Capítulo 01

Por Melinda Allen

Às vezes, penso em como seria magnífico se eu vivesse uma história como as que leio. Naquelas em que apenas um olhar basta para acelerar o coração, ou quando a pessoa esbarra em alguém e automaticamente encontra sua alma gêmea. Infelizmente, nada disso nunca aconteceu comigo. Talvez meu cupido esteja dormindo em serviço, ou eu seja muito azarada mesmo.

— Outra vez sonhando acordada, Melinda? Quando vai aprender a parar de viver no mundo da lua e acordar para a realidade? — Assusto-me com Karen, filha da minha chefe, falando. Rapidamente, desencosto-me do balcão.

Pego meu caderno de anotações e vou atender às mesas sob a minuciosa supervisão de Karen.

Quando completei quinze anos, tive que começar a trabalhar. Minha mãe sempre deu o melhor de si para que eu não precisasse trabalhar, mas como éramos somente nós duas, ela não conseguia arcar com as despesas da casa sozinha. Quando completei dezenove anos, tivemos que sair da nossa cidade natal para tentar conseguir uma vaga em um dos maiores hospitais de Londres, onde os recursos para o tratamento de câncer eram melhores.

— Tem cliente na mesa cinco, Mel. — Elle diz ao passar do meu lado, indo para o balcão.

Ao sair da minha cidade natal com minha mãe, minhas expectativas de vida na cidade de Londres eram grandes; só não contava com os altos gastos, mas, por sorte, conheci Isabelle. Ela havia colocado no jornal um anúncio de que precisava de uma pessoa que pudesse dividir as despesas do apartamento.

Simpatizei com ela na hora; desde então, somos grandes amigas. Quando abriu uma vaga de garçonete na cafeteria onde ela trabalha, a mesma me indicou, já que fazia semanas que eu estava atrás de emprego.

Há quase um ano, comecei a trabalhar na Coffee Corner, onde trabalho como uma escrava para ganhar pouco menos de um salário, mas não reclamo; agradeço a Deus por estar trabalhando. Estaria muito pior se estivesse desempregada.

— Bom dia, seu Lúcio. Como o senhor está hoje? — Seu Lúcio é um dos meus muitos clientes fiéis que vêm todas as manhãs.

— Ah, minha filha, a saúde não anda muito boa, mas continuo firme — fala com seu habitual jornal nas mãos e um sorriso doce nos lábios.

Lúcio pode ser considerado um daqueles senhores que, por onde passam, são conhecidos por sua gentileza e carisma.

Caminho até a cozinha para entregar o pedido para Leôncio, o chefe da cozinha. Na verdade, o café, por mais que seja bastante movimentado, não tem muitos funcionários. São cinco no total, contando comigo e Elle.

Leôncio, o chefe da cozinha, tem o gênio um pouco forte, mas é uma pessoa maravilhosa. Paula é a cozinheira, faz os doces e salgados, um amor de pessoa. Mauro é o barista, que faz os cafés, sempre com bom humor. Eu e Elle somos garçonetes e, ao mesmo tempo, caixas. E Karen, por livre e espontânea vontade, vem de vez em quando infernizar as nossas vidas. Ela cuida da contabilidade do café, mas ultimamente não sai daqui.

Karen é como uma modelo: linda, com olhos azuis, cabelos negros como a noite e a pele pálida como uma vampira.

— Melinda, o pedido já está pronto — Leôncio grita da janela que separa a cozinha do balcão de atendimento. Pego a bandeja e caminho até seu Lúcio.

— Bom apetite — me retiro e volto para o balcão.

— Até que hoje está calmo. — Elle se aproxima do balcão.

— Nem comente, você sabe que daqui a pouco vai começar o movimento. — Suspiro.

Quando dá uma certa hora, a movimentação do café triplica devido ao grande número de empresas ao redor.

A cafeteria não é muito grande, nem muito moderna, mas é bem confortável, com toques rústicos, nas cores marrom, preto e branco, com bancos e cadeiras de madeira com travesseiros. Mesas redondas com pequenos vasos de flores no centro e um pequeno lugar para os leitores, com sofás e almofadas, um pouco mais afastado do centro do ambiente.

— A cada dia mais amarga — Elle resmunga, fazendo careta. Olho para ela sem entender. — Estou falando de Karen.

Faz um gesto de cabeça, indicando a morena do outro lado do salão, no telefone.

— Ah sim, realmente ela não é uma pessoa fácil de lidar. — Pego um pano e começo a passar no balcão.

— Essa mulher é terrível, mas você, com esse coração de açúcar, não consegue enxergar isso. — Ela se senta no banquinho que fica atrás do balcão.

— Acho que isso é falta de afeto; talvez ela só precise achar uma pessoa que a entenda. — Dou de ombros.

— Na minha opinião, ela vai terminar sozinha. — Olho para ela.— Não me olhe assim, só digo a verdade. E aquele maravilhoso pedaço de mau caminho? Nunca mais o vi.

— Você está falando do homem que vinha às vezes ver ela?

— Sim, ele sumiu. Tenho certeza de que deixou ela. Também, com esse humor de cão, até eu deixaria. — Antes que eu tenha tempo de responder, ouço o sino da porta indicar a chegada de um cliente. Viro-me em direção ao homem de terno, que caminhou até uma mesa perto da janela.

— Bom dia, o que o senhor vai querer? — Pergunto, sorrindo. Pego a caneta e o caderno no bolso do meu avental, pronta para anotar o pedido. O homem ergue o olhar e me encara.

O jovem homem parece me avaliar minuciosamente, e isso me causa desconforto. Tento não fazer contato visual, mas falho ao ser atraída pelos maravilhosos e intrigantes olhos azuis.

Sinto as batidas do meu coração aumentarem o ritmo; minhas mãos ficaram suadas. Seu olhar é intimidador, mas ele me encara com um olhar frio, me deixando arrepiada.

Ele me transmitia algo que eu não saberia explicar no momento. De uma beleza esplêndida, com a barba perfeitamente aparada e cabelos escuros como a noite, seu rosto tinha um toque angelical.

Enquanto o atendia, até o momento em que levei seu pedido, senti seus olhos em mim, me deixando desconfortável. Era a primeira vez que o via, e parecia que ele me conhecia há anos. E, quando fui limpar sua mesa, vi um pequeno recado escrito: "Até breve, Melinda."

Isso me deixou ainda mais nervosa e assustada. De onde o conheço?

— Elle, você conhece aquele homem? — Pergunto assim que me aproximo dela.

— Não, mas ele costuma passar aqui na frente em um carro luxuoso. Por quê? — Mostro o recado para ela, que me olha confusa. — Você o conhece?

— Não. É a primeira vez que o vejo.

— Estranho, talvez você já tenha esbarrado nele em alguma ocasião e só não se lembre. — Eu dei de ombros.

Tenho certeza de que nunca o vi; um homem como ele é difícil de esquecer. Tento deixar os pensamentos de lado e voltar ao trabalho, mas a todo momento me pego pensando no homem misterioso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo