O silêncio do quarto era sufocante.Karl estava deitado na poltrona, ainda com o rosto contraído de dor, apesar das compressas e poções aplicadas desde que fora levado de volta ao palácio. Nenhuma curandeira ousava tocar muito nas “joias reais” desde o incidente. Aparentemente, o orgulho era o órgão mais afetado.Ele apertou os olhos, lembrando da última imagem que teve dela — da noiva que antes mal ousava encará-lo, e que agora o chutara com a força de um touro enraivecido.Angelina.Não, ele pensou, ela não era mais a Angelina que ele conhecia. Aquela jovem submissa, de olhos baixos e fala doce. Agora ela falava com sarcasmo, ria de suas flores, desafiava sua autoridade... e o chutava. Literalmente.A porta se abriu, e o rei entrou sem bater. Como sempre.Karl, ainda na poltrona, endireitou-se por reflexo. Mesmo ferido, mesmo humilhado, jamais ousaria demonstrar fraqueza diante dele.Era o rei.Karl se ajeitou na poltrona, apertando os dentes para não demonstrar o desconforto físico
O sol da tarde atravessava os vitrais do salão leste, pintando o chão com cores suaves, como se o mundo lá fora não estivesse em colapso.O salão leste era um mundo à parte.Lá dentro, tudo reluzia — as janelas, os vestidos, os sorrisos. A luz do fim de tarde entrava pelos vitrais coloridos, manchando o mármore com tons suaves de rosa e dourado. As risadas eram contidas, melodiosas, como se cada palavra tivesse passado por um filtro de açúcar antes de ser dita.Ela só havia comparecido ao chá por obrigação.Na ponta da longa mesa ornamentada, a princesa servia chá com delicadeza estudada, cercada por damas jovens e ansiosas para dizer a coisa certa na hora certa.Kelliny Francis Kulrich ocupava um lugar discreto, mas visível. Como sempre.Ela era uma presença constante em eventos como aquele — nobre o bastante para estar à mesa, mas não tão importante para ser o centro dela. E isso era confortável. Preferia as sombras sutis aos holofotes falsos.Com os dedos delicados, girava a colher
O jardim ainda guardava o calor do fim da tarde, mas o ar agora estava mais denso, como se algo invisível houvesse passado por ali — e permanecido.Atrás de uma trepadeira florida, quase imperceptível, Lilibeth se encolhia.Não era por acaso que estava ali.Ela vira Kelliny sair do salão do chá com o rosto mais pálido do que o normal, passos calmos demais para uma dama em paz. Havia algo na forma como ela caminhava que alertou Lilibeth.E onde havia tensão... havia segredos.Por isso, seguiu-a.E esperou.E então, Asher apareceu.Lilibeth apertou os dedos na lateral da saia.Ela já suspeitava. Já sentia algo no ar — mas ver os dois juntos a poucos metros de distância, mesmo em uma conversa breve, foi o bastante para acender um alarme dentro dela.“Ela está bem. Mais forte do que nunca, na verdade.”A voz de Asher. Firme. Orgulhosa.Lilibeth fechou os olhos por um instante. Ela conhecia aquela voz. Já a ouvira suavizada em conselhos, dura em batalhas, serena em juras de proteção à irmã
Alice escutava atentamente o que o reitor da universidade estava dizendo. Não que ela se importasse muito, nunca foi de sua vontade cursar direito, tão pouco ficar limitada a uma pilha de contratos, ou em um tribunal de justiça tentando defender um criminoso. Em outros casos poderia ser que ela estivesse ali, para defender uma pequena causa de processo relacionado a um aluguel não pago por seis meses. Não. sempre desejou fazer coisas a mais. ficar presa em um escritório cuidado de problemas dos outros, não era o que ela desejava. Mas seus pais, dois grandes e renomados advogados da cidade Y, desejavam que ela traçasse os mesmos passos que eles, ambos criminalistas, já se enfrentaram diversas vezes no tribunal, Alice até suspeitava que isso foi o que provavelmente levou o casamento deles ao fim, não só isso, uma das séries de fatores serviu de influência para o divórcio As pessoas eram assim. Não! O reitor a minha frente era um exemplo. Apenas ele e aqueles a quem ele passou por cim
