Capítulo 03 - Sacrifícios

Enquanto isso, Astrid estava em seus aposentos com sua amiga e companheira Sigrid.

 — Sigrid, meu pai morreu e agora o reino está a mercê de ser invadido pelo Gudrun, o rei do Reino da Terra. O pior é sentir que ele tem planos para mim, sei que é aliado ao Reino da Água e o príncipe Einar sempre desejou unir nossos reinos. Uma vez, papai me falou sobre um poder proibido, raro, que surgiria caso nos uníssemos, por isso sempre evitou contato com aquele reino. Ele temia por isso mais do que tudo. 

— Ele sabia que o príncipe Einar nunca lhe faria feliz. Seu pai sempre quis que se casasse por amor. 

— Mas agora estou sozinha. — falou Astrid preocupada. 

— Não, Astrid. Seu primo Leif a protegerá, não permitirá a aproximação  daquele crápula. 

No mesmo momento, Leif entra no quarto. Os olhos azuis encaram a prima com pesar, fazendo Astrid sentir todo corpo estremecer..  

Astrid …. Preciso  falar com você. 

— Estou aqui, Leif. — disse a princesa caminhando até o primo. 

Leif olhou para Sigrid e em seguida começou:

— O conselho se reuniu e só temos uma saída para salvar nosso reino e as pessoas que aqui vivem, mas essa saída requer sacrifícios …. Seu sacrifício, minha prima. –- disse o mais velho, aflito. 

— Como assim, Leif? — Perguntou Astrid assustada.

— Seu casamento com o rei do norte, o rei dos bárbaros. 

—  Ca…ca…casamento? Com o rei do norte? O rei dos  bárbaros? — falou Astrid nervosa.

Astrid, o rei dos bárbaros, não possui uma rainha. Ele está atrás de uma esposa e uma pertencente à nobreza o ajudaria a legitimar o seu reinado. — Astrid ouvia tudo atentamente. — Ele possui um exército com mais de 300.000 homens, apesar de ser um selvagem é um homem muito respeitado e temido. Magnus falou que ele honra todos os acordos que faz e que seus aliados nunca foram abatidos. Sei que parece cruel, mas a segurança das nossas crianças e mulheres está em jogo. Sua segurança está em jogo. Tudo o que seu pai construiu está à mercê de ruir…. Não sabemos mais o que  fazer, ninguém quer nos ajudar! Astrid, sofro por chegar a esse ponto, assumi o reino temporariamente para protegê-la e sinto que falhei. Isso é cruel, não sei mais o que pensar. — disse o jovem rei em aflição.  

Astrid olhou para o primo e enxergou a verdade em suas palavras. Suspirou fundo, fechou os olhos e disse:

—Tudo bem, para salvar o meu reino, sou capaz de sacrifícios. É assim que se porta uma princesa, não se preocupe, farei o que me pede. 

O mais velho deu um pequeno sorriso para a prima e continuou:

— Em tese, você será acometida pela mesma febre de seu pai. Quando precisarmos de você e do seu marido, entraremos em contato, até lá, esqueça que foi uma Jotunsson

Astrid marejou os olhos sendo abraçada por Sigrid

— Enviarei Rolf para além das muralhas em busca do rei dos bárbaros  imediatamente para fazer-lhe a proposta e se prepare, ele virá para conhecê-la. — Astrid sorriu fraco. — Seu pai ficaria orgulhoso de você, Astrid. — disse Leif agradecido e se retirando do quarto imediatamente.  

Sigrid continuava abraçando sua princesa que disse:  

— O que será do meu destino, Sigrid?

No outro lado no norte ….

Ragnar estava com Inga, a selvagem que compartilhava momentos íntimos ao seu lado, na sua cama. Os dois tinham transado e agora descansavam juntos.  Ragnar levantou-se da cama e dizendo:

— Pode sair, Inga!

— Majestade, por que não me faz sua rainha? — perguntou a mulher em expectativa. 

— Enlouqueceu, Inga? Apenas transamos, sempre deixei claro isso para você!  — esbravejou  Ragnar, irritado, caminhando nu pelo quarto.  

— Mas, se nos damos tão bem na cama,por que não posso ser sua senhora? 

Inga, eu me dou bem com qualquer outra selvagem, nem por isso elas pensam que podem ser algo a mais. 

 — Ragnar, eu…

 — Essa conversa acabou. Agora saia, quero ficar sozinho! 

Ragnar era um belo jovem, cheio de cicatrizes internas. Cresceu sozinho e foi criado pela anciã da aldeia. Sabia que sua mãe tinha morrido no parto. Nunca procurou saber quem era o seu pai. No fundo, tinha raiva e mágoa por ele ter abandonado sua mãe. Foi criado pelos selvagens e fazia parte dessa família, independente de quem eram seus progenitores. Almejava defender aqueles que amava, ser um rei respeitado. Por ser habilidoso e possuir um poder descomunal foi coroado, anos mais tarde, o rei do norte. 

