"Amar não é apenas olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.” (Antoine de Saint-Exupéry)
***********♡*********** Laura Depois do lanche, o Álvaro foi nos deixar em casa, eu ia no banco de trás com a Flora que não parava de fazer perguntas o tempo todo, e não sei de onde ele tirava tanta paciência. Álvaro não parava de me encarar pelo espelho e isso me deixava sem jeito. Até que a Flora, esperta demais, resolveu fazer mais uma pergunta: — Álvaro você 'tá' namorando com a Laurinha? Nesse momento não soube onde enfiar minha cabeça, fiquei morta de vergonha. O Álvaro, por sua vez, começou a sorri sem parar, até que respondeu: — Não Florinha, sua irmã não me quer. — Falou ele, em seguida me olhou novamente pelo espelho retrovisor Eu fiquei calada e desviei o olhar. Ao chegar em casa ouvi barulhos vindo do interior do imóvel, era o meu pai completamente bêbado quebrando as poucas coisas que tínhamos. Nesse momento fiquei sem ação, ele sempre bebia, mas nunca foi agressivo em casa. Saí do carro e corri pra abrir a porta. O Álvaro saiu também e entrou junto. Me deparei com meu pai com as mãos ensanguentadas, por quebrar as garrafas de cachaça, juntamente com os quadros das fotos da mamãe. A Flora, coitadinha, ficou assustada com a cena e começou a ter uma crise de ansiedade. Meu pai quando viu a reação dela, sentou, e começou a chorar ao seu lado. — Me perdoe, minha filha, eu não queria tá assim... Eu vou parar, eu juro... Me perdoe, por favor. — Falava meu pai enquanto chorava abraçado com a Flora — As fotos da mamãe, você quebrou... Você destruiu tudo. Eu odeio você. — falou a Flora e saiu correndo pro quarto Depois meu pai chorou ainda mais. — Eu não consigo minha filha... Sua mãe se foi, mas eu não consigo, eu não consigo superar. Eu bebo pra esquecer dela. Mas hoje eu passei dos meus limites, me perdoe... — Falava ele sem olhar pra mim Eu não falei nada, só fui até a cozinha pegar as coisas pra limpar aquela bagunça, mas por outro lado, estava com vergonha pelo Álvaro ter presenciado aquela cena horrível. Para minha surpresa, nesse momento o Álvaro sentou ao lado do meu pai, e começou a falar: — Olha, eu sei que não tenho nada a ver com a sua vida, mas queria encontrar neste momento as palavras certas para confortar o seu coração, porém não é fácil saber o que dizer para quem teve uma perda tão dolorosa, e eu tenho certeza que vocês fariam tudo para poder traze-la de volta. Mas o senhor já imaginou o que ela ia achar se soubesse que está assim? Fazendo suas filhas sofrerem, além de ter perdido a mãe, vê o pai se acabando aos poucos? Meu pai se calou pra escultar o que ele falava e pude perceber que aquelas palavras fizeram algum sentido pra ele. Eu já não sabia o que fazer e muito menos o que dizer ao meu pai para fazê-lo entender que ele não estava apenas destruindo a si mesmo, mas também a sua dignidade e nós, suas filhas, que não tínhamos culpa de nada do que aconteceu. Nós gostaríamos que o tempo voltasse e que nossa mãe estivesse ao nosso lado, mas as coisas não podem sem assim, perdemos a mamãe, mas tudo ficaria muito pior se perdessemos a nós mesmos. Visivelmente envergonhado meu pai olha para o Álvaro e emocionado diz: — Minha esposa não ia querer isso. Mas eu não consigo, eu não consigo parar. — começou a chorar novamente— Minhas filhas, elas sofrem demais, eu sei, mas não consigo largar esse maldito vício, eu só quero beber, beber e beber para esquecer e diminuir essa dor que dilacera o meu coração. — Mas o senhor ao menos tentou parar? — Álvaro pergunta — Não. — meu pai responde com a voz fraca — Então não diga que você não consegue, se ainda nem tentou. — meu pai olha para o Álvaro, enxuga as lágrimas e fala de um jeito que nunca disse antes — Você tem razão rapaz, eu vou parar... Pelas minhas filhas, eu vou conseguir. — Disse meu pai com a voz embolada de tão bêbado que estava — Tenho uma idéia, o senhor vai dormir agora, esfriar a cabeça e quando acordar fala com suas filhas, peça perdão e o principal, vai começar a se tratar. E eu pessoalmente quero acompanhar o progresso. Então Álvaro ajudou meu pai a ir pra cama, enquanto eu terminava de limpar a bagunça. Depois foi até o quarto da Flora. Com o silêncio e o som de uma conversa de longe, fui andando em pequenos passos, e fiquei no canto da porta sem que ele me visse. Ele estava sentado de frente a cama da Flora e conversando com ela com todo carinho e paciência do mundo. — Eu odeio ele, odeio. — falava a Flora chorando abraçada ao Álvaro — Não fala assim, o papai só está doente. — Álvaro fala acariciando seus cabelos acobreados, e ela se afasta indignada com o que ouviu — Doente? Quando eu tô doente não destruo as coisas e ainda mais as únicas lembranças da mamãe. — ela falava com os braços cruzados Álvaro segura suas mãozinhas e fala: — Olha, é que o papai sente tanto, tanto a falta da mamãe que seu coração tá fraquinho e por isso ele fez tudo aquilo. Mas olha, eu o Álvaro aqui dei uma bronca nele. — nesse momento ele fechou a mão e bateu em seus peitos querendo mostrar firmeza pra ela — Falei pra ele, esculta aqui, você não pode fazer mais isso. Você deixou a Flora muito chateada e amanhã você vai tomar remédio pra passar essa doença e deixar ela feliz. Você tá escutando? Pude ver um pequeno sorriso no rosto da Flora enquanto Álvaro falava. — E ele falou que vai tomar, Álvaro? — Faloooooou, ele falou que vai tomar sim. E eu vou ficar vindo aqui pra ajudar ele. Você é eu, o que acha da gente ajudar o papai a se curar? — Eu, você e a Laura também. —Completou a Flora — Claro. A Laura também. Agora mocinha você tira esse choro do rosto, dá um sorriso lindo, e força pro papai. — ÊÊÊ... — Gritou a Flora abraçada ao Álvaro Então o Álvaro levantou da cama. — Agora o tio aqui vai ter que ir embora, porque vai ter que trabalhar, tá bom? — Tá boom, mas não esquece viu, do papai? — Claro que não. Eu prometo que volto. Agora b**e aqui. — Falou ele levantando a mão pra Flora b**er Então vendo que ele sairia do quarto, corri de volta pra sala, e fingi está limpando. — Tudo resolvido. — Disse Álvaro se aproximando — Nossa! Não sei nem como te agradecer. — Seu pai vai sair dessa... Eu vejo nele a vontade de se curar. E isso é o que vai dá forças pra ele. Só precisa de apoio e principalmente paciência. — Ah, isso eu tenho demais! — falo com um sorriso no rosto — Eu ia te convidar pra passear mais tarde, mas com isso que aconteceu, acho que você não aceita. — Disse ele na porta — Me desculpe, mas tá muito cedo. Mal conheço você. E outra, minha vida é tão difícil... Não quero me envolver com ninguém, eu dedico minha vida pra Flora e meu pai. Tenho fé ele vai sair desse vício. — Caramba... — Disse ele passando a mão na nuca — O que foi? — pergunto curiosa — Nada... É que é a primeira vez que eu levo um fora... — Disse ele meio sem graça — Me desculpe... Mas sou sincera. — falo e dou de ombros — Tá bom, melhor eu ir... Não quero incomodar você. — ele diz se afastando — Tá... Mas você não está me incomodando. So joguei a real, sabe... — ele me interrompe — Jogou a real... — ele estala a língua — Sei, então tá, até mais senhorita. Nesse momento a Flora veio gritando o nome dele pela casa. — Álvaro... Não esqueça do nosso trato viu. — Claro Florinha. Se a sua irmã deixar, eu venho, tá. — Eu deixo. Quem manda aqui sou eu... E vou convidar você pra ir pro parque e ela não vai. — Disse a Flora toda autoritária Ele começou a sorri enquanto tirava algo do carro. — Aqui está meu cartão. Se precisar de algo pode me ligar. — Tá bom. Obrigada mais uma vez. — Respondi observando o cartão que era muito bonito por sinal Álvaro se aproximou do meu rosto e me deu um beijo quase na boca, em seguida me olhou bem no fundo dos olhos. Aquele olhar me transmitia uma paz. Depois ele deu um beijo na Flora e foi embora, me deixando ali suspirando feito uma boboca por um amor que jamais seria possível de ser vivido, e que teria que enfrentar muitas fronteiras para se realizar. E sinceramente, não tinha certeza se conseguiria ir tão longe para