Ela levou a mão ao rosto e não sentiu nada, nenhuma deformidade. Até que chegou ao espelho e pode respirar com calma. Ela era bonita, uma beleza simples e pura. Seu rosto estava um pouco pálido, mas por ter ficado muito tempo enferma, mas em plena saúde deve ser uma beleza de cabelos castanhos consulados, rosto pequeno e redondo, olhos grandes, nariz arrebitado e lábios carnudos. Ela tinha uma testa lisa, era uma beleza normal e pura, nada do que imaginava sobre como seria era real.A porta do quarto se abriu abruptamente fazendo Alice… não, Angelina pular em um susto. Ao se virar viu um jovem alto e forte, ele era bonito, tinhas as mesmas feições que ela, mas as dele era máscula e angulosa. Porém os olhos… mesmo ao longe ela podia ver. Eles queimavam como algo que ela não poderia descrever, mas continha também, preocupação e alívio.— Angel! — disse de maneira forte e foi até ela, passando um braço sobre suas pernas e a erguendo. — O médico disse que seu corpo precisa se recuperar,
“Não, não não” — ela repetia para si mesma em desespero.Ela não queria morrer, mas parecia que a morte não desejava deixá-la em paz.— Devolva tudo, irei falar com papai.Dito isso ela correu apressadamente como se sua vida dependesse disso e dependia.— Angel, moças nobres não correm! — brincou e ambos os irmãos riram.Angelina, ergueu uma das mãos e mostrou o dedo do meio para ambos sem olhar para trás, o que os calou.— Ela anda muito ousada. — disse Luke.— Ela é a Angel, não sou eu que vou julgá-la. — respondeu o irmão.— Nem eu.Com isso colocaram as mãos no bolso e se encaminharam para o jardim da frente, onde os criados do príncipe esperavam para entregar os presentes à jovem dama.Enquanto isso, Angelina foi até o escritório de seu pai e entrou sem bater.Duque Bryston ao ver a face branca e desesperada de sua filha, levantou-se e foi até a mesma para ampará-la.— Meu amor, você se sente bem? Dói em algum lugar?— Papai! — Ela disse tentando recuperar o fôlego. — Preciso que
Na calada da noite, após toda a mansão Bryston ir dormir, um vulto passou pelos jardins, indo em direção a um muro com videiras, mas não era um muro qualquer, em uma parte, havia uma pedra que escondia um buraco, ele não era muito grande, mas era do tamanho perfeito para uma jovem, com cerca de 1,65 de altura e esquia passar. Angelina, teve um pouco de dificuldade de remover a pedra de seu local, mas assim que foi possível a mesma se ajoelhou no chão e engatinhou pela passagem, ao chegar fora, pôs-se de pé e limpou suas roupas, ajeitou a alça da bolsa que estava em sua transversal e se preparou para sair, ela mal tinha dado alguns passos quando foi puxada por trás. — Onde pensa que vai? — questionou Asher. Pega em flagrante, ela não esperava ter sido detectada tão facilmente.— Como? — ela perguntou após um suspiro. Ele riu. — Você passou a tarde toda estranha, rondou os jardins enquanto se vigiava, andou fazendo perguntas estranhas aos criados e vi sua dama carregar para o seu q
Ao contrário do que muitos pensam, no seu caso, a morte não veio acompanhada da paz eterna. Acredita-se que o que aconteceu com ela foi nada mais do que um engano. Ela não deveria usar aquelas roupas pesadas, não queria ficar apertada em um espartilho, era doloroso, e os sapatos quase arrancaram seu pé fora.Em contra do que possa parecer, ela sente falta de sua antiga vida, até mesmo de seus pais, embora tenham se visto pouco e tenha ouvido eles brigarem muito. No entanto, para questões de sobrevivência, ela teria que se adaptar. Não era fácil deixar o passado para trás, e isso repercutiu em como ela andava e se portava, o que causou muita estranheza a todos ao seu redor.Não obstante, em algum momento, durante esses poucos dias em que ela se encontrava naquele corpo e naquele mundo, ela sentiu que de alguma forma, Angelina e ela se tornaram uma. O que restou da alma de Angelina foi unificado a ela e a aquele corpo. Ela pôde conhecê-la, obter suas lembranças e, assim, compreender a e