“O amor não é algo que você encontra. O amor é algo que encontra você.” (Loretta Young)
♡ Laura "Meu Deus, me ajuda! Eu preciso voltar para casa, a Flora precisa de mim." Suplico, pensando na Flora e relembrando tudo o que passamos. As lágrimas escorrem ainda mais. — Moça? Está tudo bem com você? — ele pergunta, colocando a mão sobre a minha, que está sob a mesa Continuo chorando baixinho, sem dizer nada. — Moça? — ele me chama novamente. Levanto a cabeça, olho em seus olhos claros e falo: — Eu não sei o que fazer. — baixo a cabeça e continuo chorando — Como assim? O que aconteceu? — ele questiona, confuso. — Eu estava com minhas amigas aqui, e elas saíram. Agora não sei onde foram e acho que não vão voltar. Esqueceram de mim — falo com pausas, interrompida pelos soluços. — Olha... — imediatamente, o interrompo antes que ele termine de falar. — Os pratos! Eu posso lavar os pratos. O restaurante estava lotado, deve ter um milhão de pratos sujos. Eu posso lavar, e, se for pouco, passo uma semana lavando. E eu sou boa com limpeza... Experimente na área — disse, secando as lágrimas. Ele me encara com aqueles olhos castanhos claros e dá um leve sorriso no canto da boca, iluminando tudo ao nosso redor. — Do que você está rindo? Estou falando sério. Olha, eu não tenho dinheiro... — começo a tirar as coisas da minha bolsa para que ele veja que só tenho uma moeda de um real. — Olha, pega essas quentinhas para não causar mais prejuízo, e vamos lá para dentro para eu lavar os pratos. — empurro a sacola com as quentinhas em sua direção, mas ele não esboça nenhuma reação para pegá-las. Ele continua com o sorriso no canto da boca e então termina de dizer: — Moça, eu estava lá fora quando suas amigas foram embora em um carro, gargalhando muito. Baixo a cabeça e junto as coisas da minha bolsa, decepcionada por ter sido tão ingênua e acreditar que elas eram minhas amigas. — Me desculpe! Eu nem sei o que dizer. Você vai chamar a polícia, né? — pergunto, enquanto ele continua sorrindo. — Relaxa! Você não tem culpa. Pode ir para casa, está tudo bem. — sinto um peso saindo das minhas costas com suas palavras. — Sério? Mas e o seu patrão? Não vai te dar um sermão por isso? A conta é alta. — questiono, ainda sem acreditar no milagre que está acontecendo. Ele me olha pensativo e depois responde: — Ah, claro! Meu patrão... Hum... Eu resolvo com ele. Fica em paz, tá bom? Tenha uma boa noite, senhorita. Ele se levanta da mesa, e eu também. Saio em direção à porta, quando ouço ele me chamar: — Senhorita? Olho para trás, achando que ele desistiu do bom ato e me colocaria na cozinha para lavar os pratos sujos. Mas ele me surpreende ao dizer: — As quentinhas... Pode levar! — ele segura a sacola em minha direção — Está falando sério? — pergunto, boquiaberta. — Claro! Se você não levar, serão descartadas. — ele afirma, inclinando a cabeça e sorrindo. — Obrigada! Muito obrigada! Você é um anjo. — agradecida, pego a sacola, dou um beijo em sua bochecha e saio Só quando estou do lado de fora percebo que terei que ir a pé para casa, pois vim com o pai da Mônica de carro e o restaurante é longe. Mas não posso perder tempo ali parada, então sigo andando. Já é tarde e as ruas estão vazias. Meu pavor aumenta, pois sei que já houve vários casos de latrocínio nessa área. Tento me acalmar, afinal, quem iria querer roubar uma pobretona como eu? Só um louco. Depois de uns trinta minutos caminhando, noto um carro logo atrás de mim. Evito olhar, pois estou com medo. Ele reduz a velocidade ao se aproximar. Aperto o passo e suplico a Deus que envie seus anjos para me proteger. Então, de repente, ouço a voz de um rapaz: — Senhorita! A voz me soa familiar. Olho para trás e sorrio ao reconhecer o rapaz do restaurante. Mas o que ele