Ragnar tinha amigos fiéis ao seu lado. Erik Freysson, era herdeiro do Reino do Fogo, mas tinha deserdado o legado de sua família, por não concordar com os métodos de governo do seu pai, Thorstein  Freysson. Ele assim como Gudrun, ambicionavam o cetro do poder e a posse dos poderes ocultos. Erik se aliou a  Ragnar e se tornou um selvagem. 

O líder selvagem era um belo homem, seu tamanho, seu porte atlético, os cabelos loiros e olhos azuis faziam com que várias mulheres caíssem aos seus pés, mas para se tornar um rei respeitável, precisava de uma rainha ao seu lado, de preferência alguma nobre para legitimar o seu título. .

—  Ragnar, escute, você precisa de uma rainha ao seu lado, não pode continuar tendo caso com várias mulheres como você faz. Um rei respeitado tem apenas uma mulher ao seu lado, a sua rainha.

Erik, meu amigo, existe coisa melhor do que transar com muitas meretrizes? Não sei onde você viu que um rei precisa de uma rainha. –- falava o loiro bebericando seu vinho. —  Sou casado com minha espada! Tenho sede de sangue! — gritava o loiro levantando sua taça para os homens que gritavam de volta. 

— Fiquei sabendo que o rei dos Ventos foi abatido…. O reino está à mercê de seu sobrinho, Leif Jotunsson. Tem mais,  Gudrun, rei do Reino da Terra, receberá o cetro para comandar as cinco nações. Ele sempre quis invadir o Reino dos Ventos, não só pelo metal precioso de suas minas, mas também pelo poder oculto perdido. — dizia Erik bebericando sua bebida. 

— Até você acredita em contos fantasiosos, Erik? Sabe muito bem que os poderes ocultos não existem!

— Será? — Ragnar encarou o amigo. — E o seu poder, meu rei? — perguntou Erik olhando bem nos olhos azuis do amigo. Ragnar trincou o maxilar  e vociferou:

— Meu poder é uma maldição, você sabe muito bem disso! —  Ragnar esvaziou o seu copo de vinho e pediu para que o mesmo fosse novamente abastecido.

— Vai deixar eles se matarem? 

— O que eu tenho com isso? Eles que lutem entre si, nunca gostei dos Jotunsson, sempre se achando melhores, superiores a todos! Aquela cobra peçonhenta… nem me fale. — falava o rei enquanto degustava um pedaço do pernil. 

— Fiquei sabendo que a princesa Astrid  é uma mulher muito bonita. — Ragnar parou de comer... — Talvez você deveria considerar …..

— Por acaso, está sugerindo que eu case com a princesa? —  Ragnar o olhava incrédulo. — Não preciso entrar na guerra para isso, posso chegar lá e simplesmente a possuir. — falou o loiro com naturalidade. 

—  Homem, você é um rei!  Pode ser bárbaro, mas precisa ter modos se quer ser visto e respeitado como um rei. — repreendeu Erik.

Ragnar sabia que seu amigo tinha razão. Bufou e respondeu em seguida:

— Depois pensarei melhor sobre isso.

Erik sorriu, levou o copo de vinho aos lábios e disse:

— Amanhã teremos a visita de um representante do Reino do Vento, escute a oferta que ele fará. — Erik se levantou e antes que pudesse deixar o cômodo, o rei selvagem perguntou: 

— Tem notícias do seu irmão? — o loiro ponderou antes de fazer a pergunta.  Sabia que falar do irmão deixava Erik vulnerável. Sem virar para ele, o moreno de olhos negros falou com pesar:

— Não sei mais nada dele desde a morte de Thorstein, provavelmente assumiu o trono e está com aquela criatura desprezível!

Ragnar por um momento hesitou, tinha vontade de incentivar o amigo a ir em busca da verdade sobre o irmão, mas ele sabia que o moreno ainda não estava preparado para o que poderia ouvir. Em uma de suas lutas no mar estreito, havia ouvido boatos terríveis sobre Ivar, que levariam ao sofrimento do amigo. Fechou os olhos e suspirou pesado, deixaria esse assunto para uma outra hora.

— Certo, pode se retirar agora. — disse o loiro. 

O moreno saiu do local sem olhar para trás. Ragnar sabia que Erik estava perdido em seus próprios pensamentos. Era nítido que o amigo nutria mágoa do irmão e vivia num constante conflito interno.

Sozinho com seus pensamentos, o rei selvagem ponderou, será que uma aliança matrimonial era mesmo necessária? 

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