Por William Montenegro
Chego em casa e vou direto para o meu escritório. Assim que entro, dirijo-me à mesa com as bebidas. Pego a garrafa de uísque e um copo, caminho até a minha cadeira, sento-me e encho o copo, que viro logo em seguida, sentindo o líquido descer, queimando a minha garganta. Ouço leves batidas na porta.
— Entre. — Rita aparece com o seu habitual uniforme azul-escuro.
Rita trabalha para a família há muitos anos; apesar de já estar na casa dos setenta, continua muito bem conservada. Como não abre mão do trabalho, a coloquei como governanta da casa.
— Desculpe incomodar, queria saber se o senhor vai jantar? — Só ela tinha permissão para incomodar quando eu estava no escritório.
— Não. — Ela assentiu e saiu, fechando a porta em seguida. Viro todo o líquido do meu copo de uma vez.
Hoje eu a vi, a vadia que matou o meu irmão. Não sei como descrever o que estou sentindo neste momento: raiva misturada com nojo. Não consigo entender como o meu irmão se envolveu com uma pessoa assim, uma garçonete!
Gael Montenegro, 29 anos, CEO da empresa da família. Ele sempre foi o mais centrado entre nós dois; enquanto eu curtia a vida, ele trabalhava. Mas, com todas as nossas diferenças, sempre fomos muito unidos. Lembro-me como se fosse ontem o dia em que ele me disse que estava apaixonado e iria pedi-la em casamento.
Depois de um mês, ele descobriu uma traição, e a tal mulher, que nunca tive a oportunidade de conhecer até hoje, mandou uma mensagem dizendo que estava indo embora com o amante.
Além da traição, algo que antes eu não tinha conhecimento veio à tona recentemente. No início, eu não queria acreditar que o meu irmão tinha morrido para tentar evitar uma traição, um abandono. Mas, com as investigações, descobri que era muito, além disso.
Sinto uma lágrima descer em meu rosto; não faço questão de secá-la. Ela vai me pagar, por ser a causadora da morte do meu irmão.
Farei questão de destruí-la, da mesma forma em que destruiu Gael, nem que eu viva só para isso!
— Você está bem? — assusto-me com Nicolas em pé na porta.
— Não sabe bater, porra? — Me irrito. Ele entra e se senta em minha frente.
— Não. — Riu, me deixando ainda mais irritado.
Nicolas era meu primo de primeiro grau. Gael o convidou para trabalhar na empresa, já que ele também é da família. Ele me ajudou quando Gael morreu, o que aconteceu há apenas dois meses.
— O que você quer? — Sou direto. Odeio rodeios; gosto quando vão direto ao assunto.
— Por que não voltou para a empresa hoje? — Hoje fui rápido de manhã na empresa e depois fui atrás da mulher que destruiu a vida do meu irmão. Depois que a vi, não consegui voltar para a empresa.
— Para que você foi atrás dessa mulher? — Ele me olhou sério. O que era difícil de se ver, já que ele sempre foi bastante extrovertido.
— Eu quero vingança! Ela vai pagar pelo que fez. — Trinco o maxilar. Ele se encosta na cadeira e coloca a mão no queixo, me observando.
— O que você vai ganhar fazendo isso? Nada! Não vai poder trazer o seu irmão de volta. Esqueça essa ideia estúpida de vingança.
— Não me importo com a sua opinião, eu vou fazê-la pagar caro, não só pela vida do meu irmão, mas também pela vida da criança que ela tirou. — Elevo um pouco o meu tom de voz. Ele me encara e dá um longo suspiro.
Um filho, ela teve coragem de tirar a vida do próprio filho. É repugnante pensar que, com aquela cara de anjo, ela foi capaz de matar um inocente. Um verdadeiro lobo em pele de cordeiro.
— E o que você pretende fazer? Você nem sabe se ela tirou realmente a criança. — Passei esses dois meses pensando em como me vingar da vadia. E, como uma aproveitadora que ela é, tive uma ótima ideia.
— Vou me casar com ela. — Nicolas olhou-me espantado. Era como se tivesse nascido uma segunda cabeça em mim.
— Você ficou maluco?! Em que isso vai ajudar você? — Ele praticamente gritou.
— Ela é uma aproveitadora. Quando ver o grande império que eu tenho, não vai resistir. Vou fazê-la se casar comigo e tornar a vida dela um inferno. Se ela não se casar por bem, vai se casar por mal. E após o casamento ela irá conhecer o inferno.
— Isso é uma completa loucura — sussurrou, parecendo abismado. — Na primeira vez em que me contou os seus planos, não dei muita atenção, pois não achei que iria longe com isso.
— Como já disse, não me importa a sua opinião. — Digo, frio.
— Ela é uma pessoa, um ser humano. Por mais que ela tenha sido uma vadia, não merece ser enganada. — Diz, calmamente. — Você quer mesmo se rebaixar ao mesmo nível que ela?
Bato a mão na mesa, ficando em pé, o assustando no início.
