"Amar não é apenas olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.”
(Antoine de Saint-Exupéry) ♡ Laura Depois do lanche, Álvaro nos deixa em casa. Estou no banco de trás com a Flora, que não para de fazer perguntas o tempo todo, e não sei de onde ele tira tanta paciência. Álvaro me encara pelo espelho, e isso me deixa sem jeito. Até que a Flora, esperta demais, resolve fazer mais uma pergunta: — Álvaro, você 'tá' namorando com a Laurinha? Nesse momento, não sei onde enfiar a cara e fico morta de vergonha. Álvaro, por sua vez, sorri sem parar e então responde: — Não, Florinha, sua irmã não me quer — diz ele e, em seguida, me olha novamente pelo espelho retrovisor. Fico calada e desvio o olhar. Ao chegarmos em casa, ouvimos barulhos vindos do interior do imóvel. É o meu pai, completamente bêbado, quebrando as poucas coisas que temos. Fico sem ação. Ele sempre bebe, mas nunca foi agressivo em casa. Saio do carro e corro para abrir a porta. Álvaro sai também e entra junto comigo. Assim que passo pela porta, vejo meu pai com as mãos ensanguentadas, por ter quebrado as garrafas de bebida junto com os quadros das fotos da mamãe. A Flora, coitadinha, se assusta com a cena e começa a ter uma crise de ansiedade. Quando meu pai vê a reação dela, senta-se e começa a chorar ao lado dela. — Me perdoa, minha filha... Eu não queria estar assim... Eu vou parar, eu juro... Me perdoa, por favor — implora meu pai, chorando enquanto abraça a Flora. — As fotos da mamãe! Você quebrou... Você destruiu tudo. Eu odeio você! — esbraveja Flora e sai correndo para o quarto. Meu pai chora ainda mais. — Eu não consigo, minha filha... Sua mãe se foi, mas eu não consigo superar. Eu bebo pra esquecer dela. Mas hoje eu passei dos meus limites... Me perdoa... — diz ele sem me olhar. Não falo nada. Vou até a cozinha pegar as coisas para limpar a bagunça, mas, ao mesmo tempo, estou com vergonha por Álvaro ter presenciado aquela cena horrível. Para minha surpresa, Álvaro se senta ao lado do meu pai e começa a falar: — Olha, sei que não tenho nada a ver com a sua vida, mas queria encontrar as palavras certas para confortar o seu coração. Não é fácil saber o que dizer para quem teve uma perda tão dolorosa, e tenho certeza de que vocês fariam tudo para poder trazê-la de volta. Mas já imaginou o que ela pensaria se soubesse que você está assim? Fazendo suas filhas sofrerem? Além de terem perdido a mãe, agora precisam ver o pai se destruindo aos poucos? Meu pai se cala e ouve atentamente. Percebo que as palavras de Álvaro fazem sentido para ele. Eu já não sei o que fazer e muito menos o que dizer ao meu pai para fazê-lo entender que ele não está apenas se destruindo, mas também destruindo a nossa dignidade. Nós, suas filhas, não temos culpa de nada do que aconteceu. Queríamos que o tempo voltasse e que nossa mãe estivesse aqui, mas isso não é possível. Perdemos a mamãe, mas tudo ficaria muito pior se perdêssemos a nós mesmos. Visivelmente envergonhado, meu pai olha para Álvaro e, emocionado, diz: — Minha esposa não ia querer isso... Mas eu não consigo... Eu não consigo parar — começa a chorar novamente — Minhas filhas sofrem demais, eu sei... Mas não consigo largar esse maldito vício. Só quero beber, beber e beber para esquecer e diminuir essa dor que dilacera o meu coração. — Mas o senhor ao menos tentou parar? — Álvaro pergunta. — Não... — meu pai responde com a voz fraca. — Então não diga que não consegue, se ainda nem tentou. Meu pai olha para Álvaro, enxuga as lágrimas e fala de um jeito que nunca ouvi antes: — Você tem razão, rapaz... Eu vou parar... Pelas minhas filhas, eu vou conseguir. — Tenho uma ideia. O senhor vai dormir agora, esfriar a cabeça