Por Melinda Allen
Caminho quase correndo em direção à cafeteria. Justo hoje, meu despertador resolveu não tocar e, para meu desespero, era a folga de Elle, o que significava que Karen estava uma fera. O dia mal começou e já me sinto exausta. Ontem, precisei ir à minha antiga faculdade para resolver alguns assuntos pendentes. Com as dívidas se acumulando, tive que abrir mão dos meus estudos e passei a trabalhar em dois empregos; no entanto, recentemente pedi demissão do meu segundo emprego. Agora, ainda não sei se conseguirei retomar os estudos. Quase sem fôlego, entro na cafeteria e a primeira pessoa que vejo é Karen, furiosa, no balcão. — Isso é hora, Melinda? Já passa das sete! — Eu sei, sinto muito — ela me interrompeu antes que eu chegasse a lhe dar uma justificativa. — Não quero saber o que aconteceu, só quero que você esteja aqui na hora. Olha quantos clientes temos. Hoje você vai sair tarde para compensar seu atraso. Suspiro sem falar mais nada e vou guardar minhas coisas para começar o dia. Começo a atender às mesas, tentando ser o mais rápida possível e, quando chego à mesa cinco, levo um grande susto ao me deparar com o homem do dia anterior. — Bom dia, o que deseja? Tento ser profissional e não demonstrar o quanto aquele homem me afeta. Ele parece estar diferente do dia anterior; só não consigo saber o que é. Porém seu olhar permanece o mesmo, frio e descido. — Olá de novo, Melinda, como você está? — Um pequeno sorriso se abre em seus lábios. Algo que, da última vez, não aconteceu; desta vez, ele parecia mais calmo e sorridente. — Desculpe, mas nós nos conhecemos de onde? — Você ainda não me conhece, porém eu conheço você há algum tempo. Pisco, confusa com suas palavras. Não lembro de tê-lo visto, tenho certeza disso. — Sei que deve estar confusa, mas se você tiver um tempo para um café, poderíamos conversar um pouco. — Sinto muito, mas não tenho tempo. — O sorriso que enfeitava seu rosto se desfaz. — Não tem tempo ou não quer? — perguntou, sério. Sinto-me desconfortável; sua insistência me deixa confusa. Nunca o vi na vida, não o conheço o suficiente para me sentar e conversar. Ele me parece inofensivo, porém ainda não confio nele. — Sinto desapontá-lo, senhor... — William Montenegro. Tenho a sensação de já ter ouvido seu nome em algum lugar, mas não me recordo de onde. — Senhor Montenegro, não tenho o que conversar com o senhor. Então, se puder, faça o seu pedido. — Tudo bem, talvez eu tenha me expressado mal, senhorita Melinda. Poderia me trazer um café preto puro, por favor? Anoto seu pedido e me retiro o mais rápido possível da sua vista, mas a todo instante sinto seus olhos em mim, o que me deixa ainda mais desconfortável. Ele toma seu café calmamente e, de vez em quando, me olha. Depois de um tempo, o homem misterioso pediu a conta. — Queria pedir desculpas pela forma como me expressei há pouco. Talvez você não me conheça, mas já faz um tempo que vejo você quando passo para trabalhar e pensei em parar para conversar. Seu rosto revela uma pequena timidez, o que me faz sentir mal pela maneira como o tratei. — Tudo bem — sorri. — Talvez tenhamos começado da maneira errada. Depois de pagar sua conta, ele foi embora com a promessa de voltar no dia seguinte. •••• William realmente cumpriu o que havia dito; por três meses inteiros, ele veio diariamente ao café, sem uma falta sequer. No início, foi estranho; não havia muito o que conversar. Apesar de parecer um homem reservado, na maioria das vezes, quem puxava assunto era ele. Não sei ao certo em que momento isso aconteceu, mas eu já me via ansiando pela sua visita. Com o tempo, passei a contar as horas até ele chegar e, com toda certeza, eu estava apaixonada por William Montenegro. Eu pensei em guardar meus sentimentos para mim mesma; não poderia contar o que estava sentindo. Mas, em uma noite chuvosa, enquanto ele me dava uma carona para casa, declarou seu amor por mim e, no mesmo