— Nunca mais defenda ela na minha frente. Ela vai pagar pelo que ela fez, você gostando ou não! — Voltei a me sentar. Ele passou a mão no cabelo, meio contrariado. — Não estou no mesmo nível que ela, nem nunca estarei. Tudo que quero é justiça!
— Como você encontrou ela? — Essa é uma boa pergunta.
Gael iria me apresentar a ela, mas antes disso, tudo aconteceu. Quando ele morreu, eu contratei um investidor para achá-la. O meu investidor de confiança estava viajando, então pedi ajuda a um amigo que é um dos meus sócios na empresa. Ele indicou-me um ótimo investigador, que a achou em um mês. O dossiê que recebi era completamente ridículo, a cada palavra que lia, não conseguia acreditar em quão maquiavélica ela poderia ser.
Mas já tive experiências o suficiente para saber que ao ter ambição, o amor às vezes desaparece. Isso se realmente algum dia existiu amor...
— Contratei um investidor para achá-la. Fui ver com os meus próprios olhos a causadora da destruição do meu irmão e do seu sonho de construir uma família.
— Onde ela trabalha? — Se aproximou da mesa com curiosidade.
— Em uma cafeteria, ela é apenas uma garçonete, uma simples e comum garçonete. — Fecho a minha mão. O meu irmão morreu por se envolver com uma garçonete. — Com tantas moças de famílias renomadas ao seu redor, ele preferiu ir ao subúrbio.
Fecho as minhas mãos com raiva ao lembrar da sua face. Aos olhos de quem não a conhece, parece uma pessoa doce, calma e gentil. Mas seu interior é podre, uma megera sem coração que não mede esforços para alcançar os seus objetivos ambiciosos.
— Qual é o seu nome? — pergunta, depois de um tempo em silêncio, absorvendo provavelmente as informações que são difíceis de acreditar.
— Melinda... Melinda Allen.
Melinda Allen é a causadora de tudo e vai pagar caro por tudo que fez.
Por Melinda Allen Caminho quase correndo em direção à cafeteria. Justo hoje, meu despertador resolveu não tocar e, para meu desespero, era a folga de Elle, o que significava que Karen estava uma fera.O dia mal começou e já me sinto exausta. Ontem, precisei ir à minha antiga faculdade para resolver alguns assuntos pendentes. Com as dívidas se acumulando, tive que abrir mão dos meus estudos e passei a trabalhar em dois empregos; no entanto, recentemente pedi demissão do meu segundo emprego. Agora, ainda não sei se conseguirei retomar os estudos. Quase sem fôlego, entro na cafeteria e a primeira pessoa que vejo é Karen, furiosa, no balcão. — Isso é hora, Melinda? Já passa das sete! — Eu sei, sinto muito — ela me interrompeu antes que eu chegasse a lhe dar uma justificativa. — Não quero saber o que aconteceu, só quero que você esteja aqui na hora. Olha quantos clientes temos. Hoje você vai sair tarde para compensar seu atraso. Suspiro sem falar mais nada e vou guardar minhas
Por William Montenegro Atriz! Ela é uma ótima atriz. Durante esses três meses, tive que fazer um tremendo esforço para ir vê-la todos os dias. A pior parte era ter que beijá-la, sendo que minha única vontade era acabar com a sua vida com as minhas próprias mãos. O nojo que eu sentia de mim mesmo logo após chegar em casa é indescritível. Tudo nela me causa ânsia; tudo parece falso. Porém, todas as vezes em que a tocava, me esforçava para lembrar que era tudo um meio para um fim. Meu plano estava dando certo, e ela parecia estar cada vez mais convencida do meu amor. Cheguei a levar flores todos os dias para ela e um colar falso de diamantes. Como uma boa atriz, ela não quis aceitar, dizendo que o que mais valia para ela era a minha presença. Sei que sua real intenção era me fazer de tolo; mal sabe ela que quem realmente está caindo na própria armadilha é ela. Só não contava que teria que fazer uma viagem de urgência para o México. Isso acabaria completamente com os meus planos
Por Melinda Allen Entro na cozinha me sentindo exausta pela noite mal dormida. Depois que Will me ligou perguntando se poderíamos adiantar o casamento para hoje, não consegui dormir. A ansiedade e o medo do que estava por vir me deixavam com frio na barriga e, ao mesmo tempo, com um sorriso no rosto. Eu iria me casar com o homem que amo; o que mais eu poderia querer? — O que aconteceu com você? — Elle me encara como se tivesse visto um fantasma. — Não dormi bem à noite. — Sento-me, servindo um pouco de café. — Teve pesadelo? A campainha toca, interrompendo nossa conversa. Ainda é sete horas da manhã de um domingo; não consigo imaginar quem poderia ser. Ela deixa seu café para ir atender quem estava na porta, e, segundos depois, volta com uma expressão confusa. — Mel, tem umas pessoas aqui dizendo que vieram arrumar a noiva. Disse que estavam no lugar errado, mas insistiram que estavam no lugar certo. No momento em que ela fala, engasgo-me com o café. Eu tinha esque
