III- Ária Duarte 

Três anos se passaram desde a morte do meu pai, muita coisa mudou desde então, e uma delas foi saber que a minha mãe não se chama Édna como sempre me disseram, na verdade não apenas disseram, era o que se lia e sabia, nos meus documentos o nome Edna Gonçales Duarte era uma mentira contada e muito bem pelo visto, com provas que me fizeram crêr como uma verdade absoluta, mas porquê?

Afinal Gilda, a minha mãe que só descobrir com a morte do meu pai, é uma mulher importante na nossa cidade e fora dela, uma advogada renomada, que já teve convite de várias multinacionais, e embora seja muito importante e famosa em Vale do Paraíso, sempre fez e faz parte de uma empresa a mais de vinte anos.

Não foi fácil conseguir informações sobre a doutora Gilda Linhares, a sua vida profissional é destacável, mas a sua vida particular, infelizmente é tão fechada, de nada se sabe, três anos procurando saber, investigando, juntando manchetes e ao máximo que conseguir chegar foram retalhos, papeis, sobre premiações, causas importantes, destaques na sua carreira, e foi por isso que decidir me aproximar desta mulher, para saber quais motivos me fizeram crescer longe de uma mãe. 

Permaneci na cama por mais um tempo que os demais dias, apesar do dia ter amanhecido a algum tempo, olhando para o teto deixando vários pensamentos correrem por minha mente incasavel, tentando organizar mentalmente o que farei durante o dia, o que falarei, organizando um compromisso atrás do outro, fitando o nada acima de mim enquanto olhava o teto não foi surpresa alguma quando a porta do meu quarto foi escancarada. - Então mudou de ideia? - A voz invasiva de Carol chegou aos meus ouvidos repentinamente. 

Desviei os olhos do teto para a porta, vendo a mulher alta, negra, magra com o cabelo cacheados preso num coque malfeito, além de estar vestida de pijama calça de ursinhos marron, juntamente a blusa de mangas compridas brancas com ursinhos perdidos, a mulher de pé segurando um xícara amarela de porcelana a me olhar séria, faz-me engolir em seco ao reanalisar as minhas decisões. 

Dando-se por vencida ela suspira na nossa mera troca de olhares junto ao meu silêncio, eu preciso de apoio, não de reprovação. - Ah droga! Já vi que não! - A vejo erguer a sobrancelha negando com a cabeça, vindo para a minha cama em seguida, bebericando um gole da sua xícara, enquanto sento na minha cama vendo-a vir ainda. - Não, eu não cheguei até aqui pra morrer na praia, Carol. - Afirmo seriamente, ciente das minhas decisões. 

- Você sabe que as chances de não ser aprovada são altas, não sabe? - Tenta me intimidar ao se sentar e me olhar, e como quem busca um pouco de recuo fixa os seus olhos escuros aos meus. - Sim, eu sei, amiga...- Afirmo confiante de que sei melhor que ninguém. - Ária desiste, aquele lugar não irá te fazer bem, são pessoas... são...

Eu sei que ela só quer o meu bem e apesar de saber, eu preciso estar lá, aproximar, entender, obtér respostas. - Carol por favor, custa me entender? Amiga, eu sei que você só quer o meu bem, que aquele lugar não é pra mim...- É como se estivesse sufocada quando tento explicar, não é questão de ser ou não o lugar, a empresa é o único meio que encontrei de saber quem é Gilda, não há outro caminho. 

- Então amiga, ao menos me escuta, não será fácil, se o meu tio não quis...

Ao escuta-la explicar, levanto-me apreensiva, unindo palavras dentro de mim, é mais fácil sentir do que explicar o que quero. - E quem disse que eu quero que sejá fácil, Carol, você como minha amiga sabe melhor que ninguém...

Virando-se para mim e para a porta que acabará de entrar, ela se vira a me olhar-Sei que você não gosta de nada fácil, mas fazer o que estar prestes a fazer é demais, Ária, é loucura! Você nem mesmo tem interesse no ramo empresarial, creio que... que...

Não nego, não tenho jeito algum com isso, mas estudo direito e isso não deve ser diferente na prática. - E daí que eu não tenha interesse na area, não será nada que uma estágiaria de direito não possa fazer, Carol. - Lhe vendo ri fraco por ver que não me conveceu, e em seguida lamentar, tudo que quero é que me compreenda.

Abrindo os braços dando encerramento ao assunto, inspira fundo, ciente que não terei seu apoio, não desta vez, afirmo  dando-lhe as costas em seguida, não a julgo, Carol conheceu seu pai e sua mãe, e antes de vir para cá, crescerá com eles, já a mim, fui a única a não conhecer a mãe em todas as turmas, haviam colegas sem pais, mas a sem mãe sempre fui a única, era aceitável que ela houvesse morrido no parto, após anos me culpando, chorando, a falta da sua presença era um martirio.  -Esta bem, tudo bem.

