Capítulo 04

Por William Montenegro

Atriz! Ela é uma ótima atriz. Durante esses três meses, tive que fazer um tremendo esforço para ir vê-la todos os dias. A pior parte era ter que beijá-la, sendo que minha única vontade era acabar com a sua vida com as minhas próprias mãos.

O nojo que eu sentia de mim mesmo logo após chegar em casa é indescritível. Tudo nela me causa ânsia; tudo parece falso.

Porém, todas as vezes em que a tocava, me esforçava para lembrar que era tudo um meio para um fim. Meu plano estava dando certo, e ela parecia estar cada vez mais convencida do meu amor.

Cheguei a levar flores todos os dias para ela e um colar falso de diamantes. Como uma boa atriz, ela não quis aceitar, dizendo que o que mais valia para ela era a minha presença. Sei que sua real intenção era me fazer de tolo; mal sabe ela que quem realmente está caindo na própria armadilha é ela.

Só não contava que teria que fazer uma viagem de urgência para o México. Isso acabaria completamente com os meus planos; quase uma semana longe era algo que eu não pretendia fazer, então resolvi adiantar meus planos.

— O que você quer me falar? — Seus olhos curiosos me avaliam.

Suspiro, tentando manter o personagem.

— Hoje descobri que terei que fazer uma viagem de urgência para o México. — A tristeza em seu rosto faz com que eu tenha ainda mais coragem para o que vou dizer. — Eu tentei resolver as coisas por aqui, porém minha presença é indispensável no México. Não quero passar uma semana longe de você.

Toco sua mão por cima da mesa. Espero uma reação para chegar aonde quero.

— Eu também não quero passar esse tempo longe de você, Will — largo sua mão ao ouvir o apelido com que ela me chamou — mas entendo que é necessário.

— Melinda, eu esperei muito tempo para encontrar a pessoa certa, e saber que vou passar uma semana longe de você me dói. — Começo o meu teatro. — Talvez eu tenha que passar mais de uma semana; não é certo quantos dias vou ficar longe. — Minto. — E ao pensar que talvez eu chegue a ficar um mês longe de você me fez perceber o quanto estou envolvido, o quanto gosto de você. O que vou propor a você pode parecer precipitado, mas a decisão é unicamente sua.

— Will, o que...

— Quer casar comigo?

Seus olhos aumentam de tamanho e sua pele pálida parece ficar ainda mais sem cor.

— O que? — Sua voz saiu em um sussurro.

— Quando descobri sobre a viagem, percebi que talvez estejamos perdendo tempo, um tempo precioso ao lado da nossa alma gêmea. — Lágrimas começam a descer por seu rosto. — Você é minha alma gêmea, Melinda, e não quero passar mais um minuto longe de você.

E, para a grande finalização do meu show, ajoelho-me à sua frente, mostrando-lhe o anel de noivado. Um sorriso se desenha em seus lábios, e isso é a confirmação que eu queria para saber que meu plano deu certo.

— Eu aceito.

E então o restaurante explodiu em palmas e felicitações. Não perco tempo e coloco o anel em seu dedo, para logo em seguida lhe dar um beijo casto em seus lábios.

— Vamos nos casar o mais rápido possível — digo, afastando-me dela.

— Deixo tudo em suas mãos. — Ela me encara com um brilho diferente nos olhos. — Pode parecer cedo, mas sinto que isso entre nós é algo forte e intenso... e sei que não irá me machucar!

Então, olhando no fundo dos seus olhos, confirmo tudo o que ela precisa ouvir.

— Jamais irei lhe machucar.

••••

Quando chego em casa, vou direto para o meu escritório. Preciso agilizar minha vingança. Pego meu celular e ligo para o Nicolas.

— Nicolas falando. — Ele atende depois do terceiro toque.

— Preciso que você encontre um juiz. — Digo sem rodeios.

— Para que você quer um juiz?

— Para o meu casamento com Melinda. — A linha fica muda por alguns segundos.

— Você não vai desistir, não é? Ainda há tempo... — Interrompi-o.

— Se você for começar com essa baboseira, eu vou desligar. Você vai ou não encontrar um juiz?

— E eu tenho escolha? Para quando você quer?

— Para amanhã.

— Como assim, amanhã? — Sua voz sai exasperada. — Que eu saiba, você vai viajar amanhã para o México.

— Eu ia viajar amanhã para o México. Mas como já tenho a oportunidade de começar a minha vingança, por que esperar mais?

— Tudo bem, vou ver o que faço.

Desligo e vou para o meu quarto. Terei que dar uma desculpa para Melinda por ter adiado a viagem para o México. Mas isso é bem mais importante do que a viagem.

Peço meu celular e entro em contato pessoalmente com Benjamin Martínez.

— Fiquei surpreso ao ver sua ligação, Montenegro — diz assim que atende.

— Imagino, Martínez. Estou ligando para dizer que não poderei ir para o México.

— Como assim? Desmarquei compromissos importantes por causa da nossa reunião. O que seria mais importante?

Suspiro, sabendo como Benjamin Martínez era difícil de lidar, e, querendo ou não, teria que lhe contar.

— O meu casamento — digo, por fim. A ligação fica muda por alguns segundos.

— Oh, não sabia que estava noivo! Meus parabéns. — Sinto-me desconfortável com a felicitação.

— Obrigado. Daqui a três dias irei para o México. — Sou interrompido.

— Não se preocupe, estava mesmo pensando em lhe fazer uma visita, então podemos fazer nossa reunião em Londres mesmo.

Sorrio satisfeito. Tudo está saindo melhor do que o planejado. Depois de combinar tudo com Martínez, desligo e resolvo avisar minha doce noiva dos novos planos.

— Alô. — Sua voz soa sonolenta. Olho rapidamente para a tela do celular e vejo que já vai dar onze e meia da noite.

— Melinda, sinto muito por ligar a essa hora, mas gostaria de compartilhar algo com você.

— Aconteceu algo? — A preocupação em sua voz é evidente.

— Por alguns motivos, tive que adiar a minha viagem. Então, queria saber se você está disposta a se casar amanhã.

A linha fica em silêncio por um tempo.

— Pensei que, quando você disse 'o mais rápido', fosse dentro de dois meses!

— Eu sei que você deseja uma grande cerimônia, mas pensei que poderíamos nos casar amanhã no cartório. Depois, você poderia planejar melhor o casamento na igreja.

Suspiro, sem paciência. Quem ela quer enganar?

— Não me importo com uma grande cerimônia, mas gostaria de casar em uma igreja — continua com sua inútil resistência. — E também não tenho vestido para um casamento amanhã.

— Não se preocupe com isso, amanhã mesmo estará tudo à sua porta, e, ao mais tardar, seremos marido e mulher. Não é isso que você quer?

— Claro que quero. — Imagino. — Então até amanhã, meu noivo.

Sorrio satisfeito com sua resposta.

— Até amanhã, minha doce noiva.

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