viver um sentimento assim. ▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎▪︎"Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela." (Paulo Coelho) *************** Depois que o Álvaro foi embora, cuidei da casa, fiz comida, lavei a roupa, ainda ajudei a Flora nas tarefas da escola, e assim o resto do dia passou voando, e sem demora a noite chegou. Já passavam das dez horas da noite quando sentei ao lado de Flora contando-lhe uma história para que ela dormisse, mas com tudo o que aconteceu, dificilmente ela dormiria rapidamente e sua atenção estava em qualquer lugar desse universo, menos dentro daquele quarto. — Flora... — a chamo, mas ela não olha para mim, e sequer me dava atenção — Flora... Amor... — tento mais uma vez, mas nada dela me olhar, e continuava brincando com suas mãos. Eu me sentia muitas vezes perdida e sem saber como agir quando ela se isolava dessa maneira, nossa mãe sempre sabia o que fazer e como contornar uma situação difícil, se ela estivesse aqui nada disso estaria acontecendo. Unindo minhas mãos, olho para sua foto que estava n
"Amar alguém é aceitá-lo com todas as suas imperfeições e ainda assim vê-lo como perfeito." **************** Decido deixar a razão de lado e dou ouvidos ao que o meu coração dizia. Com o livro nas mãos, sem demora abro a porta da sala, e vou até o carro saber o que estava acontecendo. — Álvaro? O que está fazendo aqui? — pergunto próximo a porta do carona e olhando para os lados — Estava passando e vi a luz acesa, fiquei preocupado, achei que vocês estavam com algum problema. — ele dizia amável e com o olhar fixo no meu — Não aconteceu nada de errado. A Flora ficou um pouco agitada por tudo o que houve e demorou a dormir. E eu perdi o sono e então decidi ler um pouco, isso me acalma. — falo e ele sorri fraco demonstrando está aliviado — Ah, sim! Que bom, então. Ele ficou no carro me olhando sem saber o que dizer, e eu falo algo que só depois percebo que foi um erro. — Eu vou entrar, está frio aqui. Vem, entra um pouco. — o convido, ele sem perda de tempo saiu do carro
"A vida é uma balança entre aceitar o que não podemos mudar e ter coragem para mudar o que podemos." *************♡************* Manhã do dia seguinte... Eu já estava sem sono, e depois que o Álvaro foi embora sem olhar para trás, tudo piorou. Até cheguei a deitar na minha cama, mas rolava de um lado para o outro, e nada de conseguir dormir. Então, ao ver que já estava amanhecendo, decido tomar um bom banho e me arrumar para enfrentar mais um dia de aula naquele colégio, que a cada momento tem se tornado um martírio para mim. Tudo ali já era extremamente difícil de digerir, mas confesso que desde a chegada do Álvaro e o fato dele estudar na mesma turma que eu, aumentou e muito a minha vontade de desaparecer daquele lugar. Mas não poderia fazer isso, primeiro porque fiz uma promessa a minha mãe de que concluiria meus estudos, e segundo pelo fato de eu já ter aberto mão de muitas coisas para o bem estar de outras pessoas, e já estava mais do que na hora de pensar um pouco em mim e
"Somente quando encontramos o amor é que descobrimos o que nos faltava na vida." (John Ruskin) *********♡********* Os dias passaram e tudo continuou na mesma. Álvaro cada vez mais distante, e eu mais triste. Eu sentia muito a falta dele, mas não conseguia me aproximar, eu tinha medo da sua reação, e por isso preferi deixar as coisas como estavam. Álvaro era um homem rico, e ter uma garota como eu ao seu lado só o faria sentir uma coisa, vergonha. Então, era melhor ele continuar se aproximando da Mônica, ela nasceu em berço de ouro, tem muita instrução, é viajada, fala vários idiomas e com certeza seria digna de se tornar uma Meirelles. Com esse pensamento seguia para o último dia de aula, enfim era sexta-feira, para muitas garotas isso significava sair, curtir e aproveitar a vida. Mas, para mim, significava dois dias longe desse maldito lugar e principalmente dessas pessoas prepotentes. Já na escola, cabisbaixa atravesso o portão, e ao erguer o olhar, vejo de relance o carro do