Estava dando as costas quando a ouvir, virei-me surpresa talvez como uma criança a ganhar um doce, lhe vendo me olhando negando com a cabeça. Sim, eu sabia que não ia ser fácil, creio que ninguém mais no mundo teria duvidas disto, mas ver Carol me apoiar nisto, só me fez entrar num ápice de alegria. - Jura? - Perguntei de olhos arregalados, lhe vendo mesmo contra, afirmar torcendo os lábios. 

- Sim, o que não me pedes sorrindo que não faço chorando, Ária?- Nem mesmo havia acabado de terminar a frase, quando a abracei envolvendo-a em meus braços submersa em alegria, não seria fácil isso eu sabia, mas sozinha seria bem pior. - Obrigado, obrigado amiga! Você é a melhor am...- Enchia-lhe de beijos quando afastou-me o rosto. - Calma, calma ainda não terminei. 

Lhe olhei desconfiada, mais é claro como pude me apressar tanto, com Carol tudo é negociavel, não é atoa que somos duas estudantes do ramo de direito. Esperei qual seria a proposta dela então. - Ária você já falou sobre isso com o seu noivo? 

Meus ombros cairam ao ouvir, era evidente que Yan não me apoiaria nisto, desde que soube que ando investigando a minha mãe, me diz para deixar para lá, que ela não é importante. - Não! Carol nós não somos casados e você sabe bem...

- Já pensou que ele só quer o seu bem? - Pergunta indo em direção a porta desta vez.- Já tenho vinte e três anos, me considero capaz o suficiente para saber o que pode ser bom ou ruim para mim, não acha?- A sigo pelo corredor persistente, quando chega a cozinha. - Mas é seu noivo e...

- E ele não pode tomar decisões por mim,  você sabe que pensamos diferentes e além disso...- Paro ao lembrar da minha ultima decepção com ele, quando Carol para na pia deixando a xícara sobre ela. - É eu sei, ainda não esqueceu o que ele fez com o SIão, não é? 

Afirmo após respirar fundo. - Sim, não esqueci, ele me magoou muito ao mandar tirar o sião da baía, sei que ele esta velho, já não aguenta a correr como antes, mas é meu cavalo, presente do meu pai.

- E que não está mais competido como antes? ´- Alisando o meu ombro me diz, enquanto inspiro fundo, era inaceitável que Yan mandasse tirar Yan da sua divisa pra colocar aquela égua. - Ao menos já montou na preciosa? - Nego cabisbaixa, pensar na velhice de Sião me abala, foi o meu primeiro cavalo, presente do meu pai, ganhamos tantas competições juntos.

-Te entendo, mas também entendo o Yan, ele está acostumado a ter uma vitóriosa do lado, e todos sabem que é por causa do Sião que não ganhou a ultima competição, amiga.

- Não se trata apenas de ganhar, Carol, nada adianta ser uma vencedora com outro cavalo, seja a preciosa ou qualquer outro, a minha paixão por montaria iniciou com o Sião, e no dia que ele não poder mais...

- Não fale uma besteira destas, Ária, você é uma das melhores competidoras do nosso campus, lembre-se disto.- Não discordo, foram anos de treinamento, noites em claro, meu pai a gritar do outro lado euforico, anos felizes... talvez... poderia ser melhor? Me pergunto ao imaginar como seria se ela estivesse lá.

- Ok... te apoio nesta loucura, mas desde que eu também entre nesta empresa, não vou deixa-la sozinha nisto.

Fitando o chão, observo o piso de madeira.- Só tem vaga para uma assistente. - Afirmo pensativa, ansiosa para a entrevista. - É eu sei, mas pela descrição de atividades...

Lhe olho ainda a fazer seus ovos mexidos, de pé ainda de pijama a beira do fogão. - Acha que não doou conta? - Pergunto insegura, são muitas tarefas, mas serei capaz de tudo para conseguir fazer todas somente para estar perto dela e descobrir quem realmente é a minha mãe. - Se querer conhecer a sua mãe, não pode elaborar demorados contratos, revisar contratos, pesquisar empresas, empresários, ajudar em tarefas auxiliares e etc enquanto faz tudo isso pode? 

Inspiro fundo, de fato sou péssima com burocracias. - Eu me viro. - Respondo não tão confiante assim, vendo Carol virar para me olhar. - Ainda tem a montaria, minha amazona mais linda, ah ainda tem o....

- O curso, é eu sei, último ano, trabalho de pesquisa e...

- Ia falar o seu noivo, mas já que colocou tudo isto a frente. Boa sorte!   

                                                                                                                             

- Então...- 

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