AliceNão sei ao certo por quanto tempo fiquei dentro daquele ônibus e muito menos quantas voltas o motorista deu pela cidade, mas foi o suficiente para eu ser vencida pelo cansaço e dormir com a cabeça encostada na janela. Desperto ao sentir as pontas dos dedos do motorista tocar no meu ombro. Assustada e totalmente perdida me afasto. O motorista me encara de um jeito estranho, como se me achasse louca ou algo parecido. Com a costa da mão esfrego meus olhos e agarrada a minha mochila encaro mais uma vez para o motorista que me adverte.— Moça, você precisa descer. Já chegamos no ponto final. — ele fala e só então percebo que o ônibus estava vazioAi meu Deus, onde estou? Não conheço nada aqui no Rio de Janeiro e muito menos sei como voltar para o morro. Que bela ideia você teve de entrar no ônibus sem ver seu destino dona Alice, e agora o que vai fazer?Sem graça e perdida encaro para o motorista que permanece aguardando que eu saisse do veículo para levar o ônibus para a garagem.
Copacabana/RJAlice — Damares, sou eu, Alice. — falo rápido para não abusar do celular do Fagner — Alicinha? Onde você está? Estamos preocupados com você. — agora Damares fala com uma voz diferente, como se estivesse realmente angustiada— Ai, amiga, aconteceram muitas coisas hoje, mas quando chegar em casa te conto melhor. Mas, a principal é que preciso da ajuda, estou em Copacabana e não sei como chegar em casa. — falo e Damares dá um grito de surpresa do outro lado da linha— Ah, meu Deus! O que aconteceu para você chegar até aí, garota? Esse lugar é um perigo em qualquer horário do dia. — Damares começa o seu sermão de sempre, mas logo a corto, primeiro porque eu estava morta de cansada, estressada por tudo o que aconteceu e ainda estava usando o telefone de um desconhecido — Damares, já disse que depois te explico tudo o que aconteceu nos mínimos detalhes, mas agora eu preciso que venha me buscar. Será que pode fazer isso por mim? — falo já sem paciência — Calma amiga. Eu vou
Alice— Você não deveria deixar suas coisas jogadas por ai, mocinha. Isso pode ser perigoso. — Joel fala segurando o par de tênis e a mochila que eu tinha deixado na areia próximo ao bancoAssustada coloco as mãos na boca e virando o corpo falo:— Que susto! — desequilíbro com o susto, e Joel solta os objetos que tinha em sua mão, me segurando pela cintura evitando uma queda — Desculpa, minha linda, não foi minha intenção te assustar. — Joel fala olhando no fundo dos meus olhos, nossos rostos estão próximos e consigo sentir seu aroma amadeirado que exala por seus poros me fazendo suspirar involuntariamente Joel retira suavemente com as pontas dos dedos uma mecha de cabelo que estava no meu rosto e com carinho a coloca atrás da minha orelha direita. Nossas bocas estão muito próximas e isso por alguma razão me incomoda. Nunca beijei ninguém, acreditem se quiser, aos dezoito anos sou virgem no sentido literal da palavra, mas não me envergonho disso. Não que eu tenha criado na minha ment
AliceJoel parecia ler meus pensamentos e com sua voz firme fala:— Não, aqui não tem um restaurante, mas tem uma comida deliciosa. Vem comigo. — Joel já fora do carro abre a porta do carona e estende a mão em minha direção. Mesmo assustada e temerosa, confio nele e o sigo. Entramos no elevador e subimos até a cobertura. Eu ainda estava estranhando todo aquele mistério, mas fiquei em silêncio, pois eu confiava no Joel, afinal ele nunca fez algo de errado para perder a minha confiança. A porta do elevador é aberta e ficamos de frente com a entrada de um apartamento. Encaro para Joel e falo:— O que estamos fazendo aqui, Jô? Pensei que fossemos numa lanchonete ou até em um quiosque na praia. — falo desacreditada — Acha mesmo que na nossa primeira chance de passar um tempo juntos eu te levaria para comer em qualquer lugar? — Então, não entendi. De quem é esse apartamento?Ao perguntar Joel abre a porta e sorrindo fala:— Bem vinda a minha nova casa, me mudei ontem, e você é a minha pr