momento, me pediu para ser sua namorada. O tempo ao seu lado parece passar de forma mágica; é como se eu o conhecesse há muito tempo. Seu jeito de falar e sua forma de demonstrar amor, como, por exemplo, as flores que ele me traz quase todos os dias quando vai me ver, me emocionam. — Estou tão feliz por você, amiga. Sorrio para Elle, que está deitada em minha cama. Ela estava me ajudando a me arrumar para sair com Will. — Acho engraçado como as coisas entre nós aconteceram. Será que desta vez meu cupido acertou? — Dou um pequeno sorriso. — Se isso for considerado um erro, quero que meu cupido erre bastante.— Rio de seu comentário.— Porém estou bem do jeito que estou, agora é sua vez de viver seu conto de fadas, essa é sua história. — Não seja exagerada, Elle. Antes que ela diga algo, meu celular toca indicando nova mensagem. Era de Will avisando que já havia chegado. — Will já chegou, qualquer coisa me mande mensagem. — Aproveita a noite, amiga. Não esqueça da camisinha. Sinto meu rosto esquentar com seu comentário malicioso. — Você só fala besteira.— Balanço negativamente minha cabeça enquanto caminho para a sala. — Não estou falando nem uma besteira! — Ela rir me deixando ainda mais envergonhada.— Divirta-se. Assim que chegou na portaria vejo de longe Will encostado em seu carro. Sorrio assim que chegou em sua frente. Ele estava magnífico! Com uma calça social cinza e uma camisa social branca com um colete também cinza. — Estava com saudades.— Me aproximo roubando um selinho dele. Seus olhos parecem duros, porém em seus lábios um pequeno sorriso surgiu. — Eu também estava. Will abre a porta para mim e logo em seguida estamos a caminho do restaurante. O percurso foi tranquilo, trocamos pequenas palavras, e em pouco tempo chegamos em frente a um luxuoso restaurante. A recepcionista já estava nos esperando e logo nos levou até nossa mesa. No caminho até a mesa sinto os olhares em mim, de início pensei ser coisa da minha cabeça, porém estava errada. O garçom deixou o cardápio e se retirou para nós deixar a vontade. Enquanto avaliava o cardápio notei os preços exorbitantes que me fez querer da a meia volta e ir na lanchonete da esquina. Antes que eu chegasse a falar alguma coisa o garçom apareceu ao nosso lado para anotar os pedidos. — Vamos querer dois pastrami com pimenta. E o melhor vinho da casa. Pimenta! Sou alérgica a pimenta. Faz um bom tempo que não tenho uma crise alérgica, mas a última que tive foi uma das piores. — Will, gostaria que o meu fosse sem pimenta. — Se quiser pode escolher outro prato, pedi esse por ser um dos melhores. — Não precisa, só gostaria que não tivesse pimenta pois sou alérgica. — Oh, sinto muito.— Sorrio dizendo que não tem problema e logo o garçom se retira.— O motivo pelo qual a trouxe aqui essa noite, é que tenho algo para lhe falar. Isso foi o bastante para me deixar apreensiva com o que ele iria falar.Por William Montenegro Atriz! Ela é uma ótima atriz. Durante esses três meses, tive que fazer um tremendo esforço para ir vê-la todos os dias. A pior parte era ter que beijá-la, sendo que minha única vontade era acabar com a sua vida com as minhas próprias mãos. O nojo que eu sentia de mim mesmo logo após chegar em casa é indescritível. Tudo nela me causa ânsia; tudo parece falso. Porém, todas as vezes em que a tocava, me esforçava para lembrar que era tudo um meio para um fim. Meu plano estava dando certo, e ela parecia estar cada vez mais convencida do meu amor. Cheguei a levar flores todos os dias para ela e um colar falso de diamantes. Como uma boa atriz, ela não quis aceitar, dizendo que o que mais valia para ela era a minha presença. Sei que sua real intenção era me fazer de tolo; mal sabe ela que quem realmente está caindo na própria armadilha é ela. Só não contava que teria que fazer uma viagem de urgência para o México. Isso acabaria completamente com os meus planos
