Por William Montenegro
Atriz! Ela é uma ótima atriz. Durante esses três meses, tive que fazer um tremendo esforço para ir vê-la todos os dias. A pior parte era ter que beijá-la, sendo que minha única vontade era acabar com a sua vida com as minhas próprias mãos. O nojo que eu sentia de mim mesmo logo após chegar em casa é indescritível. Tudo nela me causa ânsia; tudo parece falso. Porém, todas as vezes em que a tocava, me esforçava para lembrar que era tudo um meio para um fim. Meu plano estava dando certo, e ela parecia estar cada vez mais convencida do meu amor. Cheguei a levar flores todos os dias para ela e um colar falso de diamantes. Como uma boa atriz, ela não quis aceitar, dizendo que o que mais valia para ela era a minha presença. Sei que sua real intenção era me fazer de tolo; mal sabe ela que quem realmente está caindo na própria armadilha é ela. Só não contava que teria que fazer uma viagem de urgência para o México. Isso acabaria completamente com os meus planos; quase uma semana longe era algo que eu não pretendia fazer, então resolvi adiantar meus planos. — O que você quer me falar? — Seus olhos curiosos me avaliam. Suspiro, tentando manter o personagem. — Hoje descobri que terei que fazer uma viagem de urgência para o México. — A tristeza em seu rosto faz com que eu tenha ainda mais coragem para o que vou dizer. — Eu tentei resolver as coisas por aqui, porém minha presença é indispensável no México. Não quero passar uma semana longe de você. Toco sua mão por cima da mesa. Espero uma reação para chegar aonde quero. — Eu também não quero passar esse tempo longe de você, Will — largo sua mão ao ouvir o apelido com que ela me chamou — mas entendo que é necessário. — Melinda, eu esperei muito tempo para encontrar a pessoa certa, e saber que vou passar uma semana longe de você me dói. — Começo o meu teatro. — Talvez eu tenha que passar mais de uma semana; não é certo quantos dias vou ficar longe. — Minto. — E ao pensar que talvez eu chegue a ficar um mês longe de você me fez perceber o quanto estou envolvido, o quanto gosto de você. O que vou propor a você pode parecer precipitado, mas a decisão é unicamente sua. — Will, o que... — Quer casar comigo? Seus olhos aumentam de tamanho e sua pele pálida parece ficar ainda mais sem cor. — O que? — Sua voz saiu em um sussurro. — Quando descobri sobre a viagem, percebi que talvez estejamos perdendo tempo, um tempo precioso ao lado da nossa alma gêmea. — Lágrimas começam a descer por seu rosto. — Você é minha alma gêmea, Melinda, e não quero passar mais um minuto longe de você. E, para a grande finalização do meu show, ajoelho-me à sua frente, mostrando-lhe o anel de noivado. Um sorriso se desenha em seus lábios, e isso é a confirmação que eu queria para saber que meu plano deu certo. — Eu aceito. E então o restaurante explodiu em palmas e felicitações. Não perco tempo e coloco o anel em seu dedo, para logo em seguida lhe dar um beijo casto em seus lábios. — Vamos nos casar o mais rápido possível — digo, afastando-me dela. — Deixo tudo em suas mãos. — Ela me encara com um brilho diferente nos olhos. — Pode parecer cedo, mas sinto que isso entre nós é algo forte e intenso... e sei que não irá me machucar! Então, olhando no fundo dos seus olhos, confirmo tudo o que ela precisa ouvir. — Jamais irei lhe machucar. •••• Quando chego em casa, vou direto para o meu escritório. Preciso agilizar minha vingança. Pego meu celular e ligo para o Nicolas. — Nicolas falando. — Ele atende depois do terceiro toque. — Preciso que você encontre um juiz. — Digo sem rodeios. — Para que você quer um juiz? — Para o meu casamento com Melinda. — A linha fica muda por alguns segundos. — Você não vai desistir, não é? Ainda há tempo... — Interrompi-o. — Se você for começar com essa baboseira, eu vou desligar. Você vai ou não encontrar um juiz? — E eu tenho escolha? Para quando você quer? — Para amanhã. — Como assim, amanhã? — Sua voz sai exasperada. — Que eu saiba, você vai viajar amanhã para o México. — Eu ia viajar amanhã para o México. Mas como já tenho a oportunidade de começar a minha vingança, por que esperar mais? — Tudo bem, vou ver o que faço. Desligo e vou para o meu quarto. Terei que dar uma desculpa para Melinda por ter adiado a viagem para o México. Mas isso é bem mais importante do que a viagem. Peço meu celular e entro em contato pessoalmente com Benjamin Martínez. — Fiquei surpreso ao ver sua ligação, Montenegro — diz assim que atende. — Imagino, Martínez. Estou ligando para dizer que não poderei ir para o México. — Como assim? Desmarquei compromissos importantes por causa da nossa reunião. O que seria mais importante? Suspiro, sabendo como Benjamin Martínez era difícil de lidar, e, querendo ou não, teria que lhe contar. — O meu casamento — digo, por fim. A ligação fica muda por alguns segundos. — Oh, não sabia que estava noivo! Meus parabéns. — Sinto-me desconfortável com a felicitação. — Obrigado. Daqui a três dias irei para o México. — Sou interrompido. — Não se preocupe, estava mesmo pensando em lhe fazer uma visita, então podemos fazer nossa reunião em Londres mesmo. Sorrio satisfeito. Tudo está saindo melhor do que o planejado. Depois de combinar tudo com Martínez, desligo e resolvo avisar minha doce noiva dos novos planos. — Alô. — Sua voz soa sonolenta. Olho rapidamente para a tela do celular e vejo que já vai dar onze e meia da noite. — Melinda, sinto muito por ligar a essa hora, mas gostaria de compartilhar algo com você. — Aconteceu algo? — A preocupação em sua voz é evidente. — Por alguns motivos, tive que adiar a minha viagem. Então, queria saber se você está disposta a se casar amanhã. A linha fica em silêncio por um tempo. — Pensei que, quando você disse 'o mais rápido', fosse dentro de dois meses! — Eu sei que você deseja uma grande cerimônia, mas pensei que poderíamos nos casar amanhã no cartório. Depois, você poderia planejar melhor o casamento na igreja. Suspiro, sem paciência. Quem ela quer enganar? — Não me importo com uma grande cerimônia, mas gostaria de casar em uma igreja — continua com sua inútil resistência. — E também não tenho vestido para um casamento amanhã. — Não se preocupe com isso, amanhã mesmo estará tudo à sua porta, e, ao mais tardar, seremos marido e mulher. Não é isso que você quer? — Claro que quero. — Imagino. — Então até amanhã, meu noivo. Sorrio satisfeito com sua resposta. — Até amanhã, minha doce noiva.Por Melinda Allen Entro na cozinha me sentindo exausta pela noite mal dormida. Depois que Will me ligou perguntando se poderíamos adiantar o casamento para hoje, não consegui dormir. A ansiedade e o medo do que estava por vir me deixavam com frio na barriga e, ao mesmo tempo, com um sorriso no rosto. Eu iria me casar com o homem que amo; o que mais eu poderia querer? — O que aconteceu com você? — Elle me encara como se tivesse visto um fantasma. — Não dormi bem à noite. — Sento-me, servindo um pouco de café. — Teve pesadelo? A campainha toca, interrompendo nossa conversa. Ainda é sete horas da manhã de um domingo; não consigo imaginar quem poderia ser. Ela deixa seu café para ir atender quem estava na porta, e, segundos depois, volta com uma expressão confusa. — Mel, tem umas pessoas aqui dizendo que vieram arrumar a noiva. Disse que estavam no lugar errado, mas insistiram que estavam no lugar certo. No momento em que ela fala, engasgo-me com o café. Eu tinha esque
Por William Montenegro Tiro a gravata com raiva e a jogo no sofá. Finalmente, darei início aos meus planos. Não pensei que isso demoraria tanto, mas, finalmente, tudo está saindo como o planejado. Olho para o corredor por onde a farsante desapareceu há alguns minutos. Nesse momento, não há nada que me faça querer ficar ao seu lado; ela me causa repulsa em todos os sentidos. E isso me motiva a pegar as chaves do carro e sair, deixando-a sozinha no apartamento. Dirijo sem rumo por alguns minutos até meu celular começar a tocar e imagino quem pode ser, mas não atendo e nem faço questão de desligar. Quase meia hora depois, estaciono em frente a um bar que, há quase um ano, passei a frequentar. Entro, chamando a atenção dos funcionários, que me encaram confusos, acredito que pelo horário; são uma da tarde de um domingo. Geralmente, quando eu vinha por aqui, era à noite. Sento-me no balcão e peço a primeira dose. •••• Desligo, pela décima segunda vez, a ligação de Nicolas. Não
Por Melinda Allen William saiu da cozinha, me deixando sozinha novamente, e só então soltei as lágrimas que vinha prendendo. Deslizei pela parede até me sentar no chão, onde abracei minhas pernas e deixei o primeiro soluço sair. Tudo que vinha idealizando há algum tempo se desmoronou como areia movediça. Eu sonhava com minha lua de mel e, depois do nosso casamento, pensei que finalmente iria me entregar ao homem que amo pela primeira vez, mas estava terrivelmente errada. A única coisa que recebi foi desprezo por algo que não me lembro de ter feito. Pelo que me recordo, antes do casamento, tudo estava normal; não tivemos brigas, muito menos desentendimentos. Cansada pelo dia exaustivo que tive, levantei do chão, sentindo o corpo reclamar de dor ao ficar em pé. Caminho lentamente em direção ao quarto e, ao encontrá-lo vazio, sinto-me decepcionada. Ao ver meu reflexo no espelho do banheiro, sinto-me mal; meus cabelos estão bagunçados, meu rosto completamente vermelho e meus o
