Joel AraújoSou o típico cara tímido, e que ao mesmo tempo, é um amigo para todas as horas. Tenho dificuldades de me relacionar com as mulheres, primeiro pela timidez e segundo pelo medo de ser rejeitado. Nunca tive muitas amizades, as únicas que conquistei foram Damares e Alice, que carrego dentro do meu coração aonde quer que eu vá. Damares é uma grande amiga e a irmã que nunca tive. Já a Alice é a mulher mais perfeita que conheci nessa vida e a dona do meu coração. Nos afastamos desde o ginásio, ela teve que acompanhar a família para Minas Gerais, onde conseguiram um emprego de caseiro, e eu fiquei aqui no Rio de Janeiro distante e com uma saudade imensurável dela. Até tentei manter contato, mas ela ficou incomunicável e minha vida também estava tomando outro rumo... Entrei na Universidade da USP para cursar Psicopedagogia e depois Educação Física. Me aprofundei em meus estudos com o único pensamento, oferecer o melhor para a mulher que tanto amava. Os anos se passaram e quando Da
AlicePG continuava perdendo muito sangue e cada vez mais a possibilidade dele sobreviver diminuía. Ainda não sabia a razão por esse sangramento e isso só aumentava a minha aflição. Eu estava desesperada e sem saber o que fazer. Presa dentro daquele carro, com a roupa lavada de sangue, tudo o que eu conseguia fazer era implorar à Deus por sua misericórdia. Seu semblante era pálido, mas seu corpo ainda estava quente e seu pulso estava fraco, quase imperceptível. O sujeito que estava atrás do volante dirigia como um louco e não parava de subir e descer o morro fazendo várias curvas. Aquilo estava estranho, porque o posto de saúde ficava logo na entrada da comunidade e com o tanto de volta que já tinha sido feita já éramos para estar lá e PG sendo atendido. Percebendo que algo de errado estava acontecendo por ali, impaciente e aflita decido falar. — Pra onde vocês estão indo? — pergunto nervosa e não ouço resposta, mas não me dou por vencida — PG precisa chegar ao hospital o quanto ante
Alice O tempo não parava de correr e com ele aumentava a minha aflição. Eu não sabia exatamente que horas eram, mas era evidente que faltava muito pouco para amanhecer. Eu sequer havia pregado os olhos, mas naquele momento tudo o que eu menos tinha era sono, parecia que a adrenalina do meu corpo havia jogado o cansaço para bem longe. O doutor se preparava para iniciar a cirurgia, mas o pavor em seus olhos era visível e deixava bastante claro que aquela era a primeira vez que passava por algo assim. Naquela sala minúscula, além do PG, só estavam o médico, Nocaute e eu. Ainda não conseguia acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo, minha ficha ainda não tinha caído e eu me imaginava vivendo uma cena de filme. Homens fortemente armados cercando todo o barraco, o chefe do morro baleado e com grandes chances de morrer. Um médico trêmulo com medo de algo dar errado e ele pagar com a própria vida pelo erro cometido. E eu ali, parada com a roupa lavada de sangue, com os olhos a
AliceMais agitada do que nunca, sigo meu caminho e dou passos firmes em direção à casa da dona Olga. Estava com a roupa lavada de sangue e precisava urgentemente tomar um banho para ir trabalhar. Mesmo sem ter tido tempo para descansar, eu preciso cumprir com minhas responsabilidades, e a creche era uma delas. Com as mãos nos bolsos da minha calça e pensativa caminho por algum tempo. As ruas da comunidade já estavam movimentadas, moradores descendo para iniciar mais um dia de trabalho e outros subindo após longas horas trabalhando a noite. Os comerciantes pouco a pouco abrindo suas portas para mais um dia agitado. Eu continuava a minha caminhada, cumprimentando alguns e sendo observada por outros. Estava distraída e sequer percebo que tinha alguém ao meu lado seguindo meus passos, até o mesmo abrir a boca e quase me matar de susto.— Sobe ai mulher maravilhaque te deixo em casa. Era Nocaute em cima de uma moto, sem camisa e com sua arma à mostra.— Que susto! Quer me matar? — falo