e, quando acordar, conversa com suas filhas, pede perdão e, o mais importante, começa a se tratar. Eu, pessoalmente, quero acompanhar o seu progresso. Dito isso, Álvaro ajuda meu pai a ir para a cama, enquanto termino de limpar a bagunça. Depois, ele vai até o quarto da Flora. Com o silêncio e o som de uma conversa ao longe, ando em pequenos passos e fico no canto da porta, sem que ele me veja. Ele está sentado de frente para a cama da Flora, conversando com ela com todo carinho e paciência do mundo. — Eu odeio ele, odeio — chora Flora, abraçada a Álvaro. — Não fala assim... O papai só está doente — diz Álvaro, acariciando seus cabelos acobreados. Ela se afasta, indignada com o que ouviu. — Doente? Quando eu tô doente, não destruo as coisas e muito menos as únicas lembranças da mamãe! — ela esbraveja, cruzando os braços. Álvaro segura suas mãozinhas e diz: — Olha, é que o papai sente tanta falta da mamãe que o coração dele está fraquinho. Por isso ele fez tudo aquilo. Mas eu, Álvaro, dei uma bronca nele! — Nesse momento, ele fecha a mão e b**e no próprio peito, querendo demonstrar firmeza — Falei pra ele: "Escuta aqui! Você não pode mais fazer isso. Você deixou a Flora muito chateada, e amanhã vai tomar um remédio pra passar essa doença e deixá-la feliz. Tá escutando?" Vejo um pequeno sorriso brotar no rosto da Flora enquanto Álvaro fala. — E ele falou que vai tomar, Álvaro? — Faloooooou! Ele falou que vai tomar sim. E eu vou ficar aqui para ajudá-lo. Você e eu. O que acha de ajudarmos o papai a se curar? — Você, eu e a Laura também — completa Flora. — Claro! A Laura também! Agora, mocinha, tira esse choro do rosto, dá um sorriso lindo e muita força pro papai. — ÊÊÊ... — grita Flora, abraçando Álvaro. Então, Álvaro se levanta da cama. — Agora o tio aqui precisa ir embora, porque tem que trabalhar, tá bom? — Tá bom... Mas não esquece do papai, viu? — Claro que não! Eu prometo que volto. Agora, b**e aqui! — diz ele, levantando a mão para Flora b**er. Antes que ele saia do quarto, corro de volta para a sala e finjo que estou limpando. — Tudo resolvido — diz Álvaro, se aproximando. — Nossa! Não sei nem como te agradecer. — Seu pai vai sair dessa... Vejo nele a vontade de se curar. E isso vai dar forças pra ele. Só precisa de apoio e, principalmente, paciência. — Ah, isso eu tenho de sobra! — falo, sorrindo. — Eu ia te convidar pra passear mais tarde, mas, depois de tudo isso, acho melhor deixar pra outra ocasião — diz ele, próximo à porta. — Me desculpe, mas tá muito cedo. Mal conheço você... E outra, minha vida é tão difícil. Não quero me envolver com ninguém. Dedico minha vida à Flora e ao meu pai. Tenho fé de que ele sairá desse vício. — Minha voz sai fraca no final, pela vergonha e tristeza que sinto. Álvaro se despede, mas, antes de ir, me entrega um cartão. Quando se aproxima, me dá um beijo quase na boca e me olha no fundo dos olhos. Aquele olhar me transmite uma paz. E, naquele instante, percebo que estou suspirando feito uma boba por um amor que talvez nunca possa ser vivido."Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela." (Paulo Coelho) ♡ Depois que Álvaro vai embora, cuido da casa, faço comida, lavo a roupa, ajudo Flora nas tarefas da escola, e assim o resto do dia passa voando. Sem demora, a noite chega. Já passam das dez horas quando me sento ao lado de Flora, contando-lhe uma história para que ela durma. Mas, com tudo o que aconteceu, dificilmente ela dormirá rapidamente. Sua atenção está em qualquer lugar desse universo, menos dentro daquele quarto. — Flora... — chamo-a, mas ela não olha para mim, sequer me dá atenção. — Flora... Amor... — tento mais uma vez, mas nada dela me olhar. Continua brincando com as mãos. Muitas vezes me sinto perdida, sem saber como agir quando ela se isola dessa maneira. Nossa mãe sempre soube o que fazer e como contornar uma situação difícil. Se ela estivesse aqui, nada disso estaria acontecendo. Uno as mãos e olho para sua foto no porta-retratos sobre o móvel à minha frente. Sinto um aperto no peito e um