Joel AraújoSou o típico cara tímido, e que ao mesmo tempo, é um amigo para todas as horas. Tenho dificuldades de me relacionar com as mulheres, primeiro pela timidez e segundo pelo medo de ser rejeitado. Nunca tive muitas amizades, as únicas que conquistei foram Damares e Alice, que carrego dentro do meu coração aonde quer que eu vá. Damares é uma grande amiga e a irmã que nunca tive. Já a Alice é a mulher mais perfeita que conheci nessa vida e a dona do meu coração. Nos afastamos desde o ginásio, ela teve que acompanhar a família para Minas Gerais, onde conseguiram um emprego de caseiro, e eu fiquei aqui no Rio de Janeiro distante e com uma saudade imensurável dela. Até tentei manter contato, mas ela ficou incomunicável e minha vida também estava tomando outro rumo... Entrei na Universidade da USP para cursar Psicopedagogia e depois Educação Física. Me aprofundei em meus estudos com o único pensamento, oferecer o melhor para a mulher que tanto amava. Os anos se passaram e quando Da
AlicePG continuava perdendo muito sangue e cada vez mais a possibilidade dele sobreviver diminuía. Ainda não sabia a razão por esse sangramento e isso só aumentava a minha aflição. Eu estava desesperada e sem saber o que fazer. Presa dentro daquele carro, com a roupa lavada de sangue, tudo o que eu conseguia fazer era implorar à Deus por sua misericórdia. Seu semblante era pálido, mas seu corpo ainda estava quente e seu pulso estava fraco, quase imperceptível. O sujeito que estava atrás do volante dirigia como um louco e não parava de subir e descer o morro fazendo várias curvas. Aquilo estava estranho, porque o posto de saúde ficava logo na entrada da comunidade e com o tanto de volta que já tinha sido feita já éramos para estar lá e PG sendo atendido. Percebendo que algo de errado estava acontecendo por ali, impaciente e aflita decido falar. — Pra onde vocês estão indo? — pergunto nervosa e não ouço resposta, mas não me dou por vencida — PG precisa chegar ao hospital o quanto ante
Alice O tempo não parava de correr e com ele aumentava a minha aflição. Eu não sabia exatamente que horas eram, mas era evidente que faltava muito pouco para amanhecer. Eu sequer havia pregado os olhos, mas naquele momento tudo o que eu menos tinha era sono, parecia que a adrenalina do meu corpo havia jogado o cansaço para bem longe. O doutor se preparava para iniciar a cirurgia, mas o pavor em seus olhos era visível e deixava bastante claro que aquela era a primeira vez que passava por algo assim. Naquela sala minúscula, além do PG, só estavam o médico, Nocaute e eu. Ainda não conseguia acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo, minha ficha ainda não tinha caído e eu me imaginava vivendo uma cena de filme. Homens fortemente armados cercando todo o barraco, o chefe do morro baleado e com grandes chances de morrer. Um médico trêmulo com medo de algo dar errado e ele pagar com a própria vida pelo erro cometido. E eu ali, parada com a roupa lavada de sangue, com os olhos a
AliceMais agitada do que nunca, sigo meu caminho e dou passos firmes em direção à casa da dona Olga. Estava com a roupa lavada de sangue e precisava urgentemente tomar um banho para ir trabalhar. Mesmo sem ter tido tempo para descansar, eu preciso cumprir com minhas responsabilidades, e a creche era uma delas. Com as mãos nos bolsos da minha calça e pensativa caminho por algum tempo. As ruas da comunidade já estavam movimentadas, moradores descendo para iniciar mais um dia de trabalho e outros subindo após longas horas trabalhando a noite. Os comerciantes pouco a pouco abrindo suas portas para mais um dia agitado. Eu continuava a minha caminhada, cumprimentando alguns e sendo observada por outros. Estava distraída e sequer percebo que tinha alguém ao meu lado seguindo meus passos, até o mesmo abrir a boca e quase me matar de susto.— Sobe ai mulher maravilhaque te deixo em casa. Era Nocaute em cima de uma moto, sem camisa e com sua arma à mostra.— Que susto! Quer me matar? — falo