Capítulo 02 - Decisões

“Não há justiça no mundo, a menos que a façamos.”

Os cinco anos como Guardião dos Reinos chegaram ao fim para

Thorstein Freysson - rei do Reino do Fogo - e o cetro do poder, símbolo supremo da autoridade das cinco nações, estava prestes a ser transferido para o rei Vidar, contudo, uma fatalidade ameaçava essa transição.

O Reino dos Ventos era próspero, com terras férteis para cultivo, técnicas de irrigação avançadas e um povo repleto de mentes brilhantes. Seu metal precioso era conhecido por forjar as melhores espadas do continente.

Vidar era um homem bondoso e respeitado, mas por trás de cada reino existia uma profecia que anunciava poderes ocultos, raramente despertados a cada geração. O Reino do Vento, em particular, era conhecido por seu Altseende, um poder ocular capaz de perceber a energia emanada dos corpos, tornando os oponentes vulneráveis em batalha. No entanto, esse poder permanecia dormente há gerações.

Antes da transferência do cetro do Reino do Fogo para o Reino do Vento, Vidar foi acometido por uma febre misteriosa e faleceu.

As cinco nações tremeram, como se estivessem diante de uma profecia que previa a unificação dos reinos sob um único líder. O temor se espalhava sobre quem seria o novo governante, se ele seria justo ou hostil, se ouviria as necessidades das nações.

Com o acordo de poder que mudava de mãos a cada cinco anos, a liderança também mudaria. Para evitar que o Grande Reino ficasse sem um representante, Gudrun Vargdottir - rei do Reino da Terra - e próximo sucessor como Guardião dos Reinos, recebeu o cetro e assumiu o comando das cinco nações. Isso ocorreu porque Vidar não tinha herdeiros diretos, seu sobrinho Leif havia renunciado ao trono para se tornar líder e general do exército e sua prima Astrid ainda não era casada.

Leif estava angustiado, pois sabia que algo sombrio estava por trás da morte de seu amado tio. Vidar havia confidenciado a ele que descobriu uma conspiração obscura relacionada ao Reino da Terra e seu líder, mas não houve tempo para convocar uma reunião antes da febre o acometer.

Com a morte repentina de seu tio, assumiu o trono temporariamente, somente até sua prima se casar. Quando isso acontecesse, seu esposo assumiria a liderança do reino. Leif temia o pior, especialmente porque sabia que o herdeiro do Reino da Água, Einar Hjalmarsson, tinha intenções com Astrid. O jovem príncipe era cruel e sádico e sempre a desejou ardentemente. 

Diante disso, o jovem rei convocou uma reunião com seus generais para traçar o futuro do Reino e encontrar uma maneira de proteger sua prima das garras do herdeiro da Água.

  — Meus generais e amigos... Todos aqui sabem o que realmente aconteceu ao nosso rei, mas não temos como provar. O Reino da Terra assumirá o cetro das cinco nações e ficaremos vulneráveis a Gudrun. Sabemos que o rei deseja explorar nossas terras em busca de nosso precioso metal, pois conhece o poder de nossas espadas e almeja fazê-las suas. Venho pedir sua ajuda e orientação — disse Leif, curvando-se respeitosamente diante de seus amigos e súditos.

 — Lorde Leif... Não temos soldados suficientes para proteger nossas mulheres, crianças do reino e impedir uma invasão do Reino da Terra. — respondeu um dos generais.

 — Eu sei, general, não podemos deixar nosso povo exposto. Estamos cientes dos planos do Reino da Terra, mas não sei como agir. 

 — O poder das cinco nações nas mãos de Gudrun nos deixa à mercê dele. Teremos que acatar o que ele determinar. O que mais me preocupa é a princesa. — disse Hakon.

— Não podemos ficar de braços cruzados esperando que Gudrun invada e tome nosso reino. Não é possível que não haja nenhuma solução! — exclamou Brynhildr.

Enquanto a discussão fervia à mesa, uma figura permanecia em silêncio, apenas refletindo. Foi então que decidiu se pronunciar:

— Eu sei de uma saída! — declarou Magnus.