"Amar alguém é aceitá-lo com todas as suas imperfeições, e ainda assim, vê-lo como perfeito." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Decido deixar a razão de lado e dou ouvidos ao que meu coração diz. Com o livro nas mãos, sem demora, abro a porta da sala e vou até o carro para saber o que está acontecendo. — Álvaro? O que está fazendo aqui? — pergunto, parada ao lado da porta do carona, olhando ao redor. — Estava passando e vi a luz acesa. Fiquei preocupado, achei que vocês estivessem com algum problema — diz ele, amável, com o olhar fixo em mim. — Não aconteceu nada de errado. A Flora ficou um pouco agitada com tudo o que houve e demorou a dormir. Eu perdi o sono e decidi ler um pouco, isso me acalma — explico, e ele sorri fraco, demonstrando alívio. — Ah, sim! Que bom, então. Ele permanece no carro, me olhando como se não soubesse o que dizer, e eu acabo falando algo que, só depois, percebo ser um erro. — Eu vou entrar, está frio aqui. Vem, entra um pouco — convido. Sem perda de temp
"A vida é uma balança entre aceitar o que não podemos mudar e ter coragem para mudar o que podemos." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Manhã do dia seguinte Já estou sem sono, e depois que Álvaro vai embora sem olhar para trás, tudo piora. Até deito na minha cama, mas rolo de um lado para o outro e nada de conseguir dormir. Então, ao ver que já está amanhecendo, decido tomar um bom banho e me arrumar para enfrentar mais um dia de aula naquele colégio, que a cada dia se torna um martírio para mim. Tudo ali já é extremamente difícil de digerir, mas confesso que, desde a chegada de Álvaro e o fato de ele estudar na mesma turma que eu, minha vontade de desaparecer daquele lugar só aumenta. Mas não posso fazer isso. Primeiro, porque prometi à minha mãe que concluiria meus estudos. Segundo, porque já abri mão de muitas coisas pelo bem-estar de outras pessoas, e está mais do que na hora de pensar um pouco em mim e no meu futuro. A única certeza que tenho é que, se quero conquistar algo nesta v
"Somente quando encontramos o amor é que descobrimos o que nos faltava na vida." (John Ruskin) ♡ Laura Os dias passam, e tudo continua na mesma. Álvaro está cada vez mais distante, e eu, mais triste. Sinto muito a falta dele, mas não consigo me aproximar. Tenho medo da sua reação, e por isso prefiro deixar as coisas como estão. Álvaro é um homem rico, e ter uma garota como eu ao seu lado só o faria sentir uma coisa: vergonha. Então, é melhor que ele continue se aproximando da Mônica. Ela nasceu em berço de ouro, tem muita instrução, é viajada, fala vários idiomas e, com certeza, é digna de se tornar uma Meirelles. Com esse pensamento, sigo para o último dia de aula. Enfim, é sexta-feira. Para muitas garotas, isso significa sair, curtir e aproveitar a vida. Mas, para mim, significa dois dias longe daquele maldito lugar e, principalmente, daquelas pessoas prepotentes. Já na escola, cabisbaixa, atravesso o portão e, ao erguer o olhar, vejo de relance o carro do Álvaro estacionado. Su