Por William Montenegro A noite mal dormida estava dando seus sinais; meu corpo inteiro reclamava de dor. O sofá do escritório realmente não é um bom lugar para dormir. Mas é melhor do que ter que dividir a cama com alguém insignificante. São exatamente seis e quinze da manhã, e já me sinto estressado por não ter acordado mais cedo, como costumo fazer. Ao abrir a porta do meu quarto, surpreendo-me ao encontrar a cama vazia e arrumada. Onde está Melinda? Um cheiro doce exalava no ar, como o de flores. O quarto que antes era só meu agora estava repleto de vários pertences de Melinda espalhados por diversos cantos. E então a vejo saindo do banheiro com apenas uma toalha cobrindo seu corpo. Meus olhos descem por ela, e minha curiosidade se atiça ao imaginar o que há por baixo. Ela parece estar distraída, seus passos são leves em direção ao closet, e seu rosto está um pouco avermelhado, provavelmente devido à água quente. Quando finalmente ela se dá conta de que não está mais sozi
Por Melinda Allen Eu tinha um sonho... Um sonho que quase toda mulher tem: entrar em uma igreja vestida de branco, em direção ao homem que escolhi amar e construir uma família. Mas, como eu disse, era só um sonho... Um que pensei ter finalmente realizado, mas, como sempre, a vida estava apenas me pregando uma peça, e eu paguei caro... O preço foi o meu coração. Olho para o homem que está à minha frente. O mesmo homem que jurei amar e ser fiel. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto; porém, não faço questão de secá-las, seria inútil! Encaro a mulher ao seu lado com nojo. Seu sorriso debochado me dá ânsia. E tudo que mais desejo é que tudo não passe de uma mentira, mas sei que não é. Como fui tola! — Saia daqui, Scarlett. Agora! A mulher treme com seu grito e logo passa ao meu lado praticamente correndo. Não sei qual traição dói mais: descobrir que meu casamento é uma farsa ou que, além disso, meu marido vinha tendo um caso. Seu rosto demonstra medo, desespero e angústi
Por Melinda Allen Às vezes, penso em como seria magnífico se eu vivesse uma história como as que leio. Naquelas em que apenas um olhar basta para acelerar o coração, ou quando a pessoa esbarra em alguém e automaticamente encontra sua alma gêmea. Infelizmente, nada disso nunca aconteceu comigo. Talvez meu cupido esteja dormindo em serviço, ou eu seja muito azarada mesmo. — Outra vez sonhando acordada, Melinda? Quando vai aprender a parar de viver no mundo da lua e acordar para a realidade? — Assusto-me com Karen, filha da minha chefe, falando. Rapidamente, desencosto-me do balcão. Pego meu caderno de anotações e vou atender às mesas sob a minuciosa supervisão de Karen. Quando completei quinze anos, tive que começar a trabalhar. Minha mãe sempre deu o melhor de si para que eu não precisasse trabalhar, mas como éramos somente nós duas, ela não conseguia arcar com as despesas da casa sozinha. Quando completei dezenove anos, tivemos que sair da nossa cidade natal para tentar consegu
Por William Montenegro Chego em casa e vou direto para o meu escritório. Assim que entro, dirijo-me à mesa com as bebidas. Pego a garrafa de uísque e um copo, caminho até minha cadeira, sento-me e encho o copo, que viro logo em seguida, sentindo o líquido descer, queimando minha garganta. Ouço leves batidas na porta. — Entre. — Rita aparece com seu habitual uniforme azul escuro. Rita trabalha para a família há muitos anos; apesar de já estar na casa dos setenta, ainda está muito bem conservada. Como não abre mão do trabalho, a coloquei como governanta da casa. — Desculpe incomodar, queria saber se o senhor vai jantar? — Só ela tinha permissão para incomodar quando eu estava no escritório. — Não. — Ela assentiu e saiu, fechando a porta em seguida. Viro todo o líquido do meu copo de uma vez. Hoje eu a vi, a vadia que matou meu irmão. Não sei como descrever o que estou sentindo neste momento: raiva misturada com nojo. Não consigo entender como meu irmão se envolveu com uma p
Por Melinda Allen Caminho quase correndo em direção à cafeteria. Justo hoje, meu despertador resolveu não tocar e, para meu desespero, era a folga de Elle, o que significava que Karen estava uma fera.O dia mal começou e já me sinto exausta. Ontem, precisei ir à minha antiga faculdade para resolver alguns assuntos pendentes. Com as dívidas se acumulando, tive que abrir mão dos meus estudos e passei a trabalhar em dois empregos; no entanto, recentemente pedi demissão do meu segundo emprego. Agora, ainda não sei se conseguirei retomar os estudos. Quase sem fôlego, entro na cafeteria e a primeira pessoa que vejo é Karen, furiosa, no balcão. — Isso é hora, Melinda? Já passa das sete! — Eu sei, sinto muito — ela me interrompeu antes que eu chegasse a lhe dar uma justificativa. — Não quero saber o que aconteceu, só quero que você esteja aqui na hora. Olha quantos clientes temos. Hoje você vai sair tarde para compensar seu atraso. Suspiro sem falar mais nada e vou guardar minhas