— Então fale logo. — esbravejou Leif.

 — Não sei se vocês vão concordar, mas é a única alternativa que temos. Já ouviram falar dos bárbaros do Norte? — perguntou Magnus.

— Bárbaros do Norte? — questionou Leif, intrigado.

— Sim. Eles têm um exército de mais de 300.000 homens, todos especialistas na arte de matar.

— Os bárbaros vivem além das muralhas! Aliar-nos a eles seria uma heresia, poderíamos ser expulsos das cinco nações! — protestou Brynhildr.

— E você acha que o rei bárbaro aceitará nos ajudar de bom grado? — indagou Hakon.

— Não de bom grado. Mas sei de algo que pode convencê-lo a nos ajudar. — respondeu Magnus.

— E o fato de estarem além das muralhas não os preocupa? — insistiu Hakon.

— Diga logo o que você tem em mente! Não vê que o tempo está se esgotando? — exclamou Brynhildr.

— Vamos oferecer um casamento! — anunciou Magnus.

— Casamento??? — Todos gritaram em uníssono.

— Sim, um casamento. — confirmou Magnus, enquanto tomava um gole de vinho.

— E quem seria a afortunada? — perguntou Leif, curioso.

Magnus respirou fundo antes de responder:

— A princesa Astrid!

— Você enlouqueceu, Magnus? — gritou Leif. — Nunca! Não farei isso com minha prima, ela não merece carregar esse fardo.

— Sei que parece cruel, senhor, mas não temos outra saída. O rei dos bárbaros é conhecido por ser justo, apesar de sua origem, os reinos que se aliaram a ele prosperaram. — argumentou Magnus.

— E como lidaremos com as cinco nações? Alinhar-se a povos fora das muralhas é proibido. — alertou Hakon.

— Pensei sobre isso também. — continuou Magnus, tomando outro gole de seu vinho.

— Então exponha seus pensamentos rapidamente, Lorde Magnus, em vez de ficar dando apenas pequenas sugestões. Isso é sério demais! — disparou Brynhildr.

Magnus sorriu de lado e começou:

— Vamos dizer que a doença levou a princesa, que ela faleceu. Com sua morte, Leif se tornará o rei interino. Então, entregamos Astrid secretamente em casamento ao rei bárbaro. Caso ocorra uma guerra, o rei dos selvagens e seu exército intervirão. Acredito que, ao saber da morte da princesa, os outros reinos nos deixarão em paz por um tempo.

— Mas eles desejam nosso metal, Magnus. A ausência da princesa em nossas terras nos tornaria mais vulneráveis — retrucou Brynhildr, confuso.

— Aí é que você se engana, meu amigo. Eles estão atrás do nosso poder oculto.

— O Altseende? — perguntou Leif, surpreso. 

Magnus assentiu com a cabeça.

Hakon, pensativo, decidiu se manifestar:

Magnus está certo. — Todos se voltaram para ele. — Não são todos os herdeiros que carregam o poder. O poder geralmente salta gerações. Por exemplo, o rei Vidar não o herdou, portanto, pode despertar em Astrid ou em seu futuro filho... e isso a tornaria uma criança poderosa.

— Ganharíamos tempo para fortalecer nosso exército e negociar alianças com nossos vizinhos. Além disso, poderíamos levantar provas contra o Reino da Terra. Sabemos que o rei Vidar descobriu algo sombrio sobre Gudrun, mas não conseguimos provas. Astrid nos daria essa margem de manobra.

— E como você pode ter tanta certeza de que ele aceitará esse acordo e que gostará da Astrid? — perguntou Leif.

— Bem... estive em uma reunião próximo ao Norte antes da guerra e ouvi rumores de que o rei bárbaro deseja encontrar uma esposa. Quanto ao gosto dele por Astrid... Leif, por favor! A princesa é a personificação da beleza e pureza. Sei que pode parecer cruel, entregá-la a um selvagem, mas é a única saída para salvar o reino e seu povo. Converse com ela e veja o que ela pensa. — concluiu Magnus.

Leif suspirou fundo, não queria ter que fazer isso, mas parecia a melhor escolha. 

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