando, a dor havia passado. O abraço da mulher era tão acolhedor que Alice não desejava sair dele. 

— Tudo vai ficar bem, o médico está chegando.

Disse e olhou o homem que ainda estava em pé, ambos continham um olhar preocupado. 

— Angelina, tudo vai ficar bem, respire minha filha. — o homem disse, sentou-se perto das duas e pôs sua mão em cima do joelho coberto da jovem. — Você é uma Bryston, vamos cuidar de você.

Quando ele disse tais palavras, Alice não pode deixar de rir, ele não poderia estar mais errado. Ela não é Angelina Bryston, este era o nome de uma personagem do livro que Alice estava lendo. Uma personagem que morreu e teve um péssimo final, ela era Alice Maltevanrra, não Angelina Bryston. 

As lembranças de seu sonho antes de acordar, vieram a sua mente. Seu sangue gelou. 

"Eu não queria isso, sabia? Por algum motivo, nós duas morremos de formas tão semelhantes... Eu não posso mais voltar, mas você pode, cuide deles para mim Alice e tenha uma boa vida, prometo que farei o melhor que poder para ajudá-la, de onde estiver." 

Essa fala ecoava em sua mente... 

Neste momento o médico apareceu e a examinou.

A jovem continuou petrificada no mesmo lugar, sem acreditar. Ela havia morrido, uma morte trágica. Mas Angelina, a personagem cujo ela havia transmigado, havia lhe dado uma chance de viver, uma vida nova, viver seus sonhos e desejos. 

Quando o médico terminou, todos saíram do quarto. Ella permaneceu em silêncio, deitada, olhando para a janela. O médico da família havia diagnosticado uma perda de memória temporária devido a queda da árvore. Todos teriam que ter paciência até que ela se recuperasse, as memórias voltariam com o tempo. Eles achavam isso, ela era a única que sabia a verdade... 

Ela se levantou da cama e a passos lentos se encaminhou até o espelho mais próximo, receosa, pois não sabia como Angelina era, nunca se havia descrito sua aparência, ela era apenas uma extra, que tinha um papel definido. E se fosse feia? E se os olhos fossem muito separados? ou o nariz muito grande e se o rosto dela fosse deformado?

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