"As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar." (Leonardo da Vinci) ************❤️************* O resto do dia passou vagarosamente, e como sempre, tentei a todo custo pôr a Flora pra dormir, mas ela não conseguia parar de brincar com os balões que havia recebido do Álvaro, resumindo, ela só dormiu quando não aguentou mais e ainda por cima agarrada aos balões. Eu, além de não conseguir parar de pensar no Álvaro, ainda tive uma preocupação extra. Meu pai ainda não tinha chegado. Eu já estava ficando preocupada, porque já passavam das onze horas da noite, e ele nunca demorou assim. Em meio ao desespero fico pensando em um modo de encontrá-lo, foi então que eu lembrei do cartão que o Álvaro havia me dado. Com ele em uma das mãos, fico parada observando o número do telefone, por um momento penso em não ligar, afinal, ele estava sem falar comigo há uma semana. Mas eu estava tão preocupada que não suportei e resolvi ao menos tentar... Liguei uma vez, chamou, chamou e
"Cada momento ao seu lado é um presente."********************Quando os seus lábios encontraram os meus, eu sabia que poderia viver até os cem anos e visitar todos os países do mundo, mas nada iria se comparar a àquele momento que eu beijei pela primeira vez um homem... E o principal, era o homem dos meus sonhos. Ali, com seus lábios nos meus, eu soube que meu amor por ele duraria para sempre, e que eu seria capaz de enfrentar fronteiras para viver esse sentimento. Ali, em seus braços eu não conseguia pensar em nada, só existia o Álvaro, eu e nosso primeiro beijo. Segundos depois, e creio que não foram poucos, fui afastando meus lábios e ele fez o mesmo. Soltei-o lentamente e me virei para frente, sem olhar pro lado. Eu estava nervosa demais com a situação, e nem ao menos consegui pensar em nada para aproveitar um pouco mais daquele momento em seus braços. Minha vontade era gritar e chorar ao mesmo tempo, tamanha era a felicidade que eu sentia. A chuva ficava cada vez mais forte ac
"Amar você é a melhor parte da minha vida."*********************Algum tempo depois, percebo que a velocidade do carro diminui, diante de nós um grande portão é aberto e quando olhei vi que estávamos diante de um condomínio luxuoso. Álvaro estacionou o carro em frente a um dos prédios, desceu vindo em minha direção, abrindo a minha porta e me oferecendo a sua mão para que eu pudesse descer. Sem pensar em nada, segurei a sua mão com força, e com um sorriso estampado em meu rosto juntamente com um frio na barriga entramos no elevador e fomos até o décimo andar.Sem soltar a minha mão, Álvaro me leva até uma porta branca, retira a chave do bolso da sua calça e abre. Ao entrar, me deparo com um apartamento sofisticado e de alto padrão. Boquiaberta com o tamanho e o luxo daquele lugar, apenas consigo dizer:— Você mora aqui?— Sim... — ele respondeu e eu senti a porta ser fechada atrás de mim— É muito bonito aqui... — Virei pra trás e levo um susto ao vê-lo sem camisaMas minha surpresa
"É melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado."*******************Já era madrugada quando Álvaro me deixou em casa, ele se despediu com um beijo, disse mais uma vez que me amava e seguiu o seu caminho. Eu ainda não acreditava no que tinha acontecido, mas eu me sentia feliz, e cada vez mais apaixonada por ele. Entrei em casa e fui direto para o quarto da Flora, me aproximo da cama dela e percebi que sua respiração era tranquila. Ajeito o seu cobertor e deposito um beijo em sua testa, em seguida saio e vou direto para o meu quarto. Já de banho tomado e usando minha camisola de algodão florida, deito em minha cama, mas o sono demora a chegar, porque as imagens do Álvaro, seu olhar, seu modo carinhoso e todas as suas palavras, estavam grudadas dentro da minha cabeça. Eu estava feliz, sorria o tempo todo e já sentia uma saudade imensa dele. Ainda não entendia como as coisas aconteceram tão rapidamente entre nós, mas agora isso era o menos importante, até porque eu apenas me perm