Por William Montenegro Tiro a gravata com raiva e a jogo no sofá. Finalmente, darei início aos meus planos. Não pensei que isso demoraria tanto, mas, finalmente, tudo está saindo como o planejado. Olho para o corredor por onde a farsante desapareceu há alguns minutos. Nesse momento, não há nada que me faça querer ficar ao seu lado; ela me causa repulsa em todos os sentidos. E isso me motiva a pegar as chaves do carro e sair, deixando-a sozinha no apartamento. Dirijo sem rumo por alguns minutos até meu celular começar a tocar e imagino quem pode ser, mas não atendo e nem faço questão de desligar. Quase meia hora depois, estaciono em frente a um bar que, há quase um ano, passei a frequentar. Entro, chamando a atenção dos funcionários, que me encaram confusos, acredito que pelo horário; são uma da tarde de um domingo. Geralmente, quando eu vinha por aqui, era à noite. Sento-me no balcão e peço a primeira dose. •••• Desligo, pela décima segunda vez, a ligação de Nicolas. Não
Por Melinda Allen William saiu da cozinha, me deixando sozinha novamente, e só então soltei as lágrimas que vinha prendendo. Deslizei pela parede até me sentar no chão, onde abracei minhas pernas e deixei o primeiro soluço sair. Tudo que vinha idealizando há algum tempo se desmoronou como areia movediça. Eu sonhava com minha lua de mel e, depois do nosso casamento, pensei que finalmente iria me entregar ao homem que amo pela primeira vez, mas estava terrivelmente errada. A única coisa que recebi foi desprezo por algo que não me lembro de ter feito. Pelo que me recordo, antes do casamento, tudo estava normal; não tivemos brigas, muito menos desentendimentos. Cansada pelo dia exaustivo que tive, levantei do chão, sentindo o corpo reclamar de dor ao ficar em pé. Caminho lentamente em direção ao quarto e, ao encontrá-lo vazio, sinto-me decepcionada. Ao ver meu reflexo no espelho do banheiro, sinto-me mal; meus cabelos estão bagunçados, meu rosto completamente vermelho e meus o
Por William Montenegro A noite mal dormida estava dando seus sinais; meu corpo inteiro reclamava de dor. O sofá do escritório realmente não é um bom lugar para dormir. Mas é melhor do que ter que dividir a cama com alguém insignificante. São exatamente seis e quinze da manhã, e já me sinto estressado por não ter acordado mais cedo, como costumo fazer. Ao abrir a porta do meu quarto, surpreendo-me ao encontrar a cama vazia e arrumada. Onde está Melinda? Um cheiro doce exalava no ar, como o de flores. O quarto que antes era só meu agora estava repleto de vários pertences de Melinda espalhados por diversos cantos. E então a vejo saindo do banheiro com apenas uma toalha cobrindo seu corpo. Meus olhos descem por ela, e minha curiosidade se atiça ao imaginar o que há por baixo. Ela parece estar distraída, seus passos são leves em direção ao closet, e seu rosto está um pouco avermelhado, provavelmente devido à água quente. Quando finalmente ela se dá conta de que não está mais sozi
Por Melinda Allen Os corredores do supermercado estavam vazios; somente algumas pessoas passavam entre eles. Passo mais uma vez pela mesma prateleira e, agora sim, tenho certeza de que estou completamente perdida. É a primeira vez que venho a este supermercado, então não consigo achar quase nada com facilidade. Não sei há quanto tempo já estou aqui, mas, felizmente, consegui pegar quase tudo o que preciso, exceto pelo trigo. A conversa com William ainda ronda a minha mente desde o momento em que saí de casa. Considerei muito o que havíamos conversado e, em parte, dou-lhe razão. Ele é uma pessoa constante na mídia; porém, não posso ficar sem fazer nada da vida. Depender dele para tudo não é uma opção para mim. Além de tudo, ainda tenho minhas dívidas, que finalmente estão quase todas quitadas. Esforcei-me muito para chegar onde estou; não posso parar agora. Quando me canso de andar em círculos, avisto um rapaz arrumando umas prateleiras e então lhe pergunto onde fica o trig
Por Melinda AllenEu tinha um sonho... Um sonho que quase toda mulher tem: entrar em uma igreja vestida de branco, em direção ao homem que escolhi amar e construir uma família.Mas, como eu disse, era só um sonho... Um que pensei ter finalmente realizado, mas, como sempre, a vida estava apenas me pregando uma peça, e eu paguei caro... O preço foi o meu coração.Olho para o homem que está à minha frente. O mesmo homem que jurei amar e ser fiel. Sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto; porém, não faço questão de secá-las, seria inútil!Encaro a mulher ao seu lado com nojo. O seu sorriso debochado me dá ânsia. E tudo que mais desejo é que tudo não passe de uma mentira, mas sei que não é. Como fui tola!— Saia daqui, Scarlett. Agora!A mulher treme com o seu grito e logo passa ao meu lado praticamente correndo. Não sei qual traição dói mais: descobrir que o meu casamento é uma farsa ou que, além disso, o meu marido vinha tendo um caso.Sei que tivemos um começo difícil, mas não pensei qu