Por Melinda Allen Entro na cozinha me sentindo exausta pela noite mal dormida. Depois que Will me ligou perguntando se poderíamos adiantar o casamento para hoje, não consegui dormir. A ansiedade e o medo do que estava por vir me deixavam com frio na barriga e, ao mesmo tempo, com um sorriso no rosto. Eu iria me casar com o homem que amo; o que mais eu poderia querer? — O que aconteceu com você? — Elle me encara como se tivesse visto um fantasma. — Não dormi bem à noite. — Sento-me, servindo um pouco de café. — Teve pesadelo? A campainha toca, interrompendo nossa conversa. Ainda é sete horas da manhã de um domingo; não consigo imaginar quem poderia ser. Ela deixa seu café para ir atender quem estava na porta, e, segundos depois, volta com uma expressão confusa. — Mel, tem umas pessoas aqui dizendo que vieram arrumar a noiva. Disse que estavam no lugar errado, mas insistiram que estavam no lugar certo. No momento em que ela fala, engasgo-me com o café. Eu tinha esque
Por Melinda Allen Eu tinha um sonho... Um sonho que quase toda mulher tem: entrar em uma igreja vestida de branco, em direção ao homem que escolhi amar e construir uma família. Mas, como eu disse, era só um sonho... Um que pensei ter finalmente realizado, mas, como sempre, a vida estava apenas me pregando uma peça, e eu paguei caro... O preço foi o meu coração. Olho para o homem que está à minha frente. O mesmo homem que jurei amar e ser fiel. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto; porém, não faço questão de secá-las, seria inútil! Encaro a mulher ao seu lado com nojo. Seu sorriso debochado me dá ânsia. E tudo que mais desejo é que tudo não passe de uma mentira, mas sei que não é. Como fui tola! — Saia daqui, Scarlett. Agora! A mulher treme com seu grito e logo passa ao meu lado praticamente correndo. Não sei qual traição dói mais: descobrir que meu casamento é uma farsa ou que, além disso, meu marido vinha tendo um caso. Seu rosto demonstra medo, desespero e angústi
Por Melinda Allen Às vezes, penso em como seria magnífico se eu vivesse uma história como as que leio. Naquelas em que apenas um olhar basta para acelerar o coração, ou quando a pessoa esbarra em alguém e automaticamente encontra sua alma gêmea. Infelizmente, nada disso nunca aconteceu comigo. Talvez meu cupido esteja dormindo em serviço, ou eu seja muito azarada mesmo. — Outra vez sonhando acordada, Melinda? Quando vai aprender a parar de viver no mundo da lua e acordar para a realidade? — Assusto-me com Karen, filha da minha chefe, falando. Rapidamente, desencosto-me do balcão. Pego meu caderno de anotações e vou atender às mesas sob a minuciosa supervisão de Karen. Quando completei quinze anos, tive que começar a trabalhar. Minha mãe sempre deu o melhor de si para que eu não precisasse trabalhar, mas como éramos somente nós duas, ela não conseguia arcar com as despesas da casa sozinha. Quando completei dezenove anos, tivemos que sair da nossa cidade natal para tentar consegu
Por William Montenegro Chego em casa e vou direto para o meu escritório. Assim que entro, dirijo-me à mesa com as bebidas. Pego a garrafa de uísque e um copo, caminho até minha cadeira, sento-me e encho o copo, que viro logo em seguida, sentindo o líquido descer, queimando minha garganta. Ouço leves batidas na porta. — Entre. — Rita aparece com seu habitual uniforme azul escuro. Rita trabalha para a família há muitos anos; apesar de já estar na casa dos setenta, ainda está muito bem conservada. Como não abre mão do trabalho, a coloquei como governanta da casa. — Desculpe incomodar, queria saber se o senhor vai jantar? — Só ela tinha permissão para incomodar quando eu estava no escritório. — Não. — Ela assentiu e saiu, fechando a porta em seguida. Viro todo o líquido do meu copo de uma vez. Hoje eu a vi, a vadia que matou meu irmão. Não sei como descrever o que estou sentindo neste momento: raiva misturada com nojo. Não consigo entender como meu irmão se envolveu com uma p