AliceSem responder a minha pergunta, Joel fica de pé, e com passos rápidos se aproxima de mim. Seu olhar era de espanto, com toda certeza por ver o estado que eu me encontrava, sem falar na minha roupa que estava imunda. Mas algo estava estranho, primeiro pelo fato dele estar aqui tão cedo e segundo pelo seu olhar que a princípio era assustado, mas logo depois ficou distante, e confesso que isso não me agradou e muito menos me trouxe boas sensações. Só espero que minha intuição esteja errada, assim não corro o risco de ter problemas por um bom tempo, porque minha cota de aborrecimentos e estresses já tinha ultrapassado o nível máximo nesses últimos dias.Tento fechar a porta e entrar em casa, mas sou impedida por Joel que fala:— Você está bem, princesa? — Joel pergunta aflito segurando a minha mão e ao mesmo tempo com o olhar examinava o meu corpo de cima abaixo — Sim. Estou bem, na medida do possível. — respondo sem ânimo e um pouco preocupada com a situação do PG. Enfim consigo
AliceDeixo o cartão em cima da pia do banheiro e entro no box para tomar um banho. Enquanto a água fria caía sobre meu corpo, eu tentava esquecer as imagens difíceis e todo medo que senti nessa madrugada. O som dos trovões seguido pelo estrondo da queda de PG, ainda ecoava em minha mente, e a sensação de impotência diante do sofrimento dele me assombrava. Fechei os olhos, deixando que a água levasse embora a angústia e a sujeira, mas sabia que algumas manchas não se apagam com facilidade.Após o banho, procurei por uma roupa para ir trabalhar, mas tudo o que eu tinha era uma blusa branca de algodão, então o jeito era ir até o quarto da Damares e usar alguma roupa dela. Não vejo a hora de receber o meu pagamento e assim poder comprar algumas coisas pra mim, porque ficar usando roupas da Damares para sempre não dá. Não que ela se queixava, muito pelo contrário, desde o início me recebeu de braços abertos, mas nada é tão maravilhoso do que pouco a pouco ir conquistando as coisas pelo pr
Alice— Oi, Alice! Como você...Não o deixo terminar.— Eu perguntei, o que você faz aqui? — falo seria, fria e pausadamente, para que ele pudesse compreender de uma vez por todas, que tanto a sua presença quanto a de seu irmão não eram bem vindas nem aqui ou em outro lugar que eu estivesse presente.Se tratava do Rubens, tio da Sophia e irmão do tal Saulo, que era uma das pessoas que eu não gostaria de ver na minha frente em momento algum. Ele estava encostado no carro e caminha em minha direção tentando compreender o que estava acontecendo. Mas ele chegou no pior momento da minha vida, eu estava exausta tanto fisicamente quanto emocionalmente e psicologicamente, portanto conversar com um desconhecido estava totalmente fora das minhas possibilidades. Odeio ser grosseira com quem quer que seja, mas tem momentos, como esse, que precisamos mostrar o nosso pior lado ou então as pessoas não entendem quando estão sendo inconvenientes. E esse era o caso do Rubens, que já estava se tornando
AliceEnfim mais um dia termina e junto com a noite o cansaço das longas horas acordada chega com força total. Todas as crianças já haviam sido liberadas e eu apenas terminava de guardar meus materiais na sala dos professores para seguir o meu caminho. Feito isso me despeço de todos que encontro pelo caminho e por último falo com seu José. — Até amanhã seu José! — falo e dou um leve aceno com as pontas dos dedos— Até amanhã! Vá com Deus! — ele se despede, amável como sempre Seguro forte nas alças da minha inseparável mochila e a passos largos sigo pela calçada. O caminho até a comunidade era longo, mas eu já tinha acostumado e depois do que passei de jeito algum procurarei pelo caminho mais curto. Já basta de problemas.O carro de Joel não estava mais no estacionamento sinal de que já tinha ido embora sem sequer se despedir de mim. Até agora não acredito que tivemos aquela discussão, ou melhor ele discutiu comigo, sem motivo algum. Não sei de onde ele tirou que existe a possibilid