2. Choro e Decepção

“O amor não é algo que você encontra. O amor é algo que encontra você.” (Loretta Young)

Laura

"Meu Deus, me ajuda! Eu preciso voltar para casa, a Flora precisa de mim."

Suplico, pensando na Flora e relembrando tudo o que passamos. As lágrimas escorrem ainda mais.

— Moça? Está tudo bem com você? — ele pergunta, colocando a mão sobre a minha, que está sob a mesa

Continuo chorando baixinho, sem dizer nada.

— Moça? — ele me chama novamente.

Levanto a cabeça, olho em seus olhos claros e falo:

— Eu não sei o que fazer. — baixo a cabeça e continuo chorando

— Como assim? O que aconteceu? — ele questiona, confuso.

— Eu estava com minhas amigas aqui, e elas saíram. Agora não sei onde foram e acho que não vão voltar. Esqueceram de mim — falo com pausas, interrompida pelos soluços.

— Olha... — imediatamente, o interrompo antes que ele termine de falar.

— Os pratos! Eu posso lavar os pratos. O restaurante estava lotado, deve ter um milhão de pratos sujos. Eu posso lavar, e, se for pouco, passo uma semana lavando. E eu sou boa com limpeza... Experimente na área — disse, secando as lágrimas.

Ele me encara com aqueles olhos castanhos claros e dá um leve sorriso no canto da boca, iluminando tudo ao nosso redor.

— Do que você está rindo? Estou falando sério. Olha, eu não tenho dinheiro... — começo a tirar as coisas da minha bolsa para que ele veja que só tenho uma moeda de um real. — Olha, pega essas quentinhas para não causar mais prejuízo, e vamos lá para dentro para eu lavar os pratos. — empurro a sacola com as quentinhas em sua direção, mas ele não esboça nenhuma reação para pegá-las.

Ele continua com o sorriso no canto da boca e então termina de dizer:

— Moça, eu estava lá fora quando suas amigas foram embora em um carro, gargalhando muito.

Baixo a cabeça e junto as coisas da minha bolsa, decepcionada por ter sido tão ingênua e acreditar que elas eram minhas amigas.

— Me desculpe! Eu nem sei o que dizer. Você vai chamar a polícia, né? — pergunto, enquanto ele continua sorrindo.

— Relaxa! Você não tem culpa. Pode ir para casa, está tudo bem. — sinto um peso saindo das minhas costas com suas palavras.

— Sério? Mas e o seu patrão? Não vai te dar um sermão por isso? A conta é alta. — questiono, ainda sem acreditar no milagre que está acontecendo.

Ele me olha pensativo e depois responde:

— Ah, claro! Meu patrão... Hum... Eu resolvo com ele. Fica em paz, tá bom? Tenha uma boa noite, senhorita.

Ele se levanta da mesa, e eu também. Saio em direção à porta, quando ouço ele me chamar:

— Senhorita?

Olho para trás, achando que ele desistiu do bom ato e me colocaria na cozinha para lavar os pratos sujos. Mas ele me surpreende ao dizer:

— As quentinhas... Pode levar! — ele segura a sacola em minha direção

— Está falando sério? — pergunto, boquiaberta.

— Claro! Se você não levar, serão descartadas. — ele afirma, inclinando a cabeça e sorrindo.

— Obrigada! Muito obrigada! Você é um anjo. — agradecida, pego a sacola, dou um beijo em sua bochecha e saio

Só quando estou do lado de fora percebo que terei que ir a pé para casa, pois vim com o pai da Mônica de carro e o restaurante é longe. Mas não posso perder tempo ali parada, então sigo andando.

Já é tarde e as ruas estão vazias. Meu pavor aumenta, pois sei que já houve vários casos de latrocínio nessa área. Tento me acalmar, afinal, quem iria querer roubar uma pobretona como eu? Só um louco.

Depois de uns trinta minutos caminhando, noto um carro logo atrás de mim. Evito olhar, pois estou com medo. Ele reduz a velocidade ao se aproximar. Aperto o passo e suplico a Deus que envie seus anjos para me proteger. Então, de repente, ouço a voz de um rapaz:

— Senhorita!

