Capítulo 02

Por William Montenegro

Chego em casa e vou direto para o meu escritório. Assim que entro, dirijo-me à mesa com as bebidas. Pego a garrafa de uísque e um copo, caminho até minha cadeira, sento-me e encho o copo, que viro logo em seguida, sentindo o líquido descer, queimando minha garganta. Ouço leves batidas na porta.

— Entre. — Rita aparece com seu habitual uniforme azul escuro.

Rita trabalha para a família há muitos anos; apesar de já estar na casa dos setenta, ainda está muito bem conservada. Como não abre mão do trabalho, a coloquei como governanta da casa.

— Desculpe incomodar, queria saber se o senhor vai jantar? — Só ela tinha permissão para incomodar quando eu estava no escritório.

— Não. — Ela assentiu e saiu, fechando a porta em seguida. Viro todo o líquido do meu copo de uma vez.

Hoje eu a vi, a vadia que matou meu irmão. Não sei como descrever o que estou sentindo neste momento: raiva misturada com nojo. Não consigo entender como meu irmão se envolveu com uma pessoa assim, uma garçonete!

Gael Montenegro, 29 anos, CEO da empresa da família. Ele sempre foi o mais centrado entre nós dois; enquanto eu curtia a vida, ele trabalhava. Mas, com todas as nossas diferenças, sempre fomos muito unidos. Lembro-me como se fosse ontem o dia em que ele me disse que estava apaixonado e iria pedi-la em casamento.

Depois de um mês, ele descobriu uma traição, e a tal mulher, que nunca tive a oportunidade de conhecer até hoje, mandou uma mensagem dizendo que estava indo embora com o amante.

Além da traição, algo que antes eu não tinha conhecimento veio à tona recentemente. No início, eu não queria acreditar que meu irmão tinha morrido para tentar evitar uma traição, um abandono. Mas, com as investigações, descobri que era muito além disso.

Sinto uma lágrima descer em meu rosto; não faço questão de secá-la. Ela vai me pagar, vai me pagar por ter sido a causadora da morte do meu irmão.

Farei questão de destruí-la, da mesma forma em que destruiu Gael, nem que eu viva só para isso!

— Você está bem? — Me assusto com Nicolas em pé na porta.

— Não sabe bater, porra? — Me irrito. Ele entra e se senta em minha frente.

— Não. — Começou a rir, me deixando ainda mais irritado.

Nicolas era meu primo de primeiro grau. Gael o convidou para trabalhar na empresa, já que ele também é da família. Ele me ajudou quando Gael morreu, o que aconteceu há apenas dois meses.

— O que você quer? — Sou direto. Odeio rodeios; gosto quando vão direto ao assunto.

— Por que não voltou para a empresa hoje? — Hoje fui rápido de manhã na empresa e depois fui atrás da mulher que destruiu a vida do meu irmão. Depois que a vi, não consegui voltar para a empresa.

— Para que você foi atrás dessa mulher? — Ele me olhou sério. O que era difícil de se ver, já que ele sempre foi bastante extrovertido.

— Eu quero vingança! Ela vai pagar pelo que fez. — Trinco o maxilar. Ele se encosta na cadeira e coloca a mão no queixo, me observando.

— O que você vai ganhar fazendo isso? Nada! Não vai poder trazer seu irmão de volta. Esqueça essa ideia estúpida de vingança.

— Não me importo com a sua opinião, eu vou fazer ela pagar caro, não só pela vida do meu irmão, mas também pela vida da criança que ela tirou. — Elevo um pouco o meu tom de voz. Ele me encara e dá um longo suspiro.

Um filho, ela teve coragem de tirar a vida do próprio filho. É repugnante pensar que, com aquela cara de anjo, ela foi capaz de matar um inocente. Um verdadeiro lobo em pele de cordeiro.

— E o que você pretende fazer? Você nem sabe se ela realmente tirou a criança. — Passei esses dois meses pensando em como me vingar da vadia. E, como uma aproveitadora que ela é, tive uma ótima ideia.

— Vou me casar com ela. — Nicolas me olhou espantado. Era como se tivesse nascido uma segunda cabeça em mim.

— Você ficou maluco?! Em que isso vai ajudar você? — Ele praticamente gritou.

— Ela é uma aproveitadora. Quando ver o grande império que eu tenho, não vai resistir. Vou fazer ela se casar comigo e tornar a vida dela um inferno. Se ela não se casar por bem, vai se casar por mal. E após o casamento ela irá conhecer o inferno.

— Isso é uma completa loucura — sussurrou, parecendo abismado. — Na primeira vez em que me contou seus planos, não dei muita atenção, pois não achei que iria longe com isso.

— Como já disse, não me importa a sua opinião. — Digo, frio.

— Ela é uma pessoa, um ser humano. Por mais que ela tenha sido uma vadia, não merece ser enganada. — Diz, calmamente.— Você quer mesmo se rebaixar ao mesmo nível que ela?

Bato a mão na mesa, ficando em pé, o deixando assustado.

— Nunca mais defenda ela na minha frente. Ela vai pagar pelo que ela fez, você gostando ou não! — Voltei a me sentar. Ele passou a mão no cabelo, meio contrariado.— Não estou no mesmo nível que ela, nem nunca estarei. Tudo que quero é justiça!

— Como você encontrou ela? — Essa é uma boa pergunta.

Gael iria me apresentar a ela, mas antes disso, tudo aconteceu. Quando ele morreu, eu contratei um investidor para achá-la. Meu investidor de confiança estava viajando, então pedi ajuda a um amigo que é um dos meus sócios na empresa. Ele me indicou um ótimo investigador, que achou a vadia em um mês. O dossiê que recebi era completamente ridículo.

— Contratei um investidor para achá-la. Fui ver com os meus próprios olhos a causadora da destruição do meu irmão e do seu sonho de construir uma família.

— Onde ela trabalha? — Ele se aproxima da mesa com curiosidade.

— Em uma cafeteria, ela é apenas uma garçonete, uma simples e comum garçonete. — Fecho minha mão. Meu irmão perdeu a vida por se envolver com uma garçonete. — Com tantas moças de famílias renomadas ao seu redor, ele preferiu ir ao subúrbio.

Fecho minhas mãos com raiva ao lembrar da sua face. Aos olhos de quem não a conhece, parece uma pessoa doce, calma e gentil. Mas seu interior é podre, uma megera sem coração que não mede esforços para alcançar seus objetivos ambiciosos.

— Qual é o seu nome? — pergunta, depois de um tempo em silêncio.

— Melinda... Melinda Allen.

Melinda Allen é a causadora de tudo e vai pagar caro por tudo que fez.

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