está fazendo aqui? — Oi! Alguma coisa errada? — pergunto, meio nervosa. — Sim... — ele responde, com um semblante neutro. — O que houve? Seu patrão não perdoou a dívida e você veio me buscar para lavar os pratos? — falo sem pensar. Ele começa a rir. — Não. Eu terminei meu expediente, estava indo para casa e notei você aqui na estrada. Resolvi parar. É perigoso, sabia? — Ah... Eu sei. Olha, eu nem ia sair de casa, porque cuido da minha irmã, mas acabei deixando ela com a vizinha porque a Mônica me convidou para esse jantar. Se eu soubesse o que ia acontecer, já estaria dormindo. — termino de falar e vejo a porta do carona se abrir. Meu coração dispara, sem saber o que esperar. — Vem, entra. Eu te levo para casa. — ele diz, com aquele olhar brilhante de minutos atrás. — Ah, não! Imagina. Eu não quero incomodar outra vez. Você já fez muito por mim. Estou mais do que agradecida. — tento recuar, mas ele insiste. — Anda, não vou deixar você aqui nessa estrada sozinha. É perigoso. Se algo acontecer, vou me sentir culpado. — ele desce do carro e caminha em minha direção Sei que é muito perigoso caminhar sozinha por essas ruas, então acabo cedendo e aceitando sua ajuda. Dou as direções até minha casa, pois ele parece não conhecer muito bem a região. Quinze minutos depois, chegamos. — Está entregue, senhorita. — ele diz, olhando para mim. Ele é jovem, parece ter minha idade. Alto, moreno, corpo sarado, olhos castanhos claros e um pequeno sinal preto perto da boca, que o deixa ainda mais charmoso. Resumindo, ele é muito bonito. — Nossa... Eu nem tenho palavras para te agradecer. Foi uma noite e tanto para mim. — disse, tímida. — Não tem o que agradecer. Foi um prazer te ajudar. — ele diz, seus olhos fixos nos meus. Sinto algo diferente dentro de mim. Não é ruim, é apenas... uma sensação nova. Como se, ao lado dele, eu estivesse protegida e sendo cuidada como nunca antes. — Muito obrigada. Você foi um anjo e salvou minha noite. — digo e dou outro beijo em seu rosto. Em seguida, abro a porta e saio do carro. Dou três passos em direção ao portão quando ouço sua voz novamente: — Senhorita! Viro e olho para ele. — Sim. — Não vai nem me dizer o seu nome? — Ah... — sorrio, sem graça. — Nossa! Que mal-educada eu sou. Caminho até o carro novamente e estendo a mão pela janela. — Muito prazer, meu nome é Laura Andrade. Ele segura minha mão e, para minha surpresa, sinto o toque suave de seus lábios beijando-a. — Muito prazer, Laura Andrade. Eu me chamo Álvaro Meirelles. Nossos olhares se cruzam novamente. Fico envergonhada e puxo minha mão, enquanto ele continua me olhando com seus olhos lindos. — Boa noite, Álvaro. Mais uma vez, obrigada por tudo. — Boa noite, Laura. Até breve. — sua voz suave e o jeito como ele sorri me deixam encabulada. Instantes depois, Álvaro segue seu caminho, e eu entro em casa para enfrentar minha realidade. Mas, dessa vez, há um toque diferente, especial. "É, Laura, você estava certa quando sentiu que algo diferente aconteceria nesta noite. E, pelo visto, aconteceu." Sorrindo feito uma boba, deixo a sacola sobre a mesa da cozinha e saio para buscar a razão do meu viver, minha doce Flora. Mas ainda suspiro, sentindo a lembrança dos lábios suaves de Álvaro em minha mão. Será que irei revê-lo algum dia?“Amar é cuidar do outro sem anular a si mesmo.” (Augusto Cury) ♡ Laura Vou buscar a Flora na casa da dona Dissaura e, como era de se esperar, ela está dormindo. A trago nos braços e, assim que chego em casa, a coloco na cama. Depois, volto para a sala, onde meu pai está deitado no chão com duas garrafas de bebida ao lado. O acordo e o ajudo a sentar no sofá. Em seguida, entrego-lhe a quentinha para que coma, mas ele está tão bêbado que mal consegue levantar a colher. Então, dou a comida para ele e, logo depois, ele adormece novamente no sofá. Pego uma coberta no meu quarto, tiro seus sapatos, suas meias e o cubro. Fico o observando por algum tempo, e algumas lágrimas rolam dos meus olhos ao relembrar como tudo era diferente quando mamãe estava conosco. Apesar das dificuldades, éramos uma família unida e feliz. Agora, tudo o que vejo é tristeza, dor e meu pai se auto destruindo pouco a pouco. Será que nunca mais voltaremos a ser felizes? Me aproximo dele, dou um beijo em sua testa