A voz me soa familiar. Olho para trás e sorrio ao reconhecer o rapaz do restaurante. Mas o que ele está fazendo aqui?

— Oi! Alguma coisa errada? — pergunto, meio nervosa.

— Sim... — ele responde, com um semblante neutro.

— O que houve? Seu patrão não perdoou a dívida e você veio me buscar para lavar os pratos? — falo sem pensar.

Ele começa a rir.

— Não. Eu terminei meu expediente, estava indo para casa e notei você aqui na estrada. Resolvi parar. É perigoso, sabia?

— Ah... Eu sei. Olha, eu nem ia sair de casa, porque cuido da minha irmã, mas acabei deixando ela com a vizinha porque a Mônica me convidou para esse jantar. Se eu soubesse o que ia acontecer, já estaria dormindo. — termino de falar e vejo a porta do carona se abrir.

Meu coração dispara, sem saber o que esperar.

— Vem, entra. Eu te levo para casa. — ele diz, com aquele olhar brilhante de minutos atrás.

— Ah, não! Imagina. Eu não quero incomodar outra vez. Você já fez muito por mim. Estou mais do que agradecida. — tento recuar, mas ele insiste.

— Anda, não vou deixar você aqui nessa estrada sozinha. É perigoso. Se algo acontecer, vou me sentir culpado. — ele desce do carro e caminha em minha direção

Sei que é muito perigoso caminhar sozinha por essas ruas, então acabo cedendo e aceitando sua ajuda. Dou as direções até minha casa, pois ele parece não conhecer muito bem a região. Quinze minutos depois, chegamos.

— Está entregue, senhorita. — ele diz, olhando para mim.

Ele é jovem, parece ter minha idade. Alto, moreno, corpo sarado, olhos castanhos claros e um pequeno sinal preto perto da boca, que o deixa ainda mais charmoso. Resumindo, ele é muito bonito.

— Nossa... Eu nem tenho palavras para te agradecer. Foi uma noite e tanto para mim. — disse, tímida.

— Não tem o que agradecer. Foi um prazer te ajudar. — ele diz, seus olhos fixos nos meus.

Sinto algo diferente dentro de mim. Não é ruim, é apenas... uma sensação nova. Como se, ao lado dele, eu estivesse protegida e sendo cuidada como nunca antes.

— Muito obrigada. Você foi um anjo e salvou minha noite. — digo e dou outro beijo em seu rosto. Em seguida, abro a porta e saio do carro.

Dou três passos em direção ao portão quando ouço sua voz novamente:

— Senhorita!

Viro e olho para ele.

— Sim.

— Não vai nem me dizer o seu nome?

— Ah... — sorrio, sem graça. — Nossa! Que mal-educada eu sou.

Caminho até o carro novamente e estendo a mão pela janela.

— Muito prazer, meu nome é Laura Andrade.

Ele segura minha mão e, para minha surpresa, sinto o toque suave de seus lábios beijando-a.

— Muito prazer, Laura Andrade. Eu me chamo Álvaro Meirelles.

Nossos olhares se cruzam novamente. Fico envergonhada e puxo minha mão, enquanto ele continua me olhando com seus olhos lindos.

— Boa noite, Álvaro. Mais uma vez, obrigada por tudo.

— Boa noite, Laura. Até breve. — sua voz suave e o jeito como ele sorri me deixam encabulada.

Instantes depois, Álvaro segue seu caminho, e eu entro em casa para enfrentar minha realidade. Mas, dessa vez, há um toque diferente, especial.

"É, Laura, você estava certa quando sentiu que algo diferente aconteceria nesta noite. E, pelo visto, aconteceu."

Sorrindo feito uma boba, deixo a sacola sobre a mesa da cozinha e saio para buscar a razão do meu viver, minha doce Flora. Mas ainda suspiro, sentindo a lembrança dos lábios suaves de Álvaro em minha mão.

Será que irei revê-lo algum dia?

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