"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar." (Leonardo da Vinci) ♡ Laura O resto do dia passa vagarosamente e, como sempre, tento a todo custo pôr Flora para dormir, mas ela não para de brincar com os balões que recebeu de Álvaro. Resumindo: só adormece quando não aguenta mais, e ainda por cima agarrada aos balões. Eu, além de não conseguir parar de pensar em Álvaro, tenho uma preocupação extra. Meu pai ainda não chegou. Já passa das onze da noite, e ele nunca demora assim. Em meio ao desespero, penso em um jeito de encontrá-lo. Então, lembro do cartão que Álvaro me deu. Com ele em uma das mãos, fico parada observando o número do telefone. Por um momento, penso em não ligar. Afinal, ele está sem falar comigo há uma semana. Mas a preocupação me domina, e resolvo ao menos tentar. Ligo uma vez. Chama, chama, e ninguém atende. Então, não ligo mais. Ele deve estar ocupado, e é óbvio que não perderia tempo com os problemas de uma garota bobalhona como eu. Com es
"Cada momento ao seu lado é um presente." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Quando seus lábios encontram os meus, eu sei que poderia viver até os cem anos e visitar todos os países do mundo, mas nada se compara àquele momento em que beijo pela primeira vez um homem… E o principal: o homem dos meus sonhos. Ali, com seus lábios nos meus, percebo que meu amor por ele vai durar para sempre, e que sou capaz de enfrentar qualquer barreira para viver esse sentimento. Em seus braços, não consigo pensar em nada, só existem Álvaro, eu e nosso primeiro beijo. Segundos depois—e creio que não são poucos—afasto meus lábios devagar, e ele faz o mesmo. Solto-o lentamente e me viro para frente, sem olhar para o lado. Estou nervosa demais com a situação e sequer consigo pensar em algo para aproveitar um pouco mais aquele momento em seus braços. Minha vontade é gritar e chorar ao mesmo tempo, tamanha é a felicidade que sinto. A chuva fica cada vez mais forte, acompanhada de relâmpagos e trovões. O bar
"Amar você é a melhor parte da minha vida." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Álvaro usa apenas uma calça jeans, e seus pés estão descalços. Como uma esfinge, permaneço olhando para aquela perfeição em forma de homem, mas saio do transe quando ele se aproxima, me beija e, sem perder tempo, ergue meu corpo, entrelaçando minhas pernas em torno de seu quadril. Ele me leva até a cama, possivelmente a de seu quarto. Lentamente, me deita nela e deixa seu corpo cair vagarosamente sobre o meu. Seus beijos aumentam de intensidade, e eu sinto sua ereção roçar em minha intimidade, que já lateja, me oferecendo a sensação mais deliciosa que já experimentei. Sem desviar os olhos dos meus, ele começa a subir meu vestido, deixando minha calcinha exposta. Em seguida, enfia os dedos por baixo do tecido e a puxa. — Você é linda — murmura, com uma voz sexy, carregada de desejo, enquanto beija minha intimidade, já úmida. Ele termina de tirar minha calcinha, abre minhas pernas e começa a me chupar de um
"É melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado." (Autor Desconhecido) ♡ Laura Já é madrugada quando Álvaro me deixa em casa. Ele se despede com um beijo, diz mais uma vez que me ama e segue seu caminho. Ainda não acredito no que aconteceu, mas me sinto feliz e cada vez mais apaixonada por ele. Entro e vou direto para o quarto da Flora. Aproximo-me da cama dela e percebo que sua respiração é tranquila. Ajeito seu cobertor, beijo sua testa e, em seguida, saio, indo direto para o meu quarto. Já de banho tomado e vestindo minha camisola de algodão florida, deito-me na cama, mas o sono demora a chegar, porque as imagens do Álvaro — seu olhar, seu jeito carinhoso e todas as suas palavras — estão grudadas na minha mente. Estou feliz, sorrio o tempo todo e já sinto uma saudade imensa dele. Ainda não entendo como tudo aconteceu tão rápido entre nós, mas agora isso é o menos importante. Afinal, apenas me permiti sentir e viver. Se foi certo ou errado, não sei dizer, mas o que importa