“O amor não se vê com os olhos, mas com o coração.” (William Shakespeare) ♡ Laura Estou sentada na minha carteira, lendo um livro, quando o sino toca para os alunos entrarem. Logo ouço a voz da Mônica apresentando a escola para um garoto. — Aqui é a biblioteca e ali a sala de jogos… — ouço-a falando de longe pelos corredores. Reviro os olhos e continuo minha leitura. A professora de Matemática entra na classe, e o sino toca novamente. Em seguida, Mônica entra, depois Bianca e Beth. Logo depois, Álvaro aparece na porta — o rapaz que conheci na noite passada. Meu corpo trava. Tento esconder o rosto com o livro, mas ele já me viu e está com aquele sorriso maravilhoso no rosto. — Pessoal, este é Álvaro Meirelles, seu novo colega de classe. Vamos dar as boas-vindas a ele? — anuncia a professora. Todos respondem em coro: — Bem-vindo, Álvaro! Ele segue para o fundo da sala, onde há carteiras vagas. Não olho para trás, mas percebo que Mônica sai da carteira dela e se senta ao lado de
"Amar não é apenas olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.” (Antoine de Saint-Exupéry) ♡ Laura Depois do lanche, Álvaro nos deixa em casa. Estou no banco de trás com a Flora, que não para de fazer perguntas o tempo todo, e não sei de onde ele tira tanta paciência. Álvaro me encara pelo espelho, e isso me deixa sem jeito. Até que a Flora, esperta demais, resolve fazer mais uma pergunta: — Álvaro, você 'tá' namorando com a Laurinha? Nesse momento, não sei onde enfiar a cara e fico morta de vergonha. Álvaro, por sua vez, sorri sem parar e então responde: — Não, Florinha, sua irmã não me quer — diz ele e, em seguida, me olha novamente pelo espelho retrovisor. Fico calada e desvio o olhar. Ao chegarmos em casa, ouvimos barulhos vindos do interior do imóvel. É o meu pai, completamente bêbado, quebrando as poucas coisas que temos. Fico sem ação. Ele sempre bebe, mas nunca foi agressivo em casa. Saio do carro e corro para abrir a porta. Álvaro sai também e entra junto
"Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela." (Paulo Coelho) ♡ Depois que Álvaro vai embora, cuido da casa, faço comida, lavo a roupa, ajudo Flora nas tarefas da escola, e assim o resto do dia passa voando. Sem demora, a noite chega. Já passam das dez horas quando me sento ao lado de Flora, contando-lhe uma história para que ela durma. Mas, com tudo o que aconteceu, dificilmente ela dormirá rapidamente. Sua atenção está em qualquer lugar desse universo, menos dentro daquele quarto. — Flora... — chamo-a, mas ela não olha para mim, sequer me dá atenção. — Flora... Amor... — tento mais uma vez, mas nada dela me olhar. Continua brincando com as mãos. Muitas vezes me sinto perdida, sem saber como agir quando ela se isola dessa maneira. Nossa mãe sempre soube o que fazer e como contornar uma situação difícil. Se ela estivesse aqui, nada disso estaria acontecendo. Uno as mãos e olho para sua foto no porta-retratos sobre o móvel à minha frente. Sinto um aperto no peito e um
"Amar alguém é aceitá-lo com todas as suas imperfeições, e ainda assim, vê-lo como perfeito." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Decido deixar a razão de lado e dou ouvidos ao que meu coração diz. Com o livro nas mãos, sem demora, abro a porta da sala e vou até o carro para saber o que está acontecendo. — Álvaro? O que está fazendo aqui? — pergunto, parada ao lado da porta do carona, olhando ao redor. — Estava passando e vi a luz acesa. Fiquei preocupado, achei que vocês estivessem com algum problema — diz ele, amável, com o olhar fixo em mim. — Não aconteceu nada de errado. A Flora ficou um pouco agitada com tudo o que houve e demorou a dormir. Eu perdi o sono e decidi ler um pouco, isso me acalma — explico, e ele sorri fraco, demonstrando alívio. — Ah, sim! Que bom, então. Ele permanece no carro, me olhando como se não soubesse o que dizer, e eu acabo falando algo que, só depois, percebo ser um erro. — Eu vou entrar, está frio aqui. Vem, entra um pouco — convido. Sem perda de temp
"A vida é uma balança entre aceitar o que não podemos mudar e ter coragem para mudar o que podemos." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Manhã do dia seguinte Já estou sem sono, e depois que Álvaro vai embora sem olhar para trás, tudo piora. Até deito na minha cama, mas rolo de um lado para o outro e nada de conseguir dormir. Então, ao ver que já está amanhecendo, decido tomar um bom banho e me arrumar para enfrentar mais um dia de aula naquele colégio, que a cada dia se torna um martírio para mim. Tudo ali já é extremamente difícil de digerir, mas confesso que, desde a chegada de Álvaro e o fato de ele estudar na mesma turma que eu, minha vontade de desaparecer daquele lugar só aumenta. Mas não posso fazer isso. Primeiro, porque prometi à minha mãe que concluiria meus estudos. Segundo, porque já abri mão de muitas coisas pelo bem-estar de outras pessoas, e está mais do que na hora de pensar um pouco em mim e no meu futuro. A única certeza que tenho é que, se quero conquistar algo nesta v
"Somente quando encontramos o amor é que descobrimos o que nos faltava na vida." (John Ruskin) ♡ Laura Os dias passam, e tudo continua na mesma. Álvaro está cada vez mais distante, e eu, mais triste. Sinto muito a falta dele, mas não consigo me aproximar. Tenho medo da sua reação, e por isso prefiro deixar as coisas como estão. Álvaro é um homem rico, e ter uma garota como eu ao seu lado só o faria sentir uma coisa: vergonha. Então, é melhor que ele continue se aproximando da Mônica. Ela nasceu em berço de ouro, tem muita instrução, é viajada, fala vários idiomas e, com certeza, é digna de se tornar uma Meirelles. Com esse pensamento, sigo para o último dia de aula. Enfim, é sexta-feira. Para muitas garotas, isso significa sair, curtir e aproveitar a vida. Mas, para mim, significa dois dias longe daquele maldito lugar e, principalmente, daquelas pessoas prepotentes. Já na escola, cabisbaixa, atravesso o portão e, ao erguer o olhar, vejo de relance o carro do Álvaro estacionado. Su
"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar." (Leonardo da Vinci) ♡ Laura O resto do dia passa vagarosamente e, como sempre, tento a todo custo pôr Flora para dormir, mas ela não para de brincar com os balões que recebeu de Álvaro. Resumindo: só adormece quando não aguenta mais, e ainda por cima agarrada aos balões. Eu, além de não conseguir parar de pensar em Álvaro, tenho uma preocupação extra. Meu pai ainda não chegou. Já passa das onze da noite, e ele nunca demora assim. Em meio ao desespero, penso em um jeito de encontrá-lo. Então, lembro do cartão que Álvaro me deu. Com ele em uma das mãos, fico parada observando o número do telefone. Por um momento, penso em não ligar. Afinal, ele está sem falar comigo há uma semana. Mas a preocupação me domina, e resolvo ao menos tentar. Ligo uma vez. Chama, chama, e ninguém atende. Então, não ligo mais. Ele deve estar ocupado, e é óbvio que não perderia tempo com os problemas de uma garota bobalhona como eu. Com es